Não gosto de política
Não mesmo. Eu, na verdade, amo. E acho estranho as pessoas dizerem que não se sentem representadas por políticos que elas mesmas as e os colocaram no poder. A tal crise de representatividade tem mais a ver com o desgaste na relação contratual entre você e o que você espera da Política. E não me venha com “se não deu certo, a gente troca de novo”, pois somos campeões de rotatividade em cargos eletivos, e seguimos insatisfeitos. O problema está no método de escolha. O que você quer da Política?
É normal querer trocar tudo quando não se gosta do que se vê. E, em tempos de amores líquidos, ao se olhar no espelho, você gosta da imagem refletida? Como são seus valores, princípios morais e éticos? Esse sentimento de que não há mudança e de que todo político é corrupto, não é resultado do nosso jeitinho com a política?
Vamos tocar a real? A Casa do Povo deveria ter a cara do povo. Não são tantas mulheres, e quando há, não são as com quem você convive. Não são tantos negros, indígenas, trabalhadoras. Não me parece ter outro LGBT na Câmara ou Assembleia. Representatividade social é princípio fundamental das democracias liberais como a nossa. Ou elegemos mais pobres; mais mães solteiras sem creche; mais aposentados; mais quem entenda do desemprego; aqueles jovens de diploma engavetado; quem anda de ônibus ou precisa de calçadas; quem perceba o suicídio e as violências como temas urgentes; ou nunca teremos a diversidade e pluralidade ocupando os poderes, do jeito certo, sabendo o que vai fazer no cargo.
Quando você delega poder a alguém, e esquece de cobrar resultado, fica fácil do bolo desandar. Afinal, quem ama cuida. A corrupção doentia, os interesses escusos, o clientelismo, as vontades das elites tradicionais se alimentam de nossas ausências como cidadãos.
A democracia não é uma distribuição igualitária e imparcial de espaços no poder, mas a capacidade de exercer nossa força vital presente no processo decisório. Imagine isso sem reciclar nossa ética, nova visão de mundo? É mais que deixar de usar o canudo, pensando no meio ambiente; é ter consciência do todo, inclusive do lixão de hoje, sem chamá-lo de aterro sanitário, só para se sentir mais leve.
Precisamos nos envolver, explicar que a compra de votos nos trouxe a esse abismo, a essa enrascada. A falta de projeto de sociedade nos joga nos braços de salvadores da pátria e heróis que querem poder. Só isso e tudo isso. Renovar a Política só acontece se você se renovar de jeito honesto e transparente. Gostar de Política é pouco. É preciso amar.
Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista.
Mundo: uma orquestra em descompasso – Brasilmar do Nascimento Araújo
Chega de armamentos. De lépidos e destruidores caças derramando bombas em cidades inteiras e, consequentemente, produzindo o caos. De potentes tanques atravessando territórios alheios. De submarinos com a letal arma nuclear ou os monumentais porta-aviões singrando os oceanos para matar! Peças indispensáveis na logística de todos os beligerantes. Armas da ruína humana! Não podemos esquecer as tragédias que vêm ocorrendo ao longo da cronologia da história, exemplo, das bombas despejadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pela Força Aérea dos Estados Unidos. Devastaram as duas cidades com milhares de vítimas deixando sequelas que se estendem até hoje devido à radiação.
A humanidade em plantão permanente estarrecida da generalidade da violência que assola em todos os sentidos. Do ataque impiedoso a uma pacata escola, em templos religiosos ou na invasão deliberada e unilateral de uma nação. Precisamos de uma união universal pelo respeito, cidadania e da igualdade de direitos, entre homens e mulheres. “Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo a menos que as mulheres alcancem as mesmas oportunidades que os homens para influenciar o desenvolvimento em todos os níveis da sociedade. Como reconhecimento de suas lutas não violentas pela segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres de participar do trabalho de construção da paz”. Thorbjorn Jagland – ex: Primeiro-Ministro da Noruega.
O investimento tem que ser feito maciçamente nas pessoas, na sua formação moral e intelectual. Alicerçado pelo caminho da sociabilidade desde jovem. Vamos todos partilhar as nossas ideias balizando a pesquisa e a cooperação, como instrumentos benéficos na melhoria da raça humana. Todos precisam entender que o sangue tem que continuar irrigando as nossas artérias e oxigenando vidas. E, não, sendo derramado nas trincheiras da discórdia e da irracionalidade!
Hoje, depois das duas Grandes Guerras Mundiais (1914/1918 – 1939/1945), dos episódios mais degradantes que abalaram a humanidade no século XX. Interrompendo sonhos; não houve os Jogos Olímpicos de 1916, 1940 e 1944, em razão dos conflitos e arrastando uma avalanche de milhões de vidas; vítimas da estupidez que nos envergonha! O calendário cronológico é o espelho da história para repensarmos nossos valores e acreditarmos que não há um caminho na direção da paz. Mas, simplesmente, cada um ser o ator da paz. Como a fecundação da terra pela chuva. Completam-se!
Precisamos ser o enfermeiro do grande hospital que é o mundo! Vamos respeitar as diversidades de credos e ideologias, em todas as sociedades e em cada indivíduo. Que todas as coletividades trilhem caminhos promissores. Juntos, façamos do Planeta Terra uma grande mesa conciliatória. Resgatando os cidadãos de todos os descasos e estendendo o nosso braço em todas as direções. Não é mais possível que no limiar do terceiro milênio ainda existam tantos abismos entre as pessoas!
