Opinião

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Pra que educar se tá bom assim?

Afonso Rodrigues de Oliveira

“O povo que sabe demais é difícil de governar.” (Lao Tseu)

Lao Tseu falou isso, lá na China, seis séculos antes de Cristo. Será que ele estava pensando no Brasil de hoje? Porque me parece que é o que os nossos políticos pensam, hoje, em relação à educação do povo. E por isso ninguém tá nem aí para a educação. Ao que estamos assistindo nas ruas, hoje, como protesto à medida do Governo em relação à educação, leva-nos ao pensamento do Lao Tseu. Para que mudar? Isso nos tornaria difícil trabalhar. Acho que é isso que os brasileiros pensam, orientados pelos que estão na política, mas não conseguem ser político. Nossa Educação está no fundo do poço há décadas e décadas. Faz tempo que a política está afundando no poço da mente política brasileira.

 Eu vivi o desprazer de assistir a um debate político, aí em Boa Vista, em que um dos candidatos ao Governo era um ex-governador, conhecidíssimo. Caí na tolice de lhe perguntar o que ele pretendia fazer para melhorar o ensino nas escolas do interior de Roraima. A resposta do candidato, ex-governador, foi a seguinte: “Eu trago essas garotas do sertão do Ceará, para ensinar no interior, porque para ensinar a essas crianças do interior o professor basta saber ler e escrever.” Um político que tem um pensamento rasteiro como esse, não é político. Mas é considerado e venerado como tal. O que podemos fazer quando não podemos fazer mudanças?

Ou cuidamos de nossa Educação ou nunca seremos um povo civilizado para sermos cidadãos de fato.  Pelo que vejo, está difícil pra dedéu. Fica muito mais fácil e simples, ir para as ruas gritar e espernear, sem nem mesmo saber por que estamos esperneando. Vamos acordar e entender que sem mudanças não mudaremos. E as mudanças sempre exigirão esforços e sacrifícios. Já sabemos que para melhorar o nível da nossa Educação não basta criar mais escolas e faculdades, se não construirmos a Educação. E a construção da Educação começa no lar. E o lar para educar deve ser educado. O que indica que devemos começar, hoje e agora, a tarefa árdua, para que possamos educar os lares para que eles eduquem os que deverão ir para as escolas aprender para irem para as faculdades. Simples pra dedéu. Tão simples que não conseguimos entender.

A educação não depende só da escola, mas do professor preparado para a escola. E para educar nossos filhos, independentemente de eles estarem na capital ou no interior, o professor não precisa apenas saber ler e escrever. E não se aborreça comigo, porque eu tenho outros exemplos de despreparo na política, que levam sempre a Educação para o fundo do poço. Pense nisso.

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O novo cenário político em tempos de pandemia

A crise da Covid-19 redefiniu os termos e as peças do jogo político no Brasil. Durante o ano passado, o confronto era entre o poder executivo e a liderança do Congresso Nacional, normalmente em função das pautas de segurança pública e das questões morais da agenda de Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, o conflito progrediu para as atribuições orçamentárias do Congresso, situação na qual a Câmara ameaçou ampliar o seu poder sobre os gastos da União e retirar discricionariedade do Executivo. Essa disputa culminou nos atos em favor do presidente, em 15 de março. Em meio às pressões por isolamento social, esse ato não aparece sem custos, pois afasta o presidente da parte da população inclinada a seguir as recomendações médicas.

A partir da segunda quinzena de março, as medidas tomadas pelos governos estaduais para restringir a circulação abriram nova frente de batalha. Daí em diante, a disjuntiva saúde pública versus economia tem pautado as relações entre o Congresso e o Presidente. Do lado do Congresso se perfilaram os governadores e os profissionais da saúde. Ao passo que Bolsonaro conta com apoio mais aguerrido de seus apoiadores — que agora retornaram à guerra digital e às manifestações nas ruas —, somados com os comerciantes, eles próprios inflados pela narrativa presidencial.

O choque com os governadores não é um fato pequeno. Desde a redemocratização, os governos estaduais perderam importância na política nacional e tinham dificuldades de contar com apoio popular local em função das dificuldades impostas pelas leis de austeridade fiscal. Agora, diante da importância da coordenação das políticas de saúde estaduais e do afrouxamento das regras orçamentárias aprovadas pela Câmara, ganham mais espaço para protagonizar a superação da crise do novo coronavírus.

Em abril, o conflito com os governadores e o Congresso se expandiu para o interior do Poder Executivo federal. O ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, após oscilar entre as medidas mais rígidas de isolamento e o afrouxamento proposto pelo seu chefe, finalmente se alinhou ao discurso dos governadores e das autoridades sanitárias. A popularidade de Mandetta e o desafio às determinações de Bolsonaro (orquestrado pelos governadores) levaram à sua demissão, destacando mais um desafeto de Bolsonaro com elevada aprovação popular.

Não bastasse tudo isso, o último milagre da multiplicação de inimigos se deu em um gabinete longínquo das crises recentes. Bolsonaro quis trocar o cargo de diretor da Política Federal e viu Sérgio Moro — o seu ministro mais popular — se demitir, não sem antes dar uma entrevista estarrecedora sobre as pretensões do presidente sobre a direção da instituição. Diante da decisão inusitada de prosseguir com uma troca desgastante a essa altura, as especulações de que Bolsonaro prepara a sua blindagem para o impeachment começaram a crescer. A insistência na substituição na PF em plena crise da pandemia e crise de governo só faz sentido como uma estratégia defensiva, seja para monitorar investigações, seja para agradar setores do Congresso recém-chegados à marquise do Planalto. A seu favor, resta o apoio popular, estimado em um terço da população.

O paradoxo da atual situação é que o presidente não contava com uma pandemia quando resolveu governar de modo minoritário, sem apoio dos partidos no Congresso. À medida que essa conjuntura acelerou o seu isolamento político, é também o tempo da pandemia que ditará o ritmo da agenda política, deixando o impeachment em modo de espera. A sorte de Bolsonaro depende de como usará esse tempo.

Autor: Luiz Domingos Costa é professor de Ciência Política e integra o Observatório de Conjuntura do Grupo Uninter