Opinião

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O corona vai às compras sem licitação, enquanto a democracia balança, mas não cai.

Luis Cláudio de Jesus Silva*

Tenho tentado sair do tema coronavírus, pois, igual a maioria dos brasileiros, já estou cansado do distanciamento social e do jogo político que somos obrigados a assistir nos noticiários. Porém, não podemos ser negacionistas e fazer de conta que nada está acontecendo, não será negando o problema que ele deixará de existir. Precisamos nos manter vigilantes e, principalmente, manter aguçada a nossa análise dos acontecimentos não deixando que notícias, muitas produzidas para enganar, formem nossa opinião pessoal. Feitas as observações iniciais, vou tratar sobre dois fatos recentes que requerem uma atenção especial dos boa-vistenses e de todos os brasileiros.

Primeiro, vamos cuidar dos acontecimentos na nossa casa, Boa Vista. No dia 16/04/2020, neste mesmo espaço, eu alertei para os efeitos dos decretos de calamidade no favorecimento a corrupção e na malversação dos recursos públicos. Vou até me permitir repetir um trecho do que escrevi: “Decretar calamidade, em qualquer época já é preocupante, imaginem num ano eleitoral. É o mesmo que dar um cheque em branco para governo e prefeituras promoverem a farra das compras e contratações com dispensa de licitação – onde falta concorrência e sobra superfaturamento…”.

Pois bem, e o que fez nossa prefeita Teresa Surita? Determinou a compra de cestas básicas, sem licitação, no valor de R$ 4,5 milhões, numa rede de supermercados que possui filial na capital, mas a matriz fica em Rondônia. Jamais criticaria a aquisição de cestas básicas para distribuir às famílias carentes, inclusive já defendi nesse espaço o socorro a “sociedade marginal”. Porém, a prefeita faz o certo da forma errada. Vamos lá, o que justifica comprar de uma grande rede de supermercados e não dos pequenos comerciantes, das pequenas mercearias que estão prestes a falirem por conta dos decretos da própria prefeita, que os impede de exercerem suas atividades? Ou ainda, por que não destinar parte desses recursos para aquisição de alimentos dos pequenos produtores locais? Infelizmente, o que se percebe é que nossa prefeita está aproveitando as oportunidades políticas e financeiras surgidas na pandemia.

Enquanto, a prefeita fecha os pequenos comércios e impede a prestação de serviços, apaga as luzes das praças, compra sem licitação e faz anúncios diários dos avanços da pandemia nas redes sociais, onde estão os “seus vereadores”? Os quais, além da omissão costumeira, se mantêm patéticos e ineficientes, mostrando o quanto são caros e desnecessários para nossa cidade. Além do controle total da Câmara Municipal, “coalizão” que sempre custa muito caro, a centralização do poder é tanta que, até esse momento, não se sabe quem é o secretário municipal de saúde, se é que existe.

Mudando de assunto, outro ponto que merece séria reflexão dos brasileiros diz respeito às manifestações ocorridas no Dia do Exército, em várias cidades do país. Não vou me associar aqueles que pedem a volta do regime militar, não creio que estejamos caminhando para essa ruptura do sistema. A meu ver, o problema não está na democracia e sim nas nossas escolhas. De que adianta eleger um presidente que promete romper com as amarras da velha política e elegermos para o parlamento os mesmos velhacos corruptos? Antes de procurar culpados procure um espelho, veja quem você elegeu para o parlamento e, se nesse momento, seu deputado ou senador está ao lado do país ou de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Se não está trancado nos gabinetes, pagos com dinheiro público, tramando contra a democracia, junto com alguns governadores e ministros do STF.

Precisamos repensar a formação do Estado, se vamos continuar alimentando o Leviatã, de Thomas Hobbes, se o modelo de divisão dos poderes pensado por Montesquieu ainda nos serve enquanto sociedade. Já escrevi, em mais de uma vez, defendendo uma Nova Constituição, visto que a atual não atende mais aos anseios da nossa sociedade. O que temos hoje, é o parlamento reagindo ao fim da velha pratica do toma lá, dá cá, criando dificuldades para vender facilidades e alguns ministros da Suprema Corte, buscando protagonismos, palpitando em tudo que é tema, sem preocupação com a necessária discrição e, sem qualquer legitimidade para tal. Tudo isso tem cansado o povo e sido o principal combustível da insatisfação popular que vai as ruas pedir mudanças, mas diante da urna, sofre amnésia.

*Professor universitário, Doutor em Administração. www.professorluisclaudio.com.br

Afinal de contas a cloroquina ajuda ou atrapalha?

Adônis Motta*

A cura milagrosa da COVID-19. A largada da corrida foi dada para tentar conter a pandemia que se instalou no mundo do dia pra noite e que assustou todo o planeta. As notícias de curas milagrosas pela internet, testes falsificados e até medicamentos que aumentam imunidade foram espalhados. Até nessas horas há pessoas mal intencionadas na busca de ludibriar.

Uma dessas notícias é que a Hidroxicloroquina (HCQ) e a Cloroquina (CQ), medicamentos usados para combater a malária, são a solução para o caso mais grave da doença que já causou 2.015 mortes no Brasil (22/abril) e 2,59 milhões no planeta e 179.725 mil mortos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). São números alarmantes e sem data certa para cessar. E é por isso que há a corrida contra o tempo.

