Resista, Caimbé
Linoberg Almeida*
Ó Virgem Imaculada de Nazaré, que dá nome a uma das avenidas que delimitam o bairro, sinto-me envergonhado perante vós e cada um dos moradores por não poder fazer mais na função pública que desempenho pelo lugar de nome forte, abandonado à própria sorte. Logo a árvore, que da casca e folha fazemos chás para dores e inflamações, parece não curar a doença do poder público omisso e míope que empurra para debaixo do tapete problemas que têm solução.
Nem a princesa que promoveu, de jeito torto, a abolição da escravidão, escapa do caos no bairro. A artéria que o corta é retrato perfeito da falta de ordem pública na maneira de cuidar da cidade onde pessoas reais vivem.
Atolar de moto ou bicicleta por culpa de obra interminável, mal planejada, de quebra-quebra que não informa moradores, num esconde-esconde de valores gastos, numa ausência de diálogo entre estado e prefeitura, deixa foló amortecedor e paciência desgastada.
E não adianta pôr culpa nos e na Imigrantes. O bairro nasceu em cima de lagoa. Os anos passaram, e sem macro drenagem o solo segue encharcado. Chove pouquinho e já tufa os pés de MDF dos móveis da gente. Água não aceita desaforo. E vamos combinar que prostituição à luz do dia, tráfico de drogas é desaforo dos carrões de película escura que fazem o submundo lucrativo.
Gentes, pousadas, pensões fazem do lugar outrora tradicional passar por maus bocados.
Segura a bolsa, esconde celular, e pode ter quantos policiais ou guardas for que parece não ter jeito pro bairro casca grossa que até malária cuida.
Pau que nasce torto se endireita quando a política pública vira atividade específica desenvolvida em resposta a um problema social diagnosticado.
É conjunto coordenado de ações, tipo um programa de atuação estável, independente de quem ocupa a cadeira, com decisão racional tomada em um processo democrático e participativo de planejamento, que define objetivos socialmente relevantes a serem alcançados.
Ordenar a cidade é possível se buscarmos a produção de um ambiente urbano de qualidade e com uma melhor distribuição dos espaços entre os diversos usos que o disputam, tudo conforme o plano diretor.
Ah! Em Boa Vista, não temos plano diretor nem planejamento adequado da vida urbana. Pega o dinheiro em Brasília, ou dos seus impostos e se aplica por aí sem te perguntar como e o porquê.
Se era por falta de plano diretor, no Diário Oficial do dia 04 de maio apareceu a tomada de preço para um. Na mesma página, tem mais e mais dinheiro para Orla Taumanan e Parque do Rio Branco. Acabaram com o Beiral e empurrar diversos problemas sociais para o Caimbé. A política urbana tem que produzir cidades sustentáveis e justas. Cabe à cidade e à prefeitura planejamento que alie urbanismo às virtudes cívicas de quem nela vive.
Se não te perguntam o que deve ser feito, o bairro vai seguir sem creche, sem ônibus que presta, com terminal elefante branco e ciclovia inadequada com poucas bicicletas.
Nesse apagão, iluminação ruim, pouca transparência e dinheiro mal aplicado em reformas de péssima qualidade mostram seu preço. Você me elegeu vereador para identificar problemas e ser parte de processo contínuo de monitoramento e avaliação do impacto das ações da prefeitura.
No bairro, fiz 32 indicações sobre assuntos diversos. Até escola que sumiu na Dico Vieira reapareceu em obra que não andou. Sem pressão e participação não anda, mas cada um tem seu papel.
Confesso que além de ser ponte entre cidadão e prefeitura, aprendi muito sobre legislar e cobrar a aplicação da lei. A Constituição determina que a ordem na cidade seja feita com planejamento, está no artigo 30. Indica que o plano diretor é o “instrumento básico da política urbana”, está no artigo 182. E é esse tal instrumento, que não temos ainda, e que a prefeitura, em fim de mandato, pode por mais de um milhão de reais nas mãos de alguém que não conhece o Caimbé nem Boa Vista.
Melhor condição de vida da população se faz com muitas mãos. É claro que dá trabalho a criação e o fortalecimento de espaços públicos de verdade, mas só assim é possível reverter os maus usos da coisa pública. Você só vai ter um outro entorno da feira do Passarão ou uso mais digno do Ribeirão se arregaçar as mangas e tiver coragem de seguir em frente. Resistir como um caimbé, faça chuva ou sol, é coisa de boa-vistense valente. Amém?
*Professor e Vereador de Boa Vista
Ela vem para o bem
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Bendita crise que vai me ensinar o que é verdadeiramente importante.” (Mirna Grzich)
Não há motivo para desespero quando sabemos encarar os motivos. É só uma questão de saber analisá-los. Há sempre um motivo para o que acontece. Qual o motivo para a queda da alegria, quando deveríamos ser alegres, independentemente do acontecimento que bloqueia a alegria? Talvez o problema esteja conosco e não com o acontecimento. Ele vem e virá sempre. Uns para nos contentar, outros para nos entristecer. Tudo vai depender de cada um de nós. Já sabemos que tudo que acontece na vida faz parte da vida. Então vamos viver a vida, e não os acontecimentos.
Não sabemos quantos vírus ainda virão nos incomodar, no futuro. Então temos que encarar o atual como um treinamento para o do futuro. Então vamos pô-lo de lado e caminhar pelo lamaçal sem nos atolarmos. Vamos nos preparar para o futuro sem nos prendermos ao passado que será este presente. Simples pra dedéu. Não adianta ficarmos chorando quando deveríamos rir, para vencer.
A comemoração do dia das mães não foi tão festiva quanto deveria ser. Preocupamo-nos mais com o problema do que com a solução.
O que nunca irá resolver nenhum problema. A alegria é a maior defesa que temos para vencer a tristeza. Então vamos nos divertir. E só faremos isso quando aprendermos a não valorizar mais a tristeza. Viva o dia, hoje, para viver melhor amanhã. E quando nos deixamos levar pelo problema não conseguimos viver. Seremos os que passam pela vida, mas não vivem. E por que temos que ficar sempre nesse grupo?
Vamos ser sensatos na nossa defesa. Não vamos deixar que vírus nenhum nos torne inferiores a ele. Vamos seguir as instruções dos que nos orientam, mesmo que não acreditemos nas orientações. Mesmo porque os resultados virão posteriormente. Não precisamos temer o inimigo, mas respeitá-lo.
Estamos há vinte e uma eternidades sobre este Planeta em evolução. E ainda não evoluímos o suficiente para entender o que é evolução no Planeta. Não somos filhos dele, chegamos aqui e ficamos. Até quando vamos continuar nessa batalha, depende de cada um de nós.
Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo Racional. E não adianta ficar apelidando-o de céu. O que temos que fazer é prepararmo-nos para nosso retorno ao nosso mundo de origem
. E as crises fazem parte desse aprimoramento. Então vamos recebê-las como ensinamento e não como castigo do céu. Cada um de nós tem o poder de viver a vida que devemos viver. “O reino de Deus está dentro de nós.” Mas precisamos acreditar nisso para desfrutar o poder que temos sobre nós mesmos. Pense nisso.
*Articulista
95-99121-1460