Opinião

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De calamidade em calamidade o coronavírus chegou aos abrigos e presídios

LuÍs Cláudio de Jesus Silva*

Quem ganha com a decretação de estado de calamidade? Após, quase duas décadas de existência da Lei de Responsabilidade Fiscal, está se tornando comum os decretos de calamidade pública em Roraima. Só no atual governo, tivemos o Decreto de Calamidade Financeira, que se depender de Denarium nunca irá acabar, e agora temos o de Calamidade na Saúde.

Não obstante as justificativas para a calamidade atual decorrente do avanço do coronavírus, me parece que Roraima está pegando gosto pelas facilidades de contratação e corrupção criadas por este instrumento e pelos vultosos recursos carreados para serem gastos pelo estado e municípios. Em uma análise superficial e histórica, você vai perceber que o problema nunca foi dinheiro, nosso problema sempre foi falta de gestão por parte dos políticos que insistimos em creditar nossa confiança e voto.

Pois bem, vamos isolar dois casos recentes para ilustrar nossa afirmação, ambos relacionados a propagação do coronavírus em Roraima. Se houvesse capacidade de gestão, nossos governantes teriam se antecipado ao problema, realizando a aquisição de equipamentos de proteção – só o fez tardiamente e os equipamentos só chegaram vinte dias após o registro do primeiro óbito -, concluído as obras e colocado em funcionamento o anexo do HGR – preferiu concluir o Estádio Canarinho, que após um único jogo, o governo anuncia que será adaptado para receber pacientes contaminados pelo coronavírus, só não se sabe quando estará apto para tal intento e nem quanto custará essa adaptação.

Pois bem, diante da falta de planejamento e gestão pública, mesmo com o repasses de recursos federais, o coronavírus tem avançado em Roraima e, infelizmente as últimas notícias são assustadoras frente as consequências com a contaminação e óbitos em massa, que podem ocorrer. Mesmo sabendo que a situação se agravaria com a entrada do coronavírus nos abrigos de imigrantes e nas unidades prisionais nada de efetivo foi feito para mitigar tais riscos.

Se por um lado a Operação Acolhida tem se mostrado ineficiente para recepção e contenção em abrigamentos dos imigrantes venezuelanos – para os quais parece que não valem as orientações de isolamento social, pois entram e saem dos abrigos todos os dias para perambular e se aglomerarem pelas ruas da cidade. Por outro, o governo pouco faz para barrar a contaminação da população de presos que superlotam o sistema prisional do Estado, e faz menos ainda para proteger os Policiais Penais (antigos agentes penitenciários) que são obrigados a se manterem trabalhando mesmo em condições adversas, sem equipamentos adequados e, se contaminados, sem qualquer assistência de saúde por parte do Estado.

Esses são os agentes públicos que a sociedade não vê, mais que por força das atribuições do cargo, são obrigados a viverem boa parte da sua existência “aprisionados” protegendo a sociedade da escória que escondemos nos depósitos humanos dos presídios. Se antes a contaminação na penitenciária era tamanha que “os presos estavam sendo comidos vivos” por conta de suposta “super bactéria”, imaginem com a chegada do coronavírus.

Somente nossos governantes não perceberam a gravidade do caso: os abrigos estão lotados de grávidas, crianças, idosos. Nossos presídios estão abarrotados de homens e mulheres, muitos idosos e quase todos com baixa imunidade por conta das péssimas condições sanitárias e do ambiente de clausura. Esse caldeirão humano é o ambiente perfeito para proliferação e propagação da COVID-19, com consequências muito mais graves do que podemos imaginar.

Por fim, diante desse caótico quadro de inércia de nossos governantes, espero que logo se decrete a CALAMIDADE NA GESTÃO PÚBLICA. Decretar calamidade, em qualquer época já é preocupante, imaginem num ano eleitoral. É o mesmo que dar um cheque em branco para governo e prefeituras promoverem a farra das compras e contratações com dispensa de licitação – onde falta concorrência e sobra superfaturamento – e, com recursos públicos federais na casa dos bilhões, alargarem os ralos da corrupção. Para piorar, como vamos fiscalizar se o atendimento presencial nas repartições públicas está restrito e todos devemos ficar em casa? Não tenham dúvida, construíram o cenário perfeito para que muitos lucrem em tempos de calamidades.

