Boa Vista que enxerga além do tempo – Jorge Romano*
O tempo e o espaço se materializam nas obras dos artistas. A sua visão de mundo, sua cultura, seus hábitos e costumes ficam cravados, esculpidos, tatuados nas obras. Estas se tornam cartas escritas no presente para gerações futuras. Na arquitetura e urbanismo também é assim.
Tudo que cremos, que sonhamos, que construímos e o que cultivamos vai gradativamente sulcando o chão, deixando nele as cicatrizes ou tatuagens de uma civilização. E sobre esse mesmo desenho, uma geração vai se sobrepondo a outra, aproveitando traços, apagando riscos e compondo novos traçados.
Esses traços resultam dos caminhos, das trilhas, das estradas e das veredas abertas quando pessoas se deslocam em busca de conexões culturais, comerciais, políticas e humanas. A cidade é fruto do intercâmbio e continua sendo espaço para trocas.
A convivência de vários interesses resulta em uma trama urbana, na qual a habitação e o trabalho (produção) se conectam para gerar qualidade de vida. A qualidade das conexões depende de atores que atuam construindo os mecanismos para ordenar, fiscalizar, disciplinar e manter vivo esse organismo chamado cidade para que este se desenvolva sadio e proporcionando perspectivas de futuro.
Boa Vista não é diferente. Mas tem peculiaridades que a fazem diferente. Cidade que traz a marca de uma mistura de raças, culturas, interesses e, sobretudo, de pessoas com a coragem dos pioneiros, dos desbravadores… uma cidade que ainda não tem os vícios e nem os equívocos das cidades “grandes”. Somos uma cidade em construção.
Nós, arquitetos e urbanistas que aqui atuam, temos essa oportunidade de conhecer e entender os problemas dos “grandes centros” e evitá-los aqui. Ainda podemos evitar o colapso da mobilidade urbana, ainda podemos evitar a sobrecarga da infraestrutura, ainda podemos preservar nosso passado e nossa história, ainda podemos trilhar por um caminho sustentável, ainda podemos construir um sistema de transporte eficiente (a nossa topografia nos permite), ainda podemos criar uma nova matriz energética que nos dê independência e eficiência.
O CAU RR, com aproximadamente 200 Arquitetos Urbanistas, se coloca como um dos atores a construir essa história. Somos duzentos sonhadores dispostos a trabalhar a cidade, na cidade e sobre a cidade. Esses Arquitetos Urbanistas são homens e mulheres que estudaram e se prepararam para servir a sociedade, colocando seu trabalho à disposição para fazer uma Boa Vista cada vez melhor. Com um trabalho que começa na casa, transformando cada ambiente interno “o cantinho” para onde podemos voltar depois de um dia duro de labuta. Saindo dos portões da casa, trabalhamos as ruas, calçadas, praças, parques, locais de trabalho, escolas, creches, hospitais… produzindo a arte que atravessa os muros do tempo.
Para termos a Boa Vista que tantos sonham, precisamos colocar em funcionamento os mecanismos que norteiam o desenvolvimento e disciplina o crescimento das cidades. O código de obras e o plano diretor são os balizadores, mas precisamos de políticas públicas com visão de longo prazo, uma política de estado e não de um mandato, pois o governante passa, a cidade e seus problemas, fica. E sobre ela vão se sobrepondo as marcas do que somos, como pessoa, como cidadão, como sociedade.
Temos um desafio a mais: além dos nossos irmãos brasileiros, temos os imigrantes venezuelanos. São pessoas em busca de sobrevivência. Em busca do mais básico dos direito. São quase um quarto da população que se soma aos habitantes da cidade. A infraestrutura não foi planejada pra tanta gente em um espaço de tempo tão e curto. Transporte, saúde, segurança, trabalho, escola… Tudo saturado. Há muito por fazer. Esse é um desafio e uma oportunidade para movermos nosso braço de trabalho, nossa imaginação, nosso coração para transformar o limão em uma refrescante e saudável limonada.
