Opinião

Opiniao 05 07 2018 6515

Arraial do Anauá: o resgate da nossa tradição junina – Flamarion Portela*   Já estamos no mês de julho, mas as festas juninas continuam a todo vapor. E fechando o ciclo dessa que é uma das manifestações populares mais importantes do nosso País, o nosso tradicional Arraial do Anauá está atraindo multidões todos os dias para o Parque Anauá. A festa, que este ano chega à sua 27ª edição, começou na última sexta-feira, dia 29 de junho, Dia de São Pedro, e vai até o próximo sábado, dia 7 de julho.

São nove dias com uma programação recheada de muitas apresentações folclóricas, concurso de quadrilhas e, o maior atrativo, que são as comidas típicas. Quem não gosta de saborear uma pamonha, canjica, munguzá, bolo de milho e macaxeira, além de pratos da nossa culinária e de outros estados?

Essa tradição junina em Roraima vem de longe. O Arraial do Anauá, que começou a ser realizado em 1991, na gestão do então governador Ottomar Pinto, é a mais tradicional festa junina do nosso Estado, mas antes dele, muita coisa aconteceu na nossa tradição junina.

Como todos sabem, Roraima é uma miscelânea de povos e culturas, com forte influência nordestina, de onde vieram os pioneiros do Estado. E, desde cedo, lá pelos idos de 1930, já apareciam por aqui as primeiras manifestações folclóricas juninas. Em 1936, os senhores Gervásio e Raimundo Otávio percorriam as ruas da cidade como dois ‘bois’, que eram grandes rivais. Começava ali uma tradição que já dura quase um século.

Ao longo de anos e décadas, grupos de boi-bumbá e de danças tradicionais como As Pastorinhas, animaram os nossos festejos juninos. Mas, aos poucos, começava a nascer um novo movimento: o das quadrilhas. E foi ‘seu’ Mario Abdala o grande precursor de tudo, que no final da década de 1950, atuava como o grande animador dos grupos que se apresentavam no tradicional Bar das Mangueiras, no Centro da cidade. Além dele, também se destacou o professor Jaber Xaud, que animava as quadrilhas dos clubes Rio Branco, União Operária, Roraima e Iate.

Mas foi o jovem Reginaldo Gomes, na década de 1960, que fez o maior arraial da história de Roraima na época, no quintal da dona Nadir, com a quadrilha Zé Carola, que reunia toda a juventude da Praça da Bandeira.

Em 1984, Idalmir Cavalcante organizou o primeiro Festival Folclórico reunindo quadrilhas de vários bairros da cidade. A partir dali começam a surgir várias quadrilhas e grupos folclóricos que se mantêm até hoje, como é o caso da Xamêgo Caipira, Zé Monteirão, Garranxê, Xamêgo na Roça, entre tantas outras.

Em 1993, foi a vez da Prefeitura começar a organizar o festejo, que quando começou acontecia na Praça Capitão Clóvis e ultimamente vem sendo realizado na Praça Fábio Paracat, no Complexo Ayrton Senna.

É quase um século de muita animação e resgate de nossa cultura tradicional. Anarriê!   *Deputado estadual e ex-governador de Roraima

FERVOR VERDE, AMARELO E BISSEXTO – Percival Puggina*       As ruas quase vazias de Porto Alegre, nos instantes anteriores ao início do jogo contra o México, e o fervilhante acúmulo de pessoas diante dos telões em todo o Brasil, reafirmaram o quanto é singular e bissexta nossa exaltação patriótica.

Roendo unhas e unindo as palmas das mãos em oração, aquelas multidões exibidas na TV me trouxeram à mente os versos de Cassiano Ricardo em “Exortação” (muito provavelmente suprimidos dos repertórios escolares). Em torno da magia do gramado mesclavam-se, abraçavam-se, exclamavam-se, como que saídos da pena do poeta, os filhos do imigrante loiro e diferentes gerações que ele proclamou filhas do sol, do mar e da noite. Basta olhá-los para reconhecer os traços marcantes de diferentes etnias, num convívio alegre e espontâneo que a sociologia de relógio atrasado, gostaria de apartar, imputar culpas, construir conflitos e gerar contas a pagar.

