Bom dia,

Hoje é quinta-feira (26.11). Os amapaenses acabam de suportar quase um mês sem energia elétrica regular com prejuízos materiais, morais e econômicos difíceis de avaliar. Reestabelecida a quase normalidade do fornecimento de energia no Amapá, a população daquele estado descobriu que apesar de estar ligado ao Sistema Elétrico Nacional, não há garantia de que novos blecautes estejam descartados. Tudo vai depender do gerenciamento das concessionárias, que faz muito pouco, foram transferidas do controle estatal para empresas privadas. E tudo indica também, que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevaricou em não fiscalizar, e exigir, que as concessionárias fizessem os investimentos necessários para garantir a qualidade e a segurança do sistema que distribuiu a energia naquele estado.

No meio da perplexidade geral criada pelo blecaute ocorrido no Amapá, eis que a concessionária de gera e distribui energia elétrica para todo o estado de Roraima, anuncia que o diesel estocado é suficiente para fazer funcionar suas usinas termoelétricas por três dias. As causas dessa situação, com l possibilidade de que Roraima possa ficar no escuro como ocorreu no Amapá não foram divulgadas, como deveria ter ocorrido para não pegar os consumidores desprevenidos. Os dois sistemas elétricos de Roraima e do Amapá, assim como todos os demais na região Norte foram privatizados quase ao mesmo tempo, e conduzidos por agentes de um partido (MDB) que controla, faz quase duas décadas, o sistema elétrico brasileiro, e que já promoveram vários escândalos de corrupção, até hoje impunes.

RORAIMA 1

A privatização do sistema elétrico de Roraima foi urdida por mais de uma década. Começou com a falência construída da Centrais Energéticas de Roraima (CERR) que foi levada a um endividamento bilionário, através de empréstimo concedido por bancos federais, com pagamento contratual a cargo do governo do estado, para deixar o também bilionário patrimônio da empresa livre de ônus para futura negociação. Esses empréstimos foram concedidos sob a justificativa de que seriam utilizados para sanear financeiramente a CERR, e após realizar uma tal de federalização, que consistiria em transferir seu patrimônio para a empresa federal concessionária, à época, a Boa Vista Energia, uma subsidiária da Eletronorte/Eletrobrás.

RORAIMA 2

Para gerir os R$ 600 milhões do empréstimo -que corrigidos para hoje valem mais de um bilhão de reais-, os idealizadores, todos sobejamente conhecidos, indicaram os dirigentes da CEER. Pouco mais de um ano depois, com boa parte do dinheiro desviado pelo ralo da corrupção, e sem que o objetivo de saneamento da empresa fosse alcançado -ao contrário, a CERR restou ainda mais endividada  , os mesmos dirigentes do setor elétrico federal anunciaram que a tal da federalização não mais seria concretizada. De quebra, a Aneel não renovou mais a concessão da CERR para gerar e distribuir energia elétrica para o interior do estado, tornando sem qualquer finalidade seu bilionário imobilizado, em forma de hidroelétrica, usinas térmicas, redes de transmissão e distribuição, além de imóveis e equipamento.

RORAIMA 3

Com a conta do bilionário empréstimo concedido para CERR jogado para pagamento pelo tesouro do estado e com a perda da concessão não renovada, a ativo da empresa estatal restou preparado para a venda, com um valor estimado pela mesma Aneel -os dirigentes da agência são os mesmos daquela época-, sem que o estado mostrasse disposição para recorrer na justiça contra os valores apurados. A tarefa de destruir a CERR, foi acompanhada paralelamente com a de falir a Boa Vista Energia , afinal, havia já bem consolidada entre os dirigentes do setor elétrico brasileiro de então, a decisão de privatizar todo o sistema elétrico dos estados da região Norte. Como de fato foi feita.

SEM CONCORRÊNCIA

A venda das empresas estaduais e federais, concessionárias de geração, transmissão e geração de energia elétrica, apesar de formalmente conduzida pelo Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), inclusive com a realização de leilão público, ocorreu sem concorrência. Os mesmos consórcios ofereceram preços ridículos em cada leilão -no caso de Roraima o lance oferecido, e vencedor, foi de 50 mil reais-, valor insuficiente para comprar o mis simples dos carros populares produzidos no Brasil. Os ganhadores levaram também os créditos pertencentes às empresas privatizadas.

SERÁ?

Será que os brasileiros e as brasileiras saberão, algum dia, dos bastidores que correram soltos no decorrer do processo de privatização dos sistemas elétricos dos estado de região Norte. Todos sabem, e conhecem, os métodos dos políticos que indicaram -e manipularam os agentes públicos que conduziram esses processos de privatização. É possível que eles consigam “estancar a sangria” provocada por qualquer processo apuratório, afinal, estão conseguindo, como prometeram, acabar com a Lava Jato. Aos brasileiros e às brasileiras, especialmente aos que vivem na Amazônia, restará sofrer as consequências, como estão sofrendo, os amapaenses e roraimenses.

ÚNICO TEMA

A Parabólica sempre aborda várias temas em suas edições diárias, mas a relevância do problema obscuro -que rima com escuro-, que cerca a venda do sistema elétrico estadual local justifica a abordagem de um único tema como hoje. Os protagonistas macabros que conduziram, e foram beneficiados, por esse processo de venda de um bilionário ativo público, continuam serelepes e impunes, ainda manipulando muito dinheiro do contribuinte.