Opinião

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Pinóquio e o Grilo Falante

Linoberg Almeida*

Todo mundo conhece a história do Pinóquio e seu nariz de madeira que não consegue esconder de ninguém quando faz algo errado. Mesmo sem fadas, precisamos encontrar coragem e agir de forma honesta e verdadeira. Se te contam que temos o “maior volume de obras da Amazônia”, está na cara que é uma hipérbole, a figura de linguagem do exagero, que no fundo quer esconder a realidade de quem não vai contar cada obra, de cada um dos nove estados que estão na região amazônica. Ninguém transforma com responsabilidade a vida das pessoas com falsas verdades.

No último dia 24, num intervalo de 30 minutos, a página oficial da prefeitura e um jornal de grande circulação noticiaram que “recursos destinados a obras só podem ser utilizados na infraestrutura” e “não podem ser usados em saúde”. Ambos com “base” na Constituição, Código Penal, Lei de Responsabilidade Fiscal e uma fala de secretária para reforçar credibilidade na informação. Só que quando é do interesse da prefeitura, ela dá nó em pingo d´água. Faz inclusão de ação no orçamento quando quer, manda ao legislativo leis orçamentárias com pouca amarração, flexíveis ao que é de seu interesse e com programas e ações que nem sempre condizem com a realidade. A distância entre o planejado e o executado é que dá ao orçamento essa cara de faz de conta.

Para dar uma de joão sem braço o poder público não te lembra que orçamento é lei, e que recursos públicos podem sim ser remanejados desde que haja autorização da Câmara de Vereadores. Ora, quem quer tratar de orçamento com responsabilidade é calado com 108 “nãos” a emendas que atenderiam os calos da população. E olha que quem faz a pergunta “por que asfaltar, fazer calçada e não comprar remédios?” não é leso. Se tem doente em casa, paro a obra, deixo de comprar TV nova e cuido de quem amo, não é? Mas, pago a luz, a água, a parcela da casa… Não somos bobos. Sabemos que FUNDEB, FNDE, fundos do SUS, convênios, contrapartidas, empréstimos são diferentes de recursos próprios, como os mais de 30 milhões na Orla Taumanan. Aqueles, com regras rígidas; estes, dependem da visão do gestor.

Só para reforçar, a transferência de recursos de uma área para outra é permitida desde que haja previsão da verba em lei, e como é lei, vereadores devem autorizar essa mexida. Eu mesmo fiz emenda no orçamento, que foi negada por vereadores e executivo, e meses depois, prefeitura manda projeto como se ideia fosse dela. Na verdade, faltou planejamento e humildade a quem fez pouca vaga em creches, perdeu escola, devolveu dinheiro de unidade básica de saúde, prefere ex a atuais legisladores e não ouviu vereador quando disse lá atrás da necessidade de reforçar times de profissionais da saúde.

Não há disputa de narrativas. Eu como cidadão estou cansado de ser enganado. Se tudo fosse como manda a lei não tinha gestor condenado por improbidade governando; não teríamos 8 ônibus novos e um semi-novo escondidos (à espera sei lá do quê) como se nossa mobilidade urbana fosse boa, isso depois de 65 milhões de reais que iam “transformar a cidade”, de 47 milhões de reais para iluminação pública, que quase 3 milhões destes já foram para terreno de 10ha, de ex-secretário, em área de expansão urbana, com preço fora da realidade, ambos emprestados na Caixa. Dinheiro não aceita desaforo e quem paga a conta somos todos nós.

Está no diário que pegaram 7,3 milhões de reais no Ministério do Turismo para colocar “Selvinha Amazônica” artificial no Parque do Rio Branco. Cortaram árvores de verdade para do elevador você admirar o que a ganância do homem pode fazer. Esse dinheiro não dá pra comprar remédio, mas daria para qualificar turismo sustentável, com valorização de agentes, aproveitamento de nossas características étnico-culturais, gastronomia, hospedagem, potenciais rural e indígena, qualificação das informações turísticas… Eu não sou turismólogo, mas sei que precisamos ajustar e capacitar na pandemia, e quando ela passar, fazer do nosso lavrado um destino. Pena que as prioridades são outras, como bem mostra o processo nº 009194/2020.

Eu e você sabemos que Pinóquio não ouviu o grilo falante e deu no que deu. O grilo estava sempre apontando, fiscalizando o caminho. Princípios e valores dizem muito sobre quem somos e para onde vamos. A mentira tem perna curta, mas você precisa fazer um esforço e deixar de ser expectador e espectador, pois nem sempre Gepetto e o peixinho estarão na barriga da baleia para te guiar de volta à verdade. Quem avisa cidadão também é.

*Professor e Vereador de Boa Vista

Entendo o Business Value

Leonardo Costa*

Os projetos são meios para atingir fins por meio de empreendimentos temporários. Esse é conceito bem simples e que pode definir muito bem o que é um projeto. Em geral, esse projeto, faz a organização avançar na direção dos seus objetivos organizacionais. Nenhuma empresa executa projetos apenas por diversão, mas sim para obter benefícios, o que chamamos de business value.

Os benefícios devem estar descritos no Termo de Abertura ou Business Case, se houver. Esses benefícios devem ser compreendidos e quantificados para que possam ser acompanhados, revisando periodicamente a justificativa do projeto. Em empresas privadas, business value é, geralmente, medido utilizando-se indicadores financeiros como retorno sobre investimento e valor presente líquido, por exemplo. Entretanto, o valor de negócio pode envolver outros tipos de benefícios como ganhos de imagem, eficiência e resultados não financeiros. Organizações governamentais, por exemplo, devem definir seus objetivos estratégicos e medidas de desempenho a partir dos serviços que elas prestam. Analogamente, organizações não governamentais, e outras sem fins lucrativos, precisam definir suas métricas relacionadas aos benefícios desejados.

