A saga de um professor – Antonio de Souza Matos*Ingressei no magistério público estadual como regente de ensino, em 1990. De lá para cá, já se passaram 26 anos de luta e sofrimento para manter o mínimo de dignidade pessoal e profissional.
Na condição de servidor temporário, esperei cinco anos por um novo concurso. Nesse período, o salário foi ficando defasado, a ponto de eu não poder pagar passagem de ônibus para vir do local de trabalho (Maloca do Contão) a Boa Vista.
Assim, mensalmente, punha em risco a integridade física pegando carona em cima de picapes e/ou em caminhões de garimpeiros. Além disso, mendigava, nos gabinetes dos deputados, passagem de ônibus para regressar ao local de trabalho – a 230 km da Capital.
De 1991 a 1995, já casado, morei numa casinha de palha, que não tinha sequer sanitário externo. Fazíamos as necessidades fisiológicas e a higiene pessoal a cerca de 500 metros da moradia. Apesar das condições adversas, consegui, nesse ínterim, concluir o magistério. Por fim, em 1994, prestei o concurso e fui efetivado. Em 1996, fui morar na sede de Pacaraima, mas tive de retornar ao Contão, após cinco meses, porque o salário não dava para pagar aluguel.
No final de 2001, fui obrigado, para não ficar num plano em extinção, a optar pela Lei 321, que substituiu a Lei 110. Perdi o direito à progressão automática por titulação. Mas só descobri isso quando estava concluindo o Curso de Letras, em 2004. Fiquei indignado, pois o mesmo governo que havia me incentivado a fazer a licenciatura me bloqueava o caminho da ascensão profissional.
Foi por causa disso que, naquele ano, procurei o jornalista Jessé Souza e solicitei-lhe espaço na Folha para publicar artigos sobre valorização do professor. Em 2007, por conta da chamada “Operação Tartaruga”, fui contemplado com a redução da carga horária de 30 horas para 25 horas, por meio da Lei 609, que também destravou a progressão vertical. Em 2008, participei, pela primeira vez, de uma greve. Já havia lido Educação e Mudança, de Paulo Freire, e A Miséria da Biblioteca Escolar, de Ezequiel Theodoro da Silva, entre outros. Conquistei 14 anos de progressões por tempo de serviço, com os respectivos retroativos, e um reajuste salarial de 15%.
Em 2009, entrei em mais uma greve para garantir o mínimo de condições de trabalho. Desta vez, conquistei, com meus colegas, o quadro magnético no lugar do quadro de giz, além da climatização da sala de aula, embora algumas escolas não tenham conseguido instalar as centrais de ar, haja vista a inadequação da rede elétrica.
Daí para a frente, muita água rolou debaixo da ponte. Outras lutas foram travadas, por exemplo, para termos direito à data-base (reajustes anuais) e à redução da carga horária mediante a adequação da Lei 609 à Lei do Piso. Foi assim que surgiu a Lei 892, em 2013, reacendendo a esperança de valorização. No entanto, nunca foi implementada, e o atual governo, com o aval da Procuradoria-Geral do Estado (Proge), ventilou revogá-la. Embora tenha anunciado que não pretende mexer na carga horária dos professores, deixou transparecer o intento de elevá-la. Por isso, aderi à greve atual, com receio de ser obrigado a optar por um plano que surrupia direitos adquiridos, conforme ocorreu em 2001.
Tal como a maioria dos professores estaduais, hoje tenho dois contratos de trabalho. Fui forçado a isso. Pela primeira vez, estou participando de duas greves ao mesmo tempo. Esta é a dura realidade: o profissional da educação, seja professor, seja técnico, independentemente do nível de governo, enfrenta um processo doloroso e contínuo de desvalorização profissional.
Faltam menos de seis anos para aposentar-me como professor. 26 anos de magistério me deixaram um saldo negativo: um esgotamento e uma anomalia permanente nas pregas vocais.
Nesta altura da carreira, não dá para simplesmente jogar a toalha. Tenho de lutar até o fim, se quiser sobreviver aos futuros jabs e cruzados desse sistema político, que visa manter o trabalhador, sobretudo o da educação, na lona.
*Professor e revisor de textosE-mail: [email protected] ———————————————-
Avante, professores! – Francisca Monteiro*Quando os bons se calam, os maus prevalecem envoltos na iniquidade que calunia, que trama, que mente e que mata as esperanças, os sonhos daqueles que desejam um mundo melhor. A greve dos professores do Estado de Roraima é legal e representa a união de uma categoria de profissionais que pode-se dizer é a mais desvalorizada pelas autoridades, haja vista o descaso com que são tratadas suas reivindicações.
Por que o clamor dos professores não é ouvido? Será que todos estão surdos? Não se ouve uma voz dos pretensos representantes do povo que fale em favor dos professores! É claro, filho de político não estuda em escola pública, político só “precisa” de professor na hora do voto. No jogo de seus interesses que político tomaria a defesa dos professores? Não bastasse o abandono dos professores à própria sorte, com pontos cortados, dignidade aviltada, injúria e difamação, pela sociedade de modo geral que fica indignada porque os alunos não estão nas escolas, porque minhas férias programadas pro final do ano não vão acontecer, porque minha rotina foi alterada devido à greve que já dura quatro semanas e que não tem previsão pra terminar.
