Opinião

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Depois de Portugal – Walber Aguiar*

Em cada despedida um final, em cada reencontro um recomeço.    

Dizem que o porto é sempre o lugar dos encontros e despedidas, dos começos e recomeços, dos encontros, desencontros e reencontros. Dizem que o porto é um lugar alimentado de sorrisos e lágrimas, de céu e chão, de dor e alívio. Que começamos a morrer exatamente ao nascermos, que os acenos de despedida nunca são eternos, que a figura da morte aparece a cada despedida.

Entretanto, na vida de retinas tão fatigadas, entendemos que os portos ficam pra trás e ressurgem. Que o Porto foi o lugar onde se deu o mais fascinante encontro de minha vida. Um avião, um pouso, uma espera.

Um dia pra se pensar todos os dias, todos os dias pra se sentir, todos os sentimentos pra se perceber, todas as percepções pra se tocar, todos os toques pra se sentir vivo, toda a vida pra esperar um recomeço. Aí temos o ciclo de tudo que é, do cachorro tentando morder o próprio rabo. Temos o desejo cumprido, o favor recebido, o coração entregue.

Assim acontece com quem conhece Portugal. Com quem se encanta com a geografia lusitana, com a casa de Fernando Pessoa, no velho poema em linha reta, cheio de curvas e tortuosidades da palavra poética. Assim ocorre com o romantismo de Garret, com a dramaticidade de Florbela Espanca, com a sonoridade eterna de Luís de Camões.

Assim acontece com quem se despede da paixão ibérica, das catedrais gigantescas e seus sinos que se dobram à poesia e ao sentimento, à celebração do existir e à transcendência do crer e do mirar a face de um Deus piedoso e santo, que, mesmo não habitando em templos feitos por mãos humanas, parece flutuar nas naves suntuosas que carregam obras de arte sacra, que portam mistérios feitos de concreto e concreção histórica.

Ora, não há despedida quando a alma carrega as mais profundas e significativas lembranças, não há despedidas entre o olhar e o objeto do desejo da retina, não acontece o adeus entre aqueles e aquilo que se ama. Entre arcos construídos e flechas retesadas, entre festas e brincantes, entre o que se come e o objeto da paixão gastronômica. Não se despede, pois da fé, da esperança e do amor. Não se desvencilha completamente daquilo que foi contemplado, vislumbrado, longamente visto, profundamente admirado.

Agora estou pronto pra ir, mas sem deixar, pronto pra deixar pra trás, mas sem desvincular do coração que deseja, da alma que se encanta.

Depois de Portugal a vida nunca mais será a mesma. Principalmente, porque, nesse Porto e nesses portos da dor e da distância, encontrei o amor e a proximidade…..

*Advogado, historiador, poeta, professor de filosofia, conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras   wd.aguiar @gmail.com

Os pontos mais importantes

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Os pontos de cultura são a Bolsa Família das entidades, dos valores, significados, e da imaginação criativa dos que são maioria, mas tinham se tornado minoria silenciada. (Emir Sader)

Era feriado, fim de semana e momento de confinamento. Manhã calma e ensolarada. Fui até à varanda, contemplar. E foi aí que senti saudade. “Saudade é a presença da ausência.”Os quero-queros brigavam com um barulho gostoso se ouvir; o Pronto-Socorro sem movimento; o Espaço Cultural, paradinho como se não existisse. Do outro lado da praça a academia de ginástica estava fechada. Nada de movimento. 

Voltei o olhar para o Espaço Cultural Plínio Marcos, e foi aí que a saudade chegou. Lembrei-me dos dias maravilhosos em que nos conhecemos, convivemos, por um período curto, mas inesquecível e maravilhoso. Lembrei-me do momento edificante da Teia-2008. Um movimento cultural que nos deixou muitas lembranças enriquecedoras de um desenvolvimento cultural que não deveria ter sido esquecido nem largado às formigas da incompetência. Lembrei-me de momentos e pessoas inesquecíveis que nos fizeram muito bem. Um abração para todas as pessoas com as quais vivi momentos que me fizeram orgulhar-me do meu Brasil.

Pena que a cultura que deveria estar evoluindo como resultado daquele movimento esteja esquecida e desprezada.

Pessoas simples e de vida aparentemente desprezada, que conhecemos naqueles dias da Teia, plantaram, em mim, uma semente que brotou, cresceu e está me fazendo sentir-me beneficiado. Pena que nem todos os que participaram daquele momento estejam empenhados no desenvolvimento cultural. Mas, felizmente, os que se esquecem daqueles momentos são uma minoria. Mas mesmo assim pesam na balança do desenvolvimento educacional e cultural do País. 

Sinto-me encabulado por não estar mencionando alguns dos grandes nomes que, na sua simplicidade, enriqueceram muito aqueles momentos. Nomes que já estão esquecidos quando deveriam estar no currículo popular dos conhecimentos desse “Colosso Imenso, gigante de coração de ouro e músculos de aço” que é o Brasil. Vamos amar mais este País, e fazer com que ele nos tenha como filhos respeitados e respeitadores. 

Vamos cuidar mais de nossa cultura, buscando-a onde ela realmente está. Alimentá-la com nosso amor e nosso respeito ao que temos como motivo de muito orgulho. Por onde andam os Pontos de Cultura? Por onde anda o Emir Sader? E o Zé da Viola? Ou será que o Zé, e tantos outros no mesmo nível de simplicidade não representam a cultura do País? Pena que eu não tenha tanto espaço para os que deveriam estar aqui, mas foram silenciados. Pense nisso. 

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