Opinião

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Pense ao lavar as mãos

Linoberg Almeida*

O avanço deste coronavírus impõe a necessidade de unir esforços no combate à pandemia. Mas, tem que querer se unir, sem brilhar sozinho. A gravidade da crise mora na real chance de colapsar nosso sistema de saúde, que nunca foi bom das pernas. Invisibilizamos agentes comunitários de saúde, farmacêuticos, nutricionistas, relegamos profissionais da enfermagem, a Ciência… E agora, José? Além dos impactos na saúde, a economia, a segurança, a educação, o egocentrismo devem ser repensados, a partir da questão: Onde erramos?

Dias atrás findou prazo de filiação partidária. Novos e velhos nomes surgirão no cenário político, e caberá a nós definirmos o quanto nossa democracia está consolidada, de instituições sólidas e cidadãos que entendem a coisa pública, não se deixando cair em factoides, personagens eventuais ou na graça dos que fazem media training, às escondidas, reproduzindo o que marqueteiro diz. Credo da gente cair num truque de ventríloquo – a boca de um fala, o poder na mão de outros.

Cuidar do caixa, cuidar das pessoas, comunicar com transparência e investir em inovação é o que gestor público deve fazer na crise. Aos que se apaixonam pelos que abrem agora mão de salários (financiados por grupos poderosos); se tornam defensores dos trabalhadores (sem nos últimos três anos e quatro meses se ater às dores destes); que viram campeões em verbas e emendas destinadas (de aplicação em Boa Vista zero); ou dão cestas fazendo da caridade sua propaganda pessoal, cuidado! Seguro morreu de velho e corre-se o risco de serem enganados.

A COVID-19 abriu espaço para mais dispensas de licitação, agora em situação de calamidade, sendo respaldadas moral e legalmente, dificultando fiscalização. Se fossem só equipamentos de proteção individual, máscaras, luvas até vai, mas aluguel anual de imóvel, consultoria, manutenção de motos são coisas viáveis de realizar competição e nada excepcionais como as previstas pelo artigo 24, da Lei n. 8.666. Dizer no Twitter que está arrecadando menos, e no mundo real não dar acesso a documentos, nem responder ofícios, não dá.

Sábado, a prefeita anunciou editais para seleção de propostas para atividades artísticas. Pena que o vírus precisou aparecer para a FETEC agir como fundação pública na promoção e preservação de valores culturais e artísticos, no fomento de manifestações locais. A ação tem carimbo da prefeitura, mas foi demanda de artistas e produtores, demanda da Câmara Municipal e seus vereadores via Recomendação n° 006/ 2020 após reuniões. O personalismo não pode apagar a institucionalidade que sustenta nossa democracia. Fazer agora, mesmo sabendo que essa iniciativa popular foi proposta em audiência pública, tentada como emenda orçamentária, negada num lavar de mãos outrora, é de fazer pensar.

E que fique claro: não sou dos que se apequenam usando venezuelanos como palanque para diminuir as iniciativas da gestão municipal. Vejo erros, aponto caminhos. Sei bem quem será beneficiado com alimentos e ações, pois não estou aqui a passeio. Só não posso deixar de te informar que a distribuição de milhares de cestas básicas é algo parte do Programa de Benefícios Eventuais para famílias em vulnerabilidade que financiamos com centenas de milhares de reais do orçamento, desde antes de eu estar vereador. Renovar suspensão de aula distribuindo merenda estocada seria novidade. O que já se fazia agora ganha verniz de novidade em tempos de lives para shows e anúncios políticos.

Tem mais uma coisa: o jeito mais rápido de sair disso é ter acesso a informações precisas sobre a disseminação do vírus, ampliação do número de leitos disponíveis, meter máscaras no maior número de pessoas, estimular o contínuo distanciamento social (não confunda com isolamento, hein), aplicar medidas fitossanitárias e de biossegurança como nunca antes. Ver rua lotada, filas, políticos batendo cabeça para saber quem noticia número de mortos primeiro só contribui com a pouca solidariedade e compromisso social que temos.

A culpa não é só sua. Não somos educados ao coletivo, e pagamos o pato juntos. Tomara que o que vejo ali na frente seja a chance única de reinventar o como ocupamos a cidade, a política, a vida, a partir de uma perspectiva mais humana de tudo. Veremos.