*Professor universitário, Doutor em Administração www.professorluisclaudio.com.br

Educação, Ciência e Coronavírus

Marcos Paim (*)

A ciência nunca teve tanto prestígio quanto nestes tempos difíceis. Praticamente o mundo todo espera dela a solução para o grande desafio que enfrentamos, chamado Covid-19. Na luta para salvar vidas, a ciência está por todos os lados, seja no desenvolvimento de testes para diagnóstico, medicamentos ou equipamentos, como os respiradores ou as máscaras de proteção para os heroicos trabalhadores da área da saúde.

Ao encararmos uma pandemia que nos desafia em uma situação quase de ficção científica, as soluções para os problemas também precisam ser incríveis. Ou seja: rápidas e eficazes. Mas elas não são mágicas, uma vez que na ciência quase sempre só existe o método científico, que não é infalível, já que demanda tempo, esforço, estudo, persistência e investimento financeiro.

Gráficos, números, previsões, fórmulas químicas, simulações e ilustrações da Covid-19 estão em todos os meios de comunicação disponíveis. O vocabulário científico da população certamente cresceu muito, e aqueles que conseguem compreender tais informações ajudam a salvar vidas, inclusive a própria.

Com o auxílio da matemática e da computação, os modelos de crescimento de contágio são levados em consideração na tomada de decisões importantes, que envolvem desde a determinação do isolamento da população até a construção emergencial de hospitais.

Não se pode esquecer, porém, que para que se faça ciência – e por meio dela tenhamos todo o tipo de benefício que a sociedade atual pode oferecer -, é preciso ter uma educação de qualidade que possa inspirar estudantes, em especial os do Ensino Básico, a serem os cientistas que desenvolverão as vacinas, os medicamentos e até mesmo cobots médicos, um robô colaborativo que poderia trabalhar segura e incansavelmente em situações extremas, como esta em que vivem os profissionais de saúde em tempos de Covid-19, no Brasil.

Educar nossos estudantes para que sejam resolvedores de problemas com conhecimento técnico e científico, atitudes e habilidades necessárias no século XXI, demanda um investimento comprometido com a qualidade de professores que proporcionem um ambiente de aprendizagem na escola no qual seja permitido aplicar o que se aprende em situações relacionadas ao mundo real (que é basicamente mostrar a razão pela qual se está estudando determinado assunto), testar e experimentar ideias em espaços físicos e virtuais de laboratórios, além de desenvolver nos alunos habilidades de trabalho em equipe, empatia, pensamento crítico, gerenciamento de projetos e outras habilidades necessárias a praticamente qualquer profissional.

Um dos caminhos para colocar esses elementos dentro das escolas, no dia a dia, é a aplicação da metodologia STEM, acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. O STEM Brasil é um programa pioneiro que atua há mais de 10 anos no Brasil, proporcionando formações aos professores das escolas públicas de todas as regiões do país, apoiando-os na aplicação de uma metodologia ativa e prática, para citar apenas um exemplo da iniciativa de sucess
o dentre as diversas que começam a se espalhar pelo país.

Em um momento em que a ciência não está apenas na cabeça dos brasileiros, mas também nos seus corações, precisamos pensar com carinho no futuro que ela terá no Brasil. Precisamos cuidar melhor da educação que oferecemos aos jovens, com um olhar especial para a preparação dos professores que ensinam em áreas desafiadoras, como matemática e ciências naturais, uma vez que eles podem fazer uma grande contribuição para que a ciência brasileira seja nosso porto seguro para uma vida cada vez melhor.

*Professor e diretor do programa STEM Brasil, da ONG Educando.