Opinião

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Esperança

Linoberg Almeida*

Nasce um novo dia. E segunda-feira, depois da Páscoa, independente de sua crença ou fé, nada como levantar com pé direito e ter a esperança de outros tempos. Se ela é a última que morre e jorra para todo o sempre, vamos em frente. E a quem está lendo, saiba que busco em você a inspiração.

Que responsabilidade! Mesmo com o real distanciamento das pessoas da reflexão e da participação ativa na vida política, tenho percebido que a questão política está na pauta da sociedade, não só na questão partidária e tudo o que a ela diz respeito. A inspiração reside na busca pelo bem comum e vai além das falsas dicotomias que dividem e rotulam sem saber o real sentido das coisas.

Negar a injustiça, a politicagem, o retrocesso é lutar com um sistema de desigualdades que você conhece bem. Óbvio que a Política não pode começar nem se encerrar nas urnas. Aliás, voto vem do latim votum que quer dizer promessa, desejo. E eu, do fundo do coração, desejo que as pessoas passem a se apaixonar pela Política como discutem sobre Big Brother, com formação de paredão, acompanhando atos e passos, julgando com unhas e dentes aqueles que acreditam conhecer pelas lentes da democracia.

Vimos governo e parlamentares defendendo publicamente o “direito” de empresas comprarem vacinas para aplicar em seus funcionários, num fira-fila sem vergonhas institucionalizado e ganharam um sai-pra-lá das farmacêuticas que reforçaram não vender para empresas. Não está sobrando vacina e colocar mais um ator demandando o produto só piora a situação aumentando preço. Eles não pensam no bem comum; cabe a você.

Vimos a possibilidade de reembolso dos gastos em saúde de nossos deputados federais subir 171%, de 50 mil para 135 mil reais. Isso mesmo, vantagem para quem já tem plano de saúde para o resto da vida e muitas vezes usaram de notas de repúdio para defender nosso combalido sistema público. Para a mamata acabar mesmo você precisa ser a esperança.

Isso não significa que precisamos nos limitar a esperar como a ideia de ter esperança pode sugerir. Se indignar racionalmente contribui para uma ação de respeito próprio, um senso de justiça que se esparrame ambiciosamente capaz de transformar o compromisso que temos com o outro. Para defender a vida, é preciso senti-la de verdade e privilégios afastam essa gente da dor do dia a dia que vivemos.

Solidariedade, amor, reflexão não podem se limitar aos votos de um dia. Para nos fortalecermos como pessoas há de renascer a esperança em nossas ações; não a que nos desejam com palavras, vazias na tempestade, mas com atos diferentes dos praticados. Não se contenha. Precisamos de você.

*Sociólogo, Professor/ UFRR

O Crucifado se solidariza com as vítimas do Covid-19

(por Leonardo Boff)

Um manto de tristeza se estende sobre toda a humanidade  e não há lenços suficientes para enxugar tantas lágrimas por causa das vítimas do Covid-19. O vírus não poupa ninguém, pois, invisível, pode atacar os que não tomam os devidos cuidados. Ele pôs de joelhos as nações militaristas que se encheram de armas, capazes de exterminar toda a vida no planeta, inclusive a humana. Elas são absolutamente inúteis diante do pequeníssimo coronavírus. Alexandre, o Grande (356-323 A.C) formou um império que ia do Adriático ao rio Indo, morreu picado, provavelmente, por um mosquito que produz uma febre viral (a febre do Nilo ocidental). Quem aqui  é mais forte? O jovem conquistador de 23 anos ou o mosquito? Estamos morrendo por um vírus invisível, arrasando com toda a nossa arrogância, sem dizer que ele é consequência de nossa sistemática agressão à natureza (o antropoceno e o necroceno) que se defende com sua arma letal e imperceptível, o Covid-19 e uma gama de outros vírus.