*Professor e vereador de Boa Vista

A globalização e o jogo de soma zero do mundo

Na Teoria dos Jogos, o Jogo de soma Zero é aquele que o ganho obtido por um participante é equivalente à perda sofrida pelo outro participante, de forma que o resultado final é sempre o mesmo. Assim, cada participante maximiza o seu resultado às custas da perda do outro. O mesmo princípio vale para as situações onde existem vários participantes. Um exemplo de jogo de soma zero é o pôquer: o ganho de um jogador é a soma das perdas dos demais. Essa é uma ideia muito antiga e sabida por muitos.

A globalização, por sua vez e a grosso modo, é dada como um processo de integração política, econômica e cultural mundial, marcado pelos avanços nos meios de transporte e comunicação. É um termo relativamente jovem e a gênese de seu sentido é da década dos anos de 1980, abancado primeiramente nas academias e, posteriormente, difundido junto ao homem comum. Esse processo já foi considerado irreversível e até mesmo necessário. Assim surgiu a “Aldeia global” e as crises de nosso tempo, quando são de grandes proporções e multi geográficas, chamamos de globais.

O processo de crise contemporânea, seja qual for a forma que o chamamos, produz impactos em Estados, crenças, hábitos, “Entes Naturais”, empresas, organizações, liturgias e, até mesmo, no planeta como ente. Ao mesmo tempo, tem a capacidade de invadir e afetar o campo das ideias. Há, portanto, reveses de toda ordem e o resultado destas perturbações é a criação de mundos distintos, todos em plena convulsão.

O mundo aprendeu, a duras penas, sobre esse processo nas últimas semanas. O conceito de globalismo deve ser repensado no mundo pós-pandemia.

Hoje vemos grande parte das fronteiras nacionais fechadas, economias sucumbindo e desvalidas sem capacidade operante dentro de seus quintais; pessoas trancafiadas em casa e a desinformação e o caos reinando nos noticiários.

A última centeia de ideia cooperativa global é no campo da ciência (e olhe lá) com o esforço global de cientistas e médicos para vencer os desafios diversos da pandemia da COVID-19.

Estados têm que reaprender a trabalhar e pensar de forma mais individualizada e “nacionalista”. A dependência de insumos, serviços e tecnologia externa acabou por descortinar e expor as vísceras do projeto estratégico de muitos Estados, inclusive o Brasil. O significado de soberania, tanto no sentido lato quanto no sentido stricto sensu terá que ser repensadas.

Estamos submergindo em um novo tirocínio da globalização. Um lento e doloroso processo de transformação dos Estados nacionais, assim por dizer, parece ter chegado com o curioso protagonismo do novo “tudo do mundo”: a China – é celeiro, é parque industrial, é a economia que funciona. Você quer ou precisa comprar qualquer coisa, sobretudo se tiver haver com a pandemia, adivinha?! Só tem na China! É tudo e qualquer coisa mesmo!!!! Curioso, não é?! Nesse jogo de pôquer a “mão” da China é sempre um Royal Flush. Você lembra da teoria do Jogo de Soma Zero? Pois é. Os matemáticos John von Neumann e Oskar Morgenstern no livro “Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico” deram uma pista
sobre a teoria dos Jogos de Soma Zero no processo de economia global.

Uma encruzilhada se avizinha nos próximos dias: ou volta-se para o processo de nacionalização urgente, tanto de bens quanto de serviços, como já sinalizaram nos últimos dias Estados Unidos e Japão para o fortalecimento do próprio mercado interno e proteção de seus interesses estratégicos nacionais, ou aposta-se na globalização canibalesca que se caracterizou desde o século XX, retrocedendo, nesse caso, em seu próprio processo de transformação que fracassou como podemos perceber nesse momento de caos em que Estados estão praticamente saqueando uns aos outros por insumos do Kit pandemia, bem longe do “Equilíbrio de Nash”, conceito desenvolvido pelo matemático John Nash, em 1951, com base no seguinte questionamento: teriam os participantes incentivos suficientes para cooperar ou cada um sempre decidiria por um caminho próprio cujo resultado final pode ser pior?

A decisão individual afeta o resultado final que, sem os devidos incentivos para a cooperação, pode levar a um cenário pior do que a situação inicial, por mais racional que essa decisão seja. A sociedade global, alicerçada na tríade virtuosa da democracia, do amparo e do pleno e efetivo exercício dos direitos humanos como foi pensada em meados da segunda metade do século passado, mostrou-se ser menos colaborativa em tempos de escuridão.

