Opinião

Opiniao 01 10 2019 9029

Filosofia do afeto –  Walber Aguiar*

O amor é como um baio, galopando em desafio, abre fendas, cobre vales, revolta as águas dos rios, quem quiser seguir seu rastro se perderá no caminho, na pureza de um limão ou na solidão de um espinho… Djavan

Era junho. Inverno de insetos e fecundações, de desejos reprimidos e comunhão de afetos, de aventuras conjugais e ilusões necessárias. Ali, entre a sobriedade da dor e a loucura do sentimento, brotou da lama das chuvas, a intensa vontade de partilhar, de criar vínculos, de entender a felicidade do ponto de vista do jugo, da parceria, do homem enquanto ser gregário.

Condenado a ter esperança, surgia agora uma alternativa. Isso porque, confrontado com a ótica divina da conjugalidade, ao homem restava apenas a felicidade a dois, a tentativa de fundir as vontades, o desejo de caminhar e olhar na mesma direção.

Ora, sob a dimensão e a realidade da queda, o que era sólido tornou-se esboroável, o que se afigurava com eterno, relativizou-se diante da dúvida, das angústias e da complexidade conjugal. Nesse tempo de hermeticidade do sentimento, não há mais a inocência em relação ao mal; advindo daí o ciúme, a inveja, a cobiça, as relações por interesse.

Assim, nesse tempo das flores vermelhas da paixão e das flores amarelas do medo, da busca desesperada pelo complemento afetivo, há uma necessidade premente de se ver e se perceber como uma espécie de náufrago do afeto, onde seguir sozinho é uma possibilidade.

A partir daí nos deparamos com  as paixões de Vinicius de Morais e seu essencial existencialismo do “mas que seja infinito enquanto dure”. Por outro lado, Mário Quintana optou pela solidão, pela ruminância das horas silenciosas, à semelhança de Carlos Drummond de Andrade.  Dizia ele que as mulheres são seres complicados.

O que fazer com o casamento,  a união estável, a proposta divina, a família como ideia de Deus? O “pra sempre” foi relativizado na poeira dos dias apressados, da desconfiança, da incompatibilidade de gênios, do cansaço relacional, quase sempre desgastado pela sufocante poeira do cotidiano sem aventura.

Era inverno. Tempo de solidão, de imaginação fertilizada pelo desejo de amar e ser amado; ou de, simplesmente, amar a si mesmo, incondicionalmente, lançando um novo olhar sobre a felicidade desacompanhada.

Estaríamos preparados para essa inquietante filosofia do afeto?

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras

[email protected]

MINHA CASA É HABITADA POR MINHA MÃE, PLANTAS, PASSARINHOS, ALGUNS GATOS, RATOS, ALGUNS ANIMAIS ESPORÁDICOS E UM BICHO ESTRANHO (EU) – Hudson Romério*

Restos de conversas: bom dia! Boa tarde…boa noite…

Louças sujas na pia, roupas para lavar e passar, lixo…

A conta de água, de luz, IPTU, internet…

Plantas, bichos, mato… pássaros, aves, passarinhos – tem de toda cor: azul, amarelo, verde, preto, branco, laranja… árvores tem de todos os tamanhos – já teve as bem grandes! Mas minha mãe cortou.

Eu, com o tempo criei raízes, brotei também minhas folhas, dei meus frutos…

Às vezes eu assombro e sou assombrado quando me levanto à noite, vou até a cozinha beber água e encontro as mesmas paredes que insistem em manter-se de pé – mesmo depois desses anos todos, de todas as chuvas, de todo vento, de tudo e de todos que já passaram aqui debaixo desse teto, desse piso pisado por tantos pés que são os meus desde que nasci… as paredes foram tantas vezes pintadas que nem sei mais definir que cor é hoje.

Ainda hoje ouça a voz da minha mãe gritando por mim ao portão! Coisas de mãe! Eu sempre voltava para casa… a casa com o tempo vai se tornando íntima – não é mais só uma casa, transforma-se num segundo corpo, um corpo etéreo… a ermida que sempre nos espera.

