Educação em tempos de ‘Pokémon Go’ – Ronaldo Mota* O aplicativo ‘Pokémon Go’ já é o jogo mais baixado da história da internet. Ele marca, simbolicamente, o ingresso definitivo em um contexto inédito de utilização em grande escala de simulações, realidade aumentada e inteligência artificial.
Alguns podem entendê-lo simplesmente como um jogo de sucesso e não estarão errados, mas certamente não terão capturado a real dimensão em termos de impactos associados em todas as demais áreas. Por exemplo, as consequências educacionais do uso intensivo de realidade aumentada e de inteligência artificial são ainda preliminares, mas serão profundas e duradouras. Um novo capítulo será aberto quanto à preparação de profissionais para atuarem neste novo mercado, fruto de mudanças em grande escala nos modelos de negócios e de gestão.
Embora parte desses recursos e ferramentas já esteja disponível há décadas, seu uso intensivo ainda está no seu início. Os especialistas calculam que estamos falando de um mercado de centenas de bilhões de dólares anuais. Em suma, daquilo que hoje é eventual e incipiente, migraremos muito rapidamente para usos generalizados e abrangentes. No campo educacional, cabe um destaque especial às possibilidades decorrentes do uso ilimitado dessas tecnologias digitais, incluindo a impressora tridimensional, integrando informações virtuais a visualizações do mundo real, confundindo ambas e gerando múltiplas e inimagináveis possibilidades.
O mundo ocidental vivenciou algo similar há aproximadamente dois séculos com o início da Revolução Industrial, especialmente com a invenção de máquinas motorizadas e com o desenvolvimento da tecnologia de geração de energia elétrica. Como consequência, tivemos a migração progressiva da população do campo para a cidade e a transformação do trabalho individual ou familiar na agricultura para o estilo fordista/taylorista de grandes massas nos ambientes das fábricas. Na verdade, aquele foi o capítulo preliminar das transformações em etapas do trabalho humano, inicialmente mediado por máquinas, depois plenamente substituído por elas e, atualmente, interagindo com máquinas que aprendem.
No período que começou no século XIX e perdurou ao longo do século XX, o trabalho braçal, pouco especializado e não dependente de instrução escolar específica, gradativamente perdeu espaço para a exigência de profissionais mais especializados, preparados via um ensino compatível com tais necessidades. O modelo industrial clássico e os serviços associados moldaram a escola e as metodologias educacionais do século XX.
De forma análoga, adentrar uma sociedade com alto nível de automação, agora conjugada a máquinas que aprendem, e onde a informação está totalmente acessível, instantaneamente disponibilizada e gratuita impõe mudanças profundas no que educar passa a significar.
Nos séculos XIX e XX, ensinar estava basicamente associado a transmitir informações, técnicas e procedimentos compatíveis com as demandas do mundo do trabalho contemporâneo àquela época. Nos tempos atuais, educar passa a significar, principalmente, aquilo que permanece depois que esquecemos o que nos foi ensinado. O aprender a aprender e o saber trabalhar em equipe mostram-se nos recentes contextos mais relevantes do que propriamente o conteúdo objeto do ensino.
Com o lançamento do ‘Pokémon Go’ no Brasil, é importante percebermos que inteligência artificial e realidade aumentada, em conjunto com metodologias educacionais compatíveis, podem viabilizar um ensino flexível e personalizado, que constituirão as bases de uma educação inovadora em construção. *Reitor da Universidade Estácio de Sá ——————————————-Pedaços de Mecejana – Walber Aguiar*A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida Vinicius de MoraisMecejana, um bairro bonito e cheio de significado. Um espaço geográfico de bondade, grandeza, solidariedade, história. Um ponto dentro da cidade, uma cidade instalada no coração de cada um. Lugar de seu Vernior e dona Rossy, mãe de grandes amigos e filhos gratos ao seu andar guerreiro, à sua luta para amar e criar a todos.
Ali estava ela, inerte, quieta, como que a observar cada um de nós, com o peito cheio de saudade, com os olhos encharcados de lágrimas pela dor da partida, pelo sentimento aflorado no coração de cada pessoa ali presente.
Mecejana agora ficou menor. Muitos partiram jovens, sem ter visto a vida, sem se deixar dominar pelo amor de um filho, pela paixão que dura a vida inteira.
Dona Rossy partiu num domingo, como viveu, pois o que tinha de batalhadora, tinha de festiva, de alegre. Tantos aniversários foram feitos à sombra das velhas mangueiras; tanta celebração em torno da vida. Dona da melhor linguiça caseira, do sorriso mais franco, do olhar sincero, do rosto quase angelical.
Estranhamente, mantinha, mesmo diante da morte, um semblante tranquilo, como de alguém que cumpriu seu dever. Por isso o bairro da Mecejana ficou um pouco menor, mais triste, menos festivo. Mas, sendo a vida a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida, ela partiu na direção do Eterno, da eternidade e do seu grande companheiro, o simples e saudoso Vernior, com quem caminhou em momentos fáceis e difíceis também.
Mecejana, bairro de poetas, trabalhadores, gente simples, pacata e apaixonada pela vida, agora ficou pequena, reduzida, pela quantidade de tantos queridos que ali fizeram história e escreveram seus nomes. A exemplo de dona Lina, mãe de João Batista da Silva e tantos outros.
Vá em paz, dona Rossy, e deixe que a saudade e a lembrança pintem o nosso coração com as coisas tão bonitas que a senhora deixou. Não se preocupe com suas crianças; apesar da dor, da ausência e do vazio, todos saberão viver, pois o exemplo deixado pela senhora e seu Vernior serão sempre seu maior legado.
