Afinador de almas
Francisco Habermann*
As notas dó, mi, sol e outras sonoras anunciadas pelas mãos do afinador do piano lá na sala fizeram-me recordar sua história. Um belo relato que me foi contado naquele mesmo dia convenceu-me que histórias de vida se sobrepõem às experiências profissionais. Foi o que senti.
O excelente técnico afinador referiu ter passado a noite cuidando da sua mãe que fora conduzida ao pronto socorro de sua cidade e muito bem atendida e cuidada. Felizmente ela estava melhor, o que permitiu a volta dele ao trabalho profissional especialíssimo e já raro entre nós: afinador de pianos. Acompanhei-o na tarefa.
A execução dessa atividade é auxiliada atualmente por equipamento eletrônico moderno, mas nunca foi assim. Afinadores sempre – até hoje – usam o ouvido treinado e sensível para a execução de suas tarefas junto ao instrumento. Trata-se de esmerada capacidade pessoal treinável e os equipamentos eletrônicos apenas certificam o tom básico (nota lá), auxiliando. A afinação de cada nota, entretanto, é do profissional. Foi o que vi naquela manhã.
Pacienciosamente, o afinador confere e ajusta o som de cada uma das cordas das oitenta e oito notas, sendo que parte delas compõe-se de três ou duas cordas para cada nota ou tecla do instrumento. Os bordões (sons graves) são de cordas especiais e únicas. É um trabalho de especialista, exige muita experiência profissional, sensibilidade auditiva e percepção na harmonia sonora. Isso me alertou para outro aspecto da sensibilidade humana.
De nada adiantaria tais habilidades profissionais se não conseguisse desempenhar a brilhante tarefa de manter seu equilíbrio emocional, atenuar a angústia alheia e ajudar a encontrar a harmonia tão necessária diante de sofrimentos humanos. Foi isso que acontecera na madrugada anterior, segundo o relato daquele afinador. Ele mantivera a calma e o bom ânimo diante das angústias de sua querida mãe, enferma, carente de cuidados hospitalares de urgência. Ele exercera sua parte mais nobre. Socorreu com o equipamento mais completo do ser humano: seu coração. Este, sim, afinado pela sua natureza superior. Fiquei admirado com esta constatação tão humana e tão rara.
Até parece que o piano lá de casa sabia que o competente profissional era, sim, um querido afinador de almas. Pronto, o instrumento respondeu imediatamente com as notas afinadas da sinfonia brilhante dos sons harmônicos e claros. Tocado, devolveu melodias inebriantes da vida. Todos nós agradecemos.
Em sol maior!
*Professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. Contato: [email protected]
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Mandela, um grande exemplo
Flamarion Portela*
Na semana passada, num artigo escrito aqui mesmo na Folha de Boa Vista, destaquei o espírito conciliador de Mandela. Fundamentado na vontade maior de construir a pacificação entre os sul-africanos, esse grande homem também ganhou o Nobel da Paz.
Ancorado no exemplo exercitado por Mandela, vou contar a história de um dos seus amigos. Em 1978, um cidadão branco de nome Christo Brand conseguiu emprego de carcereiro, para fugir do árduo e longo serviço militar obrigatório na África do Sul. Alocado para trabalhar na ilha Robben, foi avisado de que naquela prisão de segurança máxima havia, entre seus presos, um “terrorista”. Esse “terrorista” era Nelson Mandela e Brand, que era descendente de holandês, sempre se lembrava das palavras de seu pai: “Nunca olhe para a cor da pele de ninguém e se relacione com respeito aos outros”.
O carcereiro e o preso, ao longo dos anos de prisão de Mandela, e foram 27 anos, sempre conversavam sobre família e a dor da saudade, porém nunca dialogaram sobre o cruel regime do Apartheid. A amizade entre os dois foi sendo construída ao longo dos anos, porém, se fortaleceu quando Mandela foi, enfim, libertado em 1990. Quatro anos mais tarde, a África do Sul elegeu Nelson Mandela presidente do País. O cargo mais alto daquela Nação era ocupado por alguém antes perseguido pela luta contra o racismo.
