Opinião

Opiniao 09 01 2019 7501

Como as novas tecnologias apoiam o combate à corrupção nas empresas

Cassiano Machado*

Atos de corrupção e outros desvios são cada vez mais difíceis de serem perpetuados sem deixar rastros digitais. Os avanços na tecnologia ampliaram a capacidade das empresas prospectarem cada vez mais informações sobre a ocorrência de atos ilícitos em seu ambiente e interfaces, potencializando a descoberta destas irregularidades e a condução efetiva das investigações.

Estas tecnologias processam e analisam dados capturados de diferentes origens, tornando-se uma rica fonte para o desenvolvimento de análises preditivas e correlações, além de trazerem ganhos para a eficácia dos esforços de apuração das irregularidades.

Assim como o mapeamento de dados na internet, por meio de buscas automáticas ou manuais de conteúdos disponíveis nas redes sociais, marketplaces, como o Mercado Livre, e órgãos públicos e privados de informação, permitem o entendimento de diversos aspectos, dentre eles, o perfil comportamental e o estilo de vida do investigado fora do ambiente corporativo. É possível analisar suas redes de relacionamentos, situação patrimonial, posição societária, histórico judicial e até sua presença em listas de restrições financeiras ou governamentais.

Logs de acesso físico, varredura de arquivos em rede, análise forense de discos rígidos e celulares, além da análise de imagens de circuito interno de TV são também outras fontes de dados digitais disponíveis que ajudam as organizações a detectarem o ato ilícito de seus colaboradores. Inclusive contando com a ação de denunciantes, de dentro ou fora do ambiente de trabalho, que podem encaminhar ao canal de denúncias da empresa evidências em formato digital, como gravações de áudio, vídeo e fotos.

Por falar em canal de denúncia, a ferramenta pode ser o primeiro passo das companhias no combate à corrupção. Com o apoio da internet, dos smartphones e das conexões globais de dados e telefonia o canal interliga o denunciante com a estrutura especializada de captação de denúncia, agilizando a etapa de investigação sem risco de exposição do denunciante. A Odebrecht, por exemplo, reforçou o seu compliance ao terceirizar o Linha de Ética, um canal dedicado a receber relatos e denúncias de comportamentos não éticos e violações às políticas internas, regras e legislações.

Todas estas tecnologias já estão disponíveis e outras estão em plena evolução. Quando empregadas com inteligência expandem a capacidade de combate à corrupção e outras irregularidades nas empresas, promovendo inibição, maior segurança e facilidade para o registro de denúncias e para a detecção de sinais suspeitos e coleta de evidências. Tudo isso maximiza a capacidade de gestão e atuação preventiva e investigativa das organizações.

*Sócio-diretor da ICTS Outsourcing, empresa de serviços relacionados à gestão de riscos e compliance

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Inovação na gestão de segurança pública: o exemplo de Santa Catarina

Francisco Castro*

A Segurança Pública firmou protagonismo como tema político, transcendendo o período eleitoral, e tornando a população a cada dia mais interessada nas decisões afetas à área. Não só o governo federal vem apresentando inovações organizacionais na expectativa de se alcançar uma desejável redução dos números criminais. O alvorecer de alguns novos governos estaduais já lança os raios de esperança que podem ser capazes de resolver antigos contratempos institucionais, especialmente, através da quebra de paradigmas orgânicos.

Enquanto no Rio de Janeiro o governador Wilson Witzel optou por suprimir a Secretaria de Segurança Pública, transformando a Polícia Militar e a Polícia Civil em duas secretarias de Estado autônomas e diretamente subordinadas ao chefe do executivo estadual, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, apresenta ao povo catarinense, e ao Brasil, um novo modelo de gestão em Segurança Pública.

Trata-se da implementação do Colegiado Superior de Segurança Pública, órgão que substitui o tradicional arquétipo de administração de Segurança Pública adotado pela maioria dos estados brasileiros (excetuando-se Roraima, e agora o Rio de Janeiro).

No novo padrão proposto, inédito no Brasil, o colegiado composto pelo comandante da Polícia Militar, pelo comandante do Corpo de Bombeiros, pelo Delegado Geral da Polícia Civil e pelo Diretor do Instituto Geral de Perícia – IGP tomará todas as decisões da antiga pasta relativas à alocação de recursos, estabelecimento de prioridades, direcionamento de esforços, além de fazer o acompanhamento dos resultados. O cargo de secretário de segurança pública, doravante, será exercido de modo rotativo, mudando a cada ano. Assim, foi estabelecido que, no ano de 2019, o cargo será ocupado pelo Comandante da PM; em 2020, pelo Comandante do Corpo de Bombeiros Militar; em 2021, pelo Delegado Geral da Polícia Civil; e em 2022, pelo Diretor geral do IGP.

Na apresentação do colegiado à sociedade catarinense, no dia 03 de janeiro de 2019, o principal objetivo identificado foi o foco na melhora dos índices de segurança pública, com o fito de se dar continuidade à expressiva melhora já registrada nos últimos anos em Santa Catarina. A este exemplo, em 2018, houve uma redução de 230 mortes violentas, em relação ao ano de 2017; 102 a menos do que em 2016, e 38 a menos em relação ao ano de 2015. Além disso, contabilizou-se o aumento de 27% nas armas de fogo apreendidas (500 armas a mais que em 2017), e os empolgantes números de menos de 10 mil furtos e 5.300 roubos em relação a 2017.

