Lá no fundo, queremos sempre ser queridos – Gláucia Guimarães*Sim, lá no fundo a gente quer mesmo é ser querido, acolhido, amado, compreendido, aceito, acarinhado, reprendido com cuidado, com amor. A gente quer ser pego no colo, afagado, beijado no rosto, na boca , na alma. A gente quer falar qualquer coisa e ver nos olhos do outro que ele nos entende. A gente quer se lançar em abraços sem fim, quentes, macios, aconchegantes. A gente quer chorar as tristezas da vida em ombros amigos.
A gente quer dar risada à toa com alguém só por nos sentirmos felizes. A gente quer dormir abraçado, fazer planos em conjunto, sentir que a nossa presença é importante, sentir que as pessoas depositam a confiança delas em nós.
Sem amor, sem amizade, sem acolhimento, sem compreensão, sem cumplicidade, o que nos resta? De que adianta muito saber, se não podemos sentir coisas boas? De que adianta falar bem, se não podemos expressar o carinho que temos pelas pessoas? De que adianta realizar conquistas , se não podemos tocar o coração de ninguém?
De que adianta sermos elegantes, se somos frios, se não aquecemos nem iluminamos a vida das pessoas? De que adianta realizar metas , se nós só construímos muros e quebramos toda e qualquer ponte que vemos pela frente? De que adianta sermos inteligentes, habilidosos ou belos se não conseguimos nos solidarizar nem emocionar com nada? Se não conseguimos nos alegrar com os prazeres simples, se não conseguimos cativar as pessoas, inclui-las em nossa vida?
Tennessee Williams já dizia que ninguém valia nada antes de ser amado. George Arnold afirmou: “Na raiz de quase todas as misérias materiais e, sobretudo, morais, está uma falta de amor, uma fome de afeição que não foi satisfeita.”
Sim, se sentir acolhido, querido e incluído na vida das pessoas é a maior e mais preciosa riqueza que podemos conquistar. Nos sentirmos ligados pela afeição e não pelos interesses materiais é a mais emocionante das bênçãos. Sermos amados em vez de temidos é uma das grandes alegrias que podemos sentir. Quem consegue dar e receber amor , sabe que este é o sentido da vida. Que o resto é lucro. O resto dá um brilho a mais. Mas o essencial é se conectar com as pessoas, sentindo e sendo alvo das mais variadas formas de amor.
*EmpresáriaE-mail: [email protected]————————————
Pais de coração – Vera Sábio*Todas às vezes que sabemos de alguém que foi capaz de adotar uma criança, em 1º lugar sentimos gratidão, emoção e uma sensação de desprendimento tão grande, incapaz de ser compreendido por aquele que se encontra impossibilitado de aceitar o outro como parte sua, ser realmente pais de coração.
Todavia, esta manifestação egocêntrica não nos deixa perceber que é muito mais abençoado aquele que adota do que aquele que está sendo adotado. Uma manifestação genuína e indescritível recebida da parte de Deus é embutida dentro de quem se abre para acolher um fruto de uma árvore má ou desconhecida. Pois o amor floresce sem explicação e mais rápido do que a consciência processa, com jeito de reencontro.
O coração acolhe e o corpo se transforma. Isto é tão notório, visto que a aparência se torna cada vez mais igual, sendo facilmente identificados como filhos de sangue, os que são filhos de coração. Portanto, o tabu do preconceito ou diferença entre os filhos deve ser quebrado. Sendo mais e mais proclamado que: “Adotar é um gesto de amor”.
Adotar permite a vida saudável, devolve a dignidade e a esperança no futuro, possibilita salvar e resgatar vidas que estavam condenadas ao abandono, aproxima almas, desperta o amor incondicional e cura a dor de não conseguir gerar no útero, tendo a mesma felicidade com o amor gerado no coração.
Felizes aqueles que acolherem os pequeninos, pois deles é o reino dos céus. (Jesus) Há muitas crianças precisando de pais, todavia existem bem mais adultos necessitando de filhos. O que é uma verdadeira discrepância.
