Opinião

Opiniao 09 04 2019 7970

Mar calmo nunca fez bom marinheiro: o que eu aprendi sobre superar a crise – Samuel Leite

Passei parte da minha infância na tranquila Laguna, uma cidade litorânea a cerca de 120 quilômetros de Florianópolis. A hoje aprazível Laguna já foi palco de importantes batalhas e teve em sua habitante mais famosa, Anita Garibaldi, um símbolo pela luta e independência de seu povo.

Uma das lembranças mais vivas que tenho da cidade é de uma frase na parede central de um velho estaleiro, em que se lia gravado “Mar calmo nunca fez bom marinheiro”.

Nestes últimos meses de incerteza no mercado e, sobretudo, de algumas tempestades e mar revolto, as memórias da infância e a metáfora do aprendizado no mar voltaram mais vivas do que nunca.

Tanto no mar quanto na vida de um empreendedor, o planejamento da jornada é fundamental. Entretanto, estar preparado para as adversidades e mudanças de rota é o que torna você diferente. Agir com velocidade, tomar as decisões corretas na pressão, o cuidado na escolha da tripulação e a delegação correta das atividades são fundamentais em momentos de dólar descontrolado, inflação em alta e muita incerteza e pessimismo.

Entendo que, muitas vezes, em razão dos inevitáveis desvios, não chegaremos exatamente onde havíamos planejado. Porém, ao perceber as variáveis, podemos diminuir a incerteza e nos aproximarmos do alvo desenhado.

As mudanças significativas da política econômica brasileira, que abandonou a visão mais ortodoxa para um caminho de maior intervenção do Estado, linha muitas vezes pautada no assistencialismo e no estímulo excessivo ao consumo, somados à instabilidade internacional, são a representação da tempestade que nos assombra nos últimos meses e segue sem previsão de calmaria.

Ao contrário do navio estatal, inoperante, lento e carcomido, o empreendedor brasileiro segue remando uma vez e navegando outras, mas sempre enfrentando as adversidades do tempo, sempre superando a crise do dia.

Por falar em crise, na vasta coleção de usos que o Aurélio traz do verbete, ele define crise em economia da seguinte maneira: ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de depressão; em sentido mais geral, crise é o que sabemos: fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos sentimentos, dos fatos; colapso.

Chamo atenção para a primeira definição: ponto de transição.

Voltando para a frase na parede do velho estaleiro, não há melhor maneira de formar bons navegantes que enfrentar o mar revolto. É em tempos como este que muitas empresas e empreendedores se reinventam. Em meio às maiores tempestades é que conseguimos realizar coisas extraordinárias. Foi sempre assim.

A mudança começa no exato momento em que decidimos agir sobre as adversidades, encontrando de maneira criativa novas rotas para o nosso negócio. Portanto, tome o leme da sua vida. Saiba que os ventos estão em constante mudança… sempre.

*Proprietário da agência Digitale e diretor da Associação dos Profissionais de Propaganda – APP Campinas

O homem que tocava – Walber Aguiar

“A minha gente sofrida despediu-se da dor pra ver a banda passar, cantado coisas de amor.” (Nara Leão)

Estavam todos no coreto, provavelmente falando dos arrepios que a furiosa proporcionava. Também conhecida como quebra resguardo, pela intensidade e grande poder de emocionar, levantar a moral e mexer com as circunstâncias da vida e da morte.

Traziam à memória a morte de muitos músicos, inclusive a do velho lobo, seu Genésio, como era chamado por Raimundo Nonato da Conceição, o canguru.

Ele estava ali, inerte, sem vida, com um estranho sorriso nos lábios. Seu Genésio morreu sem sofrer, viveu como bem entendeu viver e amou a todos que cruzaram seu caminho. Inclusive o inesquecível Dorval de Magalhães, aquele que tinha enorme admiração por meu pai. Aquele que dizia que se todos fossem Genésios, não precisaríamos de polícia nem de justiça. Isso porque o homem do trombone era honrado, respeitado, orgulhoso de nunca ter faltado a um dia de serviço sequer. Daí ter recebido a Comenda dos Pioneiros de Roraima, a medalha da Ordem do Rio Branco, na Assembleia Legislativa do Estado. 

Estavam todos ali, reverenciando a figura, o legado histórico do homem que garimpou pedras brutas, transformando cada uma delas em objeto precioso. Ali estavam Cleres, a filha dedicada, Creyse, a filha amada, Charles, Genner, Giangleide, Giovama, filha do coração, o clã dos Martins, na figura de Nadir, Paulo, Magno Nádia, nego Amadeu, Necy e Neca.

Um a um os visitantes, amigos, filhos, como Márcio Henrique, se aproximavam daquela geografia de amor e de saudade. Ângela Portela, visivelmente emocionada, também estava lá, com Fabíola, Cleiuza e Ailton Wanderley. Dos filhos de Iolanda Torreias, José Barbosa Júnior, acenou com o coração miúdo seus mais sinceros sentimentos. Depois Lenize, Moacir e Márcio também o fizeram. 

Marcelo Ribeiro, extremamente emocionado e Rosemberg também estiveram presentes ao evento, juntamente com Adejalmo Abadi, Clarinha, Maria Júlia e Norma. Ali, naquele espaço reservado à morte, a vida escorreu como as águas que caíam do céu, com força e grande assombro. Para minha surpresa, Vivaldo Barbosa, com o coração apertado, também prestou sua última homenagem ao grande maestro da vida, ao músico que tocava os corações empedernidos pela dura realidade.