E que tal se você que se sente prejudicado pela greve dos professores fizesse o caminho inverso? Em vez de criticar os professores, procurasse saber qual o motivo da greve e se realmente as reivindicações dos professores foram atendidas. A maioria dos pais de alunos das escolas públicas sabe que a educação no Estado de Roraima só funciona ainda porque a desvalorizada categoria dos profissionais em educação acredita que é possível sim a real transformação do ser humano através da educação!
É lamentável que tentem calar a voz dos professores com artimanhas mentirosas, divulgações infames, na tentativa de angariar a simpatia do povo e convencer os incautos de que a mentira é verdadeira! Quem deveria tomar a defesa da greve dos professores e falar em defesa da categoria, quando se manifesta é para dizer que a greve é desnecessária, a greve é ilegal, que os professores devem voltar às salas de aula. E a verdade? E o direito dos professores? E o respeito à democracia? E a liberdade de expressão? Onde estão nossos direitos? É impossível calar diante de tamanho desrespeito!
*Psicopedagoga ——————————————-
Educar é solução – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Vamos investir primeiro em educação, segundo em educação, terceiro em educação. Um povo educado tem as melhores opções na vida, e é muito difícil que os coruptos mentirosos os enganem”. (José Mojica – Presidente do Uruguai)Não há como investir positivamente em qualquer outro setor se não investir primeiro na educação. Sem um povo educado nunca seremos um país desenvolvido. E não acreditamos que os políticos da cúpula política estejam interessados em educação. O eleitor educado nãoaceita permanecer na ditadura do voto obrigatório. Porque a obrigatoriedade do voto não é, nem nunca será, demoracia. E como somos eleitores politicamente analfabetos, contimuamos sem dar a mínima atenção para isso. E os políticos de elite continuam defendendo a ideia de que o voto continuará obrigatório porque o povo não está preparado para o voto facultativo.
Todas as pessoas esclarecidas sabem disso. E sabem que os senhores sabem, embora finjam não saber, que o brasileiro só estará preparado para o voto facultativo quando for educado. E sabe que não seremos educados enquanto não investirmos na educação de qualidade. Porque, cá entre nós, nossa educação anda capenga há décadas. Já lhe falei do dia em que olhei o caderno de um dos meus filhos, no Rio de Janeiro, em 1974 e o Estado do Acre estava na relação dos Territórios Federal. Alertei meu filho para ele falar com a professora, que o Acre era Estado e não Território. Ele falou com ela, e ela mandou me dizer para eu não atrapalhar o trabalho dela. Meu filho ficou sabendo que o Acre era Estado, mas os colegas dele, não. Mais de vinte anos depois, já em Boa Vista, um dia pedi a uma de minhas netas, um livro pra eu colocar na prateleira e ela, encabulada falou:
– Vô… eu falo assim porque o você fala. Mas minha professora de português me corrigiu, dizendo que o certo é pra mim fazer e não pra eu fazer.
Sorri e falei pra minha neta que, sempre que ela estivesse com a professora, falar “pra mim fazer”, mas longe da professora, falar pra eu fazer. Minha neta fez isso. E acredite, a educação continua no mesmo patamar. E a política também. E enquanto isso, vamos nadando no lamaçal da ignorância e afundando no poço dá mediocridade, vendendo e comprando votos, levando para a política, desonestos e incompetentes que vão nos ludibriando e deixando de investir na educação, por conveniência deles. E vamos pagando um pato carríssimo. Vamos valorizar mais a educação. Sem ela nunca seremos um povo digno de respeito; nem mesmo sabendo o que é patriotismo. Ainda pensamos que ser patriota é morrer pela Nação. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460 ————————————–
ESPAÇO DO LEITOR ENTULHOSA leitora Jamille Araújo enviou o seguinte comentário: “Enquanto existe uma mobilização de alerta em relação ao combate do mosquito transmissor da dengue, algumas ruas dos bairros localizados na zona Oeste estão com carradas de entulhos, lixo e galhadas para serem retiradas da frente das residências. A preocupação é que este trabalho deve ser feito o quanto antes para evitar a proliferação do mosquito, além de ser incômodo para os moradores terem na frente de suas residências esse lixo proveniente da limpeza das ruas”, relatou.ABANDONO Moradores de Alto Alegre comentaram que uma situação chega a causar revolta entre os moradores: a situação de abandono do prédio que serviria para abrigar a Universidade Estadual de Roraima (Uerr). “Infelizmente, o desperdício de dinheiro público empregado em obras é algo vergonhoso, pois, se não acontecessem desvios de verbas e irregularidades na prestação de contas, a realidade seria outra”, escreveu uma moradora.FERIADOO internauta Silas Moraes relatou que, com a chegada de mais um feriado prolongado, novamente é preciso redobrar os cuidados, uma vez que a todo instante a imprensa está noticiando inúmeros assaltos na cidade. “Esta semana mesmo, no bairro onde resido, o Jardim Primavera, conseguimos evitar que uma residência fosse assaltada. No entanto, a maior demora foi da viatura da Polícia Militar para encaminhar o cidadão até um distrito policial”, frisou.APICULTORES Os apicultores que trabalham no beneficiamento do mel encaminharam a seguinte reclamação: “Novamente, gostaríamos de solicitar a fiscalização da Vigilância Sanitária Estadual para coibir a venda ilegal de mel nos semáforos da Capital. Esta semana, outra vez, um grupo de indígenas estava comercializando o produto sem nenhuma fiscalização sanitária”.