Usar as redes sociais no trabalho. Pode?
Fernando Elias José*
Internet no computador, no celular, no notebook, no tablet… Cada vez mais pessoas estão conectadas durante 24 horas, não importa o lugar onde estejam. E as redes sociais têm ocupado bastante espaço em nosso tempo de navegação: segundo a comScore, empresa norte-americana de análise da internet, o Brasil é o 5º país que mais acessa as redes no mundo. De acordo com o Facebook, 13 milhões de brasileiros já usam a rede, um crescimento de 119% nos últimos seis meses. Mas será que tanta interação pode atrapalhar os estudos e a carreira?
É inegável o uso cada vez mais significativo das mídias sociais para o compartilhamento de informações e para a obtenção de valiosos dados na esfera profissional. Além disso, fazer parte das redes pode ser um fator determinante na contratação ou até na demissão de um funcionário. Contudo, o uso exagerado, principalmente na escola, no cursinho e no ambiente de trabalho, pode atrapalhar a produtividade.
Quando um paciente relata que tem dificuldade em se desligar da rede, inclusive no trabalho, avaliamos juntos se há uma conexão psicológica com o fato. Hoje em dia já consideramos a compulsão pela internet como uma patologia, mas existem alguns critérios que são examinados antes do diagnóstico. O psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, referência na área e coautor do livro “Dependência de Internet – Manual e guia de avaliação e tratamento”, coordena o programa Dependentes de Internet, do Hospital das Clínicas (SP). Ele trabalha com a estimativa de que 10% dos usuários acabam se tornando dependentes. No site do programa, é possível fazer um teste para detectar quem sofre do problema.
Como na maior parte das vezes, o bom senso deve prevalecer – passar mais de 30 minutos do expediente interagindo nas redes sociais prejudica a produtividade, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do horário de trabalho e aos prazos estabelecidos para a entrega de tarefas. E, se você está à procura de um emprego, saiba que muitas empresas pesquisam o nome do candidato nas redes sociais para observar de que forma ele se comunica, quais as suas opiniões e interesses, e verificar se há compatibilidade com o perfil da empresa. Última dica: interagir mais virtualmente do que pessoalmente não é saudável. O contato interpessoal será sempre necessário, independente do uso da internet. Por isso, procure alimentar a sua relação com os colegas de trabalho e faça disso uma atividade quase que obrigatória em seu dia a dia.
*Mestre em psicologia pela PUCRS e há mais de 20 anos dedica-se à pesquisa em Ciências Cognitivas direcionada à preparação emocional de candidatos para provas, vestibulares e concursos.
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O legado do SUSP e o acerto na integração das operações policiais
Francisco Castro*
Para quem apostava que a indicação de Sérgio Moro para o futuro ministério da Justiça e da Segurança Pública se tratava de um mero oportunismo da parte do presidente eleito, precisa admitir que a reestruturação anunciada no organograma daquele ministério revela o quanto o ex-juiz está decidido a encorpar a pasta com a mesma robustez técnica que caracterizou a operação lava jato. Medidas como esta têm permitido a manutenção da credibilidade na agenda que vem se delineando a poucos dias do início do novo governo.
No início dessa semana, o anúncio sobre a criação da Secretaria de Operações Policiais Integradas protagonizou as inovações até então proclamadas para o enfrentamento ao crime organizado. A ideia é que a nova secretaria tenha por objetivo integrar operacionalmente os órgãos policiais federais e estaduais, sob uma coordenação nacional específica para ações pontuais e conjuntas, com a promessa de se preservar a autonomia dos Estados.
Essa renovação estrutural já indica um duplo acerto: a priorização da coordenação operacional dos órgãos de segurança, algo que sempre careceu de uma atenção especial; e a opção pela continuidade da implantação do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, com base na Política Nacional de Segurança Pública instituída recentemente pela Lei 13.675, de 11 de junho de 2018.
A coordenação das operações integradas era uma incumbência da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP. Recordamos a Operação Sentinela, iniciada no ano de 2011. Enquanto esteve ativa no Estado de Roraima, diversos órgãos policiais atuaram sob a mesma coordenação, intensificando ações preventivas e repressivas contra crimes transfronteiriços. Os efeitos foram claramente perceptíveis, com o registro de inúmeras prisões de foragidos da justiça, e diversas apreensões de armas de fogo e drogas nas fronteiras de Pacaraima e Bonfim, e no posto fiscal do Jundiá (divisa com o Estado do Amazonas). Com a atual escassez de efetivo que assola a maioria dos órgãos policiais, a segurança pública local se ressente pela ausência de uma operação com a mesma envergadura do que foi a “sentinela”.
Doravante, ter-se-á uma estrutura específica para administrar essas operações, permitindo-se que a SENASP possa dar continuidade à implantação do SUSP, efetivando políticas de estruturação e reaparelhamento junto aos sistemas de segurança estaduais e municipais, entre outras medidas administrativas.
