AS ESQUISITICES DO AMOR E OUTRAS TRAGÉDIAS Nº 04 – Hudson Romério
Existem várias prisões, o amor é a pior delas.
O amor não é uma prisão em si, o encarcerado a leva aonde vai – um exílio voluntário: se carrega preso na própria existência.
O amor é muitas coisas… Para muitas coisas… De muitas coisas… De coisas nenhumas… Ou do nada para o nada…
O amor separa almas gêmeas, une paradoxos… E mais de uma vez, é amor! …
Amor de coisas… Objetos… Do pretérito… Daquela lembrança que não se deixa esquecer… Do presente… Do futuro… Nos faz lembrar (ou esquecer) todos os dias da inconstância da vida: somos nada sem ele, e pior com ele…
Metade de mim é amor! A outra metade naufragou-se nesse mesmo ato, sem ter para onde ir, desesperou-se e sumiu no mundo…
O cais (mesmo distante) singra-se em ruínas e memórias – já deteriorado de tanta espera, ainda aguarda a mesma paixão da ida – aquela que foi numa nau no entardecer de velas e ventos.
É notável a semelhança entre os moldes do amor e da insanidade – um é o louco e outro é a loucura.
Todos os dias eu digo bom dia, boa tarde, boa noite…
Já não me perturba mais a tua ausência (tanto tempo só), me acostumei com o pensamento de que assim é melhor…
Mas percebi também que a dor não se compartilha, ela é intransferível, só sua… Só minha… Mas continua lá, sempre lá… Sempre lá…
Não procure entender essa dor, nunca vamos compreender sua causa, seus sintomas, seus efeitos colaterais nos oprimem a cada instante que respiramos.
São nossas diferenças irreconciliáveis – conheço meu cárcere, mas você não suporta saber qual é sua pena: pois todos temos que pagar o mal que causamos um dia.
O amor é a pena perpétua que fomos condenados a cumprir, por isso que somos iludidos a pensar que somos livres, mesmo presos a essa utopia.
Contemple num olhar profundo e isento sobre a vida, de nós mesmos, de tudo isso…
(Conhecerás a verdade… Mas nem sempre a verdade liberta!)
Existem várias prisões, mas nenhuma cabe em mim, sou inimputável a todos os crimes…
Sou o réu, a testemunha, o carcereiro e o prisioneiro dessa mesma pena – o mal que cometi foi acreditar nesse mesmo amor!
Me distancio dele a cada hora… A cada dia… Mas ele está em mim, sou servil a ele – pespegou-se em mim da forma mais bruta que se pode fazer, me violenta a cada instante, nessa prisão sem paredes e grades, onde não há mais pecado, não há mais silêncio, onde não há mais nada o que esperar.
Não há cura para isso, nem todo o conhecimento e toda apometria é capaz de sarar essas mazelas deixada por esse mal, essa coisa que nos acompanha, desde o Éden até a nossa queda para esse abismo chamado redes sociais do amor.
*Escritor e Cronista Tel: +55 (95) 99138.1484 [email protected]
Pensamentos Negativos! – Selma Mulinari
Logo cedo, tenho o hábito de ler o jornal. Gosto do ato de folhear o jornal físico, gosto de sentir o papel e até do cheiro. Se não leio o jornal físico parece que não tem o mesmo efeito. Às vezes me impressiono um pouco com as notícias negativas que vejo e algumas vezes me deixo influenciar e me pego tendo pensamentos negativos, pensamentos que me levam a achar que tudo ao meu redor está dando muito errado.
O negativismo no ser humano é um processo muito arriscado, as mentes negativas são perigosas. Mentes perigosas veem problemas onde não tem e buscam sempre soluções drásticas, radicais demais. Quando bate essa questão eu me volto para dentro de mim mesma e inicio um processo que na minha experiência comigo mesma resolve, que é fazer uma pequena reflexão da minha vida.
Nesses momentos de introspecção me volto para dentro de mim mesma e penso na minha trajetória de vida. Penso em todos os problemas que já enfrentei, penso nos momentos bons e ruins que já vivi e principalmente penso na minha família. Faço esse exercício para não me esquecer de onde vim e principalmente quem eu sou. O foco é me lembrar da minha essência, da minha educação familiar e da minha fé.
A nossa vida é toda dividida em ciclos, vivemos e revivemos os problemas de nossa existência em diversas fazes, eles sempre vem e vão, apenas com arranjos diferentes. O que torna os acontecimentos diferenciados é o modo como vamos encarar a situação naquele momento. Vivemos em um constante processo de evolução pessoal e quem não vive esse processo para no tempo e no espaço, não conseguindo superar os problemas quando eles se apresentam.
Vivemos em uma sociedade de múltiplos aspectos e isso envolve as enormes diferenças que se apresentam e as muitas faces desse processo complexo. Diferenças sociais, diferenças de gênero, diferenças de pensamentos, de visão e assim por diante. Acredito que conviver com as diferenças é legal e é salutar na convivência diária em sociedade. Sempre penso, ao me confrontar com situações em que sinto as oposições ao que penso em um pequeno dito popular. “O que seria do amarelo se todos gostassem do azul?”
