O controverso mundo rural – Tom Zé Albuquerque*Não é de hoje que se fala em ações por parte do poder público voltadas para a agricultura familiar. Políticas públicas são criadas, mas de forma tímida, não continuadas, e cercadas de limitações por força de normas excessivas que alijam o crescimento dos pequenos produtores rurais.
Nesses dias me deparei com uma situação paradoxal e esquisita… Um colono no centro-sul do Estado de Roraima foi agraciado com um lote de terra para seu sustento e de sua família. Obviamente, para atingir seu objetivo, teve que limpar a área e, para construir seu pequeno lar de madeira, derrubou algumas pequenas árvores não frutíferas, contrariando a legislação vigente. Com esse ato – aliado à inveja de um vizinho denunciante – a fiscalização ambiental, cumprindo o seu papel legal, o notificou para arcar com a pesadíssima multa (para ele uma fortuna) de R$ 1.500,00. Sensibilizada com o estado de necessidade da família, a agente fiscal o orientou a procurar o Órgão Público para tentar atenuar o seu ônus.
Mesmo sem recursos e sem local para se instalar na capital, o colono, ao chegar no setor de fiscalização, foi tratado como criminoso, sendo tachado de um autêntico desmatador; mas mesmo assim, foi solicitado por um servidor que providenciasse um atestado de pobreza do autuado, que a muito custo e por caridade de alguém, conseguiu o documento que, no seu ver, o possibilitaria finalizar aquele fatídico fato. Alguns meses após, foi surpreendido com a presença da polícia em sua pequena propriedade, munida de notificação sobre a mesma infração. Novamente, com muito esforço, conseguiu ir à delegacia para externar sua angústia.
Meses depois, para desespero do pequeno produtor, recebeu mais uma notificação, agora para se apresentar ao Juiz de direito. Com uma luta descomunal, dada sua incapacidade financeira, conseguiu se deslocar novamente à cidade e ir à audiência, mais uma vez expor sua realidade e, tal qual ocorreu nas demais inquirições, reconhecer seu erro, sob a alegativa de ter cometido aquela infração por indefectível desconhecimento. O Magistrado, cumprindo o que prega a Lei, arbitrou a pena do colono em várias cestas básicas a serem doadas aos carentes. O pequeno agricultor, de forma lúcida, argumentou que sequer tinha condições de adquirir cesta de alimentos para sua família, o que dirá para outros. O Juiz, sensibilizado, propôs serviços comunitários diários no município mais próximo, ao que retrucou o colono o fato de ele ter que trabalhar para criar sua família com o mínimo necessário, portanto, sem condições de se ausentar de sua pequena propriedade.
Ao final, o pequeno produtor foi apenado com serviços comunitários na escola mais próxima, além de marcar presença no Fórum mais próximo a cada dois meses, e, acredite, estar impossibilitado de se ausentar do Estado sem autorização, por longos meses. O que choca nessa história verídica não é, absolutamente, em razão de os servidores públicos terem cumprido o que reza a legislação ambiental, mas o fato de a aplicação desta não atingir as mais diversas camadas sociais, sobretudo a classe alta, para qual muitos proprietários de terras invadem, desmatam, degradam o ambiente e não há nem de perto a rigidez usada no caso em evidência. O princípio da isonomia, nesse diapasão, dorme sem serventia prática.
As contradições e injustiças se constanciam em nosso País, cujo menor produtor rural ou pequeno empreendedor são os mais combalidos. Destila-se nesse mister, por consequência, a perenização da desigualdade social, tão enraizada que já está.*Administrador———————————–AS BENÇÃOS DO SILÊNCIO – Vera Sábio*”O silêncio está cantando uma canção de amor e paz”. (P. Zezinho)
Diante a um turbilhão de pensamentos e atitudes; o estresse se mostra constante, tornando-se o grande vilão da saúde da maioria da população que não sabe estar em silêncio.Assim muitos gastam tempo e energia com coisas insignificantes, deixando de lutar e realizar realmente o que é necessário.
Quando abrimos a boca, revelamos uma grande parte da nossa personalidade; se somos inteligentes e conhecedores do que estamos falando ou não, e qual nosso poder de convencimento.
Já quando ficamos calados, evitamos muitos confrontos de pensamentos e preservamos nossa integridade, permanecendo no abstrato, sobre quem realmente somos.
O silêncio diante da indignação por injustiças recebidas por vezes esclarece muito mais o ocorrido e faz o causador repensar o que fez, do que inúmeras repreensões que provocam discórdia ao invés de renascer a paz.
As palavras convencem. Todavia, o exemplo arrasta. Por tanto tenha conteúdo e faça muito mais do que fale. Aja com os braços, o coração, o olhar, o sorriso e as expressões e gestos de bondade, empatia e amor mútuo.
