Opinião

Opiniao 08 12 2014 370

A desvairada sobrevivência do BBBabaquice – Tom Zé Albuquerque* Eu não costumo ser espectador de televisão; cada vez menos destino meu tempo para assistir a algo, exceto um bom filme, documentários ou programas similares. Até mesmo futebol não consigo mais aguentar um jogo inteiro, pelo tédio que dá de tanta robotização. E, pra minha surpresa, vi nesses dias a divulgação de mais um Big Brother Brasil, o famigerado BBB, a acontecer no início de 2015. Ainda em 1945, o jornalista, crítico e romancista George Orwell delineou em seu clássico “A Revolução dos Bichos” o que iria, algumas décadas depois – embora satirizasse a ditadura stalinista – emergir como uma luva em associação aos Big Brothers mundo à fora. Nesta indispensável obra, o autor narra meticulosamente a descrição de ambientes e situações do cotidiano, comportamentos animais, além da criação de personagens psicológica e moralmente sinistros. Orwell incita o leitor ao dizer que “O homem é a única pessoa que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais pra puxar o arado, não corre o que dê pra pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais”. Avança ao distender “…e muito tenho refletido da solidão de minha pocilga”, e extrapola argumentando que “Só esta nossa fazenda comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas, centenas de ovelhas – vivendo todos num conforto e com uma dignidade que agora estão além de nossa imaginação”. No vazio mental dos BBBs, delicio-me com as tiradas do jornalista José Simão quando intitula os reality shows no Brasil de Trash! Bagaça! Surreality Show. Define que “BBB é um monte de gente sem nada para fazer vendo um monte de gente fazendo nada!” E profetiza que “A próxima geração vai nascer falando: ‘Oi, Bial!’”. Simão narra inteligentemente os achincalhes do programa ao tecer que existem três frases indispensáveis para participar do BBB: “Oi Bial”; “Ela é super minha amiga, mas vai pro paredão”; e “Uhhuuu!”. Gritar Uhhuuu é difícil, mas é essencial. E a receita para fazer um BBB: quatro rinocerontes de sunga, cinco piriguetes bundudas e quatro bichos exóticos. Alerta pra a proliferação de ex-BBBs, inclusive nas bizarras declarações, por exemplo: “A virgindade está na cabeça, não no ímã”. Isso mesmo, pensava-se que faltava ali dentro cérebro, mas falta também hímen… Mas em nosso país é a isso que chamam de cultura, diferentemente dos conceitos sociológicos. Cultura no Brasil é rebolar, é axé do ‘sai do chão’, é o funk pornográfico, são os berros de letras sem conteúdo de duplas sertanejas. É Bambam e Frota, é o Brasil de Jean Wyllys. No país do petrolão Fernando Collor é membro da Academia Brasileira de Letras de Alagoas, mesmo não tendo publicado livro; é Paulo Coelho da Academia Brasileira de Letras. Eles são imortais, imagine Veríssimo, Gullar, Lispector, Lobato, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Cecília Meirelles… sim, Paulo Coelho, em tese, está no mesmo nível destes baluartes, por ter ficado milionário em escrever obviedades para pessoas carentes. Qual seria o perfil do público dos BBBs? Ora, se dentro daquela casa (conforme ouve-se na própria chamada televisiva) quanto mais intriga melhor; quanto mais maledicência, mais atrativo fica; fofocas, traições, futilidades, são pontos culminantes para se atingir o objetivo daquilo lá.  Por conseguinte, quem doa o rico tempo de seu dia para alimentar isso tudo, de certo está na mesma sintonia. A rede globo e a empresa de telefonia agradecem. Sempre quando tenho o desprazer de falar sobre BBB, lembro da lúcida colocação do Filósofo Rui Souza: “Antes, as pessoas destinavam horas de seu dia para analisar o comportamento de macacos, enjaulados e alheios às vontades dos comandantes. Cada movimento, cada ação ou omissão, eram minuciosamente analisadas. Ao copularem, o frisson era automático de todos, mais gente pra assistir, mais gente para se regozijar e curtir aquele primitivismo íntimo. E hoje (debaixo do edredom ou não), não são animais que estão diuturnamente sendo observados, são pessoas”. E há quem diga que a involução não existe. *Administrador —————————————————————– As Empresas, as Mudanças e os Desafios para a Educação Superior – Ruy Chaves * O grande sonho de toda empresa depende absolutamente de sua sobrevivência e de sua perpetuação. Sobrevivência impõe competência. A perpetuação, razão final de toda organização, é a competência continuada. Então, buscar a qualificação permanentemente, ter permanentemente a competência como fim e como meio, como produto e como processo, é impositivo de percepção e de ação. A competência tem compromissos com mudanças, de que são instrumentos a ousadia e a criatividade. É limitado pensar-se que hoje é tempo