Opinião

Opiniao 03 06 2017 4143

A sociedade e o apelo ao narcisismo – Sebastião Pereira do Nascimento*Narciso, personagem da mitologia grega que tinha um apreço excessivo por si mesmo e que morreu por se apaixonar pela própria imagem, o que inspirou o termo narcisista. Muitos anos depois o conceito foi reinterpretado por Sigmund Freud, sendo o primeiro a descrever o narcisismo como uma patologia psíquica conhecida como transtorno narcisista da personalidade.

De modo geral, o narcisista é uma pessoa egoísta e invejosa, que procura prejudicar aqueles que ameaçam a sua pretensa supremacia. No narcisismo o indivíduo busca sempre demonstrar um sentido de superioridade, acreditando ter mais direitos ou privilégios que os outros.

Estudos recentes reafirmam que a sociedade contemporânea vem sofrendo profundamente do mal do narcisismo. Consequentemente, isso traz mais complicações quando se percebe que esse transtorno vem afetando acentuadamente as crianças e os jovens. Sem excluir, contudo, boa parte da população adulta que comunga do mesmo mal.

Apesar de tudo, o comportamento narcisista nem sempre é tão fácil de reconhecer, sendo moderado, não há porque ser um problema. Mas o desejo extremado da pessoa em querer ser o centro das atenções, querer notoriedade social a todo custo, querer ser considerada extraordinária, a busca incessante da autopromoção nas redes sociais, o uso sôfrego da cirurgia para modificar o corpo, o egoísmo e o exibicionismo ou a resistência em admitir seus erros, tudo isso é indicação de alto grau de narcisismo, sendo no contexto alienante da sociedade um estado mental reservado aos imbecis e aos sociopatas.

Em outras ocasiões, quando este tipo de comportamento é mais sutil, por vezes pode ser prejudicial também. Por exemplo, quando uma pessoa que exige uma atenção exagerada a seus comentários ou a seus problemas e, se não consegue uma reposta à altura do que esperava, pode sofrer uma grande dose de frustração, tornando sua vida impossível. Isso identifica que realmente vivemos em uma época de egoísmo extremo, em que cada um está em busca apenas de seu bel-prazer.

Para muitos especialistas, o fato de o narcisismo estar mais exporto na sociedade contemporânea, vem principalmente da facilidade de acesso às redes sociais, onde o sujeito expõe sua imagem da forma em que ele deseja, transformando uma coisa insignificante em algo que para ele é extraordinário. Diante disso, é possível afirmar que esses meios de comunicações estão convertendo os seres humanos não só em espectadores passivos, mas em narcisistas ávidos em se autorrevelar como se deseja ser.

Nas redes sociais podemos nos mostrar como queremos que nos vejam e, essa imagem perfeita que acreditamos que os demais têm de nós, quando se é narcisista, pode elevar ainda mais o nível de transtorno da personalidade. Esse evento foi possível ser constatado a partir de um estudo realizado pela Universidade Católica do Chile, onde foi concluído que as pessoas que tiraram mais retratos de si mesmas durante o primeiro ano da pesquisa mostraram um aumento significativo no nível de narcisismo no decorrer do segundo ano de estudo.

Por outro lado, é admissível que outros fatores também podem contribuir para o aumento do narcisismo. Como, por exemplo, a educação parental que sobrevaloriza os filhos, sendo que esses elogios excessivos com o tempo podem fazer com que as crianças se considerem únicas e extraordinárias. Nesse caso, para evitar transtorno como esse, o importante é cultivar a autoestima da criança, que se consegue com carinho, apoio, atenção e limites.

Em linhas gerais, observamos na atualidade que as crianças, os adolescentes e os jovens se acham com direito e acesso a quase tudo, mas, no entanto, apresentam baixa autoestima e são mais infelizes. Isso pode estar ligado à incapacidade de preservar sua serenidade psíquica, bombardeada por intensas falhas comportamentais. Complementando, Sócrates apregoava, ainda no século V a.C., que “as crianças de hoje são umas tiranas. Contradizem seus pais, engolem a comida e tiranizam os professores”.

*Filó[email protected]

Teia – 2008 – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Quem? Ninguém; Veleiro do sul; Salinas de sal; Raios de sol; No sul do veleiro; Veleiros com sal; Salinas com sol; Com raios no sal”. (Salete Oliveira)Sempre que falo sobre as atividades dos Pontos de Cultura, me movo. Não posso parar enquanto não remexer nas lembranças que me fazem bem. Foi na Teia – 2008, em Brasília, que conheci duas mulheres que me encantaram: Maria das Dores Barbosa, (Dodora), e Alexsandre da Conceição Dantas, amiga e companheira da Dodora. Não me lembro se já lhe falei disso, mas foi um momento, no mínimo, inusitado. Estávamos na última reunião, e formávamos um círculo. À minha frente, enquanto esperávamos pelo palestrante, aquela garota levantou-se, veio até mim, e me entregou um prospecto do Ponto de Cultura de sua terra natal, Pendências, no Rio Grande do Norte. Para mim, aquele momento foi um choque muito agradável. Pendências é minha terra natal.

Foi, a partir daí, e através das duas estrelas, que vivi momentos de alegria; criei grandes amizades, embora só por correspondências, com pessoas que foram muito importantes nas minhas origens: Gilberto Freire de Melo, autor dos livros “Alto do Rodrigues” e “Reportagem que ninguém escreveu”. Alto do Rodrigues tem muito a ver com a história da minha descendência. Geraldo Queiroz, autor do livro “Geringonça do Nordeste – A fala proibida do povo”.

Tenho duas coisas a lamentar profundamente. Primeiro, o falecimento da Dodora, recentemente. Ela era uma mulher já idosa, e uma poetisa extraordinária. Minha segunda dor é não ter tido condições de visitar as pessoas que me orgulham e por quem tenho uma verdadeira admiração.

É muito bom criar e manter amizades. Mesmo à distância, o bem que elas nos fazem justifica os momentos que vivemos, sejam bons ou maus. Alexsandra, meu abraço do tamanho do mundo pra você. E continuo alimentando a esperança de um dia ainda nos abraçarmos de verdade. Você não imagina a felicidade que me proporcionou naquele encontro, há exatamente nove anos que me parecem uma eternidade. Uma pena que não tenhamos mais a Dodora, mas isso faz parte da vida. Imagine como sinto vontade de visitar essa Terra que tem nos dado momentos de alegria, com o progresso e o desenvolvimento cultural.

Quase sempre faço uma reflexão sobre os momentos que vivi na minha Terra, durante minha infância que foi de muita felicidade. Um abração pra você, Alexsandra, e toda a sua família, que espero conhecer ainda em breve. Foi muito bom eu ter me lembrado daqueles dias agitados e agradáveis, na Teia-2008. Uma pena que o movimento tenha enfraquecido. Mas também faz parte da vida. Pense nisso.

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