Amor infantil – Vera Sábio*
Um velho ditado é muito comentado. Para vivermos plenamente, é preciso “escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore”.
Acredito que nestas três tarefas temos, incondicionalmente, o amor no comando.
Escrevi um livro com amor; pois não teria outra forma de escrevê-lo se não fossem minhas vivências, minhas histórias, histórias de outros fatos presenciados, ouvidos ou imaginados. Enfim, as palavras precisam de ações amorosas, para serem distribuídas e terem sentido em um papel.
Tive a dádiva de ser mãe, gesto de doação, de nascimento de um amor antes nunca imaginado, o qual só os sentimentos maternos conseguem produzir.
No entanto, na busca constante de sempre mais, afinal o ser humano vive em continuação e quer realizar algo novo, plantei uma árvore, ou seja, uma palmeira. Descobrindo com isto o amor infantil, o qual pôde virar livro.
Quanto regar e adubar e quando já ia desistir, pois nada acontecia, nasceu uma folha. A folha foi se abrindo, tornando-se grande e em nada se parecia com uma palmeira.
Será que a semente era de outra planta?
Mas logo percebi que a natureza perfeita fez a folha cheia de linhas, para que as linhas se dividissem, transformando-se em várias folhinhas, iguais às da palmeira que escolhi.
Neste momento, me animei e quase estraguei tudo. Quis acelerar o processo e dividir as linhas, ou seja, antes do tempo correto em que a folha se dividiria, eu dividi para ela. Conclusão: murchou…
A criança é igual a uma folha de palmeira, pelo menos daquela palmeira que tenho em casa.
Somos gerados por divisões celulares, as quais precisam acontecer naturalmente para que nasçamos saudáveis e no padrão dito normal.
No entanto, somos únicos e cada um do seu jeito foi formado e tem suas peculiaridades que merecem ser respeitadas; o que, por aqueles que não sabem disto, acabam não incluindo todos no mesmo padrão, na mesma raça humana.
Uns demoram mais para brotar, alguns têm mais divisões, personalidade, crenças, culturas e limites do que outros. No entanto, o amor puro e infantil supera quaisquer barreiras até deixar sua marca registrada.
A próxima folha ficou sendo cuidada e não mexida e se desenvolveu no momento correto, pois se dividiu naturalmente, tornando-se uma palmeira linda, grande e forte.
Criança tem seu tempo e não deve ser comparada com outras da mesma idade que agem mais rápido ou mais lento do que ela.
Crianças precisam de proteção, de segurança, de amor e cuidados para que se desenvolvam a seu tempo, sem grandes estímulos tecnológicos, os quais terão todo o restante da vida para conhecer e aprender a melhor maneira de utilizá-los.
Precisamos dividir nosso tempo com as crianças, brincar mais de esconde-esconde, pega-pega, de roda, de casinha, de bola, de jogos de tabuleiro etc., pois só teremos um futuro mais unido quando tivermos tempo maior com nossos pequenos, deixando a pureza da infância prevalecer.
*Escritora, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega com grande visão interna. Adquira meu livro “enxergando o Sucesso com as Mãos”. Cel 95 991687731 Blog: enxergandocomosdedos.blogspot.com.br
Um Brasil que pensa pouco – Wender de Souza Ciricio*
Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão que escreveu e debateu temas fundamentais, como ética e liberdade, definia que a menoridade intelectual é fruto da incapacidade do homem de fazer uso de seu próprio conhecimento. Essa menoridade se evidencia quando dependemos ou agimos conforme o pensamento do outro. Kant, sem se prender à idade biológica, cita a menoridade como um ato preguiçoso e covarde. Considera que homem e mulher têm capacidade para pensar, refletir e agir, mas na menoridade se acomodam e andam conforme o curso traçado por outros. Sendo assim, se guia pela mente alheia e o que os outros dizem passa a ser seu norte, sua filosofia de vida e seu mundo. A menoridade combina com alienação, uma espécie de “Maria vai com as outras”.
Partindo dessa perspicácia kantiana, percebe-se um Brasil insistentemente amigo da menoridade. A preguiça e covardia consomem grande parte da população brasileira que se deixa levar pelo discurso e pensamento alheios. Não há preocupação em estudar sobre aquilo que conversamos e ouvimos. Pessoas são convencidas por três ou quatro palavras. Uma nuvem carregada de comodismo intelectual contagia uma grande massa populacional. Essa situação gera uma vulnerabilidade extraordinária. O brasileiro se satisfaz com muito pouco. Por isso nosso debate é pobre, cheio de “não me toque” revestido de ufanismo e sentimentalismo.
Alguém pode até afirmar que isso é problema pessoal de cada um e que cada um assuma as consequências de sua escolha. Não é simples assim, pois a partir do momento que alguém escolhe não pensar ou pensar conforme o que vem de fora prejudica a si mesmo e o resto da sociedade. Alguém que vive a preguiça intelectual tem, por exemplo, direito de votar, mas vota sem analisar e acaba votando mal, porém esse candidato eleito pelo não pensante será representante de todos e se a escolha for ruim será assim para todos e não apenas para quem votou. Suportar um político corrupto e incompetente porque o covarde não pensante o colocou lá gera danos incalculáveis para todos.
