O caos na saúde e a iminência de uma CPI – Flamarion Portela
Há muito tempo a saúde em Roraima está, literalmente, na UTI. Já não bastassem as dificuldades financeiras pelas quais o Estado vem passando há anos, que já deixou as estruturas sucateadas e com falta de equipamentos adequados, remédios e insumos para a realização das mais simples cirurgias, a crise migratória que trouxe milhares de venezuelanos para cá, fez aumentar ainda mais o caos.
Diariamente, vemos sendo divulgado, nos mais diversos meios de comunicação e em redes sociais, o descontentamento da população, que não consegue um atendimento de qualidade nos hospitais públicos, enfrentando muitas vezes longas filas para conseguir uma simples consulta. Muito embora tenhamos um número considerável de unidades de atendimento em saúde na capital, isso não acontece nos municípios do interior, que, sem estrutura adequada, acabam transferindo a maioria dos pacientes para Boa Vista, superlotando ainda mais os hospitais, que já não conseguem atender tanta demanda.
Vivemos numa situação tão complicada, que se tornou comum se fazer algum tipo de ação como rifas, bingos, feijoadas, vaquinhas on-line, para arrecadar fundos para tratamento de saúde fora do Estado, porque as pessoas não conseguem receber um atendimento adequado por aqui, devido à falta de estrutura.
E todo esse caos se reflete também na insatisfação dos próprios servidores da saúde, que sem condições adequadas de trabalho se sentem impotentes por não poder fazer nada para levar um atendimento de qualidade à população.
Mas, algumas perguntas precisam ser respondidas para que possamos entender o que levou nossa saúde a chegar a esse estágio tão deplorável. Para onde foi o dinheiro do SUS (Sistema Único de Saúde)? Onde foi aplicado o dinheiro de tantas emendas parlamentares? O que fizeram com tantos recursos que são destinados à saúde?
O abandono do cargo pelo ex-secretário estadual Ailton Wanderley foi uma demonstração de que o caos está estabelecido de forma crônica em nosso sistema de saúde.
Logo após pedir exoneração do cargo, o ex-secretário publicou numa rede social que a Saúde está mergulhada num pântano e culpa a corrupção pelas mazelas, tratando-a como “um verdadeiro câncer, que destrói toda a sociedade e os seus valores morais”. Ele chega a sugerir uma intervenção federal como a única forma de se retomar um atendimento de qualidade para a população.
As declarações do ex-secretário tiveram uma grande repercussão em todo o meio político local, a ponto de alguns deputados estarem propondo uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias. O recolhimento de assinaturas já está em trâmite na Assembleia Legislativa.
O povo de Roraima não aguenta mais tanto desmando com o dinheiro público. A corrupção está matando nossa gente pela falta de atendimento adequado na saúde. Está mais do que na hora de dar um basta em tanta corrupção.
*Ex-governador de Roraima
A Educação e a violência – Parte I – Selma Mulinari
Assistimos com muito pesar aos acontecimentos dos últimos anos referentes ao aumento de violência acontecendo dentro das escolas de todo o mundo. Foram massacres, atentados, violência de alunos contra o professor e contra funcionários, violência de professores contra alunos. Essa realidade tem várias facetas e envolve o adoecimento da sociedade, o adoecimento do sistema educacional, o adoecimento da família e a crescente onda de violência que assola a todos nós.
Quero iniciar falando do adoecimento da família, primeira instituição que convivemos e que é responsável pelo primeiro ciclo de formação e educação do ser humano. O que está acontecendo com essa instituição tão importante para todos nós? Daí, vamos falar do antes e do depois e das mudanças da sociedade. No antes, tínhamos mulheres que realmente queriam ser mães, tinham tempo para ser mães, queriam se dedicar à criação de seus filhos, eram mães presentes. Com isso, tínhamos crianças que viviam no mundo real, presentes, sabendo o seu limite e tendo deveres e obrigações. As crianças jogavam bola no quintal ao vivo e em cores, assistiam a programas de TV e brincavam de videogame com os amiguinhos presencialmente e falavam com os pais também ao vivo e em cores. Era comum receber em casa os amiguinhos dos filhos que vinham para o fim de semana.
Com a ativa participação da mulher no mercado de trabalho e a falta de compreensão dos pais de que, além de dividir tarefas de casa, eles ainda têm que dividir a responsabilidade com a educação e o cuidado com os filhos, vimos o afrouxamento na educação das crianças já desde a mais tenra idade. Vimos a terceirização da ação de cuidar, de estar presente, de brincar, acalentar as crianças.
Sabemos que o mundo mudou, mas tem coisas que não mudam. A responsabilidade em família é uma dessas coisas, a opção em conceber é outra dessas coisas. Somente à mulher cabe essa decisão, portanto deve ser tomada quando bem amadurecida. Quando a mulher se sentir segura e, principalmente, quando achar que tem condições de exercer plenamente a maternidade, cuidando e protegendo a sua prole.