A coisificação de cidadãos, sobretudo nas grandes periferias precisa ser compreendida e foco de projetos arrojados, como marco de um novo tempo. Do cidadão, parte indissociável da comunidade, participativo e fraterno. A bordo da locomotiva da educação, desde o Jardim de Infância sinalizando a esses pequeninos seres que em contato com várias realidades diferentes vão aprender valores que contribuirão para formação da sua identidade pessoal e social. Ou seja, pavimentarão caminhos com grandes perspectivas de prosperidade.
Precisamos do mundo, onde as mulheres continuem contribuindo de forma significativa, em todas as áreas norteando a prosperidade das nações. Precisamos do mundo sem as guerras como aquelas que sacudiram a humanidade no século XX. Carecemos do mundo, onde a educação seja a arma libertadora dos povos. Não há limites para o saber. A educação proporciona a integração dos povos; liberta-os da obscuridade do conhecimento e, consequentemente, abre um vasto horizonte para inúmeras conquistas!
*Articulista e Poeta [email protected]
Falando sobre pessoas – Oscar D’Ambrosio
Imagine todo dia você acordar num corpo diferente, mas mantendo a consciência de quem você. Essas transformações permitem ter uma rica visão multifacetada do mundo e, ao mesmo tempo, ser muitos significa não ser ninguém de verdade.
Essa questão é colocada no filme ‘Todo dia’. A direção de Michael Sucsy toma como ponto de partida o romance ‘Everyday’, de David Levithan. Não se trata de texto ou cinematografia brilhante, mas
de um assunto que tem o seu charme e atualidade, pois, numa era de intolerância sob diversos aspectos, entender que os mesmos valores positivos podem estar sob diferentes ‘cascas’ é um exercício.
A tradicional discussão de essências e aparências é tratada de maneira superficial, numa perspectiva adolescente, mas, justamente por isso, o filme funciona. Não existe a pretensão de ser filosófico ao abordar a questão. Há a sincera intenção de contar uma história de amor, o que não é pouco num mundo repleto de mensagens de ódio.
‘Todo dia’ é apenas o que parece ser. Trata, com delicadeza, de uma pergunta assustadoramente complexa: como podemos manter as pessoas queridas perto de nós mesmo quando isso parece impossível? Como aprimorar a habilidade de sermos nós mesmos e respeitar o outro?
Um dos personagens, que se dedica à pintura de retratos após perder o emprego numa seguradora, questionado sobre por que escolheu esse assunto, apenas diz que “pinta aquilo que conhece e que está ao seu redor”: pessoas. Talvez seja isso que falte ao mundo contemporâneo: falar de verdade para quem e sobre quem nos rodeia: seres humanos, lindos e falhos em suas fortalezas e fraquezas.
*Mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Saindo para o ativo – Afonso Rodrigues de Oliveira
“Bendita crise que me tirou do marasmo.” (Mirna Grzich)
O sossego às vezes cansa. O ser humano necessita de movimentos para se manter ativo. Lembrei-me disso ainda há pouco, olhando uma criança brincando, no escorregador, ali na praça. Ela devia ter nada mais de três aninhos. Subiu, e escorregou, caiu bem, levantou-se e subiu novamente. Só que dessa vez ela não caiu tão bem quanto da primeira vez. Mas também não se incomodou. Levantou-se e correu para a escadinha, subiu e não teve tempo de escorregar, porque a mãe dele correu e o segurou pela mão e não permitiu mais que ele descesse sem a ajuda. O garotinho acabou se irritando e saindo para outro brinquedo. A mãe postou-se bem por perto dele, como se estivesse, e estava, tentando protegê-lo.
Fiquei mais alguns minutos observando o comportamento da mamãe. Ela estava agindo certo ou errado? Cabe a cada um de nós, analisar. Mas enquanto pensava, pensei no que alguém já disse: “A criança que nunca caiu nunca vai aprender a se levantar.” A queda daquele garotinho estava muito longe de ser uma queda. Ele apenas se desequilibrou um pouco e tombou, num tombo que estava longe de ser um tombo. Às vezes exageramos nos cuidados que temos e tomamos com nossos filhos. E até poderemos estar prejudicando-os com cuidados exagerados. Devemos deixar que nossos filhos enfrentem as suas vidas já nos seus primeiros meses de vida. Mas sob nossa observação rigorosa. Rigorosa, mas não exagerada. É muito mais edificante ajudá-lo a levantar-se, quando for necessário. Quando aprendemos com a queda, aprendemos a não cair.
Durante a vida toda aprendemos mais com os erros do que com os acertos. O Thomas Edson já disse que quando errava, não errava, aprendia como não fazer. Quando não nos prendemos muito aos erros estamos aprendendo a corrigi-los em nossas mentes. Então não fique preso a pensamentos negativos. Eles vêm de erros, muito embora não saibamos quais, nem quais as origens deles. E isso não importa. O que interessa mesmo é que saiamos do marasmo mental e caminhemos pelas veredas da vida. E o entusiasmo e a alegria são os instrumentos mais fortes para que vençamos as batalhas que não devem nos incomodar. Mantenha seus pensamentos sempre ativos nas coisas e momentos mais agradáveis de sua vida. Quando a lágrimas escorrerem pelos olhos talvez elas estejam lhe trazendo saudades. E só sentimos saudades quando fomos felizes. E se fomos, por que não continuarmos sendo?
Não se esqueça de que você é um astronauta da vida. Que no dia do seu aniversário você estará completando mais uma volta em volta do sol. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460