Opinião

Opiniao 06 05 2017 3997

Desafios do ensino médio pós-reforma – Gilberto Giusepone*Agora que a reforma do ensino médio foi aprovada e que passará a vigorar já em 2018, precisamos articular um amplo repertório de análises para nortear o debate e traçar estratégias daqui para frente.

A tramitação da reforma deu-se de maneira inadequada quanto à forma, pois veio à luz por meio de uma Medida Provisória em vez de um Projeto de Lei; antidemocrática, pois excluiu do debate professores e pesquisadores da educação; e inconsistente, pois em nome da necessária demanda de discutir e reformar o ensino médio produziu-se um acelerado processo de descaracterização das ciências humanas na formação do jovem. Dessa maneira, recolocou o tema da conexão com a educação profissionalizante, retomando imperfeições criticadas e enfrentadas energicamente pelos educadores já na década de 1990.

Essa situação exige atenção ao tema da flexibilização, que é um dos motes da nova arquitetura do ensino médio. Se por um lado as escolas serão chamadas a oferecer diferentes percursos formativos, por outro lado será necessário ancorar o leque de possibilidades em sólidos projetos pedagógicos sendo, desde já, insuficiente afirmar que a base nacional curricular tudo suprirá ou tudo indicará.

Foi “por dentro” do tema flexibilização que questões bastante controversas e inconsistentes despontaram, como a presença do professor não formado, mas com “notório saber”, e foi em nome da busca por mais espaço curricular que as disciplinas filosofia, sociologia, artes e educação física por pouco não deixaram de existir nos domínios do ensino médio, ainda que tenham permanecido sob a incômoda suspeita da descaracterização.

A reforma tem seu ponto estrutural centrado no tema da escola em tempo integral. Trata-se de uma questão que doravante exigirá cuidadoso debate, pois não se trata de simplesmente ampliar jornadas de permanência nas instituições escolares. Mas sim, de conjugar mais tempo para uma formação mais sólida, o que não quer dizer o mesmo que simplesmente “ocupar o tempo” com mais atividades.

Novamente a questão do projeto pedagógico se mostra inadiável. Mas a viabilidade da produção e implementação de projetos pedagógicos depende de agentes educacionais que potencialmente podem reagir à reforma manifestando impossibilidade de corresponder ao leque aberto de novas expectativas, principalmente gestores estaduais e municipais.

Se o projeto pedagógico se mostra imensamente necessário, cabe acrescentar aos debates o tema da formação de professores para o ensino médio. Sem conectar ambas as dimensões, corremos o sério risco de retroceder décadas e aprofundar problemas em detrimento da juventude que, no ensino médio, se prepara para o mundo universitário e para o mundo do trabalho. E por que não para o exercício da cidadania?*Diretor do Cursinho da Poli e presidente da Fundação PoliSaber.

Já basta! – Jaime Brasil Filho*Nestas semanas que se passaram, duas confissões deveriam ter parado o país. A primeira feita pelo próprio Temer dizendo que o processo de deposição de Dilma somente aconteceu porque a então presidente não se dobrou as chantagens de Cunha. A segunda confissão veio de Cunha que, em carta feita à mão, disse que quem organizou e comandou a reunião da propina de 40 milhões de reais dada pela Odebrecht ao PMDB foi justamente Temer.

Quanta hipocrisia daqueles que batiam panelas e foram às ruas dizendo-se arautos da ética e da moral e agora tergiversam, contemporizam ou se calam diante de um governo colocado no poder justamente para salvar o sistema de corrupção, que, segundo delações, existe desde Sarney, pelo menos.

O povo já sabia, mas não tinha prova, mas à boca miúda sempre se soube que neste país era mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que existir uma licitação pública honesta. Sabíamos, mas não tínhamos prova além dos evidentes sinais de riqueza repentina que se percebia neste ou naquele político, neste ou naquele empreiteiro, neste ou naquele auxiliar do Governo, nos “laranjas”, antigamente chamados de “testas-de-ferro”.

Agora, não. Agora temos provas, narrativas, delações, condenações. Temos mais do que o suficiente para chegarmos à conclusão de que a República tal qual está, tal qual é, e tal qual sempre foi, com seus freios e contrapesos de fachada e seus sistemas de controles ineficientes, simplesmente não funciona e não funcionará. A República brasileira não passa de uma fonte de enriquecimento ilícito para os poderosos do país.

Mas, mais. Sabemos que os atores políticos que nos trouxeram a este precipício têm que ser afastados definitivamente do poder, sem prejuízo das sanções penais, cíveis e administrativas cabíveis. Eles todos que estão aí, que de uma maneira ou de outra são herdeiros, alguns literalmente (geneticamente) de outros antigos corruptos, não podem mais participar da vida política do país.

Não existe reforma que dê jeito, e sabem o motivo? Porque reforma é “forma”, e o nosso problema é de conteúdo. São as pessoas que estão no poder é que são o nosso problema. Pode-se inventar reforma política, parlamentarismo, o que for, com esses mesmos protagonistas não adianta nada.

A “reforma da previdência” é um escárnio. O povo pobre deste país será condenado a trabalhar até morrer. A “reforma trabalhista” é um retrocesso que nos leva a uma precariedade anterior a Getúlio Vargas. A terceirização é a entrega da força da mão-de-obra para que intermediários a explorem, deixando os trabalhadores com menos salário e menos direitos.

