Quatro Sonetos – Sebastião Pereira do Nascimento*
Matulas do Mundo
Triste pátria amarga De tão rica e forte Sangra da veia… A esperança morte.
Aquecem os fuzis Os infantes do mal A mando do “rei” Na guerra real.
Vômitos de fogos Saem dos porta-aviões Sendo alvo o povo…
…De mega, megatons. Com ímpeto de novo Os nocivos batalhões.
Manifesto Passivo
Prefiro o mundo silente Ao toque mordaz do telefone Sem o gosto insípido (nocivo) Do lobby da Coca-Cola.
Prefiro caminhar sem pressa Sem o vício astuto do “jeitinho” Liberto das filas… das motos E da morte intempestiva…
Prefiro escutar do mundo O melancólico uivo da alma… Ao canto dolo da eletromúsica.
Contudo, preciso viver o tempo Ainda que tudo isso que detesto Acumula-me e não me satisfaz.
*Poeta e Filósofo [email protected]
Delitos da Pátria
O tempo Passou… A noite perdida, a fome, a fúria O peito erguido… lamúrias Tragando crua a comida fétida.
Medo! dentro e fora da prisão Gente, que ara o eito do jeito Da algema… da vida maldita Lá, bem longe, confusão…
Ceifando o brio da vida, Sem luta, sem prumo… pobre nação Do encalço, sem calço, sem rumo.
Do chicote no negro, seu dono Da angústia passada da tribo De minha pátria amada, sem zelo.
Tempo de Cólera
Um tempo desses acordei e abri a janela… Percebi o sol estranho com sorriso amarelo Como se não quisesse acordar tão cedo… Abismado insisti num olhar contemplativo.
De longe vi a floresta transformada em cinza O mar revolto, o rio seco, o barco encalhado Olhei mais longe, vi a serra nua, o solo infértil A sumaúma caída, a palmeira desnuda.
Vi muita fumaça no céu (negro) na hora incerta Um pássaro solitário cantando perturbado… Vi o último guardião da floresta sucumbido.
Vi um pobre humano sentado esvaecido. Ao lado muita gente bradando triunfal (dizendo) Vencemos, vencemos a terra, queremos mais!
Amazônia e a maldição de Tordesilhas – Aldo Rebelo*
A capa da última edição da revista inglesa The Economist é uma denúncia contundente contra o Brasil.
A revista acusa o governo brasileiro de estar destruindo a maior floresta tropical do planeta, quando deveria protegê-la. Quase em tom de ultimato, a publicação ameaça o Brasil com sanções e boicotes de consumidores e de países importadores de mercadorias produzidas na Amazônia.
A matéria da Economist é o ponto mais elevado da escalada recente promovida por ONGs, organismos multilaterais, mídia nacional e internacional e governos estrangeiros em torno do destino da grande floresta. O aumento do desmatamento apontado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a posterior demissão do pesquisador Ricardo Galvão, presidente do órgão, esteve no centro da polêmica. Além disso, o governo cogitou abrir as áreas indígenas para a exploração de minérios, posição contestada por organizações ambientalistas e de direitos humanos.
A verdade é que as estatísticas sobre o desmatamento nem sempre separam o desmatamento legal, permitido por lei, daquele realizado ilegalmente. Apresentados sem essa distinção, os números repercutem na imprensa do Sul e do exterior como uma verdadeira tragédia. Já a mineração em terras indígenas, prevista na Constituição e não regulamentada até hoje, é outra possibilidade a melindrar as sensibilidades dos defensores dos direitos humanos daqui e de além-mar, que não se dão conta de que essa exploração já é praticada de forma clandestina pelos próprios índios ou por garimpeiros a eles associados.
Os partidários do governo se defendem ensaiando um tímido discurso nacionalista de defesa da Amazônia e reproduzindo ataques às Ongs interesseiras financiadas por dinheiro externo.
A oposição liberal e de esquerda, em tons variados, faz coro com as pressões internacionais, na lógica nem sempre verdadeira de que o inimigo do meu inimigo é meu aliado.
A Amazônia continua sendo um desafio geopolítico, econômico, social e demográfico ainda não compreendido pelo Brasil, e essa incompreensão está na origem de seu atraso, subdesenvolvimento e vulnerabilidade.
Em 2001, o escritor e consultor de geopolítica e de defesa da ONU e do Ministério de Defesa da França, Pascal Boniface, publicou o livro Les Guerres de Demain (As Guerras do amanhã, sem tradução no Brasil), e deu a um dos capítulos o título de Guerras do Meio Ambiente. O cenário mais provável desta guerra, segundo Boniface, seria a Amazônia brasileira, quando potências internacionais interveriam com apoio da ONU, pretextando a negligência do Brasil na proteção da floresta.
Embora Boniface possa ter exagerado na projeção de seu cenário de guerra ambiental, o Brasil não pode subestimar o fato de a Amazônia se encontrar no centro de uma grande controvérsia internacional envolvendo o tema do momento, ou seja, meio ambiente e aquecimento global, com todas as suas implicações econômicas, comerciais e geopolíticas.
Enquanto escrevia este artigo, tomei conhecimento da publicação na prestigiada revista norte-americana de diplomacia Foreign Policy do texto do professor da Universidade de Harvard, Stephen M. Walt, com o título provocador: Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?
O professor Walt projeta o cenário imaginário para 2025, quando então os Estados Unidos dariam um ultimato ao Brasil para interromper o desmatamento ou sofreria uma intervenção militar.
