Virtudes Morais: Transgressões e Rupturas (II) – Sebastião Pereira do Nascimento* Sobre as virtudes morais, Aristóteles elaborou um sistema filosófico fundamentado na junção de quatro virtudes humanas (prudência, temperança, fortaleza e justiça), o qual figura nos encartes da filosofia como um conjunto de disposições conhecidas como virtudes cardeais, as quais polarizam todas as outras virtudes e oferecem ao homem um saber que leva orientar imediatamente sua consciência. Sendo esse saber na visão aristotélica, indispensável para que o indivíduo possa reconhecer e praticar as condutas do bem, em vez de praticar as condutas do mal.
Essas virtudes são um referencial para qualquer sociedade, as quais revelam disposições habituais e estáveis da inteligência e da vontade humana, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão. Em Ética a Nicômaco, Aristóteles propunha que para uma pessoa consolidar esse conjunto de virtudes é necessária a aquiescência da ética, a qual nesse ponto ela funciona como se fosse um “marco regulador”.
No caso das virtudes cardiais, a prudência permite deliberar corretamente sobre o que é bom ou o que é mau para o homem a partir da disposição de agir como convier, de acordo com sua consciência, uma vez que o homem virtuoso decide e ordena a sua conduta segundo seu próprio juízo. Para o filósofo grego, a prudência condiciona todas as outras virtudes, onde nenhuma outra virtude, sem ela, o homem saberia o que se deve fazer, nem como chegar ao fim que ela visa, pois é que ela dispõe a razão prática em qualquer circunstância de saber escolher o verdadeiro bem e os justos meios para atingi-lo. O homem prudente é atento e vigia os seus passos e não se confunde, nem com a duplicidade, nem com a dissimulação. Ele separa a ação do impulso, a partir de um desejo lúcido e razoável.
No caso da temperança, embora Foucault considerasse ser uma virtude menos do âmbito do dever do que do bom senso; pelo fato de vê-la como uma virtude muito mais ética do que moral, para Aristóteles a temperança é uma virtude puramente moral que modera a atração dos prazeres e estabelece o equilíbrio das coisas. Assim como todas as outras virtudes, também pertence, pois, à arte de desfrutar; é um elemento do desejo sobre si mesmo, que orienta para o bem os apetites sensíveis. A temperança não visa superar os limites, mas respeitá-los. Ela assegura o domínio da vontade sobre os instintos, sobretudo, moderando os impulsos na medida em que os estímulos mais ultrajantes almejam sobrepor os limites dos desejos, garantindo ao ser humano um desfrutar prazeroso e mais pleno.
Sobre a fortaleza, Aristóteles diz que pode servir tanto para o bem como para o mal, e na práxis dessa virtude não alteraria a natureza de nenhum, nem de outro. Contudo, diante de olhares mais irresoluto parece difícil achar que a fortaleza também é uma virtude para o mal – ainda que se possa admirar em algum evento trágico a coragem de um ser pernicioso ou energúmeno. Na ambiguidade dessa virtude, Voltaire se manifestava dizendo que a fortaleza não é essencialmente uma virtude, mas uma qualidade comum aos celerados. Sendo, portanto, uma excelência, mas que não seria em si, nem moral nem imoral.
A propósito dela, o mesmo se dá com outras qualidades humanas como a inteligência ou a eficiência, que também são ambíguas e podem servir tanto para o mal como para o bem, por isso, são moralmente indiferentes. Aqui, Aristóteles sacramenta que a fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na execução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e estimula a capacidade de superar os obstáculos e de enfrentar provações e perseguições. Dispõe a ir até a renúncia e muitas vezes até ao sacrifício, na defesa da causa comum.
No tocante a justiça é a virtude moral que consiste na constante vontade de dar ao próximo o que lhe é devido. Aristóteles começa dizendo que entre os homens virtuosos, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e estabelecer a harmonia que promove a equidade em relação ao bem comum. Ele sentencia ainda que o homem nunca pode ser justo só por ser sábio, mas por sempre agir de modo justo.
Para Aristóteles, a justiça é o horizonte de todas as virtudes. Por essa razão não se consegue colocar em evidência nenhuma das outras virtudes por muito tempo sem ter de recorrer à virtude de justiça. Então na percepção de Aristóteles a justiça é uma virtude completa. Ela não pertence a ninguém; mas todos são moralmente obrigados a defendê-la. Ela deve ser preservada não só pelo Estado, mas por todos os indivíduos que compõem uma sociedade. Numa relação de significância, a justiça só existe e só é um valor concedido, inclusive, quando há homens justos para defendê-la. É por essa razão que a luta pela justiça não terá fim. Pois, “felizes os famintos de justiça, que nunca serão saciados!” (Comte-Sponville). *Filó[email protected]————————————PSICOLOGIA AO SEU ALCANCE – Flavio Melo Ribeiro*Realização pessoal, como alcançar.
Caro leitor, no artigo ‘Beleza e o relacionamento amoroso’ citei que “A psicologia identificou que toda pessoa, desde pequena, forma um Projeto de Ser Determinada Pessoa no Mundo e busca durante sua vida realizá-lo. Quando identifica que a pessoa que está se relacionando amorosamente é importante para realização do seu projeto, tende a sentir-se mais próximo e a manter laços”. Mas você pode se perguntar: como identificar qual meu Projeto de Ser? E por que isso é importante?
