O desenrolar da Operação “Pedras de Moinho” traz algumas camadas que precisam sempre estar à luz dos fatos para a sociedade refletir. A principal delas é que a participação ou – atendendo à presunção da inocência – a suspeita de participação de policiais em crimes é reflexo de um Estado contaminado pelo narcotráfico, garimpo ilegal e outras ilegalidades que já observamos no passado bem recente.
Naquela época, outra migração estava em curso, na década de 1980, quando houve a primeira corrida ao chamado El Dorado na mesma Terra Indígena Yanomami. Hoje vivemos uma realidade muito parecida, mas desta vez com uma migração em massa de venezuelanos, que representa outro fator de surgimento de vários problemas sociais sérios e persistentes.
Com o crime organizado dominando este novo cenário por toda fronteira da Amazônia com outros países, com atuação no garimpo ilegal, tráfico de drogas, de armas e de pessoas, o cenário da criminalidade que surgiu em Roraima é reflexo desses novos-velhos tempos de quando o Estado, naquele passado bem recente, tornou-se terra sem lei.
O envolvimento de policiais no crime, conforme vem sendo desvendado desde a ação para roubar um avião que servia ao garimpo ilegal, é um desses reflexos, o que demonstra que o crime está batendo à porta dos poderes constituídos, de acordo com que esta Coluna vem comentando há um certo tempo como forma de reflexão por parte da sociedade.
Se não quisermos voltar para aquele passado de criminalidade insustentável, com cemitérios clandestinos, pistolagem e o envolvimento de policiais em crimes, quando não mais se sabia quem era bandido e quem era policial, é preciso desratizar o Estado em amplo sentido, uma vez que o cenário atual é bem pior diante do crime organizado, com alianças internacionais, dando às ordens não mais apenas dentro de presídios, mas a partir de toda fronteira da Amazônia com outros países.
Este é o grande significado da Operação “Pedras de Moinho”, desencadeada pela Polícia Civil, na manhã desta segunda-feira, dia 1º, que investiga o envolvimento de dois policiais civis e um policial militar na execução de um homem que era envolvido no garimpo ilegal e narcotráfico, ou seja, o narcogarimpo. Se não frear esta agora esta escalada perigosa, teremos uma realidade muito sombria a nossa espera, pois já sabemos dos indícios do crime como ponta de entrada na política partidária.
Como o próprio nome da operação policial expressa, pedras de moinho é uma referência bíblica em que Jesus disse que seria melhor para alguém que levasse outra pessoa ao pecado que uma grande pedra de moinho fosse pendurada em seu pescoço para que afundasse no fundo do mar.
Ou seja, o ato de levar alguém a cometer erros ou pecados representa algo pesado e indesejável, que precisa ser contido e o mal extirpado. É agora ou nunca.
*Colunista