Aqueles que procuram filhos como uma mercadoria, querendo filhos perfeitos, saldáveis e inteligentes, perdem a oportunidade de aprender com as diferenças e encontrarem a beleza interna, as quais, independentes da aparência, cada criança traz dentro de si. É um absurdo ter mais pessoas esperando uma criança para adotar do que crianças precisando de alguém que os adotem.
Devemos extinguir as características externas na hora de adotar, já que aquele que realmente está aberto a ser pai ou mãe, jamais na hora da gestação ama menos ou aceita menos o filho que possa vir com alguma limitação, mesmo porque, durante a vida, cada novo dia é uma surpresa e o inesperado não acontece somente com as outras pessoas.
Quer adotar, quer ser pai ou mãe, esteja, antes de tudo, disposto a ter um amor incondicional e, acredite, faça a sua parte que Deus sempre faz a dele.
*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega CRP: 20/[email protected].: (95) 991687731—————————————Reencontro com amigos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A vida é muito importante para ser levada a sério”. (Oscar Wilde)Nos últimos anos tenho me sentido como se estivesse numa prisão domiciliar. Logo eu, que adoro caminhar pelas ruas da cidade, mesmo quando elas não são apropriadas para pedestres. Porque é o que Boa Vista é. Mas, nada de crítica. Pior do que isso é eu ser um péssimo fisionomista. A dona Salete tira o maior sarro comigo, sempre que estou com ela e alguém me cumprimenta, ela comenta: duvido que saiba quem é. E em noventa por cento das vezes ela tem razão. E, acredite, sofro muito com isso. Sempre que alguém me cumprimenta e não me lembro de quem é, começo a gaguejar. Tenho uns amigos que mesmo sabendo que estou reconhecendo-os quando me cumprimentam falam: eu sou fulano. Normalmente rimos, e nunca fico encabulado. A amizade é um alicerce muito forte.
Ontem tive que ir pagar a conta de luz. Aproveitei pra caminhar um pouco pelas ruas. Passei pelo Palácio da Cultura e me lembrei de uma queridíssima amiga que faz tempo que não a vejo. Senti saudade. Segui e passei pela Prefeitura, onde tenho uma ex-nora que adoro. Tentei entrar na sua sala para um abraço, mas não quis incomodar. Continuei, fui até o banco, retirei os trocados e saí para a lotérica, pra pagar a conta. Já próximo ao Palácio da Cultura, lá estava, na calçada, a amiga que eu queria ver. Ela ia lanchar. Sorrimos forte e abrimos os braços:
– Meeiire!!!
– Mestre!!
Abraço forte e beijos nas faces. Papo curto, abraço de despedida e seguimos. Entrei na lotérica e já estava na minha vez para o pagamento quando ouvi uma risada eufórica e uma fala meio estridente, ao celular.
Não demorou e reconheci aquela voz. Era minha ex-nora que estava na outra fila. Virei-me, mas ela não me viu. Pagou a conta, falando ao celular, e saiu rindo e falando, mas sem me ver. Não quis interromper a alegria dela e não me fiz presente. Ela continuou rindo muito e dirigindo-se rumo à prefeitura. Saí rumo à minha casa. Mesmo não tendo cumprimentado-a senti-me feliz em revê-la. Foi legal.
Logo em seguida saí para pegar o jornal, na Folha. Ia caminhando pela Lobo D’Almada quando um carro parou do meu lado. O motorista abriu o vidro da porta e me cumprimentou:
– Olá, mestre!! Caminha sempre com pressa, acelerado. Vamos lá, entre aí. Puxa… Faz tempo que não nos vemos. Esteve fora?
Confesso que eu já estava meio encabulado. Desci logo lá na frente, nos despedimos, pequei o jornal e voltei para casa sem conseguir identificar o amigo da carona. Tomara que ele saiba da dificuldade que tenho para identificar as pessoas e me perdoe. Pense nisso.
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