O filósofo Sênica, nascido em 4 A.C., falou que “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”, quer dizer que senão sei qual meu Projeto de Ser, como vou avaliar se o que faço está a favor ou contra mim. Visto que o sentimento de realização que a pessoa sente está diretamente ligado ao fato de alcançarmos sucesso em pequenos projetos que fazem parte de um projeto maior de vida. Saber qual é meu Projeto de Ser é possibilitar organizarmos planejamento de ações possíveis e necessárias para nos realizarmos como seres humanos. Isto implica saber o que queremos, o que gostamos, quais nossos valores, quais nossas ideias, etc. Isto parece óbvio, mas junto aos clientes de psicoterapia é bastante comum, quando questionados, não saberem o que exatamente querem da sua vida. É mais comum do que se imagina. Caro leitor, procure fazer um teste com você: qual é seu Projeto de Ser? E você vai ver que não é tão fácil, mas uma vez fazendo, você vai conseguir questionar com clareza suas atividades, seus relacionamentos, seu trabalho e seus lazeres. Conseguirá ver quais atividades estão na direção de você se realizar e quais estão lhe frustrando. Perceberá que algumas atividades, caso alcance sucesso, na realidade lhe frustrará, pois está contra seu Projeto de Ser. Identificará porque se sente incomodado em realizar determinadas atividades, visto que é provável que estejam em dissonância com o que acredita, com o que acha certo.
Uma maneira simples de você identificar qual seu Projeto de Ser é pensar em como gostaria de ser visto pelos outros. Procure organizar numa tabela como gostaria de ser reconhecido pelos seus pais, seus amigos mais próximos, pelo seu cônjuge, seus colegas de estudo e trabalho, etc. Depois identifique como você sonha com sua vida, como ela deveria ser agora e daqui a alguns anos. Isto implica identificar onde gostaria de morar, com quem gostaria de estar se relacionando e o modo como deveria ser, o que pretende fazer de lazer, quais coisas ou atividades lhe proporciona uma sensação de realização. Por fim, procure identificar suas principais características: o que caracteriza você, principalmente no seu comportamento. Pergunte as pessoas mais próximas como elas o veem. Quais características são mais evidentes. Procure ser sincero, de nada adianta se enganar. Procure levar em consideração as críticas que os outros fazem de você, veja se eles têm razão. Diante dessas informações avalie como está sua vida. Você está satisfeito com você? Com seu estilo de vida? Com sua condição? Caso negativo, procure mudar levando em consideração seu Projeto de Ser. Se tiver dificuldade de fazer sozinho procure ajuda de um profissional.*Psicólogo—————————————A Família e os Amigos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“É o destino que nos dá a nossa família, mas somos nós que escolhemos os amigos. Isso mostra que a amizade vale mais que os laços de família”. (Aristóteles)É muito importante que saibamos fazer amizades. E mais importante é saber mantê-las. Cultivar uma amizade tem muita importância na nossa vida. Há muitos ensinamentos importantes e nem sempre lhes damos a atenção que eles merecem para a formação de amizades profundas. O Mário Quintana, por exemplo, diz que “O segredo não é correr atrás das borboletas; é cuidar do jardim para que elas venham até você”. O que significa que devemos nos preparar espiritual e racionalmente para que as amizades venham ao nosso encontro. Fazer uma amizade é plantar a felicidade. E por isso devemos ser racionais na criação de uma amizade. É quando somos capazes de ler nos olhos. Mas sendo maduros suficientemente para evitar enganos.
Você já conhece o ensinamento do Emerson: “Você é tão rico ou tão pobre quanto o seu vizinho; senão não seria vizinho dele”. Quando fazemos uma amizade estamos construindo uma vizinhança que pode se estender ao ambiente familiar. E é aí que devemos ser cautelosos. Cautelosos, não cismados. Uma amizade só desponta num ambiente que é adequado. Porque se não for, não há como a amizade nascer. Então devemos ter cuidado com os ambientes que frequentamos. Porque em qualquer ambiente pode nascer um amigo como um vizinho íntimo. E é aí que está a necessidade de sermos racionais.
Somos humanos em formação racional. E essa formação vem num processo de progresso a regresso. Ou seja, estamos nos aprumando da queda que levamos na perda da nossa racionalidade, na nossa chegada aqui neste pequeno universo ainda em formação. A história é longa, e por isso vou deixá-la para depois. Vamos apenas falar de como devemos ser, para sermos o que realmente somos. Os que me criticam porque cito muitos autores, perdoem-me, mas não estou nem aí para a crítica. O que me interessa é mostrar o caminho para quem ainda procura a vereda para a racionalidade. É nela que caminhamos na busca do que queremos. E o Victor Hugo ensina: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. E só alcançaremos esse sucesso sabendo formar nossas amizades, para aprendermos no que nos ensinam, ensinando-lhes o que aprendemos. Permita-me mais uma citação, a de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. E sabe por que cito tanto? Porque não sou intelectual. Aprendo com os realmente intelectuais, como viver a vida. E nada mais racional do que transferir isso para alguém. Pense nisso.*[email protected]