Opinião

Opiniao 04 05 2019 8129

Multiplicar o tempo. Pra quê? Pra quem? – Por Roberta D’albuquerque

Em um artigo do fim de janeiro deste ano, do Ideiasted.com, a jornalista Mary Halton nos presenteou com um texto que desde então faz eco aqui na minha cabeça. A matéria me pegou pelo título: “Multiplique seu tempo com 4 perguntas sobre cada uma das tarefas da sua to do list.” E seguiu entregando o que prometia já na primeira frase: “OK, este texto não vai lhe dizer como conseguir dias de 38 horas (mas estamos trabalhando nisso!)”. As dicas de Halton são baseadas em um estudo do consultor de liderança americano Rory Vaden e antes de continuar minhas observações sobre todo esse pacote – Deus me livre de te fazer perder tempo, que horror! – listo as perguntas que, segundo Halton e Vaden, devem ser feitas à sua lista, lá vai:

1.    Consigo eliminar essa tarefa? 2.    Se não consigo eliminá-la, é possível automatizá-la? 3.    É uma tarefa que pode ser delegada? 4.    Preciso fazer isso agora ou posso fazer depois? 

É claro que aqui, falamos da produtividade nos negócios. E as tarefas sobre as quais autora e pesquisador se referem são muito provavelmente planilhas, relatórios, reuniões, conferências e afins. Mas, meu ouvidinho de psicanalista não consegue enxergar nenhuma outra coisa se não as lições de casa psíquicas. A agenda interna que temos conosco e que facilmente se encaixa na lista acima. 

Imagine que há uma questão pendente aí do outro lado desse texto. Sim, com você mesmo que me lê agora. Não estou dizendo que há – ai de mim. É um exercício, imaginemos. Pois se há uma questão, um incômodo, algo que nos diz que a vida não pode continuar como está, qual é nossa primeira tentativa? 1. Eliminar. E se eliminar não for possível? 2. Joga no automático e espera resolver sozinho. Não deu? 3. Delega! Nada ainda? 4. Deixa pra depois. 

É ou não é? Minha gente, não quero ser eu a dar a má notícia, mas o dia pode ter 38 horas, 48, 58, quantas horas o trabalho duro de Mary Halton conseguir nos oferecer num futuro próximo, a lista de tarefas pode ser analisada, refeita, questionada, por Rory Vaden, por mim, por você, mas a vida pede seu próprio tempo e olhar para nós está para além da produtividade. Requer coragem, requer mais do que truques e dicas. E é preciso, é urgente. Há de trabalhar. Boa semana queridos.

*Psicanalista

Entrando água! – Selma Mulinari*

Quando o barco está entrando água não tem muito que fazer, ou o timoneiro para e conserta o problema, ou vai ter que seguir a viagem inteira tentando retirar a água para não afundar com barco e tudo. Esse parece ser o problema do sistema educacional no estado de Roraima, está entrando água e ninguém está conseguindo consertar o lastro.

A atual gestão da Secretaria de Educação encerou o ano letivo de 2018, foi essa equipe que aí está que assumiu quando da intervenção. Para clarear e balizar o entendimento, em outubro do ano anterior, a SEED juntamente com as escolas já deveria ter o calendário do ano que entra pronto. Já deve estar com previsão de matrículas em andamento, enfim, o novo ano já deve estar em gestação, planejado e esperando para iniciar.

Contudo, ao chegar o momento de iniciar o ano letivo de 2019 adiou-se o calendário escolar por um mês. As justificativas foram inúmeras, muitas delas, meras desculpas que já caíram por terra, já foram até desmentidas. Uma hora o calendário de 2019 não iniciou por conta do transporte escolar, outra hora era por que faltava professor, num outro momento era a falta de merenda e depois simples desculpa: tentar realizar a organização geral da casa. 

Todo mundo que chega coloca mil defeitos na equipe que saiu e promete logo mudar o mundo. Que a partir daquele momento tudo vai ser diferente, que vai organizar a bagunça reinante. As promessas são grandes: reformas, revitalizações, realização de seletivo, novos contratos para transporte escolar, merenda de qualidade, material didático, tudo para deixar todo o sistema brilhando. Mas! Sabemos que o buraco é mais em baixo!

Organizar significa colocar em ordem, acabar com a desordem e com a bagunça, aparelhar. Reformar significa aperfeiçoar, melhorar, reparar. Revitalizar significa revigorar, dar uma cara nova, um up. O X da questão é que isso não se faz num passe de mágica, então passados os trinta dias solicitados o calendário foi iniciado somente nas escolas da capital, Boa Vista. No entanto, as escolas de Boa Vista continuam com os mesmos problemas, prédios ruins, merenda ruim, sem transporte escolar e faltam professores. Pelo menos são as reclamações recorrentes que recebemos.

Chegamos ao final de abril e ainda temos alunos que não tiveram um dia sequer de aula. Nas escolas do interior, então, não se sabe como vai ficar o ano letivo, pois temos municípios em que as aulas iniciaram e outros não. E as escolas indígenas como vão ficar?

