Opinião

Opiniao 05 03 2018 5748

O mindinho midiático – Tom Zé Albuquerque*

A semana que passou foi cercada de notícias por tudo quanto é lado sobre a fissura do dedo mindinho do pé do jogador de futebol brasileiro, Neymar. Para qualquer site conectado (inclusive os sérios), para qualquer TV ou rádio acionados lá estava o “dedim”.

O nosso país passa pela maior crise financeira de sua história, com bilhões de dívidas, externa e interna. O Brasil está hoje entre os países mais corruptos do mundo, a crise moral e a degradação ética atingiram níveis estratosféricos e inaceitáveis para qualquer sociedade normalmente organizada. A economia passa por uma instabilidade assombrosa, a camuflagem divulgada pela mesma mídia neymaiana visa tão somente o pleito eleitoral. Sem reformas política, tributária e educacional o país do carnaval, do Pablo Vittar e do Neymar vai continuar massacrando a população.

E nesse bafafá, a mídia, alheia a isso tudo, prefere explorar a mediocridade através de um jogador de futebol traçando a namorada no seu colo, ambos numa cadeira de rodas, intitulada de “novo possante”. O Neymar não é exemplo pra nada na sociedade. Sonega impostos, respondeu processos no Brasil e na Espanha por trapaça; vive de disputas por dinheiro contra ex-clubes. Atuou contra seu futuro time, numa final de torneio, com contrato já assinado. Na profissão dele é um moleque, falseia situações, burla jogadas, vive de enganar os árbitros com sua desonestidade. Desrespeita os adversários (colegas de profissão) e se impõe perante seu grupo à cata de benesses e privilégios, muitas vezes bizarros. O pai está longe de ser referência e contribui bastante com o caráter do filho.

Para tanto, ao chegar ao Brasil pra tratar do dedo mindinho, o jogador bobão foi recebido com sistema fortíssimo de segurança, tratado numa ala inteira de um hospital e com regalias que 99% dos brasileiros jamais se depararão. Por ter contrato de exclusividade com facção forte da imprensa, a sociedade é bombardeada de asneiras, divagações e patetices. Esse status só é restrito, no Brasil, a poucos: alguns jogadores, sertanejos que berram, políticos… fico imaginando se torcedores tivessem a preocupação e o senso repreensor com os políticos que destroem o país, tal qual têm com o futeboleiros.

Para este nefasto caso, um médico mineiro, plantonista em maternidade pública, disparou seu desabafo: “Faltam leitos de CTI neonatal; pacientes ficam alojados em macas por falta de leitos em enfermaria. A exatos 50 metros daqui, Neymar está internado. Pedestres estão sendo impedidos de transitar pela calçada do hospital. Viaturas da polícia estão estacionadas desde cedo nos arredores. Um andar inteiro, com muitos leitos, está interditado para receber o jogador.

Helicópteros sobrevoam o hospital e Inúmeros repórteres fazem firulas na porta do hospital; papagaios de pirata com suas embaixadinhas e mais uns bons desocupados com camisas de time esperando um autógrafo. Tudo transmitido ao vivo. Do lado de cá, pacientes esperam horas para serem atendidas e muitas outras são transferidas por falta de estrutura imediata para internação. São apenas dois andares para receber as pacientes e, no momento, não existem vagas.

Enquanto a maior preocupação da maioria do povo é se o dedo mindinho luxado vai permitir que o ababacado Neymar jogue bem na Copa do Mundo de futebol, quase nada se aponta sobre o pleito eleitoral que se avizinha, quem serão aqueles que continuarão o saque no país. Nada a preocupar, até lá o Wesley Safadão e as coleguinhas vão entretendo os brasileiros.

*Administrador

Extinção do analfabetismo – Pedro Cardoso da Costa*

Dentre os problemas da Educação no Brasil, o analfabetismo é o mais grave. Em noticiário no início da década de 90 divulgou-se a diminuição da alta taxa do analfabetismo em decorrência da morte de pessoas idosas, faixa de maior número de analfabetos.

Colocar no papel mais algumas teorias a respeito do assunto até que não é tão difícil. Complicado é quando as sugestões precisam ser efetivadas no dia a dia, pois dependem decisivamente de políticas públicas efetivas, incisivas, amplas e duradouras. Um problema básico, que precisa ser solucionado para que o país tenha mão de obra qualificada e alcance o desenvolvimento socioeconômico.

