SOBRE AS DIFICULDADES DE LER, HOJE
Cleber Araújo Cabral*
Ler, do latim legere, quer dizer escolher captar com os olhos. Mas esse gesto é tão antigo quanto o ser humano. Começamos lendo a natureza, o céu, o sol e as estrelas, para nos orientarmos nos caminhos do dia, da noite e da passagem dos dias. Depois, passamos à leitura dos alimentos e dos animais, distinguindo um fruto verde de um maduro, um venenoso de um benéfico, os selvagens e os amigáveis. Aos poucos, passamos a perceber, também, os sinais de quando alguém está saudável ou doente, feliz ou triste. Por fim, inventamos meios de escrever nossa interpretação do mundo em linguagens, imagens, símbolos.
Em comum, esses gestos nos mostram que somos criaturas leitoras, que percorremos o mundo e a nós mesmos como textos. Ler, por ser verbo, sinaliza um movimento de abertura, descoberta, exploração, viagem. Para quê? Guiarmo-nos nos caminhos do livro da vida, obra sempre provisória, continuamente reescrita, ora a borracha, ora a lápis. É por meio da leitura e da palavra que compreendemos nossa realidade e, por meio de palavras, nos entendermos.
Mas, e quando não conseguimos ler, ou o mundo se torna ilegível? O que essa dificuldade diz de nós, do tempo e do mundo nos quais vivemos? Gostaria, a partir de um conjunto de situações de leitura e de imagens do leitor, que prestemos atenção, também, nas dificuldades de perceber e compreender o que lemos. Por qual motivo? Pelo fato desses momentos serem tão instrutivos como aqueles em que conseguimos olhar ou falar sobre o que apreendemos de uma situação, página ou pessoa.
Muitos já abordaram as relações e impactos das tecnologias digitais na cultura do impresso e, por extensão, em como escrevemos e lemos. Fato é, nossa leitura, hoje, é mais acelerada e fragmentária do que era há 10 anos atrás. Isso se deve a vários motivos, sobretudo à ampliação da velocidade que produzimos e fazemos circular informações. Disso decorre um problema: essa aceleração da criação de conteúdos modificou as formas como atribuímos sentidos para o que lemos e, por extensão, aos modos que relacionamos essas informações à nós mesmos e à realidade ao nosso redor. Que tipo de leitor e de leituras essa aceleração tem produzido?
O escritor Alberto Manguel, inventivo explorador de lugares imaginários, propõe três figuras para pensarmos a história do leitor e das leituras: o viajante, a torre, a traça. O primeiro percorre as páginas para descobrir o mundo. O segundo, se isola da realidade para a ler de longe. O último, tem fome de livros, mas muitas vezes se alimenta deles sem os digerir. Cada um deles encontra nos textos um ponto de partida para explorar o universo de formas diferentes. Como essas metáforas se relacionam com o contexto atual?
A traça se transforma em grilo, que pula de página em página, de aba em aba, de link em link, sem se demorar naquilo que lê/vê. O viajante, agora, transita não mais pela floresta de tinta, mas pelo oceano digital, a observar terras em constante atualização, passando de ponto a ponto da rede, parando apenas para um print ou selfie, aqui ou ali. A torre deu lugar à casa, refúgio no qual, a partir de telescópios, ora portáteis, como os smartphones, ora fixos, como as telas, permitem ver o mundo, mas sem os riscos da aproximação e do contato. Em comum, são leitores que experimentam pouco daquilo que leem, que não se demoram naquilo que as paisagens e as pessoas, com as quais têm contato, podem oferecer.
Só conseguimos ler ao percebermos as conexões entre textos e pessoas. E isso demanda não só envolvimento, mas disponibilidade. Dedicar tempo para ler é escolher compreender a si mesmo e as realidades nas quais se vive. Nesse ponto, a leitura é um convite ao reencontro com o mais próximo e distante de nós, no tempo e no espaço, seja o mundo fora de casa, seja a palma de nossas mãos. Se não conseguirmos ler, isso diz de nossa dificuldade de conexão com o que está ao nosso redor, apesar de hiperconectados. Cada texto amplia as nossas perspectivas, muda nosso olhar para os universos ao nosso redor. Retomando as metáforas do mundo como livro e da vida como viagem, lembremos que elas nunca permanecem as mesmas. Portanto, nos modifiquemos, também, envolvendo-nos, demoradamente, com os habitantes, as histórias, as paisagens e as palavras que encontrarmos em nossas jornadas.
*Doutor em Estudos Literários, professor do curso de Letras do Centro Universitário Internacional Uninter.
SERIA BOM
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Se a criança fosse ouvida
Se o velho fosse amado
Se a vida fosse querida
Se a morte fosse gostosa
Se a arma fosse esquecida
Se a bruxa fosse bondosa
Se a guerra fosse contida
Se a escola fosse educada
Se a saúde fosse sagrada
Se a arte fosse adotada
Se o ódio fosse banido
Se o amor fosse eterno
Se o terror fosse vencido
QUE BOM SERIA.”
(Sebastião Pereira do Nascimento)
Sebastiao, um abração do tamanho do mundo pra você. Como eu gostaria de abraçá-lo pessoalmente. Como foi bom acordar e ler sua sabedoria sobre como viver para viver. Há tanta coisa simples que as complicamos no nosso dia a dia mal vivido. Mas deixa isso pra lá e vamos viver. Um abração com carinho e respeito numa amizade construída e mantida há décadas.
Estou vivendo um descontrole, na alegria da amizade. O constrangimento por não poder abraçar grande amigos e amigas, mantêm-me num isolamento grotesco. Mas tudo passará. Nada é eterno nesta Terra. Nem mesmo o amor. Mas nada mais importante do que amar. E devemo
s amar os amigos como se eles fossem uma família. Porque é o que eles são.
Vamos nos aperfeiçoar na nossa condição de construtores da felicidade. E nunca o seremos enquanto ficarmos perdendo tempo com o que não nos faz feliz. Então larga isso pra lá e vamos viver a simplicidade que é de sonde vem a felicidade. Nada é tão importante nem tão significante para mexer nem destruir nossa felicidade. Todo o poder de que necessitamos está em nós mesmos.
Que bom seria se prestássemos mais atenção ao positivo. Todos nós, independentemente da condição social, profissional, ou, seja qual for, estamos na mesma caminhada para a evolução racional. Mas continuamos apenas como animais racionais. Os resultados positivos ou negativos dependem dos nossos pensamentos. O que não é tão fácil, mas é muito simples. É uma questão de desenvolvimento racional. E aqui vai uma sugestão: reflita sobre isso, mas nunca confunda os ensinamentos racionais com religião, filosofia, ou coisa assim. É apenas o caminho da racionalidade.
E é nessa simplicidade que eu mando um abração carinhoso para as poetisas, as quais admiro com carinho incomensurável: Roberta Cruz, a saudosa Rosilene Santos e a queridíssima Neide Rodrigues, minha prima, poetisa, cantora, e grande compositora. E além delas, a minhas amigas do coração.
A manhã foi de um dia propício a encontros à distância. Porque a distância não tem significado no amor à distância. Que é o que tenho por todos os amigos e amigas. Pense nisso.
*Articulista
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