O tragicômico do inacreditável – Tom Zé Albuquerque*
Imagine um trabalhador que recebe um salário mínimo para seu sustento e da sua família. Resgatemos, pois, o que reza o art. 7°, inciso IV, da Carta Maior do Brasil: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social…”. Que texto lindo!
Bem, eu dou minha vida para aquele brasileiro que conseguir alcançar o previsto no artigo acima citado da festejada Constituição Cidadã, com os R$ 937,00 em valores brutos (valor atual do salário mínimo). No entanto, a desembargadora aposentada Luislinda Valois, atual ministra dos Direitos Humanos (isso mesmo, direitos humanos), peticionou à União receber dos cofres públicos a bagatela de R$ 61.000,00 ao mês, sob o argumento que a importância já recebida todo mês, fruto de sua aposentadoria, na ordem de R$ 30.471,00, não é suficiente para sua sobrevivência, uma vez que os R$ 3.292,00 acrescidos em razão do pomposo cargo atingiria o teto constitucional causando perdas medonhas para seu modesto cotidiano, o que seria, segundo ela, injusto.
Dois pontos cruciais nessa canalhice devem ser detidamente observados. Um, é que uma advogada, magistrada aposentada, pleiteia metralhar a Constituição Federal do país, ao extrapolar um teto definido numa norma-mor. Ou seja, não há como alegar desconhecimento, nem respeito à profissão, cujo cargo deveria nortear seus atos, como exemplo. Sim, sei que isso é deveras romântico, mas é real e deveria naturalmente acontecer, caso em nosso país não vingasse a cultura do individualismo e, principalmente, da banalidade à supremacia do coletivo, do interesse público. Que se explodam as leis! Que se lasquem quem as cumprem… esses bobões metódicos; é assim que pensam os infratores e os imorais.
Outro ponto (e certamente o mais esdrúxulo de tudo) é que essa gananciosa senhora é ministra dos… Direitos Humanos. Pois é… de novo os direitos humanos! Uma situação dessa sobrepuja o ridículo, o patético. Mas, para piorar mais ainda, a ministra-indigente disparou suas desculpas que nem no humor mais burlesco poderíamos ver, uma vez que alegou usufruir de seu R$ 61.000,00 por precisar arcar com “altos custos de vestimenta, de cabelo, de maquiagem e de comida”. Luislinda comparou sua miserável vida a de um trabalhador escravo, em virtude de ter parte de sua gratificação retida. Para acabar de esculhambar tudo, declarou ao jornal Estado de São Paulo não se arrepender de ter feito essa relação. Detalhe: a ministra tem direito a carro luxuoso com motorista, jatinho da FAB, cartão corporativo e imóvel funcional.
Por fim, a defensora dos Direitos Humanos bradou que “A casa grande pira quando a senzala ganha supersalários”, se autodeclarando com uma célula duma minoria desprotegida e explorada. A jacobice brasileira não tem limite. Até se envergonhar já virou rotina. Oxalá eu não me acostume com a imbecilidade que me cerca.
*Administrador
Cem milhões de uns – Luiz Maito Jr*
Dessa vez a Globo acertou. Sob a sua perspectiva e de toda elite, somos cem milhões de “uns”, somos sujeitos indefinidos, não temos alma, não temos vez nem voz, os dias modernos não precisam que tenhamos rostos, somos “uns” e não “os” cem milhões de “uns” que se virarão pra pagar um aumento de energia que serve apenas para tornar atrativo aos olhos da iniciativa privada o aparato ainda estatal de produção de energia elétrica do país.
Não. Ao contrário da propaganda, não somos os que eles querem ouvir, os que eles querem saber. Pelo contrário, somos os que eles querem coisificar, o que eles querem ensinar a todo custo, somos a massa, não a italiana saborosa e bonita, mas aquela que deve ser reconstruída, ressignificada. O problema que, dimensionado em números e subversões, não deve alcançar o vídeo, a programação, a visibilidade.