Os caros leitores imaginam o que aconteceu? Pois bem, Mandela conseguiu para Brand um emprego como gerente administrativo e de logística na Assembleia Constituinte. Vez ou outra conseguia tirar um tempo para visitar o novo presidente, dizia ele. Observem o que disse o próprio Brand: “Quando Mandela virou presidente da nossa Nação, ele continuou meu amigo. Ele não tinha mudado, ele ainda era a mesma pessoa humilde que eu conhecia. Até quando eu entrava no gabinete dele, ele apontava para a cadeira dele e dizia: ‘senhor Brand, essa é a cadeira do presidente, sente-se nela’ e tomávamos um café”.
Brand ainda frequentava a casa da família Mandela. Uma vez, a imprensa perguntou à filha dele como era a relação do ex-carcereiro com o presidente, o que ela respondeu: “Não, não. Ele não é ex-carcereiro do presidente. Ele é parte da família”, conta Brand.
Depois que a nova Constituição da África do Sul ficou pronta, em 1996, Brand voltou a trabalhar na ilha Robben, por ajuda do próprio Mandela. Dessa vez, não mais como carcereiro. O antigo guarda do “terrorista mais perigoso” passou mais de 20 anos cuidando do museu que hoje existe no local. Escreveu um livro junto com a jornalista Barbara Jones, com o título “Mandela – meu prisioneiro, meu amigo”.
Agora, aposentado, Brand percorre o mundo para ministrar palestras para empresários e estudantes. O ex-carcereiro conta como é possível transformar uma relação fria e antagônica em uma amizade que durou até o fim da vida de Nelson Mandela.
Essa narrativa tem a pretensão de tocar no coração e na consciência das pessoas, que precisam exercitar a tolerância, o respeito e alcançar o caminho bendito da paz. Temos que ter bem aguçado em nosso espírito a capacidade de perdoar.
Hoje, se observa o ódio no gesto, na atitude, na palavra. Porém, esse não é o caminho do bem. Veja o que disse na autobiografia “Long Walk to Freedom”: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, ou de onde ela vem, ou sua religião”.
Desejo, sinceramente, que o povo brasileiro possa compreender o exemplo de Mandela e pacificar essa grande Nação.
Viva Mandela!!!
*Ex-governador de Roraima
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ATÉ A MERENDA DAS CRIANÇAS?
Ranior Almeida Viana*
Enquanto isso, não há material no hospital, nas delegacias, salários de muitos servidores atrasados e falta merenda nas escolas da rede estadual.
A “visão Messianista” faz com que as pessoas esperem alguém vir e resolver os problemas. Os roraimenses trocarão os gestores e esperam que estes que vão tomar posse em 1º de janeiro saibam tratar da coisa pública com seriedade e honestidade que faltou pra quem não conseguiu voltar.
Em um discurso i
nflamado na tribuna do Senado em 2013, o então Senador Mozarildo Cavalcanti denunciava a corrupção no Governo do Estado. Apesar de ter sido há mais de 5 anos, seu discurso continua atual embora os ocupantes do Palácio Senador Hélio Campos sejam outros.
Roraima tem voltado às pautas dos principais meios de comunicação do país eestá no centro de notícias por mais escândalos de corrupção. Semana passada, como retrata a manchete de capa da Folha de Boa Vista do dia 30/11/18, foi a do “Sistema Penitenciário: Operação prende agente públicos por esquema de corrupção em RR”.
Chama muita atenção o nome dado pela Polícia Federal a esta operação Escuridão que faz referência à nona praga bíblica do Egito; que veio após a praga dos Gafanhotos, na qual o povo foi colocado sob trevas em razão das ações do Faraó.