A cidade que acolhe o povo oriundo de outros estados brasileiros (do nordeste ao sul), também terá a maturidade, o espírito solidário e a inteligência de acolher os “Hermanos”, que, quem sabe, num breve futuro, estará colaborando para o crescimento do Estado.
Como pessoa, como cidadão e como Arquiteto Urbanista, temos que encarar esse desafio de frente. Colocar nossos saberes a serviço da humanidade, indo além do projeto e alcançando a alma humana para construir uma sociedade melhor.
A academia, através da Universidade Federal de Roraima e a Universidade Estácio/Atual, também está engajada na formação de profissionais que sejam capazes de enfrentar esses desafios: se tornarem responsáveis por nos fazer entender a história das civilizações (da nossa civilização) através do seu trabalho e responsabilidade com a cidade e com seus cidadãos.
Quando as futuras gerações ou civilizações tentarem entender nossos dias, vão dizer que num mundo de superficialidades e futilidades, existiam pessoas preocupadas em construir uma Boa Vista Melhor e mais solidária, os Arquitetos Urbanistas que pertenciam ao menor CAU UF do Brasil, mas que encarou os desafios de um tempo de grandes dificuldades, colocando seus dons e talentos a serviço de sua cidade. Estes bebiam na fonte do verdadeiro amor, O DEUS O CRIADOR, O ARQUITETO DE TODAS AS COISAS. Por tudo isso, Parabéns Boa Vista!
*Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Roraima (CAU/RR)
Juro que tentei – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Sem a ajuda dos outros, jamais dinamizamos a nossa evolução pessoal”. (Waldo Vieira)
Só porque prometi pra você, vou falar daquele encontro com um grande amigo atual, que eu ainda não conhecia. Faz muitos anos. Eu estava num evento artístico, quando um jovem aproximou-se de mim e iniciou um papo legal. Ele começou a perguntar tudo sobre o jornal Folha de Boa Vista. Ele queria saber tudo sobre o Jornal, e de como gostaria de trabalhar conosco. Durante o papo tentei ser agradável, mas quase não falei. Estava achando esquisito o papo. Até que nos separamos e eu, como de costume, fiquei meditando sobre o que me pareceu esquisito, na conversa do garotão.
Na manhã seguinte, e em casa com meus filhos, perguntei para o Homero:
– Escuta… O que é que teu cunhado tem a ver com jornalismo? Desde quando ele entende de jornalismo? Ele não é agricultor?
Homero me olhou esquisito e perguntou?
– De que cunhado o senhor está falando?
– Do Francisco. Nós nos encontramos na festa essa noite e ele medisse que gostaria de trabalhar na Folha.
– Sei não, pai, mas o Francisco está no interior. Acho que o senhor falou como outra pessoa.
Em vez de rir, fiquei preocupado. Mas uma vez eu tinha cometido o erro de não dar a atenção devida a alguém, por conta do meu desligamento. E não sei quanto tempo se passou até que um dia, quando entrei na redação do Jornal, lá estava aquele garotão, a quem não dei muita atenção, pensando que sua conversa fosse mero disparate. Nunca toquei no assunto, com o agora colega de trabalho, nem ele falou. Mais de vinte anos se passaram e continuamos grandes amigos e ótimos colegas. E estou torcendo para que ele não leia esse papo. Porque não sei se el
e percebeu meu comportamento no nosso primeiro encontro.
Caso você me encontrar amanhã e me cumprimentar, e eu não for tão eufórico no cumprimento, releve. Porque mesmo sem conhecê-lo, o respeito que tenho por você não é pequeno. Esta é uma qualidade minha, da qual me orgulho muito, e que neutraliza meu desligamento. O grande mestre, Charles Chaplin, já nos disse que: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”.
E o que devemos fazer é não sair do palco. E quando entendemos a importância do nosso papel, devemos desempenhá-lo com amor, otimismo e muita racionalidade. Viva, cada momento de sua vida, como se ele fosse o último. É o resultado do que você faz hoje que você vai desfrutar amanhã. Nem mais nem menos. O que fazemos é fruto dos nossos pensamentos. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460