Como exemplo, vamos supor um projeto dentro de “Programa Nacional de Desenvolvimento”. Esse projeto fictício consiste em aumentar a capacidade de um aeroporto brasileiro. Possíveis benefícios:

– Duplicar a capacidade de escoamento de carga no aeroporto ABC;

– Reduzir em 20% os custos de manutenção.

Agora vamos fazer um exercício mental pensando em uma ONG fictícia chamada “Casa das Meninas”. Será que os projetos de uma ONG devem possuir business value? Em caso afirmativo, o que seria esse valor de negócio, já que a organização não tem fins lucrativos? A resposta à primeira pergunta é sim. Para responder à segunda pergunta precisamos obviamente pensar nos benefícios associados aos projetos da “Casa das Meninas”. A missão do “Casa das Meninas” é “facultar o desenvolvimento integral e bem-estar de crianças, adolescentes e jovens, apoiar as famílias e promover a comunidade, tudo fazendo com amor!”.

Para cumprir sua missão, a “Casa das Meninas” também deve executar projetos, alinhados com seus objetivos. Pensando nessa organização, imaginemos alguns projetos e seus respectivos business value.

– Projeto: Padrinhos da Educação:

Aumentar em X% o número de voluntários;

Aumentar a receita de doações em Y%;

Aumentar em Z% o número de crianças atendidas.

– Projeto: Música na Educação Infantil:

Incentivar criatividade e gosto musical;

Reduzir em Y% o absenteísmo das crianças;

Aumentar o interesse e comprometimento das crian
ças;

Aumentar em X% o desempenho escolar.

Projetos devem impulsionar mudanças nas organizações. Ou seja, para sair do estado atual e atingir um estado futuro desejado. Em geral, podemos classificar o contexto dessa mudança quatro grupos de fatores:

– Cumprir requisitos regulatórios, legais ou sociais;

– Atender a pedidos ou necessidades das partes interessadas;

– Implementar ou alterar estratégias de negócios ou tecnológicas;

– Criar, melhorar ou corrigir produtos, processos ou serviços.

É nesse contexto que devemos saber onde está o valor de negócio que estamos empreendendo. Em grande parte das vezes, o business value não é um bem tangível, mas intangível e esse é um conceito único para cada organização, englobando valores tangíveis (ROI, VPL, instalações etc.) e intangíveis (imagem, competências, know-how etc.). Cada organização deve mesurar o que espera e o que obtém de cada projeto.

O valor de negócio é único para cada organização, devendo ser bem definido e compreendido. Em última instância, o aumento do valor de negócio é o objetivo final de qualquer organização, com ou sem fins lucrativos. O alinhamento estratégico dos projetos depende de suas contribuições na direção da definição de sucesso da organização e isso sempre deve ser o seu maior valor.

*Professor especialista em Planejamento Estratégico e PMP

E-mail: [email protected]

(92) 99292-1112

Veja com seus olhos

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“São os olhos dos outros, e não os nossos, que nos arruínam. Se o mundo inteiro, menos eu, fosse cego, não me importaria com roupas finas e belas mobílias.” (Benjamin Franklin)

É inconcebível que vinte e uma eternidades depois que chegamos por aqui, ainda estejamos agindo como os trogloditas primitivos. Ainda permitimos que os olhos dos outros façam com que vejamos as coisas como eles querem que vejamos. Naquela de, matar os negros porque são negros; desprezar os dos morros porque são pobres. Porque ainda é assim que vivemos. Ainda não aprendemos que precisamos nos educar para sermos o que realmente somos. Porque somos, todos nós, da mesma origem. Tudo que nos falta é uma educação no caminho da racionalidade.

Faz algum tempo que tentei passar essa mensagem por aqui, em Boa Vista. Tentando levar a mensagem das Relações Humanas no Trabalho e na Família. Mas o assunto pareceu vulgar. A simplicidade, que é fundamental no relacionamento, foi vista como inútil. Não fomos capazes, no entendimento, de observar que os erros estão nos seres humanos e não em sua nacionalidade ou raça. Ainda continuamos nos preparando para o trabalho, ignorando o relacionamento profissional e social. Ainda não entendemos que o policial, por exemplo, sempre foi preparado para o bandido, quando deveria ser preparado para o cidadão. Ele sai para a rua, preparado para combater e não para proteger. Simples pra dedéu.

Em minhas simples palestras, sempre usei como exemplo o comportamento entre o policial carioca e o policial paulistano. Eram comportamentos totalmente diferentes e que indicavam o certo sem se saber que estava certo. Populações cresceram, a droga tomou conta das ruas e o policial carioca foi treinado. E quanto maior for o treinamento e o preparo, mais desequilíbrio nos comportamentos. Porque o policial é preparado para combater, e não para proteger. E por isso não adiante você ficar gritando, protestando, e fazendo baderna. Vamos nos preparar independentemente da profissão, para proteger sem combater. As guerras nunca nos levaram, nem nos levarão, ao progresso.

Vamos refletir sobre a importância de crescermos politicamente, para podermos ser uma civilização civilizada. E nunca conseguiremos isso sem uma boa Educação. E sem esta nunca teremos paz, onde quer que estejamos. Vamos nos educar. E não será possível sem o entendimento das relações humanas. Sem ela nunca nos respeitaremos uns aos outros. Haverá sempre negros e brancos, ricos e pobres. Um campo de batalha onde a igualdade nunca pousará. Estaremos sempre olhando com os olhos dos outros. Pense nisso.

*Articulista

E-mail: [email protected]

95-99121-1460