É justamente esse o segundo aspecto positivo da remodelação estrutural proposta por Moro. A importância da edificação do SUSP, em âmbito nacional, tem relação direta com a necessidade de se estabelecer um canal homogêneo para o compartilhamento de dados, e para a uniformização das ações dos numerosos órgãos de segurança pública existentes no país. Seja por uma cultura organizacional conflitante, ou pela própria configuração institucional, a falta de uma comunicação eficaz entre as polícias representa um dos maiores entraves no avanço das investigações e na tomada de decisões coordenadas no âmbito da segurança pública. Lembrando a magnitude de órgãos de segurança pública existentes no Brasil: três polícias no âmbito federal, 27 polícias militares, 27 polícias civis, além da Força Nacional de Segurança Pública e das centenas de guardas municipais, sem falar nas polícias científicas e nas polícias legislativas. E cada instituição com sua própria metodologia para registro e planificação de dados.
A padronização nacional de ferramentas como o boletim de ocorrência e a uniformização dos procedimentos investigatórios pode se constituir em um dos maiores legados viabilizados pelo SUSP. Todo esse alinhamento possibilitará um pronto compartilhamento de informações entre as unidades da federação, o que poderá minimizar a problemática do baixo índice de resolução de crimes e a discrepância na mensuração de dados regionais, decorrentes da divergência de critérios na transmissão de informações estaduais.
Cabe ressaltar que a atuação integrada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em ações de segurança pública, além do compartilhamento das informações prisionais, e da conjectura da unidade de
registro de ocorrência policial, são previsões expressas na Política Nacional de Segurança Pública, materializadas sob a forma de diretrizes e metas pelo Decreto nº 9.489/18, que regulamenta a lei em comento.
Essa nova formatação administrativa e operacional pode ser o prenúncio de mudanças ainda mais profundas. Seria a pavimentação do caminho para uma futura nacionalização dos órgãos de segurança, ensaiando-se uma espécie de comando único para as polícias estaduais? Da mesma forma, poderíamos antever um importante passo para o arremate final da municipalização da segurança pública, razão pela qual as guardas municipais já se posicionam ao lado dos demais órgãos de segurança no SUSP?
No momento, a única certeza é que a engrenagem da segurança pública está sendo cuidadosamente azeitada e as mudanças, ao que tudo indica, deverão ser orquestradas sob a batuta de renovação e da quebra de antigos paradigmas.
*Tenente-Coronel da Polícia Militar de Roraima. Especialista em Gestão Estratégica de Segurança Pública.
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Quando teremos uma democracia?
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Não há como estabelecer uma relação entre voto obrigatório e democracia”. (Dolane Patrícia)
Tentar manter a população enganada com a fantasia de que vivemos uma democracia tem características distintas. Podemos classificar o engodo como hipocrisia, e tantas outras coisas indesejáveis. Faz muito tempo, e já estou me tornando chato, que venho batendo nessa tecla. Não podemos, nem devemos ficar nesse circo, dando uma de fantoche, acreditando que somos cidadãos, enquanto continuarmos votando por obrigação, quando deveríamos votar por dever de cidadãos.
Fiquei muito feliz, ontem pela manhã, quando encontrei um exemplar do jornal Folha de Boa Vista, com uma matéria da Dolane Patrícia. O jornal é de 22 de outubro de 2014. O título da matéria é: “Democracia X voto obrigatório.” A matéria cita exemplos notáveis sobre a nossa desorganização política. Fiquei feliz em encontrar tal matéria que reforça meu pensamento sobre o quanto ainda temos que caminhar para chegarmos à democracia. E o único caminho é a Educação. Enquanto não formos um povo educado não seremos um povo civilizado. E só um povo civilizado e educado tem condições de viver uma democracia plena.
Finalmente estamos iniciando uma mudança na nossa política, depois de décadas de transtornos. Que vai haver mudanças vai. Mas não no ritmo em que deveríamos caminhar. A situação é complicada. Mas vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita. Temos que sair desse balaio de caranguejos, em que vivemos. Chega de corrupção, bandalheira, e desrespeito aos que necessitam da Educação, para viver uma vida digna de cidadania. Vamos colaborar com os novos governos para que eles amadureçam e nos tire do analfabetismo político. Precisamos nos preparar para tirar o Brasil desse lamaçal em que apolítica brasileira está se afogando.
Ainda no século XVI, o rei da França, Henrique IV disse: “Todo povo é uma besta que se deixa levar pelo cabresto.” Não sei se esse pensamento faz parte dos cursos de política nos países subdesenvolvidos. Mas acho que sim. E o mais gritante é que, muito embora tentem encortinar isso, o Brasil ainda está no grupo dos políticos que pensam como o rei Henrique. Porque enquanto continuarem nos mantendo na obrigatoriedade do voto, seremos considerados bestas de cabrestos. Então vamos fazer nossa parte, exigindo dos novos mandatários, porque é o que eles são, o aprimoramento da nossa Educação. Porque, pelo que vemos ninguém está nem aí para a Educação. Um problema que não vai ser fácil de resolver. Mas nós os elegemos para nos garantirem um Brasil respeitável e respeitado. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460