Opinião

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O NOVO NORMAL NO PÓS-PANDEMIA

Luis Cláudio de Jesus Silva*

“Um homem não entra duas vezes no mesmo rio, na segunda vez não é o mesmo homem e nem o mesmo rio”. Essa frase é atribuída ao filósofo Heráclito e eu a escolhi por ilustrar bem o momento em que a humanidade tem que se preparar para quando a pandemia passar. Escrever sobre o novo normal no pós-pandemia parece precipitado, principalmente para os brasileiros e, mais ainda para nós roraimenses.

Para mim, em Roraima estamos chegando ao pico da pandemia, prevejo que, se nada for feito, se nenhuma ação enérgica for adotada, ainda teremos que conviver com momentos difíceis e de muitas perdas, até o mês de julho/2020. Somente a partir deste período é que poderemos experimentar as transformações sociais que moldarão nossas relações, mesmo com várias idas e vindas das medidas de isolamento. Mas, mesmo assim, resolvi me arriscar a refletir sobre as lições que aprendi no distanciamento social em que fui colocado e que penso, nos acompanharão pelo resto de nossas vidas. Do contrário, de que adianta passar pela pandemia se não levarmos nenhum aprendizado para o outro lado?

Vivemos um momento histórico e estamos num marco divisor entre o velho e o novo tempo, fomos arrancados da zona de conforto e devemos estar atentos para perceber as oportunidades desse momento. Para alguns, o fim da 1ª Guerra Mundial (1914/1918) marcou o fim do Séc. XIX e a pandemia causada pelo coronavírus, marcará o fim do Séc. XX, tal qual como antes, esse momento representará uma ruptura transformadora do nosso pacto social. A pandemia nos mostra uma sociedade tanafóbica que, sendo obrigada ao confronto com a morte, tende a dar maior valor a vida, o que é determinante para resignificarmos muitos de nossos conceitos e paradigmas. No pós-pandemia revisaremos novos valores pessoais e sociais, provavelmente seremos mais exigentes conosco e com as relações comerciais e de trabalho. Pelo menos no início, cientes de nossa fragilidade, daremos mais valor ao que fazemos com nosso tempo.

A internet mostrou sua importância para o bem e para o mal. Ao mesmo tempo que nos possibilitou vencermos o isolamento, nos aproximando de familiares e amigos, também tem servido para desinformar propagando fakenews. O novo normal impulsionará a economia criativa, a telemedicina, o trabalho remoto, o home officer, e outras formas relacionais apoiadas em plataformas digitais.

O que antes era experimentos, será regra na nova realidade. A sala de aula tradicional será frontalmente desafiada pelas novas formas de ensino tecnologicamente mais eficientes. A pesquisa científica e a medicina serão mais respeitadas e valorizadas. Estaremos mais exigentes com as medidas de higiene, as máscaras nos acompanharão como item básico, o álcool em gel estará disponível em todos os cantos e o saneamento básico será cobrado e mais valorizado.

O coronavírus se mostrou democrático e indiferente a questões demográficas. Porém, a democracia ficou na contaminação, não se registrando nas oportunidades de atendimento e tratamento. Isso reduzirá nossa aceitação a “necropolítica”, tratada por Achille Mbembe, seremos mais críticos cobrando mais inclusão e igualdade no trato com a sociedade marginal, empatia e solidariedade nortearão nossas relações, pois precisaremos crescer conjuntamente. Hoje, sabemos que eles existem e valorizaremos o entregador do delivery, o gari… a importância heroica do médico, do enfermeiro, dos técnicos e auxiliares, do fisioterapeuta, do assistente social e dos profissionais da segurança pública. Os filhos sem creches e escolas ensinarão aos pais o valor que tem o professor.

Nosso Sistema Único de Saúde (SUS), que sempre foi subfinanciado e vítima da corrupção, nos mostrou o quanto somos dependentes e que devemos valorizá-lo e cobrar mais atenção de nossos gestores. No pós-pandemia também teremos as operações contra os políticos corruptos que usaram desse momento para saquear os cofres públicos por meio de compras superfaturadas. Hoje, sabemos a importância de elegermos gestores com capacidade de liderança para os momentos de turbulência.

100 anos nos separam da pandemia causada pela Gripe Espanhola e, se quisermos ver o novo normal pós-corona, não podemos repetir os mesmos erros de então. Na pandemia anterior, também houveram pressões contra o isolamento social, manifestações pela reabertura do comércio, teve até a “Liga Anti-Máscara”. Como resultado, em 1918, perdemos 35 mil brasileiros que não testemunharam as transformações sociais.

Posso estar sendo muito otimista, mas, não sei ser diferente. Acredito que o pessimista já sucumbiu e não sabe.

*Professor universitário, Doutor em Administração.

www.professorluisclaudio.com.br

VAMOS EDUCAR

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira.”

Eu li essa frase exposta aí encima, no meu caderno escolar, quando eu ainda era criança. Demorei muito a perceber o porquê de ela me encantar tanto. Mas, mesmo assim continuei preso à sua beleza. Só uma boa educação pode educar o aluno para que ele seja o que é, mas dentro da educação. O que, com certeza, melhoraria a educação. O comportamento social depende da educação. Sobretudo da educação familiar. Porque a educação se inicia dentro de casa. E, infelizmente, isso não está sendo considerado, hoje, porque ela, a educação, vem naufragando há muito tempo.

As mudanças ocorridas no nosso sistema de ensino têm sido sempre para baixo. Ainda no início da década dos sessentas, um “intelectual” paulista entrou na televisão com a proposta de mudança na letra do Hino Nacional Brasileiro. E acreditem, o argumento do intelectual era que a letra do hino é clássica e os jovens não a entendem. E o mais decepcionante é que a televisão levou esse absurdo ao ar. Mas foi na mesma época em que foi retirado do currículo escolar, matérias como, Moral e Cívica. 

Já tivemos um governador que numa reunião política, quando lhe perguntei o que ele faria para melhorar o ensino no interior do Estado, ele respondeu: “Para ensinar essas crianças no interior, o professor só precisa saber ler e escrever.” Um bom exemplo de como a educação está no fundo do poço. E como queremos que o nosso País progrida quando a educação não ajuda? Como queremos ser cidadãos, se ainda não sabemos, porque não nos ensinaram, como devemos votar para a formação de uma cidadania? Enquanto não formos um povo realmente educado, não seremos cidadãos de fato e de direito.

Não podemos nem devemos esquecer os absurdos praticados pela nossa política na nossa educação. Ainda não aprendemos, porque não fomos educados, que o progresso não está na acomodação. Também já tivemos batalha pública, incentivada e divulgada, sobretudo pelos meios de comunicação, para não se hastear mais a Bandeira Nacional, pelos alunos nas escolas, porque as jovens se sentiam constrangidas. E não estou inventando estórias, tudo isso está fazendo parte da nossa história. Infelizmente. Mas vamos fazer nossa parte. Vamos cuidar mais da nossa educação, cuidando mais da nossa responsabilidade nas eleições. Alguém já nos disse que “Os poderes não cuidam da educação porque a educação derruba os poderes.”

Vamos nos cuidar mais. Vamos amadurecer para elegermos políticos instruídos e responsáveis para
que eles façam por nós o que estamos fazem por eles. Pense nisso.

*Articulista

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95-99121-1460