Assembleia dos homens
Walber Aguiar*
“Tornai-vos pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”
Houve um tempo em que a piedade se apossava com mais facilidade da alma humana. Homens e mulheres buscavam uma resposta para os mistérios que não compreendiam, fenômenos naturais e angústias pessoais e particulares. Tempo de absoluta internalização daquilo que poderia preencher as vagas e brechas do existir humano, na expectativa de tornar a vida algo mais suportável.
A partir dessa busca pelo sagrado, variadas vertentes surgiriam nesse chão da fenomenologia e da historicidade. Não apenas a vazies existencial para preencher, mas a mensurabilidade, a concreção histórica, o desejo de construir a fé sistematizada, sobre colunas e pilares. Aí começou a Constantinização do evangelho, fazendo com que os cristãos saíssem das cavernas para os templos.
Na esteira da historicidade surgiram as estruturas eclesiásticas. Daí para as denominações e suas placas foi um processo extremamente rápido e efetivo. Assim vieram calvinistas e arminianistas, os primeiros com a exacerbação da soberania divina transformaram o homem num boneco nas mãos de Deus; os últimos, seguiriam na afirmação de que o homem tinha poder pra querer, deixando Deus praticamente fora do processo.
Ora, daí vieram congregacionais, presbiterianos, luteranos, adventistas, batistas e assembleianos. Estes últimos representados historicamente por Daniel Berg e Gunnar Vingren. Assim, o pentecostalismo surgiu, no afã de “aquecer” o “esfriamento” das chamadas denominações históricas. No entanto, trouxe com ele vícios doutrinários, legalismo, exacerbação de doutrinas, fixidez comportamental, como “não toques nisso”, “não pegues naquilo”, coisas que valor nenhum tem diante da sadia espiritualidade.
Como se não bastasse o legalismo e exacerbamento doutrinário, que ensina preceitos de homens e inventa agenda pra Deus, explodiu dentro da igreja uma enorme vontade de fazer política. Na verdade, politicalha, pois, sem ética e sem evangélicos políticos, o que restou foi a quantidade no lugar da qualidade, como moeda de troca, ou seja, o rebanho vendido de porteira fechada, e a sede do poder pelo poder, bem como a comercialização da fé e a mercadejação do sagrado.
Nesse viés, o que era pra ser Assembleia de Deus, tornou-se algo bizarro, caricaturesco, pois foi hipertrofiada a graça e o rosto de um Deus cheio de vida e grandeza. Daí a igreja que era de Deus, passou a ser Assembleia dos homens, visto que foi sangrada pelo grande capital, na perspectiva de Max Weber e sua teoria weberiana. Pastores que se estereotipam como caudilhos dos regimes vigentes, lobos que “lideram” a alcateia alienada e sem rumo; muitos fascinados pelo poder e pela facilidade em conseguir terrenos para templos, aparelhagem de som, material de construção, cargos comissionados e tantas outras benesses.
Por causa de um ou de alguns que se apropriam indebitamente dos bens da igreja, a mesma é dividida, rachada, perdendo aos poucos sua santidade, sua influência como sal da terra e luz do mundo. Gente atrelada ao poder que o cargo oferece, ávida por negociar os votos do rebanho. Mas, ainda há muitos que não se dobraram a Mamon e a Baal. São os de coração sincero que buscam viver a palavra e as velhinhas de cocó que levam a igreja nas costas com suas orações e lágrimas. O que passar disso é apenas loucura de pseudopastores que desprezam a Deus e se atrelam aos homens, cheios de mercenarismo e possuídos pela síndrome de Balaão, usando Deus apenas como referencial para seus discursos vazios, sem poder e sem graça.
*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura, advogado e membro da Academia Roraimense de Letras.E-mail: [email protected]
A impunidade é trampolim para o crime
Marlene de Andrade*
“Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão…” (Salmos 82:2-4).
O transtorno de personalidade antissocial é caracterizado por comportamento bastante agressivo. A pessoa antissocial, ou seja, psicopata, é impulsivo e despreza toda e qualquer norma, seja ela social, ou jurídica. O psicopata não consegue amar e jamais sente remorso por qualquer crime que cometa, a não ser por milagre de Jesus.
