Jantar Dançante – Rodrigo Alves de Carvalho*
– E aí amigo. Você foi àquele jantar dançante no sábado passado? – Sim. Era um jantar dançante beneficente. Fomos eu e minha esposa. – E como foi esse jantar dançante? – Muito bom. Estavam presentes muitos casais amigos, pessoas bonitas e elegantes. – Mas e o jantar dançante? Como era isso? – Foi como todos os jantares dançantes. Havia música, dança e é claro, o jantar. – Eu sei. Como poderia haver um jantar dançante sem o jantar! – Então o que você quer saber? – Ora bolas! Quero saber como era o jantar dançante! – Acabei de te contar criatura! Foi como todos os jantares dançantes que existem em todo lugar. – Eu nunca fui a um jantar dançante. Por isso queria saber um pouco mais. – É como um baile com banda ou DJ. Só que existem mesas para as pessoas se sentarem para comer e a pista para quem quiser dançar. – O jantar? – Como assim? – Para o jantar dançar, você quis dizer? – Não! Para as pessoas dançarem… – Mas e o jantar? – O jantar as pessoas comem! – O quê? Mas o jantar não dança? – Como o jantar iria dançar cara? Quem dança são os casais! – Então por que chamar jantar dançante se o jantar não dança? Isso não faz sentido. – O que não faz sentido é você achar que o jantar é que vai dançar! – Caramba! É preciso mudar o nome. Ao invés de jantar dançante, deveria chamar pessoas dançantes. – Não tem nada a ver! Jantar dançante é o evento onde as pessoas dançam e jantam. – Isso está errado e eu não concordo. Pronto falei! O rapaz inconformado com a explicação do amigo vai embora. Ao chegar em casa, sua esposa preparava o jantar. – Infelizmente você não poderá ir em um jantar dançante futuramente. Descobri que são as pessoas que dançam e o jantar é somente comido. E naquela noite seu jantar ficou muito triste, pois estava entusiasmado e com muita vontade de dançar em um animado jantar dançante.
*Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
EM BUSCA DA FELICIDADE – Wender de Souza Ciricio*
Algo muito óbvio e que homens e mulheres nascem e morrem. Seres vêm a este mundo e depois de um tempo, seja curto, breve ou longo, se vão. Depois que nascemos a morte passa a ser inevitável. O foco é que entre nascer e morrer tenta-se conquistar um elemento essencial que produz leveza, suavidade e bem-estar, a felicidade. O maior projeto, enquanto vivos, que toda uma humanidade abraça, é a felicidade. Tudo que fazemos, que construímos, que conquistamos, seja em torno de nosso caráter ou de bens materiais, tem como fim a conquista da felicidade. Nascemos e antes de morrermos canalizamos todas as nossas forças para termos acesso e afinidade com a felicidade.
Por causa do intenso desejo de encontrar a felicidade, cristãos, budistas, mulçumanos, terapeutas, conselheiros e tantos outros na sociedade escrevem, debatem, discursam e pregam indicando caminhos e fórmulas para homens e mulheres, antes de um dia deixar o planeta terra, serem felizes. Enfim, se ser feliz é o fim último do ser humano, onde e como alcançar esse tão saudável, essencial e nobre sentimento?
Uma grande amiga portuguesa que conheci há anos pode em sua história de vida apontar o caminho que ela acreditava ser o da felicidade. Minha amiga tem três filhos. Um dia em casa recebeu a notícia que um dos filhos, o mais novo, ao tentar mergulhar num lago raso fraturou a coluna cervical, não morreu, mas ficou tetraplégico. Essa mãe, minha amiga, por anos cuidou desse bem precioso dando banho, comida, trocando fraldas, levando ao médico sem ajuda, sem xingar, desistir e se reclinar. Achando que seu sofrimento teria fim um dia, recebeu em sua casa a amante de seu marido com um filho que era dele. O resultado é que, além de perdoar o marido, cuidou todos finais de semana dessa criança que não tinha culpa de ter nascido numa relação turbulenta, mentirosa e pesada. Outro dia, quase que tranquila, em casa, ouve alguém batendo palmas. Era uma moça com uma criança no colo atrás do outro filho, o mais velho, que a engravidou sem assumir o bebê. Mais uma criança para os braços dessa gigante mulher. Quanta notícia ruim. Mas não terminou. Seu marido, a quem ela amava. Mesmo a tendo traído, veio a óbito. Um fato posso afirmar: Na contramão, na escuridão, no tudo “dando para trás”, essa mulher era feliz e feliz de fato, de verdade e sem sombras de dúvida.