A pergunta que não quer calar é como colocar 200 dias letivos dentro de um ano que já correu contando até o final do mês de abril, 120 dias. Difícil né! Mesmo contando com os feriados e sábado é difícil conseguir. A conta é simples, um ano tem 365 dias, retirando os 120 dias que já passaram, resta-nos 245 dias. No caso do ano de 2019 teremos 255 dias úteis e Já gastamos nesses primeiros quatro meses 83 dias úteis. Restando somente 172 dias úteis até 31 de dezembro.

No caso das escolas que ainda nem iniciaram o ano letivo, como vamos fechar a conta de 200 dias se não temos mais como coloca-los dentre desse ano, mesmo abrindo mão dos feriados e sábado sendo contado como dia letivo?

Vale lembrar que para fechar o ano letivo das escolas da capital, durante todo esse ano as escolas terão que repor aulas aos sábados para fechar o ano letivo. O mais difícil nesse processo é justamente o aproveitamento desses dias letivos. Essa questão bate de frente com o planejamento familiar e causa enormes problemas. Sem contar que não rende, não tem aproveitamento.

Foi amplamente anunciado pela gestão da SEED que as aulas do interior iniciaram parcialmente. Seguem sem aulas as escolas dos municípios de Amajarí, Caroebe, Normandia e todas as escolas indígenas. Imaginem como vai ser essa estória, quantos calendários vamos ter no Estado, como vai ficar se um aluno precisar de transferência, essas coisinhas, minúcias que atrapalham a vida de todo mundo. Já vimos esse filme, durante os quatro anos do governo anterior, em função de uma greve de professores o calendário foi alterado e passamos três anos para organizar novamente. 

Dessa vez vamos passar os quatro anos desse governo e mais um ou dois do que virá que com a graça de todos os guias espirituais essa experiência atual será única, para conseguir organizar o calendário escolar. Essa é uma questão de suma importância, pois atrapalha a vida de todos, mas causa problema principalmente para quem está se preparando para entrar em uma universidade. Os alunos que precisam fazer vestibular, ENEM, entre outros, ficam prejudicados quanto ao fechamento do ano letivo.

Enquanto isso, a comunidade escolar ainda continua esperando a melhoria da rede e o choque de gestão anunciados pelo novo governo. Assim como a aplicação dos recursos que foram anunciados que tinha. Afinal o problema era má gestão
e não a falta de recurso!

*Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]

Amor à humanidade – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Bendita crise que me traz de volta o amor pela humanidade.” (Mirna Grzich)

Se se prestar bem atenção, novas coisas começam a acontecer à nossa volta. Coisas que, pelo nosso despreparo para a vida, não somos capaz de observar. Semana passada, íamos, a dona Salete e eu, caminhando pela Avenida Copacabana, aqui na Ilha Comprida. É ali que fica o miolo do comércio forte da Ilha. De repente a Salete parou e apontou para uma placa na parede de um consultório de odontologia. Ela adora esses ambientes. Só que ela nem se deu conta do gesto que fiz, olhando para a placa. Adorei o que li: Dra. Islado Marina. Não pude deixar de rir. Não por considerar a placa fora de forma, mas pela maravilha da coincidência. Já pensou uma doutora com o nome de Isla, numa ilha? Legal pra dedéu. Tão legal que a dona Salete entrou correndo no consultório e marcou uma consulta para a manhã. Coisas de mulheres. 

E por falar em coisas de mulheres, já sabemos do grau de observação da mulher em frente às lojas. Aquele é o mundo delas. E a dona Salete não poderia ser diferente. Semana passada, sem ela saber, resolvi ver onde estava a atenção dela nos passeios pela Ilha. Saímos numa caminhada pela Avenida Beira Mar. Iniciei o teste. Íamos passando pela Prefeitura e eu falei: – Aqui é a Prefeitura. – Eu sei. Já estivemos aí.

Continuamos a caminhada. Passávamos pelo Cartório e falei: – Aqui é o Cartório. – Eu sei. Já estivemos aqui, não se lembra, não?

Ela já tinha me mostrado umas dez lojas de roupas e coisas tais. E já passávamos pela Câmara Municipal e novamente falei:  – Aqui é a Câmara Municipal. – Eu sei. Também já estivemos aí, com o Alexandre. 

Comecei a perceber que ela já começava a me olhar de soslaio. Foi quando passávamos pela OAB e inadvertidamente falei: – Aqui é a OAB.

Ela parou, me olhou com cara de irritada e falou braba: – Por acaso você está pensando que sou uma idiota? Por que ficar me mostrando esses prédios quando eu já os conheço? Tá a fim de brincar comigo? Por que você não presta mais atenção às lojas? Eu nunca vou necessitar de ir à OAB, você vai? Então vá, eu não vou. 

Minha brincadeira de mau gosto mixou. Continuamos a caminhada pelo calçadão, mas o passeio perdera o sentido. E tudo por minha burrice. Por que as mulheres devem se preocupar mais com os prédios públicos do que com as lojas de roupa? Cada um na sua e é por isso que elas, as mulheres, são tudo de que um homem necessita para ser feliz. É só ele deixar de ser tolo e prestar mais atenção à beleza que emana da beleza da mulher. Vamos aprender a viver com elas como elas são, para que sejamos o que somos. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460