Estavam todos no coreto quando, de longe, ouviram alguma coisa. E o som foi ficando mais forte, mais intenso, mais emocionante. Era a velha banda de música “Furiosa”, que arrepiava o cabelo da meninada, com aquele som vindo diretamente do coreto celestial, cheio de beleza e grandiosidade. 

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

Não ao pré-conceito – Marlene de Andrade

“Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados…” (Mateus 7)

Participei semana passada da 6ª Conferência Teológica da Igreja Batista da Videira, no Palácio da Cultura. O conferencista, Alan Shlemon, presbiteriano, reside na Califórnia e, apesar de ter no máximo 45 anos, parece que já fez Bodas de Prata. Alan falou sobre a homossexualidade, aborto e, entre outros assuntos, sobre o relativismo.

Segundo Alan, os cristãos têm afastado os homossexuais das igrejas. Essa carapuça não me coube, pois me relaciono muito bem com pessoas homossexuais sem nenhum preconceito, até porque quem sou eu para apontar o dedo a alguém que é diferente de mim?

Quando eu trabalhava no sistema prisional, fiz grande amizade com um gay, o qual foi alcançado por Jesus num culto ministrado pela Igreja Assembleia de Deus dentro do presídio e quando eu cheguei à penitenciária para trabalhar, ele correu ao meu encontro bastante feliz dizendo que se tornara cristão e que, quando saísse da cadeia, iria se casar, pois queria ter filhos. Fiquei feliz por vê-lo tão radiante e realmente seu plano deu certo, pois ele se casou e teve filhos.

Alan nos disse que há vários estudos acerca da homossexualidade e a conclusão é de que essa orientação sexual não é genética e que, portanto, não há como emitir opiniões a esse respeito.

Esse preletor citou Gênesis, quando Deus criou Eva e a entregou a Adão de forma miraculosa, mostrando desse jeito que os casamentos devem ser entre um homem e uma mulher, todavia me chamou muito a atenção ele ressaltar várias vezes que o homossexual não pode ser julgado por nenhum de nós, cristãos e pecadores, como sendo essa prática o pior pecado que existe debaixo dos céus e que nós cristãos temos que seguir o Princípio da Consistência, ou seja, devemos tratar os homossexuais da mesma forma como tratamos os heterossexuais, pois essa é a prática moralmente confiável.

Aí ele citou o caso de um pai e mãe que não deixaram o filho gay levar seu namorado para jantar com os seus respectivos pais, mas que deixaram a filha levar o namorado com quem ela tinha relações sexuais antes do casamento, o que se configurou em discriminação.

E aí, meus irmãos cristãos, o que dizer de tudo isso? Que dizer que podemos apedrejar uns e abraçar outros? Que cristianismo é esse, se todos nós somos pecadores?

“Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra” (João 8:7). 

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ ANAMT – CRM/RR 339 RQE341

Buscando a democracia – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Da mesma forma que não quero ser escravizado ou espoliado, não quero nem escravizar nem espoliar. Tal é aminha concepção da democracia. Tudo o que dela difere não é democracia.” (Abraham Lincoln)

Juro pra você que já me prometi várias vezes não tocar mais neste assunto. Mas sou brasileiro. E não posso fugir da responsabilidade. Estou me sentindo escravizado e espoliado, não pela política, mas pelos “políticos’. Afonso Arinos já disse que no Brasil ainda temos bons políticos, mas não temos mais estadistas. Alguém também já disse que o político pensa na próxima eleição e o estadista pensa na próxima geração. A vergonha a que estamos assistindo nas discussões em reuniões políticas nos entristecem. Mas não vamos escravizar nem espoliar os políticos. Eles estão aí porque nós os colocamos. Então, não temos por que espernear, gritar nem criticar o trabalho feito por quem não sabe fazer, mas foi contratado por nós.

Vamos aprender a viver nossas vidas com dignidade. E nunca a viveremos dignamente enquanto continuarmos elegendo políticos que não são políticos. Os que ainda veem a política como a maior fonte de enriquecimento. E você, eleitor, nem se dá conta de que é você que está pagando o salário vultoso dos políticos, com impostos retirados do seu salário mínimo. Ou você não sabia disso? Então, informe-se para que no futuro próximo você aja como um candidato a cidadão. Porque chamar de cidadão ao eleitor que vota por obrigação é escravizá-lo mentalmente. Que é o que fazem conosco. 

Sei que está ficando chata essa fala, mas vamos cuidar de nossa educação. Ou nos educamos ou continuaremos sendo espoliados pelos desonestos, incompetentes e tudo o mais. Comece assumindo a sua responsabilidade pelo desmando na nossa política. Precisamos mudar o rumo do País. E não se muda assim da noite para o dia, nem com o desconhecimento. Para que sejamos um povo realmente respeitado como cidadãos de um País digno, é preciso que saibamos respeitar nosso País. Comecemos nos reconhecendo como os responsáveis pelos desmandos que estamos vivendo. Vamos fazer nossa parte para que as coisas comecem a melhorar. Reflita sobre isso até as próximas eleições. 

Mas vamos começar fazendo nosso dever de casa. Vamos trabalhar para melhorar nosso “Brasil, que aquece a cabeleira flamejante na fogueira dos Trópicos, e que se estendesse um pouco mais os braços, ira buscar as neves dos Andes, para com elas brincar nas praias do Atlântico.” Este é o Brasil que temos e devemos reconstruir. Iniciemos a tarefa pela Educação. Sem esta, nunca seremos cidadãos. Agora é sua vez. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460