O tempo é um inquilino terrível! Terrível porque reside em tudo… em mim, na casa, nos detalhes que a rotina nos chateia, ocupa todos os lugares – sentado no velho sofá, assisti todos envelhecerem – como é bom envelhecer! Só assim saberemos o peso de cada não, de cada sim, de cada beijo.

A casa ainda insiste, está lá, mesmo depois desses anos todos de minha ausência! A teimosia beira o absurdo! Mas permanece lá, com tudo dentro, tudo fora: camas, geladeira, fogão, jarros com plantinhas, formigueiros, folhas pelo chão… tv, garrafa de café, copos, varais de roupa, minha solidão, a solidão da minha mãe… o mesmo número, a mesma rua…

A casa, hoje, é estranha para mim, mesmo depois de meio século habitando nela, com o tempo as coisas vão perdendo o sentido, o sentido de existir, o sentido de que um dia fez sentido… o que povoa a casa, não somos nós, eu, minha mãe, esses bichos todos, as plantas, os móveis… são as lembranças que foram acumuladas e esquecidas nos cantos, atrás dos móveis, em algum lugar no terreiro de casa.

Percebo que todos os bichos do quintal já não me estranham mais. Já sou seu semelhante! Sou esse grande e desajeitado bicho-homem que rega as plantas, alimenta os passarinhos toda manhã, enche a lata de água para eles beberem e deita na rede e conversa sozinho. Sou esse bicho exótico e “inconvencional” que não se acostumou a padrões, um anarquista contemporâneo avesso a leis e normas, não por desobediência ou rebeldia, apenas não aceito parâmetros sociais – nunca fui perguntado se queria cumpri-las ou aceitá-las.

Minha casa, meu reino! Minha velha mãe, sábia e temperamental, cuida com muito labor de seu domínio e sua vassalagem todos os dias, conhece toda sua dimensão, sua humilde e singular fauna e flora. A casa é abrigo e aconchego para tias, primos, primas, sobrinhos, netos, filhos, agregados, amigos… roupas, panos-de-cozinha, papel-higiênico, central-de-ar, tiquiris, cajueiro, ateira, roseiras… sofá, guarda-roupas, cadeiras de balanço… sabiás, pardais, senhaço azul, galeguinhas, juriti, tem até os negros-anus, mas minha mãe não gosta.

Sou um ser esquisito, um bicho exc
êntrico que reside numa casa a tanto conhecida. Com o tempo nem é mais doméstica, nem sei o que é! Mas é ao mesmo tempo estranha e familiar. Agora, eu já quase velho, às vezes cansado da vida, chego a desconhecê-la, mesmo morando na mesma rua, na mesma cidade, no mesmo bairro, sob o mesmo céu. Mas aos domingos é que tudo se dá, fico em casa e percebo o encantamento disso tudo: da seriedade da minha mãe, do alvoroço dos passarinhos, dos movimentos suaves dos galhos e das árvores.

*Escritor e Cronista

Tel: +55 (95) 99138.1484

[email protected]

Aborto litúrgico – Marlene de Andrade*

“Não permitam que se ache alguém no meio de vocês… que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos… O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas…” ( Deuteronômio 18:10 a  12)

Jesus nos chama para termos com Ele uma experiência equilibrada. E tem mais: devemos entender que a sua vontade é soberana, sendo assim, se Ele quiser, faz milagres, mas se não quiser, não faz. E o interessante é que tem pessoas que afirmam que se o milagre não aconteceu, foi por culpa dela que não teve fé.

Infelizmente, algumas “igrejas evangélicas” estão se tornando cada vez mais secularizadas e repletas de rituais espíritas, como, por exemplo, o uso do sal grosso para espantar a mal, prática essa inadmissível à luz da Palavra de Deus.

Certa vez, entrei numa igreja dessas e fiquei estarrecida ao perceber um monte de estultícias, dentre elas a distribuição de fitinhas para serem colocadas no pulso a fim de que, assim, pudéssemos receber bênçãos.

De outra vez, eu estava em Copacabana quando passei por uma igreja e resolvi entrar e qual não foi minha surpresa? Os líderes estavam vestidos de branco à moda candomblé, exorcizando pessoas possuídas por demônios e o interessante é que eles falavam com os demônios que se apresentavam enfurecidos.

