As Emendas e o Soneto – Linoberg Almeida
O climão da semana passada sobre dinheiro federal que gira por aqui não pode ser samba de uma nota só. Existe um ruído nos fatos que dependem de você entender o que os lados estão falando e dizendo. As emendas parlamentares são um jeito de colocar recurso público e imprimir marca político-eleitoral, garantindo a deputados e senadores um bom pedaço do orçamento da União para suas bases.
Por mais que nesse clima de caça às bruxas tudo possa parecer toma lá dá cá, é um instrumento interessante dar a parlamentares poder distributivo, atendendo demandas e anseios estabelecidos localmente. Tá bom… Há favorecimentos sim, ninguém é bobo. Nossa representatividade caminha na corda bamba, de sombrinha. Se não houver casca de banana nessa trilha, base, parlamentares e Presidência ditam o tom da banda. As emendas são usadas para manter a relação. E prefeitos e prefeita dependem delas pra sobreviver, já que vivem sempre com cinto apertado no fazer gestão. Um ajuste nessa sinfonia seria uma reforma tributária que desse aos municípios seu devido valor. Mas, isso é outra conversa.
Ora, descentralizar é sempre bom, aumentando a participação no como usar o dinheiro público. Mas, emendas, se não bem fiscalizadas, podem resultar em esquemas de corrupção ou mau uso por não serem adequadas às prioridades dos cidadãos e da cidade. Se a propaganda diz que investir em asfalto e drenagem valoriza imóveis e bairros, e quando a chuva vem, a água sobe e até asfalto novo some, algo de errado não está certo.
O que os olhos não veem, o bolso não sente. Então, andamos pela cidade e pessoas cobram infraestrutura ou revisão dela. Rastreamos planejamento e execução, mapeando até agora cerca de 20 bairros com obras, isto é, 274 ruas que receberam ou estão a receber em 16 contratos algo em torno de 218,5 milhões de reais. E ruas recém entregues apresentam problemas como a Joca Farias (Caranã), Estrela Celeste (Araceli), Silo (Sílvio Botelho), todas com recursos de emendas já aplicados, mas com qualidade duvidosa. Até obras de pontes nos bairros criam pulgas atrás da orelha.
A prefeita disse no rádio que “contingenciamento é corte”, e nisso tem razão. Imagine parar obras complexas pela metade no Jardim Floresta, Centenário e Nova Cidade. Isso causa preocupação em quem neles vive e em quem está nas ruas da cidade, transformando problemas em indicações ao trabalho do executivo. Não sermos ouvidos não nos deixa insensível.
No entanto, como contrarrazão, vemos falta de planejamento na execução, aditivos, dispensa de licitação, erros de cronograma e dimensionamento, displicência com nossa condição amazônica e nossa geografia. Cuidar da cidade não é um poema de regras fixas. Dá pra ajustar com diálogo aqui, com governo ou na justiça. É só querer, mesmo que não se fale a mesma língua. Ajustar visando os interesses dos reais donos das emendas, a sociedade, já basta. Como seguro morreu de velho, fiquemos com a crítica construtiva que aponta soluções e que pode nos fazer pensar sobre em qual narrativa acreditar. Afinal, quem conta um conto aumenta um ponto. Emende-se e decida.
*Professor e Vereador de Boa Vista
TIRAR OU MANTER A FILOSOFIA EM SALA DE AULA? – Wender de Souza Ciricio
Atenas foi uma das cidades mais brilhantes e mais intelectualizadas da antiguidade. Sua herança acadêmica impactou tanto que um milênio e alguns séculos depois a incipiente burguesia europeia fez renascer seus princípios antropocêntricos e racionalistas. Porém essa cidade grega viveu, como tantas outras, doses cavalares de crises sociais. As classes mais desfavorecidas e inconformadas lutaram por direitos e contra injustiças. Esse contexto fez com que legisladores buscassem e implantassem mecanismos de solução para crise.
Como criar uma leveza entre as classes sociais? Para lidar com isso aparece um tirano, espécie de governo, chamado Clístenes. Sua grande tacada consistiu em separar um grupo de homens acima de 18 anos, nascidos em Atenas, sem a presença feminina, denominados de cidadãos. Reunidos os cidadãos, em locais públicos, debatia-se sobre a vida da cidade bem como suas necessidades e seus dilemas. Mas o que chama a atenção e encanta em tudo isso foi a ferramenta usada para debater e decidir a vida da cidade. Trata-se da filosofia. Gregos se despojaram dos deuses e cavalgaram em direção a uma fórmula que demandava maior coerência, maior domínio do pensamento, menos sentimentalismo e mais organização intelectual. Isso foi fascinante e estratégico. Os atenienses entenderam que para se ter uma legítima e abrangente democracia precisavam de seres que pensassem e que estivessem num nível de sabedoria maior do que a maioria. A democracia demanda inteligência, pois sem esse elemento as escolhas e decisões tornam-se funestas, ocas e frágeis, o que daria muito campo para poderosos vilões, corruptos e mal-intencionados tripudiarem em cima de uma sociedade carente e injustiçada.