Somos “uns” quando vemos que a cada Globo Repórter ou JN nos explicam didaticamente que o emprego sem carteira de trabalho é o futuro e que assim podemos ganhar mais, inclusive vejam só, sem pagar impostos trabalhistas, o que é uma falácia sem tamanho. A menina que vende sorvete e foi humilhada por alguns imbecis é transformada numa espécie de carro chefe dessa cruzada.
A cooptação das histórias e das imagens nos torna realmente “uns”, quando na verdade deveriam tratar da dignidade e lutas, são transformadas em propagandas pelo direito a não ter direitos. Veja só! Ela vende sorvetes e trabalha a noite entregando pizza, como isso fosse a vida toda. Aí esta a jornada de 12 ou 14 horas de trabalho, representada num discurso apropriado pelo modelo que esta sendo implantado.
Somos “uns” cem milhões deles, porque somos a paisagem, a plateia e, para usar uma linguagem televisiva, somos os figurantes das cenas, no máximo os escadas que geralmente dão a oportunidade do protagonista falar, zombar. Somos “uns” quando deveríamos ser “os”, atores da sociedade, protagonistas de nossas vontades, fonte de atuações democráticas, “os” cem milhões que querem atuar.
Somos “uns” na Globo, na mídia, na política, nas ruas, na Universidade. Somos “uns” porque somos adestrados todos os dias a conter nossa indignação, a morrer em nome dos que são realmente “os”, estes sim, não são cem milhões, nem cem mil, são provavelmente apenas centenas de descendentes de senhores de escravos, de mega operadores do sistema financeiro, de gente que nos quer sendo apenas “uns” como a Globo.
*Estudante de História da UERR
De quem e a vez? – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Não é função de nosso governo impedir que o cidadão caia em erro; é função do cidadão, impedir que o governo caia em erro.” (Robert H. Jackson)
E como somos responsáveis pelo nosso governo, vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita. Está preocupando, aos responsáveis, como não estamos nos preparando para as próximas eleições. Há uma tendência muito forte de se eleger candidatos envolvidos com o crime. E isso porque não consideramos crime, por exemplo, a corrupção. Você já parou para uma reflexão sobre a gravidade do problema? Pare, reflita e aja. Porque se você não fizer algo para limpar a área, ela continuará suja.
Mas não vamos ficar mastigando alho. Vamos nos valorizar fazendo nossa parte. E para isso é necessário que sejamos responsáveis. Que procuremos nos informar sobre os problemas que estão nos enojando, nos acontecimentos. E comecemos entendendo que tais deslizes não são novidade. Eles vêm de longas datas. E é por isso que devemos nos preocupar e fazer o melhor para corrigir a imoralidade.
Nunca dê seu voto a quem estiver envolvido com a justiça. A Polícia Federal não prende alguém, aleatoriamente. Há sempre um motivo para se prender um político, da mesma maneira que há motivo para se prender um criminoso de nível social inferior. Simples pra dedéu. Tão simples que há uma dificuldade imensa para se entender isso. Então vamos amadurecer. Vamos nos informar o máximo sobre política, para que possamos respeitá-la como ela realmente é.
Ainda somos politicamente analfabetos. Ainda vemos a política como um meio de enriquecimento ilícito. E por que é ilícito é cativante. Somos seres de origem racional ainda em formação. E como o erro é um aprendizado, somos mais inclinados a ele; mas sem sabemos usá-lo como aprendizado. A política não é um meio de enriquecimento, mas de progresso social. E ou a entendemos como tal ou continuaremos votando e elegendo aventureiros que nos usam para seu enriquecimento próprio. O que faz de nós, títeres de titeriteiros aventureiros.
Por que será que não há interesse, no político, para nos educarem como cidadãos? E por que não procuramos nos educar? Ou preferimos continuar como marionetes de políticos que nem sempre são políticos, mas aventureiros desonestos? Mas não nos esqueçamos que ainda temos grandes políticos tentando nos salvar dos piratas da política. Mas eles não alcançarão seus objetivos se nós não fizermos nossa parte, na luta. Uma luta que requer conhecimento e honestidade. O que é tarefa nossa. Então vamos fazê-la. Nas próximas eleições procure ver em quem você vai votar e por quê. Pense nisso.