A felicidade para essa valente portuguesa se tornou viável por vários motivos, e o primeiro deles é que ela não mantinha a utopia de que a felicidade só se alcança quando acaba esse elemento chamado sofrimento, pois o mesmo é causado por pessoas e circunstâncias que não estão sob nosso controle e por isso nunca vai acabar. Você pode estar sentadinho na poltrona de sua casa e de repente o sofrimento pode bater à sua porta. Você não o convida, porém ele se faz presente. Hora uma amante, hora um delinquente armado, hora a notícia de um acidente, enfim, o sofrimento é palpável, intruso, age sem nos avisar e às vezes avisa também. Esperar ser feliz depois que o sofrimento se for é sofrer ainda mais, porque enquanto estivermos vivos ele não se afastará. O segundo fato é que minha amiga fez do sofrimento uma alternativa pedagógica, aprendeu com ele. O sofrimento virou escola para ela. Por último ela foi atrás de um suporte, de uma âncora, de algo externo a ela e que fosse grande, tremendo, triunfalista e maior do que o sofrimento que ela vivia. Bateu em várias portas até um dia ouvir sobre o Deus que fundou o cristianismo. Foi em Jesus Cristo. E com Ele firmou um pacto passando a louvar, cantar e servir a esse Deus. Pode ser que alguns não creiam nesse Deus, mas para ela fez diferença. E como fez. Deus pode não ser a busca de todos, mas para minha amiga Ele foi a resposta. Em Deus ela ministrou perdão ao marido, cuidou do filho, neto e enteado. Deus construiu nela um largo sorriso e consolidou em seu coração aquilo que tanto sonhamos e almejamos, a felicidade. Na busca da felicidade alguém se predispõe a doá-la: Deus.
*Teólogo, psicopedagogo e historiador [email protected]
A parteira Zefinha – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Meu novo mundo é um reflexo do meu novo modo de pensar.” (Louise Hay)
Às vezes, nos papos à mesa do café da tarde, sinto saudade de momentos que marcaram minha vida. Ontem falamos de pessoas que conheci na inesquecível “Teia-2008”. Foi um momento realmente marcante, pela grandeza que ele apresentou para a Cultura no Brasil. Cerca de duas mil e quinhentas pessoas nos reunimos durante uma semana, discutindo e colaborando com o acréscimo do nosso conhecimento. E este veio no contato que tivemos com pessoas realmente responsáveis pela cultura. E o mais importante é que estas pessoas não vieram da alta sociedade, mas dos artistas e criadores populares.
Não tenho como citar todas as grandes amizades que fiz naqueles dias. Elas são incomensuráveis em qualidade e quantidade. Mas, vez por outra, lembro-me do contato que tive com pessoas como a Dona Zefinha, a parteira de Caruaru. Uma pessoa adorável e criadora. Ela era a Presidente da Associação das Parteiras de Caruaru.
Uma história com tendências ao desaparecimento, mas que ficará na história. Mas os conhecimentos e amizades continuaram sendo criados, mesmo fora dos
encontros em Brasília, como bons resultados. Zé da Viola, por exemplo. Uma simplicidade construtiva. E tantos outros que não vou mencioná-los porque não tenho espaço suficiente. Mas fica meu abração a todos os que participaram daquele evento que foi um avanço na cultura do Brasil, engavetado posteriormente pelos desinteressados pela cultura.
Meu abraço-quebra-costela para todos os grandes empreendedores do movimento cultural, naqueles dias memoráveis e inesquecíveis. Catarina Ribeiro foi uma das pessoas que ficaram ligadas ao meu pensamento como contribuintes para o engrandecimento do Evento Cultural em Roraima. Desculpem-me todos os que contribuíram para grandeza daquele momento. Não os citarei por falta de espaço. Mas vocês sabem do respeito que tenho por vocês, que estão nesse grupo construtor da Cultura. Porque esta não vem dos bancos escolares, mas do conhecimento adquirido no dia a dia, nas caminhadas pela Universidade do Asfalto.
Pena que o desconhecimento continue mantendo o pensamento de que cultura é coisa secundária. Continuemos usando a gravata, mas não esquecendo que ela não é a representante a cultura. Busquemos nossa riqueza artesanal nos interiores, que é onde ela nasce, cresce e vem para o urbano. Que os nossos políticos se atentem para a grandeza da naturalidade na cultura de um povo. Lembrei-me disso olhando para aquela pequena exposição ali na praça. Desci e fui vê-la de perto. E aí senti saudade da Teia-2008. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460