Cabe ao Brasil apostar corajosamente, “todas as fichas”, na nova e possível globalização que, de fato, se anuncia: a “Globalização Nacional”, e dá continuidade à metamorfose do Estado nacional dependente para um novo estágio, um novo passo na direção de uma construção de Estado Nacional soberano com “N maiúsculo”, absoluto, com uma sociedade mais voltada ao incremento produtivo local (em todos os setores), menos burocracia, mais incentivo as classes produtivas, menos dependência dos mercados internos e focada em primeiro fortalecer o mercado nacional e, claro, priorizando vender mais para o estrangeiro que comprar qualquer coisas deles.

Somos um país de dimensões continentais com abundância de recursos quase que infindos, temos desde água em superabundância até uma vasta possibilidade de recursos energéticos, minérios de toda sorte e as commodities mais requisitadas do mundo; possuímos capacidade produtiva ainda muito longe de um exaurimento e possuímos uma população de jovens e adultos com capacidade laborativa que faz inveja a muitos países desenvolvidos, faltando apenas boa vontade dos que nos governam de largar o osso da ignorância para que hoje, a multidão dos que se acotovelam por respostas do Estado, possam ser agentes de transformação de uma nova nação autônoma e referência em desenvolvimento regional.

*Articulista

Revivendo o bom

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Saudade dor que dói fundo

Recordo meu bem querer

Tão longe num outro mundo

Lembrança me faz sofrer.”

(Leide Moreira)

Fazia tempo que não vivíamos sós, a dois. Só depois do acontecido foi que me toquei. Fiquei feliz pra dedéu. E como é bom e gostoso ser feliz. E só nos sentimos felizes quando somos felizes. Mesmo que a felicidade esteja ziguezagueando por aí, de mãos dadas com a saudade. Elas sempre andam de mãos dadas. E quando chegam, chegam sempre de surpresa. E quando uma aparece a outra fica escondida furtivamente. Às vezes provocando. E o mais gostoso é quando nos entregamos a uma e, sem saber, permitimos que a outra se apresente. E elas sempre trazem lembranças de coisas, às vezes simples, mas que nos faz feliz.

Ontem, não sei se a dona Salete percebeu, ficamos a sós, em casa, pela manhã. Fiz o café, pus a mesa e fui acordá-la. Estávamos à mesa, tomando o café da manhã quando me ocorreu fazer uma coisa que nunca fiz, proibido pela minha caretice. Liguei o celular e começamos a ouvir músicas no nosso estilo. Estávamos tão felizes que senti que ela, a dona Salete, estava meio emocionada. Adorei e fiquei na minha.

De repente ouvimos uma música com a Núbia Laffayete. Aí me emocionei. Lembrei-me de uma amiga em Boa Vista, por quem tenho um carinho enorme, por ela e por sua família. A Lyres Luiza é minha ex-nora. Adoro-a. Mas o que me levou á emoção foi a lembrança de uma noite em que ela chegou à minha casa, em Boa Vista. Eu estava sentado ao computador, selecionando músicas antigas. De repente liguei na música com a Núbia Laffayete. Quando olhei para a Lyres, ela estava com os olhos lacrimejando. Franzi a testa, e Lyres me explicou.

Quando ela ainda era adolescente, sempre ia com a família, passar os fins de semana na fazenda. As tias passavam o dia ouvindo a Núbia Lafaiete, e ela, a Lyres se irritava porque as tias e a mamãe passavam o dia todo ouvindo músicas cafonas. Não pudemos evitar o riso quando ela me falou isso. Porque ela não estava entendo sua emoção naquele momento, sentada, ouvindo as músicas que a aborreceram na adolescência. O que é muito importante na nossa vida. Que é quando descobrimos que o tempo não passa. Nós é que assamos por ele. E, muitas vezes, é nessas passagens que voltamos aos velhos tempos, e sentimos saudade deles. É quando somos felizes e não sabemos que somos. Mas a felicidade fica guardada no lado esquerdo do peito e nos aparece em momentos, por vezes, inesperados. E o Bob Dylan nos lembra que: “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração escorrega pelos olhos.” E a Lyres sentiu isso naquele dia. Pense nisso.

*Articulista

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