A indústria farmacêutica não está preocupada apenas em vender, mas junto com especialistas farmacêuticos e outros profissionais por meio da pesquisa e testes por amostragem, encontrar a solução e testar novas drogas.

O Ministério da Saúde liberou com acompanhamento médico o uso da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento. Outros especialistas afirmam que não se deve usar o medicamento para prevenir ou tratar a COVID-19 sem o devido acompanhamento médico, isso porque as drogas afetam o coração e podem levar à morte. Além disso, a automedicação traz o risco de internação medicamentosa.

Outros pesquisadores confirmam, sem embasamento científico, que usaram a hidroxicloroquina em pacientes e conseguiram resultados, apresentado mais eficiente contra o coronavírus, segundo pesquisa feita pela Sermo, empresa global de pesquisa em saúde, com 6.200 médicos, ​​em 30 países. A maioria, cerca de 37% dos médicos, disse que ela é a terapia mais eficaz para o vírus no momento, de uma lista com mais de 15 opções. Na Espanha, 72% dos médicos, disseram que estão usando o medicamento; na Itália são 55% deles; enquanto na China são 44%.

Vale lembrar que a OMS alega que não há evidências de que qualquer medicamento possa prevenir ou curar a doença. Com a pandemia crescente e sem cura à vista, médicos na Europa, EUA, China e Brasil receberam licença para prescrever o medicamento aos pacientes com COVID-19 em casos específicos.

A CQ e HCQ são medicamentos bem estabelecidos e prescritos também para o tratamento de artrite reumatóide e o lúpus desde a década de 1940. As drogas estão entre os mil medicamentos testados contra o coronavírus em um laboratório, como parte do estudo da Queens University, em Belfast. Testes maiores foram iniciados nos EUA, onde muitas mortes ocorreram. A Itália realiza teste com 2 mil pessoas, enquanto os cientistas também aguardam os resultados de testes maiores na China.

Recentemente foi anunciado pelo Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação Marcos Pontes que, testes in vitro, r
ealizados em laboratório demonstrou que o fármaco possui 94% de eficácia em ensaios com células infectadas pela COVID-19. Esse medicamento é o Nitazoxanida (popularmente conhecido por Anitta), um antiparasitário do mercado. Evidente que precisa-se ter cautela, pois já foi verificado na China que a dose necessária para a atividade antiviral seria tóxica para o organismo humano.

Infelizmente a notícia até agora é que não há ainda cura milagrosa e o que se procura é a cura urgente, mas com cautela e cuidado, pois há sim perigos ocultos nos testes e no afã de encontrar a solução gera a corrida exacerbada, mesmo que positiva. Enquanto isso o que se precisa fazer é cumprir as recomendações de isolamento, distanciamento e higiene.

*Farmacêutico, especialista em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela UFPA, presidente do Conselho Regional de Farmácia de Roraima.

É nossa responsabilidade

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Não é função do nosso governo, impedir que o cidadão caia em erro; é função do cidadão, impedir que o governo caia em erro.” (Robert H. Jackson)

O mais elementar não é entendido. O cidadão que não entende de cidadania prefere fazer bagunça pelas ruas e fazer barulho batendo em panelas, protestando contra seu próprio erro. Quando deveria pensar, como cidadão, e procurar corrigir seu erro. Porque só quando formos cidadãos, de fato e de direito, teremos o direito de protestar, pacificamente, corrigindo nosso erro, elegendo incompetentes. Só assim teremos uma política digna de respeito. Só quando entendermos que somos nós, eleitores, os responsáveis pelos políticos não políticos, que temos.

Estamos num redemoinho político que vem se arrastando por décadas a décadas. E ainda não acordamos para observar que enquanto formos obrigados a votar, é porque ainda não nos valorizamos como cidadãos. Vamos nos educar para podermos reclamar dos políticos, o que queremos no que indicamos, com nosso voto.

Vamos nos educar. Porque os políticos que elegemos não estão interessados em nossa educação. Tristão de Athyde alertou: “A maior lição política do século XX será que o Poder é a morte das ideologias políticas.” George Burns também disse: “Pena que todas as pessoas que sabem como governar o país estejam ocupadas a dirigir táxis ou cortar cabelos.” E enquanto vivermos nessa política de tamanco, continuaremos elegendo humoristas para o Senado, e batendo panelas, quando não recebemos o Vale Família.

Vamos acordar entes que o novo dilúvio chegue. Porque ele vem. E quando chegar, não estaremos preparados para recebê-lo. E lá iremos nós, para o espaço, para depois voltarmos como primitivos de uma nova era que nem saberemos se é era. Vamos nos valorizar para que mereçamos a cidadania. E não a conseguiremos enquanto não tivermos a educação que ela exige. Porque até aí continuaremos títeres de espertalhões que continuarão nos comprando no preço da nossa ignorância. Vamos assumir nossa responsabilidade nos mandos e desmandos do nosso querido Brasil. E vamos abrir os lhos para essa chamada, de sessenta anos a trás: “…no dia em que os militares assumirem o poder, neste País, terão que ficar, pelo menos, trinta anos, para arrumar a casa, de forma que os senhores civis nunca mais consigam bagunçar.” Isso é apenas parte do que foi dito pelo então General Juarez Távora, numa entrevista ao Sargentelli, pela televisão, no início dos anos sessentas. Eles ficaram só vinte e um anos. Estamos lhes devendo nove anos. É bom segurarmos o andor, porque o santo é de barro. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460