Onda migratória e o reverso Quando os telejornais passam matérias dos refugiados da África ou do Oriente Médio, especialmente da Síria, há uma comoção imediata de internautas condenando ações de países europeus que impõem barreiras para que esses povos atravessem suas fronteiras e busquem refúgio. A condenação é rápida e rasteira.
Porém, quando Roraima enfrenta uma de suas maiores ondas migratórias de venezuelanos e outros estrangeiros africanos, o discurso de boa parte dessas mesmas pessoas muda de forma extremista. Certo dia, houve até quem postasse, nas redes sociais, que as venezuelanas estariam trazendo doenças sexualmente transmissíveis para Roraima e até mesmo outras moléstias, como a chikungunya. Isso sem demonstrar fatos, como uma simples estatística de algum órgão oficial.
Ou seja, esse tipo de boato é uma forma de terrorismo praticado contra os imigrantes que estão fugindo da maior crise humanitária que a Venezuela jamais enfrentou; é pregar o ódio contra imigrantes aos mesmos moldes do que vem ocorrendo na Europa, alarmada com a imigração, incutindo a xenofobia na população, induzida a acreditar que todo imigrante representa o mal para o Estado ou como se toda venezuelana fosse prostituta.
É fato que, no meio dos imigrantes, também chegam os bandidos, os mal-intencionados, os indolentes, as prostitutas. Mas isso não pode ser generalizado nem usado como forma de combater a onda migratória de um povo que foge da fome imposta por um regime autoritário.
Mazelas são combatidas com políticas públicas, com ações de governo que busquem minimizar os impactos da imigração forçada. Já que nossas fronteiras são extensas e a fiscalização para impedir que bandidos entrem é falha, o momento é de cobrar que as autoridades saiam de seus gabinetes e ajam rápido, embora seja visível que boa parte desses imigrantes já está no mercado de trabalho formal e informal, se integrando à sociedade e à economia local.
Precisamos de mais políticas públicas e menos preconceito ou xenofobia. Somos a menor população do país e, sob o olhar econômico, necessitamos de mais gente para formar o mercado consumidor. Não estão vindo apenas ladrões e putas, mas profissionais de várias áreas que se submetem a qualquer atividade no mercado de trabalho, geralmente mal remunerados.
Ao invés de achar que são apenas os europeus os carrascos dos imigrantes, é melhor que os roraimenses reavaliem seus conceitos. O mundo vive uma crise humanitária e nós temos que tomar consciência de que estamos vivenciando uma – com a vantagem de que podemos nos beneficiar dela, caso os governantes saibam conduzir as políticas públicas de maneira correta. O tempo urge.*[email protected]: www.roraimadefato.com/main