As vantagens do novo padrão de comando foram prontamente elencadas por cada componente do colegiado: conclusão imediata da integração dos bancos de dados e registro de ocorrências entre as instituições de segurança; e maior autonomia para as instituições, o que resultará em inevitável fortalecimento das políticas de valorização do pessoal. Também consta no rol de intenções do colegiado a divulgação semanal dos índices de segurança, objetivando a celeridade na prestação da informação à população e a adequação de medidas por parte dos integrantes dos órgãos de segurança.

O colegiado superior também contará com a figura de um Diretor Geral, que ficará responsável por desenvolver a práxis administrativa daquela secretaria, além de garantir a continuidade da execução dos projetos deliberados. Em tese, não haverá possibilidade de mudança de rumo nas decisões, de forma a contrariar as decisões tomadas em conjunto.

Conforme explicado pelo Coronel PM Araújo Gomes, primeiro secretário de Segurança Pública a passar pelo rodízio, a nova dinâmica pode ser comparada às atividades de um conselho de administração empresarial, o que reforça o interesse cada vez maior de gestores públicos em buscar o respaldo de suas decisões nas boas práticas administrativas. O comandante ainda revelou que o modelo de gestão foi inspirada no modus operandi desenvolvido pelo comando das forças aliadas, durante a II Guerra Mundial.

O qu
e se verifica, de fato, é a personificação de uma antiga aspiração dos representantes das polícias civis e militares e dos corpos de bombeiros estaduais, de que o cargo de secretário de Segurança Pública fosse ocupado, em forma de revezamento, por representantes de cada um desses órgãos, como garantia de equidade na distribuição de recursos e no estabelecimento de prioridades, afastando o fantasma de serem comandados por pessoas alheias à segurança pública e, consequentemente, sem o conhecimento prático para o exercício da gestão de todo o sistema.

É uma medida que reforça, enfim, o entendimento já defendido nesta coluna de que a eficácia e o alcance dos resultados das políticas de segurança pública exigem somente uma integração coordenada de modo justo e imparcial entre seus órgãos, capitaneada por um profissional técnico e detentor de reconhecido know-how na área, contrapondo-se, definitivamente, à desbotada ideia de unificação e desmilitarização.

*Tenente-Coronel da Polícia Militar de Roraima. Especialista em Gestão Estratégica de Segurança Pública.

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O confronto violinos e metralhadoras

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os soluços longos dos violinos de outono ferem-me o coração com monótono langor.” (Voltaire)

A caminhada foi longa. Um papo gostoso, uma entrada aqui, outra acolá. Um sorvete e mais papo. Entramos no supermercado, fizemos as compras do mês e, simbora. E como o supermercado entrega as compras, saímos caminhando pela praia. E foi aí que, nunca descobri porquê, os pensamentos começaram a voar. E nesses momentos viajo longe pra dedéu. Olhando a beleza do mar e ouvindo o som das ondas, comecei a analisar o comportamento do ser humano em relação a ele mesmo. Banhistas se divertindo e gozando a vida; crianças correndo pela areia fina e molhada; muito divertimento e alegria. Um ambiente repleto de felicidade. E por que no mesmo momento, em outros lugares, a infelicidade reina e o sofrimento domina os que deveriam ser felizes? Pensamentos que não deveriam vir à tona numa caminhada por uma praia linda.

A poesia sempre penetra na nossa alma. Não há como não viver algum momento de felicidade trazida pela poesia. E os contrastes sempre me chamaram a atenção, o que me forçou a pensar como a vida é uma onda de contrastes. E nem sei por que, lembrei-me da poesia do Voltaire. De como ela foi usada pelos norte-americanos, como uma espécie de senha, para a invasão pelas tropas aliadas à Normandia, no final da II Guerra mundial. Como pode o ser humano misturar a poesia com uma invasão, numa guerra mundial? E muito embora possa lhe parecer absurdo um ser humano se lembrar disso enquanto passeia por uma praia movimentada, isso é normal. É só você ficar conectado à racionalidade. Mesmo porque não associei a poesia com a barbárie da guerra, entristecendo-me.

O que vi e vivi, naquele momento, enquanto caminhava pela praia foi uma análise racional sobre o desenvolvimento do ser humano. Enquanto vivemos sobre o mesmo planeta, com as mesmas condições de vida e desenvolvimento, não sabemos nem nos desenvolver nem viver. Infelizmente a maioria dos seres humanos ainda não aprendeu a viver. São pessoas que passam pela vida e não vivem. Vivem na ilusão de vida quando apenas nadam na ilusão fantasiosa. Saia dessa piroga. A felicidade está dentro de nós. O que precisamos fazer é começar a viver com racionalidade, para que possamos voltar, com maturidade suficiente para caminharmos no retorno ao nosso mundo de origem. Nosso retorno vai depender da nossa evolução racional. E esta depende única e exclusivamente de cada um de nós, na sua caminhada sobre esta Terra. Vamos viver intensamente, vivendo cada momento de felicidade que se espraia em nossas mentes. Pense nisso.

*Articulista

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