A seleção brasileira desmente os “intelectuais” farsantes. Desmente-os dentro do gramado, nas arquibancadas e nas multidões reunidas na praça. O Brasil mal-humorado deve ter fechado os olhos para não ver tanto verde e amarelo num cenário onde não se conseguia vislumbrar sequer um pedaço de trapo vermelho.

O brasileiro ama o Brasil. Ele foi ensinado, porém, a repudiar esse sentimento. Foi sonegado a ele o direito de conhecer sua identidade, de ser informado sobre toda a dignidade presente na nossa história, de admirar o valor dos grandes vultos da pátria e seus exemplos. Maus brasileiros, industriados à tarefa professoral de “formar para a cidadania”, dedicam-se, como baratas, a correr pelos cantos escuros do passado em busca do lixo perdido (que país não o tem?). Nesse triste caminhar rejeitam as virtudes, os grandes exemplos e as nobres realizações (que outro país faz isso?). Até das estampas de nossas cédulas essas figuras notáveis sumiram para ceder vez a onças e araras, como me observou, recentemente, um leitor atento.

Não surpreende que, no desdobramento, a mal-amada pátria resulte na mal tratada pátria. Até que um belo dia – verde, amarelo e bissexto – o amor explode, a emoção enche os corações e traz lágrimas aos olhos. Claro. Como não chorar sentimentos tão sonegados e contidos?

*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

O ancinho no profissionalismo – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nenhum homem será um grande líder se desejar fazer tudo sozinho ou quiser receber todos os créditos por fazê-lo”. (Andrew Carnegie)

Não estou tentando aparecer como o entendido. Mas respeito meus trinta anos de experiência na indústria mecânica em São Paulo e na indústria naval, no Rio de Janeiro. Nas duas indústrias atuei, sempre, no Controle de Qualidade. Foram trinta anos, na maior Universidade do mundo, que sempre a chamo de a Universidade do Asfalto. Porque foi ali que adquiri conhecimentos que me orgulham, e muito. Aprendi ainda no início da década dos sessentas, numa parceria profissional com o SESI, como liderar um grupo, com eficiência. E você não imagina o quanto tenho tentado levar esse conhecimento às empresas roraimenses, para o engrandecimento do Estado no âmbito profissional.

A liderança está no respeito ao próximo, dentro e fora do ambiente de trabalho. Tenho um zilhão de exemplos de como você pode, deve e consegue, manter a ordem e a qualidade no ambiente de trabalho. Durante os sete anos em que liderei o grupo de Controle de Qualidade, na Empresa “Coldex Indústria e Comércio”, em São Paulo, arquivei bons exemplos. Embora a empresa fosse de porte elevado, eu trabalhava com apenas sete auxiliares. Fazíamos nossas reuniões sempre às quartas-feiras. E eu sempre lhes dizia: “Vocês trabalham comigo porque são mais técnicos do que eu. São vocês os responsáveis pelo sucesso, e não eu”.

Certa vez, o responsável pelo controle de qualidade de uma grande empresa me disse: “Cara, eu não sei como é que você, com apenas sete auxiliares, consegue fazer o que eu não consigo, com o triplo disso”. Minha resposta foi simples e singela: “O que importa não é a quantidade, mas a qual
idade”. Na indústria naval vivi exemplos notáveis de como a convivência no ambiente familiar é importante para o desenvolvimento e crescimento no ambiente profissional.

Não me entristece, mas me preocupa ver o quanto estamos jogando para o fundo do barril, a qualidade que poderia ser aprimorada, com o conhecimento e a aplicação das Relações Humanas no Trabalho e na Família. Ainda somos inclinados a confundir este ensino como blá-blá-blá fantasioso de autoajuda. Comece a refletir o quanto perdemos, num Estado ainda nos seus primeiros passos, por não darmos importância à importância da simplicidade na liderança. Continuamos menosprezando a simplicidade na transmissão do conhecimento. Preferimos a euforia do palavreado eufórico e espalhafatoso de faladores. Vamos pensar no que poderíamos fazer para nosso progresso, dando mais atenção ao relacionamento humano. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460