Se historicamente a filosofia foi essencial e tão bem usada para o desenvolvimento da democracia, por que pessoas tentam colocá-la no banco dos réus? Não deixa de ser verdade que se a filosofia for discutida pela peneira partidária vai dar choque e muitos vão se queimar. Não se pode omitir, também, que vários filósofos se constituíram, com suas bases ideológicas, o alicerce para várias mudanças políticas, econômicas e sociais. Boa parte dos filósofos iluministas favoreceram, com suas teses, o crescimento político e econômico da burguesia capitalista. Outros filósofos usaram de muita veemência para denunciar o sistema capitalista e propor uma cultura socialista para gerar uma sociedade comunista e sem governo. Entretanto o que se questiona é por que a filosofia tem que ser a vilã em meio as diferenças ideológicas, sejam de direita ou de esquerda? Por que a filosofia tem que ser penalizada quando jovens em universidades tiram as roupas em forma de protesto? É a filosofia a mãe de todas essas ideias consideradas esdruxulas e torpes? Todos que se apegam ao ramo da filosofia estão se desnudando para chamar atenção ou são apenas alguns? Por causa desses alguns, tem-se direito de generalizar e saírem proclamando ódio contra a filosofia? Por causa de posturas progressistas rejeitadas por conservadores, a filosofia é que paga o preço? Estudar filosofia é tornar o cidadão um subversivo?
Como defensor de uma sociedade que deveria ser pensante temo pelo fim da filosofia nas salas de aula. Esse instrumento é essencial para enxergar e filtrar o que está por trás da fala de um político, de um professor, de um padre e pastor e de todos que de uma forma ou outra são formadores de opinião. Abrir mão da filosofia é nos deixar vulneráveis e imbecilizados a ponto de poderosos nos consumirem com suas astúcias e sagacidades. A filosofia foi formulada para construir uma democracia, para evitar que de um lado a ingenuidade fizesse as pessoas cair nas mãos dos mais espertos e do outro lado colocar para correr os viciados na escola do engano e da duplicidade.
Faz isso não Brasil. Se tivermos juízo e humildade para reconhecer o quanto estamos aquém de uma Grécia, que fez história porque usou a filosofia, e de como uma Europa se tornou potência porque pensou filosoficamente antes de criar as máquinas, nem sequer hesitaríamos levantar a voz contra a filosofia. Esse instrumento não foi criado por causa de esquerda e nem direita, foi criado para organizar nossas cabeças pensantes, dar sentido e coer
ência para falarmos sem engodo e sem malícia.
*Historiador, teólogo e psicopedagogo [email protected]
Fazendo no trabalho – Afonso Rodrigues de Oliveira
“Não trabalhe só por dinheiro, e sim pela satisfação da missão cumprida. Lembre-se: nem todos têm a mesma oportunidade. Pense no melhor, trabalhe pelo melhor e espere pelo melhor.” (Aristóteles Onassis)
Inicie seu dia de hoje, no trabalho, com determinação e muita coragem. Mas não espere só do trabalho, no trabalho. Faça seu trabalho como ele deve ser feito, fazendo sempre o melhor que puder fazer. Lembre-se sempre da dica do Swami Vivecananda: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa; e sim pela maneira de ele executá-la.” Não importa o que você faz. O que interessa mesmo é como você faz no que faz. Temos um zilhão de exemplos de pessoas simples que foram beneficiadas, não com recebimento de benefícios, mas com reconhecimentos pelo desempenho nos seus trabalhos simples. As Relações Humanas são uma lição de como devemos viver a vida, numa relação entre família e trabalho. São dois elos que não se separam.
Faça sempre uma reflexão sobre o valor do seu trabalho, seja ele qual for. Ele irá valorizar você na medida em que você o valorizar. Nada é mais gratificante do que uma missão cumprida. É quando nos sentimos realizados. E mais ainda quando entendemos que cada missão cumprida é apenas mais uma etapa vencida. Cada dia de nossas vidas é mais um desafio a ser enfrentado com coragem e determinação. Mas, mais valioso é reconhecer que no que fizemos está o valor de termos tido a oportunidade de fazer.
Encare, enfrente e viva o dia de hoje como um ensaio para o dia de amanhã. Talvez você não tenha, amanhã, a mesma oportunidade que teve, hoje, de mostrar o seu valor. Mas seja qual for sua oportunidade amanhã, cumpra seu dever na obrigação de fazer o melhor que você puder fazer no que fizer. É assim que se alcança o pódio. E o importante é que nunca nos deixemos levar pela euforia, e deixar de mirar o horizonte do amanhã. Cada dia é um dia a ser vivido com o vencimento. E nunca seremos vencedores sem vencer. E nunca venceremos enquanto ficarmos presos ao medo da derrota.
Às vezes é melhor encarar a luta como uma competição e não como uma disputa. Quando sabemos o que somos e o valor que temos no que somos, não disputamos, apenas competimos. E só assim respeitamos o adversário, sabendo que a importância da nossa vitória depende do valor do nosso adversário. E seu dia, hoje, é seu adversário. Então, vença-o com dignidade. E não há dignidade sem respeito. Os trancos de hoje, considere-os apenas como um aprendizado, para que você os encare amanhã sem receios nem medos. A vida não requer ensaios, mas muita determinação e ação. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460