Memórias do Barão – Walber Aguiar*
Meninos viram homens, mas sempre serão meninos.
Eram os idos de 70. Meninos e meninas desfilavam os uniformes escolares pelas ruas largas e verdes de Boa Vista. Alunos do velho colégio São Francisco, do Monteiro Lobato, do GEC, do São José, o colégio das madres e do velho Barão de Parima, que em 1966 era chamado de GOT, Ginásio Orientado para o Trabalho.
E que trabalho. Eram centenas de adolescentes que atravessavam a cidade debaixo de muito sol. Um verdadeiro Deus nos acuda no momento de atravessar a velha ponte de madeira sob o Igarapé do Caxangá, pois balançava e sempre tinha um menino mais afoito querendo derrubar os outros só pra ver a queda.
Todo mundo usava um jalecão bege, pois era preciso mexer com artes gráficas, tinta, terra, flores, frutas e verduras. Além disso, também tínhamos contato com propaganda, madeira e técnicas comerciais.
Brincar na quadra, comer coco babão e paquerar as meninas fazia parte do currículo extraclasse, pois ali naqueles corredores quase assombrados, o vento nos açoitava feito os cavalos selvagens do Maruai, na terra de Macunaima.
Era lindo viver e aprender a ser gente, a ser menino, a ser homem de bem, com ética, alegria e uma leve responsabilidade. Aprender com o professor Catossi e o velho Jaceguai as técnicas de alguma profissão, junto com os segredos da vida e a ser possuidor de uma alma extremamente sensível.
Ora, temos que preservar os velhos grupos escolares da infância, dos jogos escolares, da disputa entre GEC e Monteiro Lobato, das tradições sadias e cheias de ludicidade. Afrânio Peixoto não existe mais. Barão de Parima, a lendária escola do Calungá, vizinha de Raimundo Nonato da Conceição, o famoso Canguru, da banda de música, e dona Áurea, professora, pais do carismático professor Laulimã, já figurou na lista das escolas extintas. Graças ao bom senso e à grandeza dos moradores do bairro, a Escola Estadual Barão de Parima continua a existir com ensino de qualidade.
Não poderia ter sido extinta mesmo, pois Barão de Parima é o nome dado ao tenente coronel Francisco Lopes Xavier de Araújo, o bravo que chefiou uma expedição até o Monte Roraima. Um bravo nunca pode cair, pois como dizia o poeta negro Paulo Colina: “resistir nunca será um equívoco”.
Ainda vejo aqueles meninos e meninas indo para o GOT, com o desejo de que a vida seja sempre uma espécie de passeio, uma inesquecível brincadeira de criança, onde o caminho da escola é o caminho da liberdade e do conhecimento, da cidadania e da esperança.
Meninos, eu vi…
*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]
O motorista de Boa Vista é “baum”! – Marlene de Andrade*
“Mas a sabedoria que do alto vem é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos…” (Tiago 3:17). O trânsito de Boa Vista é considerado violento devido a imprudência, excesso de velocidade e alcoolismo por parte dos infratores, fatores esses que têm liderado o ranking de “acrobacias” no trânsito boa-vistense. Mas aqui para nós, os motoristas de Boa Vista são os “melhores condutores de veículos automotores do mundo”, pois o número de acidentes de trânsito em nossa cidade poderia ser muito maior se os mesmos não fossem “expert” ao volante.
Ora vejam só, eles na grande maioria transitam fazendo “piruetas” sem que nada lhes acontece de mau. Eles vêm, às vezes, a 100km por hora e de repente dão de cara com um semáforo e mesmo assim conseguem parar atrás de outo carro sem bater na traseira do veículo que está à frente, desse jeito não é ser melhor que os “Emersons Fittipaldis” da vida? Claro que sim! E se param no sinal sem que haja outros carros à frente, ainda assim e mesmo em alta velocidade, conseguem frear sem dar o famoso “cavalo de pau”. Isso não é ser melhor do que qualquer piloto de Fórmula 1?
Ei, tal fato não é sorte não, é que tem mesmo, muito motorista, em Boa Vista, dando “olé” no falecido Ayrton Senna e que conseguiria ganhar qualquer corrida de Fórmula 1. O lamentável é que não tiveram a mesma sorte dos melhores campeões mundiais desse esporte. Que coisa “triste”!
Pois é, fazendo um balanço para tanta velocidade no trânsito de Boa Vista, o número de acidentes de trânsito em relação a outros locais do mundo “cresceu muito pouco”, agora tem o seguinte, os que não são bons em volante como eu, que se cuidem porque sempre tem “jovens furacões” ao nosso derredor, mas eles, “coitados” estão só “aproveitando a juventude”, mas tomara que numa falha humana não venham se tornar amputados de seus membros superiores e inferiores e por que não dizer paraplégicos, ou mesmo tetraplégicos? Tomara também que os “Ayrtons Sennas” de Boa Vista, apreciadores de grandes aventuras e que adoram se sentirem “livres”, não venham causar nenhum dano aos que dirigem, em Boa Vista, seguindo as leis de trânsito.