Então, me volto para a compreensão de que amadurecemos, adquirimos a sabedoria quando passamos pelo processo de aceitação daquilo que não podemos mudar e daquilo também que não nos cabe mudar. Considero que na vida temos que aprender a viver o dia a dia, sem preocupações de ter o controle de tudo ao nosso redor. Pensar demasiadamente no futuro não é legal, pois ele ainda virá. Assim como viver no passado e nas sombras deixadas por ele é ruim, deprime. Precisamos aprender a conviver bem com o passado, até por que já se foi, já passou e se tivermos alguma coisa para nos preocuparmos com o que já passou teríamos que dar prioridade aos ensinamentos que podemos tirar do que já vivemos.
Quanto ao presente é o que temos para vivenciar e realmente viver cada momento! Daí, para verdadeiramente viver o momento não é legal absorver problemas desnecessariamente. Precisamos analisar cada problema e pensar que os que têm solução imediata, resolvemos na hora. Já os problemas que nós acharmos que a solução vai acontecer num momento posterior, nos cabe estipular um prazo para solucionar. O que não tem solução afaste de si, não fique remoendo e então pense em outra máxima da vida. “O que não tem remédio, remediado está.”
Entretanto, acredito que pensar positivo, ter alto astral, é tudo na vida. Não somatizar já é meio caminho andado para se viver bem e em harmonia consigo mesmo. Não acredito em felicidade plena, acredito em ser feliz. Durante a vida temos momentos bons, alegres, momentos de sucesso e realização. A felicidade é a somatória de todos esses momentos felizes que vivemos.
Penso que tudo que precisamos para sermos realmente felizes está dentro de nós mesmos, assim sendo, viver de bem coma vida é um passo muito importante para se chegar à felicidade. Cultivar relacionamentos que valham a pena também co
ntribui muito para somar pontos para a felicidade. Ter uma família com quem dividir a vivência e as experiências é muito legal, mesmo que todos pensem diferente. Ter amor, dar amor faz a diferença. Amor de pai, amor de mãe, amor de filho, amor de irmãos, amor de amigos, amor de namorado, amor de marido e até amor de bicho é muito legal.
Depois de todos esses pontos, devemos equilibrar a saúde física e mental. Corpo e mente funcionando, partimos para o campo das realizações no âmbito do trabalho. Valorizar o que fazemos é superimportante. O ser humano faz sempre bem aquilo que gosta e como passamos grande parte das nossas vidas no ambiente de trabalho precisamos que seja harmonioso. Precisamos que seja também realizador e compensador. Largando os pensamentos negativos e voltando para o equilíbrio da vida, creio que temos a fórmula para ser feliz, conseguir a tão sonhada felicidade.
*Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]
Encontro com a Deusa – Afonso Rodrigues de Oliveira
“A deusa da minha rua tem os olhos onde a lua costuma se embriagar.” (Newton Teixeira)
Não seria uma Deusa se não estivesse em todos os lugares dignos de uma Deusa. Num aparente contratempo, demos uma caminhada e nos encontramos com a Deusa da minha rua. Foi assim: acordamos com pressa, para um encontro com o médico, num posto de saúde. Lugar frequentemente frequentado por pessoas da nossa idade. Foi aquela correria, porque deveríamos estar no posto às oito e meia. Felizmente, o posto fica bem ali. Bem pertinho. Chegamos depois da hora e nos desculpamos. A atendente sorriu e comentou:
– Puxa… Dona Salete. Sua consulta está marcada, mas é para as duas da tarde.
A moça desculpou-se por não ter como nos atender naquela hora, o que nos deixou muito à vontade. E já acostumado a essas gafes, sorri e respondi:
– Tudo bem… Tudo bem. Não se preocupe. Nós moramos bem aqui, pertinho. Voltaremos à tarde.
Saímos sorrindo e decidimos ir dar uma olhadinha nas ondas do mar. Seguimos em frente, atravessamos a passarela, em frente à Prefeitura, e ficamos contemplando a imensidão do mar. E foi aí que vi a Deusa, nos voos rasantes das aves, como se elas estivessem festejando a chegada das ondas. Aí, lembrei-me do Ferreira Goulart referindo-se à cantora Nara Leão: “Quando ela canta me lembra um pássaro. Não um pássaro cantando, mas um pássaro voando.”
Enquanto a Salete contemplava o mar e comentava as variedades das ondas, eu contemplava as gaivotas em voos rasantes. O enlevo nos envolvia e a felicidade nos embriagava na suavidade do ventinho fino, frio e silencioso. Não sei nem me importa quantos minutos ficamos ali naquela contemplação. O que importa é que sentimos e vivemos a felicidade na contemplação à Natureza. Porque é aí que está a Deusa da minha rua, nos pássaros voando.
Voltamos para casa, numa caminhada pelo calçadão agradável. Entramos no supermercado, compramos as bananas para o almoço e viemos fazê-lo. Nada mais natural nem mais gratificante, fazer o que tem que fazer, seja o que for, mas com amor e felicidade na naturalidade. Iniciamos uma semana misturando, no cadinho da felicidade, o desencontro com o médico, recompensado com o encontro com o mar maravilhoso da Ilha Comprida.
Não importa onde você estiver, esteja sempre feliz com você mesmo, ou mesma. A Deusa está sempre ao seu lado. Busque-a na contemplação da beleza à sua volta. Inicie sua semana contemplando a Deusa da sua rua, porque ela está até mesmo naquela florzinha silvestre para a qual você não deu a mínima atenção. Não desperdice a oportunidade de ser feliz com a beleza da Natureza. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460