Opinião

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O NOVO NOVO

Ana Zattar*

Não estou lembrada, em meus anos de vida, de ter aprendido tanta coisa em tão pouco tempo. Em minha memória não surge nenhum indício de ter me lançado a tantos desafios, privações e com toda a certeza, galgado tantos degraus e vivenciado situações de superação.

De um dia para o outro, a rotina de cada um de nós, professores, mudou drasticamente. Toda aquela movimentação do mundo da educação, de repente, ficou resumida ao nosso espaço doméstico. E dali, do cenário improvisado, com os requintes da decoração caseira e sujeitos aos acontecimentos da rotina da casa é que as aulas e o trabalho do professor se desenharam, ganharam forma e conteúdo, chegando na casa de milhares de pessoas.

Apesar de todos os aplicativos, programas e eteceteras que permitiam a comunicação, as aulas à distância, ainda, pela falta da necessidade, não eram de domínio do corpo docente brasileiro (e talvez do mundo, arrisco dizer). Fomos dormir analógicos, com o giz e apagador na mão, e acordamos digitais, gravando videoaulas. Querendo ou não, era o que tínhamos para o momento… Google Meet, Microsoft Teams, Streamyard, Hangout, chromakey e muitas outras ferramentas que antes eram apenas um desconhecido ícone em nossa barra de possíveis tarefas se tornaram nossos melhores amigos de todos os dias. Da noite para o dia, tivemos que nos reinventar para não deixar de atender a nossos alunos. Caímos de paraquedas nessa sopa de tecnologia. A mesa de trabalho virou cenário, o celular um importante equipamento de gravação e edição de vídeo e nós, professores, atores principais da grande novela da educação.

Trocamos dicas e ideias entre nós, procurando achar a melhor alternativa nesse período que teve data para começar e não tem ainda data para acabar. Nossas vulnerabilidades fortaleceram os laços de equipe. Também tivemos que deixar de lado o abraço para encontrar nossos alunos e colegas apenas virtualmente.

As salas de nossas casas viraram estúdios de produção, onde somos sempre protagonistas da história, com direito, de vez em quando, a participações especiais de nossos filhos, cônjuges e até do cachorro ou do gato, que vez ou outra roubavam a cena e a atenção dos alunos. Essas situações trouxeram leveza e humanizaram esse momento tão peculiar. Por inúmeras vezes foram o foco do atento público pela afetividade que estava contida nas entrelinhas da cena principal. O professor foi visto como ser humano – mais mensagens nas entrelinhas.

Então, o que aprendemos com essa vivência do isolamento?

Provoco a reflexão para esse grande e importante momento de aprendermos a ler mais do que palavras e textos. Devemos desenvolver a sensibilidade da leitura de mundo, analisando as situações que a nós se apresentam, as possibilidades. Repensar o velho que deve ser deixado para trás, sem dó, e a oportunidade da experimentação do novo que está batendo na nossa porta. É um momento de pausa. De ralento. É a trilha para o novo eu, o novo nós, o novo mundo, o novonovo.

*Professora do curso de Educação Física – Área de Linguagens Cultural e Corporal do Centro Universitário Internacional Uninter

BATENDO NA TECLA

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Era hora de possuirmos escolas incomuns, para que não abandonássemos nossa educação quando começamos a ser homens e mulheres.” (Henry David Thoreau)

Estamos batendo nessa tecla porque me sinto incomodado com o descaso que vimos dando à nossa educação. E isso vem de longe. Mas não vamos nos cansar para poder parar. Estamos vivendo uma evolução técnica incomensurável. Tão grandiosa que não conseguimos acompanhá-la. Estamos nos deixando levar pela vulgaridade, que continuamos confundindo com simplicidade. Exemplos estarrecedores, para quem presta atenção estão vindo, diariamente, pela comunicação televisiva.

Não estamos querendo ser crítico. O problema é que o assunto é muito mais sério do que imaginamos. Mas, ontem assisti a uma entrevista com o cantor e compositor Djavan. Encantei-me com uma declaração que ele fez ao entrevistador. Ele disse que sua maior preocupação é levar a língua portuguesa para o mundo. Coisa que nunca eu tivera oportunidade de ouvir de quem canta, fala, ou divulga mundo afora. Adorei. O descaso pela nossa língua nos meios de comunicação está preocupante. E antes que você se encuque, explico. Recentemente ouvi, no encerramento de um programa televisivo, o âncora dizer. “No próximo domingo estamos de volta.” Preciso falar mais? Não, não precisa. Milhões de jovens e estudantes ouviram esse despropósito. E com certeza, nem observaram, porque não perceberam. E não perceberam porque ouvem isso todos os dias, até mesmo nas escolas. E não estou exagerando. Já lhe falei do dia em que estávamos minha netinha e eu, arrumando meus livros na prateleira. De repente eu lhe falei:

– Pegue aqueles pra eu colocá-los aqui.

Ela pegou os livros e veio meio encabulada. Parou e falou:

– Vô… Eu falo assim porque o senhor fala. Mas minha professora me disse que o certo não é pra eu pôr aqui, mas pra mim pôr aqui.

Apenas sorri, porque foi triste, e falei pra ela:

– Tudo bem. Quando você estiver perto de sua professora, fale pra mim pôr, mas quando estiver longe dela, fale pra eu pôr. Tá?

– Tá, vô.

E olha que minha netinha estudava numa escola particular e renomada. E como falei, o problema vem de longe. Já tivemos um intelectual paulistano que fez campanha pela televisão, para que mudássemos a letra do Hino Nacional Brasileiro. E o argumento era: a letra do hino era clássica e os jovens não a entendiam. E isso foi na mesma época em que li no caderno de um dos meus filhos, e vi o Acre como território federal. Alertei a professora que o Acre era Estado e não Território. Ela me mandou um recado dizendo para eu não atrapalhar o trabalho dela. Pense nisso.

*Articulista

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