Hoje, com o advento da terceirização dos papéis, vemos as crianças serem criadas e educadas por babás. Essa é uma ajuda bem legal. A babá pode e deve ser uma solução para mulheres que trabalham e que vão se sentir mais seguras tendo uma profissional para realizar os cuidados com a criança enquanto a mãe está fora. Mas nunca vai substituir a mãe.
Atualmente, vemos as crianças crescerem já participando do mundo midiático, eletrônico. Crianças que ainda não aprenderam a falar vivem em frente a televisores, crianças que mal andam e já estão com um tablet na mão, crianças que ainda nem chegaram à idade escolar e já têm celular. Daí advêm os problemas. No lugar do colo dos pais estão os eletroeletrônicos, no lugar do livrinho de estória e dos pais ninando a criança estão os personagens do desenho animado.
Quando a criança passa para a adolescência, ela já está acostumada ao isolamento, à ausência dos pais, à constante companhia de um aparelho que o conecta com o mundo, ao mesmo tempo em que o isola da família, fazendo dele um alienígena dentro do quarto.
Quando o adolescente passa para a categoria de jovem, e às vezes até bem antes, começam os problemas psicológicos, que muitas vezes passam despercebidos pelos pais. Drogas, mutilações, desvios de conduta, desvios de caráter, depressão são os problemas mais comuns. Muitas vezes, a família nem percebe, até que aconteça um problema bem grande.
Muitas vezes, a escola é uma grande parceira nessas vivências, outras vezes pode ser justamente a mola que vai se mover e desestruturar tudo na cabeça desses meninos e meninas frágeis. O sistema educacional brasileiro não favorece as crianças, não oportuniza os adolescentes nem valoriza os jovens.
A escola brasileira está agonizando, não consegue dar uma formação adequada nem abrir oportunidades para que os alunos, independentemente da idade que estejam, desabrochem e floresçam. Vivenciamos alguns exemplos em que isso acontece, mas são casos isolad
os, por iniciativa de um bom gestor ou de um professor antenado.
Aliás, o profissional da área de educação nunca precisou tanto de valorização e de incentivo. De investimento na área de formação e capacitação continuada. O professor, então, está cada dia mais confuso e equivocado. Esquecendo-se de seu papel primordial, ensinar, repassar conhecimento, orientar os seus alunos e formar cidadãos capazes de exercer com dignidade suas profissões. Afinal, a escola existe em função do aluno, para o aluno e não o contrário.
A profissão de professor cobra um constante aprendizado, que vai além da formação universitária. A cobrança é de uma formação continuada, que leve esse profissional a estar sempre atualizado e assim mesmo ainda vai ser difícil. Cabe ao professor à atitude de mestre, de exemplo a ser seguido e por isso mesmo cabe a cobrança de se ter postura. Aqui há de se fazer um adendo: Roraima tem um dos maiores salários do Brasil.
Por esses equívocos, chegamos ao ponto de, ao invés de encontrar a arte, a música, o esporte dentro da escola, encontramos a polícia. Essa realidade já chegou por aqui, mas isso é assunto para outra conversa! *Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]
Vencendo o cansaço – Afonso Rodrigues de Oliveira
“As palavras de autoajuda pouco ajudam quando as pessoas não entendem o funcionamento da mente”. (Augusto Cury)
Quando não entendemos o que somos, não conseguimos ser. Estou repetindo o Augusto Cury porque ele é oportuno a este assunto. Na última vez que conversei com minha neta, fiquei preocupado. Ela me falou da reação negativa dos colegas de colégio ao fato de ela gostar de ler livros de autoajuda. Os jovens tendem a rejeitar os ensinamentos que não vêm como regra; vêm como mera orientação. E quando orientamos, não precisamos dirigir. Mas o ser humano prefere ser dirigido. Nem sempre ele tem liberdade para pensar. Prefere acreditar no que lhe dizem a no que pensa. E o importante é que ele não está errado. É uma questão de opção no livre arbítrio. Afinal de contas, os maiores pensadores da humanidade já nos disseram que nós somos o que pensamos. Todas as nossas realizações são frutos dos nossos pensamentos. E nem todos acreditam que podem ser diferentes do que são, e que serão se mudarem suas maneiras de pensar. Mudando a maneira de pensar, muda a maneira de ver as coisas. Simples pra dedéu.
Se você é dos que rejeitam este assunto, não esquente a cabeça. Você não está errado. Está na sua linha evolutiva, no caminho da racionalidade. E esta não tem limites de tempo. A vida é cíclica, queiramos ou não. Somos todos de origem racional. Não nascemos aqui. Chegamos aqui, ficamos, deformamo-nos e estamos tentando nosso retorno. E não leve este assunto para o campo da religião. Tem nada a ver. Você não deve satisfação de sua vida a não ser a você mesmo. E ela será dirigida pelos pensamentos que você está, querendo ou não, transmitindo ao seu subconsciente. Ele é a força maior que vai fazer com que você seja uma pessoa de sucesso, ou um fracassado. Tudo vai depender de seu relacionamento com seu subconsciente. Mas você ganharia muito em desenvolvimento se aprendesse a conversar com ele. E taí uma prática que, como o samba, não se aprende na escola. Há muitos Mestres Griôs que quase não estudaram e, no entanto, são muito mais desenvolvidos, mental e culturalmente do que muitos doutores.