O Governo Federal deveria criar uma lei que permitisse aos empregados estudarem nas próprias empresas, sem obrigação de frequência em estabelecimento de ensino, ficando a avaliação periódica a cargo das secretarias de Educação.

Aos empresários caberia dividir as despesas financeiras, adequar os horários para permitirem o estudo via conferência ou à distância, com adequação de um local de estudo dentro dos próprios estabelecimentos. Nesse caso, financiariam o material e o funcionário ficaria obrigado a ressarcir após a conclusão do curso ou quando saísse da empresa, num prazo razoável já predefinido.

A imprensa precisaria contribuir com mais debate e publicação de matérias sobre a educação. Já os cidadãos deveriam desempenhar o papel de convencerem os analfabetos mais próximos, parentes, empregados, vizinhos e amigos a deixarem essa condição e encararem a educação com mais seriedade. Quem já estivesse afastado, deveria voltar à sala de aula para conclusão do ensino fundamental e médio.

Por enquanto, as autoridades falam muito enquanto a qualidade da educação só piora. Não há justificativa plausível para o Brasil ainda contabilizar milhões de analfabetos e outros tantos mais de semianalfabetos. O engajamento precisa ser geral e irrestrito para a extinção do analfabetismo, essencial para melhoraria do ensino em geral.

*Bacharel em direito – Interlagos/SP

À deriva – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A ação nem sempre traz felicidade, mas não há felicidade sem ação.” (Benjamin Disraeli)

A procura faz parte de minha vida. Andei terras, vi gente, desconhecidos, o desejado e o indesejado. Andei por andar, andei. Pisei e sonhei. Infância bonita e bem vivida e quase desentendida. Buscador e explorador explorado. Nave questionadora e sem rotas. Rotas quase sempre sem farol, mas pés no chão. Chão nem sempre plano e com veredas quase sempre ínvias. Entre rosas e es
pinhos, risos, sorrisos e lágrimas contidas e escondidas. Mescla de vida que faz querer viver. E eu quero.

Três mil quilômetros me separavam de minha esposa e do meu filho Homero, com apenas um mês de idade. Superior à distância era a impossibilidade de vê-los.

O pensamento viajava pelas ruas turbulentas à procura da família. Meu corpo físico driblava os cipós e os espinhos da floresta implacável, indomável, bruta e desafiadora. O sono fugia, quando eu mais precisava dele. Manhãs longas, alongadas pela ausência do sono.

Acordei mais cedo e saí da maromba. Ninguém me viu. Caminhei a esmo pelo meio do milharal. Comi vinga verde e crua. O friozinho matinal mexia forte com meus músculos. Eu caminhava célere pensando lento. O Sol não dava o ar de sua graça, nem tinha graça esperar por ele. Mesmo porque ele não escondia sua chegada. E lá vinha ele tirando-me do torpor. Atravessei o campo de soja e cheguei ao esplendor do nada. Nada, no entanto, livrou-me do esplendor nascente do lençol furta-cor nos pendões do trigal.

Estático e vencido, parei. Um mundo desconhecido e inesperado desabrochava-se se expandindo no horizonte, num leque indescritível. Em pé, sobre um tronco, observei a dispersão da luz dourada, inebriante, extasiante e nada mais do que encantadora. A brisa suave agitou-se na ânsia do encontro com a luz rasteira. As duas se encontraram, abraçaram-se e se ondularam formando onda nos pendões do trigal, tecendo um imenso lençol de cores. Mas não há como descrever um momento indescritível. Ele bate forte, penetra e fica. Não há como arrancá-lo do pensamento, da memória. Permanece vivo. Tão vivo que anula tudo que não indique vida.

Um momento ímpar, sem paralelo, sem igual. Momentos que fazem viver até quem não sabe viver. A ressurreição de quem não morreu. A vida do que não vive.

A luz multicor do Sol nascente fundindo-se com a brisa matutina. A fusão das duas formou um mar de um verde que já não podia ser verde. Que importa que cor era aquela? Formara um espetáculo que jamais se apagará de minha memória; mesmo quando de mim, só restar memórias. Fui feliz naquele dia. Pense nisso.

*[email protected]