Todos tememos e sofremos, assistindo, impotentes, à dizimação de milhares, já cerca de dois milhões de vítimas. No Brasil a situação é dramática, porque um governante ensandecido e negacionista, sem qualquer sentimento de empatia, tolera que morram já mais de 300 mil pessoas e cerca de 13 milhões sejam infectados.

Não poder despedir-se dos mortos queridos, nem dizer-lhe um último adeus, e sem poder viver o luto imprescindível causa uma dor silenciosa de romper corações. É a nossa via-sacra de estações sem fim, de lamentos e choros. Celebramos  a sexta-feira santa da morte na cruz do Filho do Homem no contexto desta paixão mundial e nacional. Quem nos consolará? Quem nos sustenta a esperança de que a vida ainda uma vez irá triunfar e que poderemos viver livres e sadios, desfrutando da alegria estarmos junto com nossos entes queridos, amigos, amigas  e próximos?

Há muitas lições que se podem tirar da crucificação de Jesus, resultado de um duplo processo, religioso e político, seguramente de sentido transcendental como redenção/libertação dos seres humanos. Esta talvez seja a mais profunda. Mas há outros sentidos, humanitários, que podem, na atual situação, nos fortalecer no nosso desamparo e nas horas pesarosas do isolamento social, este que nos rouba a alegria de encontrar os familiares e amigos e poder abraçá-los e beijá-los. Consola-nos pensar que, para os que conseguem crer, não estamos sós em nossa paixão. O Crucificado sofre junto e irá sofrer até o final dos tempos enquanto houver sofredores e desamparados.

São Paulo o expressou adequadamente, numa versão simplificada:”ele não fez caso de sua condição divina, apresentou-se como um simples homem, em solidariedade se fez servo e até não temeu morrer na cruz”(cf.Carta aos Filipenses 2,6-8). Não foi ingenuamente ao encontro da morte. Ao saber que seus opositores decidiram matá-lo, testemunha-o o evangelho de São João, escondeu-se na cidade de Efraim perto do deserto (11,54). Sabemos que Efraim era uma cidade-refúgio. Quem fosse perseguido e ameaçado por qualquer razão, na cidade de Efraim não podia ser pego e estava protegido.Para lá rumou Jesus com seus seguidores.

A Epístola aos Hebreus testemunha:”entre lágrimas suplicou Àquele que o podia salvar da morte”. Versões mais antigas dizem:”e não foi atendido; apesar de ser Filho de Deus, teve que aprender a  obedecer por meio do sofrimento”5,7-8).No monte das Oliveiras, no Getsêmani seu temor face à morte iminente o leva a suplicar:”Pai, afasta de mim este cálice; mas não se f
aça a minha mas a tua vontade”(Lucas 22,42).

O evangelista Lucas relata” cheio de angústia, o suor tornou-se como grossas gotas de sangue a escorrer por terra”(22,44). Jesus foi tomado mais do que pelo medo, mas pelo pavor a ponto de suar sangue, como é atestado em pessoas na iminência de seu enforcamento ou fuzilamento. Mas o paroxismo foi alcançado na cruz: sentindo-se abandonado pelos seguidores e absolutamente só enfrenta a maior tentação pela qual um ser humano pode passar: a tentação da desesperança. “Será que foi tudo em vão? Passei pelo mundo fazendo o bem e eis que me encontro crucificado”. Expressa seu desamparo gritando:”Deus, oh Deus, por que me abandonaste?”(Marcos 15,34). Finalmente, nu por dentro e por fora, entrega-se ao Mistério que se esconde mas  que conhece todos os nossos destinos. A última palavra de Jesus, não resignada mas livre, foi:”Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”(Lucas 23,46). São Marcos ainda lembra:”dando um imenso brado, Jesus expirou”(15,37).

Jesus se mostrou o protótipo do ser humano fiel a Deus e a causa de Deus no mundo, a predileção pelos pobres, o amor incondicional e a misericórdia ilimitada, causa essa levada até ao extremo, entregando livremente a própria vida. A recusa humana de sua pessoa e mensagem pode decretar sua crucificação, mas não pode definir o sentido que Jesus conferiu a esta vergonhosa condenação: ser solidário com todos os crucificados e sofredores do mundo.