O silêncio causa a reflexão, formula novas ideias e estreita o diálogo com Deus e todo o universo. Por isto, se permita ficar descontraído com as belezas naturais e se sensibilize com os cantos dos pássaros, o perfume e a suavidade das flores, a brisa do vento e o espetáculo de um pôr do sol.
Comova-se com o sofrimento do próximo e não deixe que seu egoísmo te impeça de fazer o bem; enfrentar as injustiças e lutar por um mundo melhor para todos.
Acredite no plantio da serenidade, braços fortes da fraternidade e realização do perdão. Para que a colheita da paz te solidifique na reconstrução de uma vida tranquila. Fazendo com que a canção do silêncio inabalável e amoroso lhe traga a um encontro consigo mesmo, na liberdade do existir.
Ficar quieto não corresponde a estar em silêncio, pois ficar quieto é ser omisso. Enquanto estar em silêncio é refletir e buscar apoio em Deus, para agir da maneira correta, do jeito que ele faria e quando ele indicar.
Só é possível ouvir a voz de Deus soando em nós; quando estivermos abertos, respectivos e atentos a sua palavra.
Então, verifique como a lagarta faz para virar borboleta, as aves agem para chocarem os ovos e os ventos mudam para gerar a tempestade. Descobrindo assim a maneira correta de agir. O silêncio lhes preparará para a realização, com força, foco e fé…
*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e [email protected]. 991687731————————————– MORTE CEREBRAL DO ESTADO – Percival Puggina*Dr. Strangelove (Dr. Fantástico, no Brasil) é uma das melhores comédias de humor negro, verdadeiro clássico do cinema norte-americano. Sob direção de Stanley Kubrick, o filme foi lançado em 1964 tendo Peter Sellers em três papéis principais. O tema do filme, em tempos de Guerra Fria, é um possível conflito nuclear que iria destruir o mundo.
Pois o Dr. Strangelove me faz olhar para o governo Dilma. Nestes últimos quatro anos, o que não foi destruído em nosso País não foi por falta de tentativa. Sua última vítima foi a credibilidade do próprio processo eleitoral. E olhem que passo ao largo da corrupção! O brasileiro consegue avacalhar até com essa praga. A continuar como vamos, em mais uns poucos mandatos nos levam embora o PIB inteiro. Saímos do milhar para o milhão, para o bilhão e para as dezenas de bilhões. Daí para o trilhão é só uma questão de maior ou menor apetite.
Dentro de quatro anos, não esqueçamos, teremos novas eleições. E haja dinheiro para renovar o contrato de locação do Palácio do Planalto! O eleitor também é fisiológico. Estão pensando o quê? O metabolismo que transforma dinheiro em voto funciona em mão dupla. E uma mão suja a outra.
O crescimento do PIB nacional desceu a patamares ridículos. O país se desindustrializou. A Petrobras já vale menos que certos aplicativos para iPhones. O governo da União fechou as contas de 2014 com um déficit superior a 20 bilhões que, somados ao buraco aberto por Estados e municípios, leva o rombo fiscal verde e amarelo à casa dos R$ 35 bilhões. Isso sem os juros da dívida. Se os somarmos a esses R$ 35bi, a conta se multiplica por 10. A credibilidade brasileira despencou. E até o Lula – pasmem! – parou de viajar, de bravatear, de gargantear. Não lhe deram mais nenhum título de “doutor”. E não adianta ligar para ele. Lula não atende mais o telefone.
No Rio Grande do Sul, tivemos nossa dose provinciana de loucura fiscal. O ex-governador Tarso Genro, que deu as cartas no quadriênio findo em 31 de dezembro passado, deixou um rombo de R$ 7 bi previstos para o exercício de 2015. Matéria publicada em Zero Hora do dia 3 de fevereiro informa que o governo Tarso avançou sobre recursos alheios (Caixa Único e Depósitos Judiciais) num montante de R$ 7,15 bilhões. Ou seja, 54% a mais do que seus três antecessores nos 12 anos precedentes.
A ideologia do petismo seca neurônios porque foca o poder e seus meios e não o poder e seus fins. É a morte cerebral do Estado, sob a égide de governos que se orgulham de serem diferentes, que se vangloriam de não “dialogarem” com a “lógica neoliberal”, porque têm “um projeto próprio de desenvolvimento”. Arre! E vendem esse lero-lero como xarope milagroso aos ingênuos do país.*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor—————————————É bom viver – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Nada tem qualquer poder sobre mim além daquilo que permito por meio de meus pensamentos conscientes”. (Anthony Robbins)Nossos pensamentos conscientes estão sempre no que pensamos seja no presente ou do passado. Ainda que os resultados venham dos presentes, os do passado também nos trazem momentos de felicidade. Mas isso só quando fomos felizes no passado. Logo, é bom viver quando sabemos viver. Neste fim de semana ouvimos, pela televisão, sobre os eventos culturais de Parati, no Rio de Janeiro. E o foco foi Mário de Andrade. Fiquei sonhando em estar em Parati. Não há como falar de Mário de Andrade sem se lembrar de Macunaíma. E foi pensando nisso que viajei por pensamentos de meus dias de estudos no Curso Barão, em Sampa, na década dos sessentas.