Um dia nos encontraremos, todos, debaixo da grande mangueira do infinito. Aí será só alegria, na grande Mecejana Celestial…*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia, Conselheiro de Cultura e Membro da Academia Roraimense de [email protected] ————————————–Acidente de Trajeto – Marlene de Andrade*Acidente de trajeto é aquele sofrido pelo trabalhador no percurso de sua residência para o trabalho, sendo verdadeiro o inverso. Nesse viés, faço a seguinte reflexão: que culpa possui o empregador, se seu funcionário foi almoçar e no meio do trajeto sofreu um acidente em via pública, porque conduzia uma moto em alta velocidade, ou devido um cachorro, o qual subitamente atravessou à sua frente ocasionando o acidente?
Alguns desses acidentes são ocasionados por trabalhadores que na véspera haviam ingerido grande quantidade de álcool e por isso encontram-se de ressaca no dia seguinte. Além do mais, outros condutores também podem estar trafegando embriagados e serem os causadores do famoso acidente de trajeto de um trabalhador que esteja dirigindo corretamente e aí, o que dizer disso?
E as vias públicas mal conservadas? Acidente em via pública não conservada, a responsabilidade pela falta desse serviço é do Poder Público e não dos empresários que pagam seus impostos às duras penas. Portanto, que culpa possui o empregador quando seu funcionário sofre um acidente por causa de um buraco na rua?
E o pior é que o INSS não paga essa conta sozinho, pois o empregador acaba sofrendo inúmeros prejuízos diante de tais fatos, posto que não poderá, entre outras coisas, demitir o trabalhador durante um ano, uma vez que o mesmo ganha estabilidade nesse período.
Nesse caso muitos trabalhadores começam a faltar, chegar atrasado, ou fazer a famosa “operação tartaruga” dentro da empresa. Ora, se o trabalhador foi responsável pelo seu acidente, por que o empregador deve arcar com esse prejuízo?
Além do acidente de trajeto, existem os acidentes de trabalho denominados de típicos. São eles aqueles que ocorrem dentro da empresa e trazem muitos prejuízos aos empregadores. Vou contar um dos que presenciei: certa feita, um trabalhador estava limpando uma máquina, quando um de seus colegas de “brincadeirinha” resolveu ligá-la para lhe dar um “susto”. Esse acidente provocou uma sequela irreversível e muito grave em um dos braços daquela vítima de uma “brincadeirinha” criminosa. Sabe quem arcou com o prejuízo e teve que indenizar a vítima? Claro que foi a empresa. E o que eu acho mais interessante, é que a maioria dos parlamentares que fazem as leis também é empresária. Que incoerência!
A justiça retributiva é um importante ensinamento bíblico. Se as leis são injustas, quem as fez, com certeza, colherá frutos amargos. Neste contexto explica a Bíblia: “Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão”. (Isaias 10: 1). *Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMTwww.com/marlene.de.andrade47—————————————-Não Confunda – Afonso Rodrigues de Oliveira*“É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros”. (Bill Gates)É claro que o livro é fundamental para a nossa educação. Muito mais do que o computador, o celular, ou o que quer que seja, no andamento do desenvolvimento intelectual. Embora não nos atentemos para isso, o conhecimento nem sempre indica educação. E estamos embarcando na confusa canoa do desentendimento. Na futilidade do aprender rápido e fácil, estamos ficando fora do rol dos educados e civilizados.
Confesso que me emocionei com a grandeza da abertura das olimpíadas no Rio de Janeiro. Foi um espetáculo que levou o Brasil ao pódio; levado pelo Rio de Janeiro, com a grandeza que ele tem e que a acobertamos, dando mais atenção ao que ele tem de ruim e que faz parte da nossa deseducação. No entusiasmo que eu sentia pela grandeza do espetáculo, entristeci-me com o comportamento na arquibancada, no encerramento do evento, com a vaia ao Presidente da República. Procedimento próprio dos despreparados na educação cidadã.
Nenhum cidadão civilizado, ou não, tem o direito de vaiar o presidente do seu país, sobretudo, num evento público com presença de autoridades internacionais. Não importa a que partido o político pertença. Ele pode ser Temer, Dilma, Lula ou quem quer que seja. Ele não é seu representante particular, é representante do seu País, eleito pela maioria dos eleitores. Logo, deve ser respeitado como o representante do País. Afinal de contas, ele não foi indicado para o cargo, ele foi eleito nas urnas, pela maioria dos eleitores. É bom que usemos mais o livro do que o celular, na nossa preparação para honrar nossos direitos na cidadania. Porque só quando estivermos nesse nível saberemos reclamar pelo que realmente merecemos.
Eduque-se nos livros para poder reconhecer que ainda não vivemos uma democracia plena. Que ainda somos obrigados a votar, o que não é característica de democracia. Mas só teremos a liberdade no voto quando formos um povo realmente civilizado. E só aí passaremos a respeitar nossos políticos, depois de os elegermos, dentro do conhecimento que só adquiriremos nos livros. Talvez as vaias ao Presidente tenham encortinado a admiração que o Presidente francês teria levado dos brasileiros, apesar da grandiosidade do evento apresentado. E não se esqueça de que você ainda é obrigado a votar, porque não está preparado para o voto livre. É bom que levemos isso em consideração e comecemos a nos preparar. Só aí não vaiaremos, respeitaremos. Respeite a pessoa na posição que ela ocupa como seu representante, mesmo que você não tenha votado nela. Pense nisso.*[email protected]