de mudanças: o mundo sempre esteve em mudanças. Este é um tempo sob velocidade de mudanças. Saber para ser. Saber para transformar. É fundamental estar à frente das mudanças. Mudança é crise. Crise é oportunidade. Nenhum dia é igual a outro. É imprescindível ser outro a cada dia. “Panta rei”, tudo flui, ensinou-nos Heráclito. Mudança significa responsabilidade e crescimento, dizer não às formas de ser e de estar aparentemente confortáveis como os líquidos maternos. Mas o ventre materno quer impelir o seu produto mais nobre para uma nova vida de riscos e de compromissos. Os compromissos com a mudança exigem que a empresa considere a todos como principais. Se todos não estão, mais que envolvidos, comprometidos, se não estão olhando para a mesma direção, não há alternativas possíveis. Para Sócrates, a unidade é o grande bem; o grande mal, a discórdia. A empresa somos todos nós, pessoa única, alma única em corpo único. Se a empresa não está atenta a esta nova ordem, a de ser outra a cada dia, perde a sua competência e compromete a sua sobrevivência. É impositivo um rito de passagem da pirâmide ao círculo integrado. Se a organização não propõe o risco, não permite a oportunidade. Se não há oportunidade, não há crescimento. Nem da pessoa, nem da organização. Ser adulto em crescimento permanente é libertar-se da pirâmide, estrutural em excesso, vertical e condicionante, escrava de circunstâncias. Ser adulto em crescimento permanente é atentar permanentemente para o saber para ser, é cultivar o saber de transformação. Sempre o “quanto mais sei, sei que menos sei”, o sair da caverna tomada por trevas, de que são prisioneiros os homens que  temem a luz. Sair do correr solitário, destrutivamente concorrente, uma pessoa um objetivo, cada um ceifando o seu próprio caminho, caminhos normalmente de conflitos e de derrotas, o homem sempre lobo do homem, inimigo voraz que corrói todas as entranhas: o dedão do pé não pode ser a parte mais proeminente da natureza humana. A nossa empresa é o espaço de todos nós, a soma de todo o nosso poder, o produto de toda a nossa competência e de todo o nosso entusiasmo, não um complexo de feudos em lutas sob traição e ódio, por espaços e por poder. Não sobreviveremos enquanto organização se não mudarmos. Mas não bastam as mudanças de processos se as pessoas não estão preparadas para mudanças. Mudança não significa você desejar que os outros mudem. Mudança significa você dizer não a você. Mudança significa novas visão e formação profissionais. Assim, instituições superiores de educação superior têm papel determinante nesta nova ordem, quebrando paradigmas em seus projetos pedagógicos. É imprescindível um novo professor com capacidade de abrir novas janelas para o mundo na formação de um aluno-cidadão-profissional capacitado para aprender sempre, em qualquer ambiente, sob inovação com qualidade: gente ensinando gente aprendendo sempre. Eis o desafio a que estão submetidas as instituições de educação superior: que profissional ético, com visão de mundo e de futuro, o mercado demandará em 4-5 anos, período médio de realização de cursos de graduação? Como preparar profissionais para um mercado sobre o qual nada se sabe hoje? Sêneca ensina que para quem não sabe aonde ir todos os caminhos levam a parte alguma. Mais que sempre, instituições superiores de educação precisam estar preparadas para seus compromissos com o saber de transformação, com o Brasil e o seu destino. Panta rei. *Diretor da Estácio e membro do Corpo de Conselheiros da Escola Superior de Guerra ———————————————————— Liberdades morais, censuras cívicas – Bruno Peron Temos a sensação de que tudo acontece e tudo poderá acontecer no Brasil, mas, ao mesmo tempo, tudo é repreendido e tudo poderá ser repreendido. Por isso, falo que nosso país dá ensejo a liberdades morais, mas promove censuras cívicas. Aviltamentos morais convivem com restrições cívicas. Nessa perspectiva, não demora para que opiniões se tornem polêmicas e tenham repercussão entre brasileiros, como os comentários justiceiros do apresentador de televisão José Luiz Datena e a postura da jornalista Rachel Sheherazade sobre os linchamentos e a ausência do Estado. Não preciso fazer aqui julgamento algum sobre a validade dessas opiniões. Logo aparecem movimentos sociais disso e daquilo, associações disso e daquilo, defensores disso e daquilo, que se sentem lesados por uma opinião e desmoralizam pessoas apenas pelo que pensam e apoiam. Algo parecido sucede com personagens desconhecidos que se tornam conhecidos porque suas ideias são polêmicas e desafiam a ordem estabelecida e as normas habituais difíceis de mudar. É o caso do pastor Marco Feliciano e sua proposta de lei que dá autonomia a psicólogos para “curar” homossexuais. Também