Hélio Silveira era meu professor de Literatura. Um cara legal. Ele tinha um programa de cultura na TV Cultura. Insistia para eu ir com ele até a TV para assistir a seu trabalho. Tímido, nunca fui. Durante uma de suas aulas, ele falou pra mim:
– Afonso, daqui a pouco vou dar uma palestra sobre Macunaíma, na Biblioteca Mário de Andrade. E quero você lá.
Perdi as demais aulas e fui com ele. Foi uma noite muito interessante. Quando terminou a palestra o professor Hélio veio até mim, pegou-me pelo braço e falou:
– Vamos ali. Vou te apresentar a uma pessoa muito importante. Levou-me até uma pilastra onde havia um cidadão encostado e me apresentou. Era Guilherme de Almeida. Hélio era meio espalhafatoso e ficou mais de um minuto falando do currículo do Guilherme de Almeida. Quando ele parou, Guilherme pegou-me pelo braço e cochichou ao meu ouvido:
– Reduza tudo isso a cinquenta por cento e tá de bom tamanho.
Rimos e saímos. O Guilherme de Almeida faleceu em 1969 exatamente um ano depois do nosso encontro. Mas nos encontramos algumas vezes depois do encontro e ele me doou quatro livros seus. E infelizmente, os livros saíram do Rio de Janeiro para Roraima, em mil novecentos e oitenta e cinco e nunca chegaram. Pensei em tudo isso e me lembrei de como é bom a gente viver. Há momentos da vida que nunca se esquece. E sou muito feliz em ter vivido inúmeros momentos como aquele do meu encontro com um dos maiores nomes da literatura brasileira.
Toda a década dos sessentas foi um período muito importante na minha vida. Vivi e revivi momentos que nunca esquecerei. Enclausurado, hoje, aqui dentro de casa, às vezes caminho pelos caminhos da lembrança de minhas infância e adolescência. Meus encontros e contatos com grandes políticos e grandes literatos me fazem bem, sem que eu seja nem político nem literato. Pense nisso.*[email protected]
—————————————Duas perguntas que mudaram uma vida – Flavio Melo Ribeiro*Sou Psicólogo e gostaria de relatar uma experiência. Numa sexta-feira próxima ao natal recebo um telefonema de uma mãe aflita por escutar de seu filho depressivo o desejo de tirar sua própria vida. Ele era meu paciente há pouco tempo e eu já estava a par dessa ideação suicida. No final da mesma tarde recebo o meu paciente e os familiares. Solicito que apenas o paciente entre na sala, sabia o quanto os demais queriam entrar para ajudar, mas tinha consciência da importância de ouvir do meu paciente o que estava ocorrendo. Após escutar seu relato e avaliar o risco de ele tirar sua vida, sabia que não tinha muito tempo para intervir e alterar essa situação, foi quando lhe fiz duas perguntas que mudaram o rumo dos seus pensamentos.
Primeira pergunta: você não está mais querendo viver, ou não quer mais viver a vida que está levando e caso pudesse viver o que desejasse estaria disposto continuar vivo? Percebi que ele mergulhou nos seus pensamentos e depois de um tempo respondeu que se pudesse viver o que ele queria, gostaria de continuar vivo. Sabia que essa resposta abriu uma brecha para mudar seu ponto de vista e imediatamente fiz a segunda pergunta: O que poderia fazer para conseguir viver o que queria? Pensativo me respondeu que não sabia. Mas nesse momento estava aberto o caminho para mudar o foco dos seus pensamentos, agora para alternativas do que fazer. Antes seus pensamentos estavam estagnados na ideação suicida, agora nas possibilidades de atividades.
Por meia hora, refletimos sobre ações reais e possíveis que ele poderia fazer para alcançar o que queria. Em seguida solicito que seus familiares entrem na sala. Os olhares se voltaram para mim, esperando o que iria dizer, em vez disso, passei a palavra ao paciente. Ainda cabisbaixo, falou que precisava de ajuda para aprender a viver. Com lágrimas escorrendo por seu rosto sua mãe se levanta e o abraço longamente.
Sabia que o problema não estava resolvido, precisava um longo tempo para construir um novo rumo de vida, mas o primeiro passo estava dado. Espero que esse relato possa ajudar mais pessoas que estão passando por isso ou que acompanham pessoas nessa situação.*Psicó[email protected]