Na terça, dia 04/12/18, foi a vez de a Polícia Federal deflagrar a operação Tântalo com a missão de desarticular organização criminosa envolvida em desvios de recursos públicos de merenda escolar no âmbito do Programa Mais Educação, entre os anos de 2016 e 2018.
A operação foi batizada de Tântalo é em referência ao personagem da mitologia grega que foi castigado a não poder ter água e alimentos, embora de vivesse cercado destes em abundância, restando em eterno suplício.
Ao comentar esta última com um colega de trabalho, ele me diz: “roubar comida dos presos até vai, agora a merenda das crianças é demais!”. É um pensamento compressível, mas a lógica está incorreta, visto que foi roubado o dinheiro público do cidadão roraimense, já cansado de pagar impostos e não ver a contrapartida, esses impostos transformarem-se em bons serviços.
Os políticos do Estado ainda não entenderam que são pagos, pelo povo, para que este tenha saúde, educação e segurança de qualidade e ser honesto na gestão do dinheiro público não é nenhum favor que eles nos fazem. Como já disseram outrora: “não há mérito algum no comprometimento do dever”.
*Sociólogo – CRP 040/RR.
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O sortudo
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Engraçado… Costumam dizer que eu tenho sorte. Mas só eu sei que quanto mais me preparo, mais tenho sorte.” (Anthony Robbins)
De nada adianta você ficar aí parado, esperando a sorte chegar. Ela está aí. Está só esperando sua ação para ela poder aparecer. Sem ação, cara, nada feito. E as ações só vêm com o preparo. E este só vem com a preparação. O que indica que você não deve ficar perdendo tempo sem se preparar para o tempo. Porque este chega, passa e leva você, despreparado. Deu pra sacar? Como você quer ir além da chegada? Ou você pensa que vai chegar onde nunca imaginou chegar, na busca do preparo? Assim você não vai atingir o grau de preparo que pensa desejar. Porque quem deseja vai, e corre atrás da realização do desejo. Vá pensando nisso.
Sonhe alto. Veja nos seus sonhos o que você realmente merece. E você sempre merece mais do que realiza. Não fosse assim e não teríamos grandes vencedores. Sonhar alto não significa ficar nadando nas águas turvas da ilusão. Quem vive nadando nas ilusões de visionário, não chega lá. É preciso muito equilíbrio mental para o preparo. Você, independentemente do seu sexo, da sua condição social, cor da pele ou, seja lá o que for você tem todo o poder para chegar lá. Mas tem que ter preparo. E preparo se adquire com ação.
Quer uma sugestão? Levante-se daí, desligue o celular, vá à prateleira, pegue um livro e leia-o. Quando terminar de lê-lo, devolva-o à prateleira, pegue outro livro e o leia. Faça isso com frequência, mas sem a neura de se tornar um intelectual. Apenas busque o conhecimento na ação. É o preparo que vai fazer de você um profissional eficiente. Porque quando conhecemos atuamos. E quando atuamos com conhecimento damos a mão à sorte. Simples pra dedéu.
Esteja sempre atuante. O ostracismo é uma paralisia mental. E quem não pensa não age com racionalidade. Afinal, somos o que pensamos. E é dos nossos pensamentos que saem nossos resultados. Quando pensamos positivo, conseguimos resultados positivos; se pensamos negativamente, fracassamos. Todos os maus políticos, que estão indo para as cadeias pensavam que pensavam positivamente. Mas deixemos os maus exemplos pra lá, e vamos nos concentrar no nosso encontro com a sorte. E ela está só esperando pelo seu preparo, e ação. Então, aja. E é só isso e nada mais. Valorize-se, prepare-se, e a sorte virá. Mas não virá nas notícias e mensagens fúteis no seu celular. Preste mais atenção às coisas que acontecem à sua volta, e aprenda a analisá-las. É assim que você se desenvolverá e crescerá desde que saiba que direção você deve tomar, para seu crescimento racional. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460