Decida o que você quer na vida e da vida, cara. Mas tem que fazer isso agora. As decisões têm que vir antes da maturidade. Senão, não amadurecemos. Levaremos a vida toda descobrindo que não fizemos o que deveríamos ter feito, para ser o que queríamos ser, mesmo quando pensamos que já somos. A racionalidade nos diz que os seres humanos só aprendem com as repetições. Então, não se esqueça de que você é o que você pensa; mas nem sempre você é o que pensa que é. Pense nisso.
*Articulista [email protected] 9121-1460
A transformação de Roraima exige planejamento estratégico – Jalser Renier
Uma comitiva com pelo menos seis ministros de Estado deve desembarcar nesta quinta-feira em Roraima para verificar de perto a situação que estamos enfrentando. A previsão é que integrem a comitiva os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque; do Meio Ambiente, Ricardo Salles; da Cidadania, Osmar Terra; da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,Marcos Pontes;ministras da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves; e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.
Essa é uma demonstração da importância estratégica de Roraima e um gesto claro do governo do presidente Jair Bolsonaro de preocupação com o estado. Roraima passa por sérios problemas e a situação pode se agravar ainda mais diante das dificuldades enfrentadas pela Venezuela, país vizinho e irmão.
Em determinado momento da nossa história, olhamos para a Venezuela como uma alternativa para soltar as amarras que impedem nosso desenvolvimento. Confiamos que a energia produzida pelo nosso vizinho seria a melhor solução para o abastecimento urbano e para impulsionar a economia local.
Os problemas da Venezuela, no entanto, ressoam em nosso cotidiano, pois a fronteira se transformou em rota de fuga para os venezuelanos mais necessitados e que precisam de ajuda. Correm para cá em busca daquilo que nós roraimenses também precisamos. O estado não tem como oferecer trabalho e oportunidade para os milhares de refugiados que tentam escapar da fome e da miséria.
Roraima passa por uma crise financeira crônica, baixa produção agrícola, ausência de indústrias e de um parque tecnológico, falta de estímulo para o setor do turismo e, como consequência de tudo isso, o estado não produz riqueza para oferecer uma melhor condição de vida para a população e para custear a máquina pública.
Precisamos ser claros e objetivos nas palavras aos ministros que estão vindo: Roraima precisa de ajuda para ultrapassar essa difícil situação e encontrar o rumo do desenvolvimento. Temos profissionais qualificados que necessitam de emprego, temos áreas férteis para o cultivo, temos uma exuberante beleza natural atraente para turistas de todo o mundo, temos um povo trabalhador e acolhedor. Com tanto potencial, por que nosso estado ainda não encontrou o seu caminho, por que ainda não pode oferecer saúde, educação, segurança, estradas e infraestrutura de qualidade à população? A resposta não é muito difícil. Ao longo de sua história, faltou – e ainda falta – a Roraima um planejamento estratégico, que permita a exploração dos potenciais de maneira sistemática, organizada e a longo prazo. Um plano duradouro de desenvolvimento social e econômico que transforme a vida das pessoas e o próprio estado.
Ações pontuais são extremamente necessárias neste momento, mas não avançaremos com soluções paliativas e tapa-buracos. É preciso ir além. A visão estratégica de estado precisa ser transversal aos governos que se sucedam, deve ser um compromisso da classe política com a sociedade e da sociedade com as futuras gerações. Além da ajuda federal para problemas conjunturais, precisamos saber exatamente o caminho a seguir e como trilhá-lo. A estagnação econômica também decorre da falta de planejamento e da inexistência de um projeto estratégico. E essa tarefa é nossa, da academia, do setor privado, da sociedade civil em geral, da classe política, do governo e das prefeituras. Devemos ser os timoneiros dessa transformação e do nosso destino, não é uma tarefa que possa ser delegada.
Antes de chegar ao P
alácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro esteve inúmeras vezes em Roraima, ele fala do nosso estado com respeito e admiração. Por diversas vezes já demonstrou preocupação com a região Norte e com nossa fronteira com a Venezuela. Braço direito do presidente, o Chefe de Gabinete de Segurança Institucional,general da reserva Augusto Heleno,foi comandante militar da Amazônia e conhece profundamente a região.
Roraima conta hoje com a boa vontade do governo federal. É preciso aproveitar essa oportunidade e investir e acreditar num plano de desenvolvimento. A chegada da comitiva de ministros é, ao mesmo tempo, animadora e desafiadora. Precisamos arregaçar as mangas para elaborar e colocar em prática um plano de desenvolvimento capaz de, efetivamente, promover as oportunidades e gerar os benefícios que os roraimenses merecem.
*Jalser Renier é deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Roraima.