Jesus expulsava demônios, sim, todavia sem dialogar com eles. Tais práticas como, colocar copo de água em cima da televisão e tantas outras bizarrices, nada têm a ver com o cristianismo equilibrado e fundamentado na Palavra de Deus.

Há alguns anos, eu estava em São Paulo voltando para Roraima, quando peguei um táxi para me levar ao aeroporto. Perguntei com muito jeitinho, ao motorista, se ele de fato acreditava que a figa de madeira, o dente de porco e o alho pendurado no retrovisor de seu carro tinham poder de livrá-lo do mal. Ele, muito educadamente, respondeu-me que sim.

Perguntei-lhe quem havia feito a madeira de sua figa, criado o porco e o alho? Ele, respondeu que tinha sido Deus. Perguntei-lhe então quem tinha poder: as coisas criadas ou o Criador de todo o universo? Aí sabe o que ele fez naquele exato momento? Retirou de seu retrovisor aqueles balangandãs.

Dei para ele o meu telefone e esse senhor me ligou para dizer que foi ao culto de uma Igreja da Assembleia de Deus e que lá se converteu a Jesus. Fiquei muito feliz por esse milagre e percebi que de fato, precisamos pregar o Evangelho de Cristo onde quer que estejamos. Foi muito forte essa experiência com esse motorista de táxi.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT- CFM –AMB – CRM-339 RQE-431

O que sabemos? – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Todos nós somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos nós ignoramos as mesmas coisas.” (Einstein)

A vida é um constante aprendizado. O desenvolvimento no aprender depende de cada um. A verdade é que ignoramos o futuro. Nem poderia ser diferente, já que vivemos um período de desenvolvimento de progresso a regresso. E como somos todos iguais nas diferenças, vamos nos cuidar em cada um. O importante é que aprendamos cada um com cada um. Quando estamos atentos ao aprendizado, aprendemos tanto com os nossos erros quanto com os erros dos outros. O que nos indica que o erro é uma forma de indicar que estamos ignorando. E se ignoramos é porque somos ignorantes. Pense nisso e sorria mais. Pare de olhar para os outros como seus inferiores.

O Gandhi também nos disse que “Todos devemos ser a mudança que desejamos no mundo.” Nada vai mudar se nós não mudarmos. Então vamos mudar a todo instante. Nada mais nocivo do que permanecer no mesmismo. Ou na mesmice, se você não quiser mudar. Falando sério. Esteja sempre atento, ou atenta, aos acontecimentos, mesmo que eles lhe pareçam fúteis. Nada é insignificante quando somos importantes no aprimoramento do mundo. Porque ele, o mundo, é uma obra elaborada por nós, seres humanos. E por isso não devemos ignorar o pensamento do Michelangelo: “Na arte, as insignificâncias causam a perfeição. E a perfeição não é uma insignificância.” Tudo que fazemos no nosso dia a dia é um trabalho que deve ser levado em consideração, seja lá o que for. Até os erros devem ser considerados como úteis, quando os usamos como lição. O Thomas Edson também dizia que quando errava não errava, aprendia como não fazer da próxima vez.

Não se apoquente com os seus erros. Apenas veja onde você errou e conserte-os fazendo a coisa certa. E como somos ignorantes não aprendemos, ainda, a respeitar o próximo como ele é e não como queremos que ele seja. Porque é nos erros dele que aprendemos o que é certo e o que é errado. Mas só respeitaremos esses degraus da vida quando aprimorarmos nossos conhecimentos, saindo do balaio da ignorância para o passo seguinte, no acerto. É na Universidade do Asfalto que aprendemos a aprender o que devemos aprender. E o que devemos aprender é a caminhar na evolução racional, para que possamos sair desse mundo ainda em evolução. E cada um de nós tem o dever de trabalhar no processo evolutivo. Comecemos considerando que somos todos iguais nas diferenças. Que nenhum de nós é superior ou inferior a alguém. A igualdade está no respeito mútuo. Que é o que nós ainda não consideramos como marca da racionalidade. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460