me refiro às opiniões de Jair Bolsonaro. Alguns temas fogem das bocas de muitas pessoas pelo risco de que sejam julgadas pelo rigor excessivo das leis, como os de homossexualidade e raças. Muitos evitam discussões sobre esses temas porque, assim como religião, não se chegará a consenso. Mas no Brasil passa algo pior: muitos evitam esses temas porque suas opiniões poderão ser censuradas. À minha preocupação com o aumento da censura no Brasil, somo a divisão de opiniões políticas entre posturas de “esquerda” ou “direita”, que pouco tem de fecunda e dificulta nossa formação cívica. Sabe-se que há posicionamentos de pessoas ditas de “esquerda” que são conservadoras, e opiniões de pessoas declaradas como de “direita” que são progressistas. O que mais me preocupa nessas interações políticas no Brasil, no entanto, é o aumento da censura nos meios de comunicação. Estes (sobretudo a Internet banda larga e a rede de telefonia móvel) têm permitido trocas de informações rápidas e abundantes entre seus usuários como nunca se havia imaginado. Quase todos usufruem desses benefícios. Porém, estadistas têm sugerido algo chamado “controle social da mídia”, que ainda não está bem explicado. Entendo que é preciso ter responsabilidade maior sobre o que se escreve e se fala para evitar que informações errôneas se dissipem pelos meios de comunicação. Esses cuidados se dão num contexto em que o leitor ou espectador pode simplesmente virar a página ou mudar o canal quando discorde do assunto ou este lhe desinteresse. Por isso, tenho a opinião de que o controle de opiniões nos meios soa como um tipo sofisticado de censura que um país dito democrático e livre não merece. Os avanços tecnológicos têm sido tão rápidos quanto fascinantes no mundo todo. Os brasileiros não têm sabido lidar com a abundância de informações. Um dos sintomas dessa falta de gestão tecnológica é achar que se devem controlar as fontes em vez de aprimorar a recepção. Hoje nos distraímos com smartphones para ver a previsão do tempo, ouvir nossas músicas favoritas, fazer operações bancárias e mandar mensagens a familiares enquanto andamos em casa ou nos transportamos na cidade. Temos que aprender a lidar com essa abundância tecnológica que pegou todos de surpresa e que faz circular informações e opiniões mundialmente. Não creio que a censura seja o caminho para melhorar nossas tendências morais, embora eu defenda o respeito ao estado de direito e às filosofias jurídicas que nos façam reconhecer como cidadãos. Esta é uma solução para que nossa boa formação cívica dome nossa má liberdade moral. http://www.brunoperon.com.br —————————————————– ESPAÇO DO LEITOR GUARDA Sobre os cinco veículos de fiscalização da Prefeitura de Boa Vista, que foram queimados na última quinta-feira, dia 04, um internauta, identificado apenas como Moraes enviou o seguinte questionamento para a Folha: “O Município tem uma ‘Guarda’ para vigiar prédios e logradouros públicos. Onde essa guarnição estava? Por que os prédios do Município ficam assim a mercê da bandidagem?”, indagou. VIGILÂNCIA E sobre o mesmo assunto o internauta Sérgio Pereira também questiona: “E cadê o sistema de câmeras que ia vigiar os prédios públicos municipais? 2016 está chegando”, observou. SEGURANÇA Já o internauta Luís Guilherme faz a seguinte observação sobre o caso: “Caso lá [no prédio onde estavam os veículos da Prefeitura] estivesse uma guarnição de serviço, o que eles iriam fazer com uma mera arma de choque e uma tonfa [cassetete], diante de criminosos de alta periculosidade, integrantes de uma facção criminosa, supostamente em posse de armas de fogo, como foi noticiado? Além disso, há tempos que os guardas civis municipais, não são ‘vigias de prédios e logradouros públicos’, sendo a principal competência atualmente, atuar, preventiva e permanentemente, na proteção de forma sistêmica da população, ou seja, zelar e proteger a vida dos cidadãos quando precisarem, entre outras atribuições [Lei 13.022 de 08 de agosto de 2014], observou. INVESTIMENTOS “A falta de investimento da senhora prefeita na Segurança Pública mostra descomprometimento. A Guarda Municipal tem um efetivo que é menos de 250 guardas, sem contar que muitos desses já passaram em outros concursos e outros já estão prestes a entrar na Reserva. Existe uma lei que aumentava o quadro para 1.500 homens e a senhora prefeita fez um concurso para 80 vagas, sendo que existe 342 aprovados no concurso, esperando serem chamados, o que adianta limpar a cidade, mas deixar os locais públicos sem segurança? As praças estão sem nenhuma proteção. O pai de família não pode ir por causa dos marginais. Prefeita olhe pela segurança da população de Boa Vista”, pediu um internauta, identificado apenas como Marcus.