Noto um Brasil assim, morei e já visitei vários Estados neste País e não temo em dizer que estamos numa encruzilhada exatamente porque alguns renunciaram ao uso da capacidade intelectual que possui. Isso é antipático, desastroso e nada atenua o prejuízo causado. Devido a essa postura, gastamos energia brigando por questões baratas e banais. As redes sociais são consumidas por discussões periféricas sobre a ida do presidente ao cinema, o uso da caneta BIC do presidente e por ele andar de chinelos no Palácio. Estamos preocupados sobre quem vence programas de reality shows, o capítulo da novela e se o índio é preguiçoso ou trabalhador. Enquanto isso, nossa classe política, sem interferências, decide sobre nossa aposentaria sem falar da aposentadoria dela.
Não podermos nos esquivar de que pensar pouco é fatal para uma maioria e benéfica demais para uma minoria. Essa minoria é aquela que manda, detém o poder político e econômico, é aquela que vive as benesses conquistadas em detrimento de classes mais baixas evidenciada na péssima distribuição de renda em nosso País. Essa pequena classe beneficiada leva o não pensante a tomar decisões e agir com uma vontade que não lhe é própria. Na insistência em não pensar, essa maioria se acomoda e se culpa por não ter o status da minoria, se acha tola, incapaz e inoperante, o que não deixa de ser verdade. O coitado senta numa cadeira de plástico comprada numa loja em liquidação, liga a TV e fica embebecido e deslumbrado com as casas de milionários mostradas em programas de fofoca sem, contudo, observar a disparidade que é de seu mundo real. Isso é consequência da preguiça de pensar.
Um líder no Brasil (deixo o nome para sua imaginação) se autoelogiava por
ter ficado 20 anos sem ter lido um livro sequer. Assim está grande parte do Brasil de hoje: feliz, soberba, altiva e arrotando um conhecimento fabricado por outros e descendo goela abaixo sem qualquer uso de peneira e de leitura. Vamos deixar a menoridade, Brasil.
*Historiador, psicopedagogo e teólogo [email protected]
Realidade caótica – Oscar D’Ambrosio*
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2019 e vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, “Cafarnaum”, obra libanesa de Nadine Labaki, é uma narrativa que obriga a pensar e repensar o mundo contemporâneo sob a ótica da miséria financeira e existencial de boa parte da população mundial.
O enredo tem como eixo um menino de 12 anos sem documentos que, após ser preso por tentativa de assassinato do marido que levou a sua irmã à morte, move um processo contra os pais para que eles não tenham mais filhos, já que não souberam cuidar daqueles que geraram.
Mas a história está muito além disso, pois o menino fugira de casa justamente quando forçaram a irmã de 11 anos a contrair casamento com quem seria seu algoz. E nas ruas de uma cidade que parece um labirinto, principalmente quando filmada do alto, envolve-se com refugiados de diversas procedências.
Pelo sonho de fugir daquela realidade (“Cafarnaum” significa “caos”), chega a vender um filho de uma refugiada africana. Os personagens vivem situações-limite durante trajetórias repletas de desesperança em que parece haver pouca possibilidade de redenção, pois a fome, a miséria e o desespero espreitam a cada esquina.
*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Soluços longos – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Os soluços longos Dos violinos de outono Ferem-me o coração Com monótono langor.” (Victor Hugo)
As distâncias refletem o som sem som. A saudade bate forte no silêncio da ausência. E o que parece sentimentalismo é a realidade do amor. E o amor não é vão. Ele cria, alimenta, fortalece e salva. Não há quem sinta saudade sem ter sido feliz no passado. E a felicidade está na simplicidade. É quando nos sentimos felizes conosco mesmos. Então, vamos fazer com que a felicidade chegue com o início do dia, da semana e do mês. Estamos iniciando mais um mês de vida saudável. Porque ela, a vida, só é vida quando saudável. Quem não consegue ser feliz não vive; sãos os que passam pela vida, mas não vivem. E o importante é que não entremos nessa piroga furada. Dê bom dia ao seu dia hoje e viva-o como ele deve ser vivido. Com amor, paz e muita felicidade. E não se esqueça de que você é a única pessoa, no mundo, com a capacidade de fazer você se sentir feliz ou infeliz. Mas isso se você estiver a fim.
Procure ouvir no silêncio da noite os violinos de outono. Eles estão no ar, no vento que sopra, mesmo silenciosamente. Estamos no outono, o mesmo mês dos violinos da felicidade. E você pode aproveitar cada minuto do dia de hoje para ser feliz com as coisas mais simples à sua volta. Faça isso, mas tem que valorizar a simplicidade, como a arte criada no movimento da imperfeição. A beleza depende de como você a vê. E você a vê de acordo com sua felicidade. E esta depende de sua maneira de ver e viver a vida. A hora e o momento são seus. Ninguém pode vivê-los por você. Então, vá em frente. Seja feliz independentemente dos trancos que possam tentar bloquear sua caminhada. Nada nem ninguém no mundo tem poder sobre você. A menos que você não se valorize e espere que os outros façam por você o que você mesmo, ou mesma, deve fazer.
Por que ficar perdendo tempo com coisas desagradáveis? Por que não prestar mais atenção às coisas mais simples à sua volta. Elas podem estar representando os violinos que você não está escutando. Pense sempre em coisas agradáveis, mesmo que as desagradáveis estejam seduzindo seus pensamentos. Isso é comum e prende mais a atenção dos menos preparados para a vida. A vida é para ser vivida e não para ser passada. É dos momentos felizes que vivemos hoje que levamos a felicidade para o dia de amanhã. Então, viva este primeiro dia do mês como um ensaio para viver o dia de amanhã. Acredite nisso e você acreditará no poder que você tem, seja você quem for, para ser uma pessoa feliz, deixando para o baú da infelicidade tudo o que não lhe convém. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460