Atenção: o presidente da República e seu ministro das Relações Exteriores se consideram aliados dos Estados Unidos e pela aliança estão dispostos a sacrificar os interesses geopolíticos e comerciais do Brasil. Estariam dispostos a também sacrificar a Amazônia?
O agrônomo paraense Ciro Siqueira, editor do blog Ambiente Inteiro é um dos que propõem o debate “vamos conversar sobre a independência da Amazônia”. Ciro redigiu uma espécie de manifesto, que busca inspiração na Cabanagem, movimento popular de caboclos, seringueiros, índios e fazendeiros, que na primeira metade do século XIX chegou a tomar a cidade de Belém e exigiu grande esforço do império para ser debelado.
Ele é da opinião que o confronto atual governo x ONGs, longe de enfraquecer estas, devolveu a elas o discurso da ameaça e do risco das florestas, com o qual atrai o dinheiro e a atenção para sua ação desagregadora.
Em um de seus textos, Ciro registra que ao propor o encerramento do antigo modelo de ocupação que implicava em desmatamento, as ONGs nada propõem para substituí-lo. Segundo ele, ao asfixiar a economia velha, os ambientalistas acabam com os empregos, as expectativas de vida e o futuro dos amazônidas, sem que se implante em seu lugar uma economi
a sustentável. O resultado é necessariamente a miséria e o conflito social.
Penso que pesa sobre a região amazônica o que denominei maldição de Tordesilhas, traduzida na incapacidade do Brasil de incorporar plenamente ao seu território a área que separava os domínios de Portugal e Espanha pelo tratado de 1494, e que a tenacidade portuguesa veio a integrar à base física do nosso país.
Quase tudo no Brasil permanece a leste de Tordesilhas (linha imaginária que corta o país de norte a sul, a partir de Belém, no estado do Pará, até Laguna, em Santa Catarina): a economia, a infraestrutura, a população, a ciência, quase tudo está a leste.
Principalmente no Norte, restou o que o historiador Craveiro Costa chamou de deserto ocidental, referindo-se à Amazônia. Aí vive a população com a menor expectativa de vida do país, com a menor taxa de saneamento básico, com o maior número de escolas sem água e sem luz. Aí estão capitais de estados que não têm ligação rodoviária ou ferroviária, aí está ainda a completa ausência de infraestrutura para o desenvolvimento, principalmente as infovias. Uma de suas capitais, Boa Vista, sequer está ligada ao Sistema Nacional de distribuição de energia, dependendo da vizinha Venezuela ou de soluções locais.
A defesa da Amazônia e sua plena integração ao Brasil exige um governo de união nacional, que coesione todos os brasileiros e a inteligência do país frente às incompreensões, as cobiças e interesses externos.
Um governo que aposta na divisão dos brasileiros está exposto à impotência interna e ao isolamento externo, e, portanto, limitado no desafio gigantesco de superar a maldição de Tordesilhas e fazer de uma Amazônia desenvolvida e socialmente equilibrada parte indissolúvel da geografia e da sociedade nacional.
*Jornalista, foi ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma
Qual a origem do ouro roubado? – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Boa memória tem quem se lembra do que tem que lembrar e esquece do que tem que esquecer. Má memória tem quem esquece do que tem de lembrar e lembra do que tem que esquecer.” (Canuto Mendes de Almeida)
Como anda sua memória? Do que você se lembra e do que já se esqueceu? Esquecer nem sempre é legal. Há coisas que não devemos esquecer. Há outras que não devemos lembrar. Logo, sua memória deve estar no ponto. E tudo depende da sua evolução racional. Um problema que devemos levar em consideração, porque somos todos da mesma origem e, por isso, somos todos iguais. As diferenças nós já sabemos quais são, mas também sabemos que considerá-las depende da evolução de cada um. Muito simples. É só cada um de nós saber quem é e como deve ser. E, acredite, é simples pra dedéu.
Como é que você se conhece? Como você pensa que é e quem você é? Mas não fique remoendo esse papo. Porque é mero papo. O importante é que você se cuide para ser o que realmente quer ser. Estamos vivendo um momento de muita dificuldade em nossa política. O que vem se arrastando desde o dia em que descobriram este Território fantástico e lhe deram o nome de Brasil. E por que lhe deram este nome? Puxa… os caras descobriram uma madeira lindinha que se chamava Pau-Brasil. E ela era muito importante lá no mundo de onde eles vieram. E foi aí que começaram a levar a madeira para lá. E a coisa começou aí.
Mas não podemos dizer que a madeira foi roubada. Ela pertencia aos descobridores da terra de ninguém. O que nos atormenta é que continuamos considerados como “Terra de Ninguém”. E cinco séculos depois, e agora roubado, continuam levando a madeira e a ela adicionado o ouro, o diamante e outras maravilhas. Você sabia que recentemente roubaram centenas de quilos de ouro num aeroporto brasileiro? Só que ninguém nos diz qual a origem do ouro. De onde ele veio parar no aeroporto para ser enviado, sei lá pra onde, fora do País considerado de ninguém. Porque é assim que somos considerados pelos larápios. E como eles são tantos por aqui.
E agora? Do que devemos nos esquecer e do que devemos lembrar? É na encruzilhada que devemos ser espertos. A escolha de a vereda a seguir, requer inteligência, coragem e determinação. Que é o que necessitamos para mudar o rumo do nosso País. Tarefa difícil. E o mais difícil é fazer as autoridades entenderem que tudo vai depender das mudanças na Educação. Nunca seremos um país à altura do Brasil que queremos, enquanto não formos um povo realmente educado politicamente. Então vamos lembrar o que devemos lembrar, e esquecer o que devemos esquecer. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460