Já querem inclusive legalizar a volta da escravidão no campo, pois existe a proposta para que os trabalhadores rurais possam ser pagos com comida e alojamento e trabalhar em troca de comida não tem outro nome: é escravidão.

Com todas essas delações o que já sabíamos veio à tona. O sistema de corrupção não era um problema partidário, era uma maneira sub-reptícia de funcionamento da própria República.

Uma das consequências mais nefastas desses corruptos de direita no poder são as manifestações explicitas, e às vezes violentas, de racismo, misoginia, homofobia, xenofobia etc., levadas às ruas e às redes sociais por uma parcela da população que se deixou contaminar pelas ideias nazi-fascistas. São homossexuais espancados, estrangeiros humilhados, índios mortos… As forças de repressão do Estado tratam as manifestações contrárias ao status quo como se tratam inimigos em uma guerra.

Se por um lado a Lava Jato atingiu uma parte do corrupto passado republicano, ainda insiste em poupar medalhões do PSDB que já foram fartamente delatados. A Lava Jato é parcial no tempo e no espaço.

Todos olham para trás como se algo estivesse mudando. Mas, e o presente? Alguém acredita realmente que por causa da Lava Jato os esquemas de corrupção pararam de funcionar? Alguém acredita que as eleições municipais do ano passado não tiveram caixa dois, doações ilícitas e compra de votos? Com aquele monte de gatunos nos principais postos da República, alguém crê que eles não estejam renovando seus arsenais de assalto aos cofres públicos?

E o futuro? Ninguém minimamente lúcido acredita que os atuais protagonistas políticos sejam os promotores de uma futura República mais honesta e eficiente. Não serão.

A solução é o povo. Não há outra saída.

É preciso criar novas estruturas democráticas de protagonização popular, radicais e amplas, de atuação e controle direto sobre as políticas públicas e os gastos do dinheiro de todos.

Necessitamos renovar e estimular a organização popular, associações, sindicatos, grêmios estudantis, de centros acadêmicos, enfim, precisamos horizontalizar o poder a fim de que os nossos destinos sejam decididos e geridos por nós mesmos.

Já basta de intermediários. Já basta de fascistas belicosos que tentam enganar e iludir o povo. Já basta de repressão aos movimentos sociais. Basta de reformas sem a extirpação dos malfeitores de ontem e de hoje.Aprofundar a democracia, de caráter popular, é a única saída para nós.

Somente o povo no poder pode salvar o próprio povo.*Defensor Público

Nada de esquecimento – Afonso Rodrigues de Oliveira*“No Brasil a cada 15 anos todos esquecem o que aconteceu nos últimos 15 anos”. (Ivan Lessa)Faz vinte e quatro anos, mas não esqueci. Há momentos na vida da gente, que por mais simples que eles sejam não podem e nem devem sair da lembrança. Porque quando a lembrança é boa traz saudade. E o Laudo Natel já nos disse: “Saudade é a presença da ausência”. E quem não sente saudade vez por outra? Sei que sou chato ‘pacas’, mas gosto disso. Chatear os outros com assuntos leves e gostosos normalmente cria a saudade que só virá no futuro. E às vezes ela nos lembra o Bob Marley: “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorrega pelos olhos”.

Já contei pra você do dia em que fui convidado a um evento no 7º BIS, aqui em Boa Vista. Na entrada do prédio há uma escultura volumosa, do Duque de Caxias. Aproximei-me da estátua e me apaixonei pelo trabalho. Fiquei acariciando a escultura e falando pro meu filho:

– Eu já vi essa escultura nalgum lugar. Juro que já vi.

Repeti isso varias vezes, enquanto meu filho me olhava com espanto, mas sem falar nada. Acho que ele achava que eu estava brincando. Mas eu não estava. Quinze dias depois, mexendo na minha velha agenda, encontrei uma foto da escultura do Duque de Caxias e disparei uma gargalhada. No verso da foto estava uma mensagem de agradecimento, do então Comandante do 7° BIS. Fui eu que fiz aquela escultura. Dá pra acreditar?

Ontem aconteceu novamente uma demonstração de meu desligamento. Abri uma das agendas e olha o que encontrei: uma matéria do Dorval de Magalhães, publicada na Folha, no dia 07 de maio de 1993. O título da matéria do Dorval era: “O caçador de marimbondos”. Não sei se você sabe, mas “O caçador de marimbondos” é o título do meu livro lançado em Boa Vista, no dia 30 de abril de 1993, dia de meu aniversário. Cara, reli sei lá quantas vezes, a matéria do Dorval e senti saudade do cara.

O Dorval encerrou a matéria com o seguinte: “Simbora” gente, para o mundo encantado de O CAÇACOR DE MARIMBONDOS. “Comer milho assado da roça do Ceará, porque Afonso não sabe plantar melão, mas é professor na arte de semear magia no coração da gente”. Obrigado, Dorval. Você não imagina o quanto eu gostaria de abraçá-lo agora. E onde quer que você esteja não importa; o que importa é que você está no meu coração, alimentando uma saudade incomensurável.

Depois explicarei o que Dorval quis dizer com “plantar melão”. É uma história legal pra dedéu. Obrigado Dorval. A saudade marcou a sua presença, marcando bons momentos de nossas vidas na nossa luta renhida na cultura roraimense. Abração. Pense nisso.*[email protected]