Virtudes morais: transgressões e rupturas (VI) – Sebastião Pereira do Nascimento*Uma forma de classificar as faltas sociais está em Hobbes, quando ele diz que “o homem sem os alinhos da sociedade é governado pela razão a serviço de seus desejos mais inexoráveis. Ambiciona o poder e para garanti-lo, busca mais poder vivendo numa permanente luta de todos contra todos”. Por conta disso, Hobbes admite que a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, irracional e curta.
No caso das transgressões morais, são ações que agridem a virtude humana e vai além das práticas vergonhosas de constrangimento, racismo, descriminação, preconceito, intolerância, etc; passando pelas maliciosas espoliações, infringências das normas de trânsito, atitudes de “furar” fila, adquirir produtos “pirateados”, até as deploráveis corrupções como malversação e dilapidação do erário, “comprar” e “vender” de votos, apropriação indébita de bens públicos, violação dos direitos fundamentais, entre outras execráveis faltas.
Outros proveitos deploráveis praticados pela sociedade atual – em especial aqui no Brasil –, está explícito na prática do “jeitinho brasileiro”, que é a repulsiva malícia de encontrar uma solução para determinada situação, a qual se caracteriza como um ato típico de indivíduos de pouca inteligência e baixa virtude social, onde se busca obter um rápido favor para si. A partir desse entendimento o “jeitinho brasileiro” pode ser também caracterizado como um ato de corrupção. A presunçosa frase “sabe com quem está falando” é outra repulsiva informalidade exercida geralmente por pessoas dotadas de influência social, política ou econômica, e acontece quando uma pessoa “maior” vê-se coagida por uma “menor”, imediatamente a ameaça fazendo uso de sua influência.O consumo excessivo de produtos supérfluos, as ações que perturbam o meio ambiente, o culto à beleza a todo custo, o uso demasiado de dispositivos virtuais, os meios fraudulentos de levar vantagem, entre outras coisas que também depreciam a virtude humana, são antes de tudo destituídas de valores morais, e são praticadas por sujeitos incapazes de controlar seus desejos mais avassaladores. Por consequente, isso leva a pessoa – seja ela de “menor” ou “maior” importância social – a cometer diferentes transgressões tendo como o único intuito de querer se “dar bem” levando vantagem.
Não bastante, essas ações provocadas por indivíduos mal-educados afetam o direito da sociedade, causando indignação às pessoas acometidas de cidadania. Do mais, essas ações deterioram cada vez mais os valores morais, sabendo que sem a resistência moral, as pessoas entram em turbulência mental, e consequentemente deixam de fazer as coisas certas, muitas vezes de forma imperceptível, não raro para benefício próprio. Além dessas transgressões, paira também sobre a sociedade atual a cobrança desmedida de sermos sempre os “melhores”, os mais “lindos” e mais condizentes com o esdrúxulo modelo de desenvolvimento proposto pelo sistema tecnocrata.
Na alça dessa cobrança, que se faz na ausência das virtudes morais, vem também a massificação da moda, mediada pelo culto à beleza, pelo consumo excessivo, pelo trato desmedido com os animais (não humanos), entre outros elementos abusivos que também implicam na vida moral da sociedade e que levam uma legião de pessoas a sofrerem diferentes distorções existenciais pelo sôfrego desejo de querer se aparecer como protagonista e ser “respeitada” diante da regra do “ter para ser”. No sentido mais pujante, isso ganhar mais força ainda quando as pessoas relacionam essas extorsões a sensações abstratas e fúteis como poder, exibição, luxúria e entre outras coisas que julgam satisfazer o ego pessoal ou o status quo.
No caso do trato excessivo com os animais estimação, Peter Singer, quando fala das considerações morais do princípio da igualdade, define que qualquer animal sendo tratado fora do domínio de sua natureza, sente dor e sofre quando colocado em situações hostis ao bem-estar apenas de seu “dono”. Sendo que essa subordinação de interesse e domínio do outro, significa a expressão pura de especismo, que suprime a condição básica que assegura a igualdade de todos os seres dotados de liberdade.
Singer alega também que o homem naturalizou de tal modo o costume de usar os outros animais em vários meios de vida, que abolir esse costume implica numa verdadeira quebra de paradigma por parte do homem, por conta dos seus aspectos econômicos e sociais, ou ainda pelo fato do homem declara-se francamente favorável às práticas violentas que submetem os interesses mais elevados dos animais aos interesses menos relevantes do homem, mesmo àquele que não se declara explicitamente especista, pois, ainda assim pratica o especismo ao contribuir direta ou indiretamente, com seus hábitos de consumo, para que o seu padrão econômico e de conduta moral em relação aos animais sejam mantidos.
*Filó[email protected] —————————————-Ao som dos tambores – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Finalmente ria das coisas à sua volta, ria de seus problemas, de seus erros, ria da vida. A gente começa a ser feliz quando é capaz de rir da gente mesmo”. (Aristóteles Onassis)Acordei, ontem, pela manhã, ouvindo o som dos tambores na Avenida. Era o desfile de Sete de Setembro. Aí comecei a rir, ali mesmo, deitado na cama. É que sempre fui apaixonado pelos desfiles. Eu tinha uma cunhada, em São Paulo que sempre que eu saía para assistir a um desfile ela dizia que desfile é festa de índio. Nem imagino de onde ela tirou essa tolice, mas tudo bem. Mas, como nossa idade faz parte da passagem do tempo, e como o temo quando passa leva a gente, estou preguiçoso para sair de casa e assistir aos desfiles.
No dia 25 de janeiro de 2004 eu ia passando pela Praça da Sé, no momento exato em que se celebrava a missa, na Catedral da Sé, em comemoração ao aniversário de São Paulo. Parei numa das filas formadas em semicírculo. Fiquei ao lado de uma mulher ainda jovem, acompanhado do marido. O silêncio era fantástico, com a Praça lotada. Todo mundo sério, é claro, quando de repente, comecei a sorrir, mas em conseguir prender o ruído no sorriso. A mulher olhou pra mim e franziu o sobrolho. Continuei sorrindo e ela olhou para o marido, ele olhou pra mim e me pareceu achar estranha minha atitude. Sem graça, fiz sinal para os dois e expliquei em tom baixinho:
– Desculpem-me, mas é que me lembrei, agora que, exatamente neste momento, está fazendo cinquenta anos que estive exatamente neste local, assistindo a essa mesma cena. E que nada mudou em cinquenta anos.
A mulher pôs a mão na boca e os três rimos. E agora não sorrimos, rimos mesmo. Assistimos à missa, despedi-me do casal e fui pra casa, entrei no elevador ainda sorrindo. E como os que estavam no elevador já me conheciam e sabiam que rio à toa, ninguém me perguntou o porquê do sorriso. Foi legal pra dedéu.
Ria sempre. Sorria sempre que se lembrar de alguma coisa que lhe tenha trazido, pelo menos, um minuto de felicidade. Não tenha medo de parecer tolo ao sorrir ou rir. Porque tolo é quem não entende o valor da simplicidade que há num sorriso. Mas o mais importante é que o sorriso seja sincero. Nunca disfarce a sinceridade no sorriso. Uma vez disfarçada ela deixa de ser sinceridade. E não se iluda, porque sempre percebemos quando o sorriso é sincero. Olhe-se sempre no seu espelho interior. E não caia na esparrela de não acreditar no que ele mostra pra você. E cuidado quando alguém lhe disser que o espelho interior não existe. Porque é nele que você se vê exatamente como você é e o que é. Pense nisso.
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