A ressurreição após seu destino trágico veio mostrar de que lado estava Deus, ao lado dele e de sua vida e causa. Revela a justiça divina contra o justiciamento perpetrado pelo seus opositores.

Uma lição que podemos tirar da sexta-feira da paixão é seguramente  esta: nenhum sofredor e prostrado de dor precisa sentir-se só. O Crucificado, agora Ressuscitado e feito o Cristo cósmico, estará sempre junto, sofrendo com quem sofre, dando esperança a quem quase se desespera e mostrando que a página mais importante do livro da  vida vem escrita não pelo ódio e pela morte matada, mas pela vida, levada à sua plenificação pela ressurreição. Diz um discípulo tardio de São Paulo, Timóteo:” verdadeira é esta palavra: se padecermos unidos a Cristo, com ele também viveremos”(Segunda Carta,2,11). Eis nossa consolação. 

(Leonardo Boff escreveu “Paixão de Cristo- paixão do mundo”, Vozes 2012 e “Via-sacra para quem quer viver”, Vozes 2003)

Errei, sim

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Errar é aprender. E com toda a certeza, não há melhor guia para o êxito do que as lições ensinadas pelos próprios erros”. (J. Paul Schmitt)

É uma questão de inteligência. E não há inteligência onde não há racionalidade. Cá pra nós, perder a calma porque errou é irracional. Analise sempre o grau do seu erro. Quanto maior ele for, maior será a lição a aprender com ele. Então aprenda. O que não deve ser feito nem sempre é evitado. Depende da nossa capacidade de pensar. Vá de mansinho, entre devagarzinho e aproveite o sabor do acerto. Simples pra dedéu.

Nada de desespero. Mesmo quando o prejuízo causado pelo erro for grande, corrija o erro não o praticando novamente. Pense sempre positivo, seja qual for o erro. Mas não o considere importante. Porque se o considerar importante não aprenderá. A importância está na sua maneira de considerar a gravidade da coisa. Calma. A vida é um aprendizado permanente. Eu até diria que até eterno. Afinal, estamos no carrossel do eterno ir e vir. Não sabemos quantas vezes já fomos e voltamos, nem quantas ainda iremos e voltaremos. E em cada retorno voltaremos mais aprimorados, escudados com o que levamos de conhecimentos. Mas só temos isso nas nossas mentes, na volta.

Viva a simplicidade da vida. Porque toda a complicação que encaramos é fruto do nosso despreparo. Há um ditado popular que diz que “Errar é humano, mas insistir no erro é estupidez”. Você errou? Tudo bem, você é um ser humano. Mas não se apresente como um irracional insistindo no erro. Estou lhe falando isso olhando para a rua sem movimentos. Tudo parado por conta de um vírus que anda amedrontando o mundo inteiro. E apesar do desespero e blá-blá-blás a respeito do vírus, ele faz parte do nosso desenvolvimento. Já vivemos muitos sofrimentos por conta de vírus e mosquitos que pequenininhos são maiores do que nossa incompetência. Não se desespere. Apenas faça sua parte colaborando com os que trabalham em luta renhida, para nos livrar do desespero.

Acredite em você. Confie na sua capacidade de vencer, e vença. Nenhum inimigo é mais poderoso do que você, se você se considerar superior a ele. E os superiores sempre respeitam os inferiores. Até mesmo quando os opositores não são humanos devemos respeitá-los. Eles também estão na lista dos que são iguais nas diferenças. Quando respeitamos as diferenças não somos atingidos por elas.

Nada de desesperos nem descasos. Devemos levar a sério o problema que estamos enfrentando, mas sem medos, nem desesperos. Vamos agir dentro da racionalidade, respeitando o inimigo que está nos atormentando. Tudo faz parte da vida. Pense nisso.

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