Essa personalidade tão perversa é encontrada na população presidiária em grande escala, o que é muito preocupante, pois eles não aprendem com os erros. Além do mais, essas pessoas são totalmente lúcidas e sabem, concretamente, o que estão fazendo, porém sentem muito prazer em praticar crimes hediondos. E aí, o que pensar e fazer nesse caso? E o interessante é que o pessoal dos “direitos humanos” não fica nem um pouquinho preocupado quando alguém de bem morre por falta de recursos na Saúde, ou porque a Educação Pública é de péssima qualidade no Brasil. Mas deixa a algema machucar o pulso do preso para ver no que isso dá. Preso não pode sofrer nem um arranhão dentro do sistema prisional, porém famílias serem massacradas por assaltantes à mão armada pode e os “direitos humanos” não estão nem aí.
É lamentável perceber que a violência no Brasil vem aumentando barbaramente e o mais lamentável ainda é pensar que delinquentes perigosos não podem ser condenados, à prisão perpétua no Brasil, por ser inconstitucional. Que absurdo!À luz de toda essa realidade, alguma solução para esse problema tem que ser pensada. E tem mais, se não é possível criar no Brasil a lei da prisão perpétua, já poderiam ter pensado na possibilidade de aumentar a condenação de um facínora irrecuperável para pelo menos 40 anos ininterruptos de prisão. Um psicopata irrecuperável não pode conviver na sociedade.
Para crimes hediondos, esses criminosos deveriam trabalhar dentro do sistema prisional para garantirem o seu pão de cada dia. Fica muito fácil para o “reeducando”, matar, assaltar, estuprar, cometer latrocínio e continuar se drogando dentro da cadeia, dormir lá dentro quase o dia inteiro, receber auxílio previdenciário, assistir TV dentro da cela na maior mordomia e logo, logo ser libertado para continuar matando outros inocentes.
*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT
Difícil é acreditar
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Incapazes de fortalecer a justiça, os homens legalizaram a força”. (Blaise Pascal)
Já observou como o matuto geralmente é um homem feliz? Por que se preocupar com as coisas que não dão certo, se podemos botar a culpa em Deus? Mas essa estratégia só funciona quando apoiada na ignorância unida ao desconhecimento. Na década de setenta tive um amigo, no Rio de Janeiro, cuja esposa era professora, e a mãe dela era analfabeta. Um dia ele caiu na tolice de perguntar para a sogr
a, por que ela não aprendia a ler. A resposta dela foi curta e grossa: “Porque não quero ler os jornais e ficar triste”.
O problema da deficiência na Educação brasileira arrasta-se desde o Império. Estamos no século XXI e nenhuma das autoridades, na Educação, acordou para o fato. No início do século XX, o médico carioca, Miguel Couto, chamou a atenção com a frase: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. Quase cem anos depois, o Senador da República, Cristovam Buarque quase foi ridicularizado num dos melhores programas da televisão brasileira, por defender a educação como a solução para o Brasil. E olha que seu entrevistador era um escritor e intelectual famoso.
Sentei-me ali e fiquei mastigando, remoendo e ruminando esse pensamento. Na minha doce ignorância sobre os assuntos ilustrados, não consigo imaginar como podemos ainda estar no estágio em que estamos. A que patamar na escada de escala decrescente nós vamos chegar? Uma inversão de valores já estamos vivendo, faz tempo.As leis protegendo os marginais, e o cidadão honesto tendo que se virar, desprotegido. Dizem para o cidadão reclamar, mas não lhe ensinam como. Estamos cada vez mais, reclamando nossos direitos, mas não nos dizem que direitos temos. Tempo desses, assisti a uma cena ridícula, pela manhã, no atendimento na agência dos Correios ali no centro da cidade. Uma senhora deu um show, reclamando com o atendente, quando deveria levar a reclamação à gerência. Mas ela deu o show e esse foi o que valeu para os expectadores.
Não basta você reclamar pelos seus direitos. Tem que saber que direitos você tem, como e onde reclamá-los. Falta o conhecimento em relações humanas. E isso só se consegue com o desenvolvimento, na educação. É nas relações humanas que aprendemos que só as pessoas inteligentes procuram para auxiliá-las, pessoas mais inteligentes do que elas. Por que discutir com alguém, que você acha menos inteligente do que você? E é o que vemos diariamente, no nosso cotidiano. Vamos nos educar para que possamos reclamar pelos nossos direitos. Não há direitos sem o cumprimento dos deveres. Pense nisso.
*ArticulistaAfonso¬[email protected]