Tomara ainda que os motoristas entendam que o uso de drogas psicotrópicas sejam elas lícitas ou ilícitas não combinam com direção defensiva. Ah que bom seria que esses mestres do volante entendessem que eles só adiantam suas corridas um minuto e meio em relação aos que dirigem dentro das regras de trânsito e isso quem afirma não sou eu e sim a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego/ABRAMET.
“Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento”. (Provérbios 3:13).
*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT
Servir, persistir e progredir: eis os planos para 2018 – Vera Sábio*
De acordo com o calendário vigente, começamos o ano em 1º de janeiro; todavia o ano começa com enormes vibrações de paz, saúde, sucesso e felicidades; recheado de comidas, bebidas, danças e muita festa.
Até aí tudo certo, porém isto não para nem no dia 1º, 2º ou 3º, mas a farra continua muitas vezes o mês todo e em fevereiro é carnaval, depois com muita ressaca o ano começa em março, tendo os intervalos de semana santa e outros diversos feriados.
Por isso tudo aquilo que falhamos em planejar, estamos planejando em falhar.
Servir é necessário, pois toda tarefa requer doação, precisa de trabalho e é feita de serviço. O que não acontece sem muita persistência, com uma luta árdua e uma grande resistência para predominar o esforço e não a preguiça.
Afinal se queremos progredir, algo precisa ser feito do tanto que se é desejado, torcido e esperado nas festas de ano novo.
Agora que já estamos com uma semana de ano, vou lhes dizer sinceramente que, para as palavras se tornarem concretas, o desejo precisa ter ação.
“A sorte é o encontro do preparo com a oportunidade”. Esteja atento, disposto, preparado e atuante que quando menos esperar a sorte bate a sua porta e transforma sua vida.
Isto não é mágica e é direito de todos, no entanto só consegue estar na frente quem acordar primeiro, se mover primeiro e mesmo antecipar os fatos.
Então eu te desejo vida, nova vida. Te desejo a sorte de tudo que é bom… O que é bom não significa que é fácil, que te deixa no comodismo, na mesmice. Bom é progredir, ter sucesso e ser realizado pessoal, social e profissionalmente.
Faça seus exames periódicos, tenha boa saúde, adquira novos e bons hábitos, que logo se tornarão costumes e transformarão a vida em nova ida, sem ilusões, sem fanatismo, sem idolatrias, sem preconceitos, sem preguiça e sim com muita garra.
Saúde e paz e o restante corra atrás… Tendo assim um feliz 2018.
*Psicóloga, palestrante, servidora pública, escritora, esposa, mãe e deficienteE-mail [email protected]
Ela bate forte – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Saudade é a presença da ausência.” (Laudo Natel)
O ex-governador de São Paulo, Laudo Natel, foi uma das pessoas mais simples que já conheci. Toda a sua família sempre se destacou pela simplicidade. Na sua biografia há a citação de um episódio interessantíssimo, demonstrando o quanto um político pode se destacar pela simplicidade, que é sempre parceira inseparável da honestidade.
Quando o Laudo Natel era governador de São Paulo, certo dia a primeira Dama estava numa reunião, no palácio do governo. De repente, ela necessitou de se retirar. Ela ia saindo e o Paulo Maluf acompanhou-a até à porta. Na saída do prédio estava um fusquinha, estacionado. O Maluf gritou para o cidadão que cuidava do estacionamento:
– Tire essa sucata daqui e traga o carro da primeira Dama!
Dona Zilda tocou no braço do Maluf e falou:
– Paulo! Esse é o meu carro!
Esse caso e verídico. E até recentemente a família da dona Zilda ainda guardava o fusquinha, na garagem, como uma lembrança da ex-primeira Dama, que já não está entre eles. Lembrei-me disso, agora, olhando a capa de uma revista sobre as comemorações dos 450 anos de São Paulo, que foi em 2004. Eu estava presente, na comemoração na Catedral, na Praça da Sé. Eu estava no meio de um grupo, assistindo à missa. Do meu lado estava um casal. De repente comecei a sorrir, fazendo força para prender o riso. O casal olhou pra mim e franziu a testa. Estávamos no meio da missa. Parei de sorrir e falei baixinho para o casal:
– É que hoje faz exatamente cinquenta anos que eu estava aqui, em pé, assistindo à missa de comemoração aos 400 anos de São Paulo.
O casal riu e continuamos assistindo à missa. Você pode achar que não tem nada a ver, este assunto com o fusquinha da dona Zilda Natel. Mas tem. Sempre que me lembro de minhas experiências em Sampa, misturo as lembranças das coisas e acontecimentos que me trazem saudade. E é aí que sinto a presença da ausência. E é gostoso pra dedéu. Porque me sinto feliz, lembrando-me de que só sente saudade quem foi feliz. E eu fui, no meu entrosamento com São Paulo.
Nossa felicidade nós a construímos. É só saber buscá-la onde ela realmente está. O erro está em sairmos por aí à procura do que está em nós mesmos. “O reino de Deus está dentro de nós”. A dificuldade está em abrirmos nossas mentes para entender isso. É gostoso e bom manter nas lembranças, os momentos que nos fizeram feliz. Porque são eles que sustentam a felicidade. E esta está na simplicidade que pode muito bem estar no fusquinha, independentemente do seu potencial econômico ou social. Viva intensamente para ser feliz. Pense nisso.