Uso frequente da internet por idosos durante o lockdown está associado a benefícios para a saúde mental
Rubens de Fraga Júnior
Um novo estudo da Universidade de Surrey descobriu que, entre pessoas de 55 a 75 anos, o uso mais frequente da Internet foi benéfico para a saúde mental e a qualidade de vida durante o lockdown. Aqueles que usaram mais a internet, principalmente para manter contato com amigos e familiares, apresentaram menor risco de depressão e relataram maior qualidade de vida.
A solidão e o isolamento social têm sido os principais problemas para muitas pessoas, em particular para os idosos. A solidão aumenta o risco de depressão e outros resultados negativos para a saúde. Em um artigo publicado na revista Healthcare, pesquisadores de Surrey investigaram se o uso mais frequente da Internet em idosos ajudou a reduzir este risco.
Os pesquisadores estudaram 3.491 participantes individuais retirados do Estudo Longitudinal do Envelhecimento Inglês no verão de 2020, enquanto medidas de distanciamento social estavam em vigor em todo o país. Os participantes foram entrevistados sobre a frequência e o tipo de uso da Internet – como busca de informações ou para fins de comunicação.
Aqueles que relataram usar a internet com frequência (uma vez por dia ou mais) apresentaram níveis muito mais baixos de sintomas de depressão e relataram maior qualidade de vida em comparação com aqueles que usaram a internet apenas uma vez por semana ou menos. O uso da Internet para comunicação estava particularmente ligado a esses efeitos benéficos, sugerindo que ficar on-line para se manter conectado com amigos e familiares ajudou a combater os efeitos psicológicos negativos do distanciamento social e do bloqueio em adultos com idades entre 55-75.
Por outro lado, o estudo descobriu que as pessoas que mais usaram a internet para pesquisar informações relacionadas à saúde relataram níveis mais elevados de sintomas de depressão. Isso pode ser devido a um maior grau de preocupação desencadeado pela leitura da Covid-19 e outras fontes da Internet relacionadas à saúde.
O Dr. Simon Evans, professor de neurociência na Universidade de Surrey, disse: “À medida que as restrições sociais continuam durante a pandemia Covid-19, os idosos correm maior risco de solidão e problemas de saúde mental. Descobrimos que os idosos que usaram a Internet mais frequentemente durante o lockdown, especialmente para se comunicar com outras pessoas, apresentavam escores de depressão mais baixos e uma qualidade de vida melhor. À medida que a situação do Covid-19 evolui, o uso mais frequente da Internet pode beneficiar a saúde mental de pessoas idosas, reduzindo a solidão e o risco de depressão, especialmente se mais restrições forem impostas no futuro”.
Rubens De Fraga Júnior é professor da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Médico especialista em geriatria e gerontologia.
Pandemia também afeta a saúde mental e profissionais sofrem com rotina online
por Roberto Affonso Santos é diretor da Ateliê RH
O tema da pandemia do Covid-19, maior crise sanitária do nosso século, que tem mudado o mundo de cabeça para baixo desde março de 2020, provocou outros efeitos de saúde indesejados, além dos sintomas mais comuns.
Estresse, burnout, depressão e outras patologias psiquiátricas aparecem como consequência da quarentena estendida, do excesso de trabalho (dentro e fora dos hospitais) e das incertezas quanto à economia, o medo da doença, entre outros. Sugestões para tratamento também não faltam, e vão desde a orientação em procurar o especialista médico ou psicólogo, até alternativas como meditação e técnicas de mindfulness no trabalho
Em pesquisa da IPSOS, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, a maioria da população brasileira (53%) afirma que sua saúde mental piorou neste ano de pandemia, com aumento de casos de ansiedade e depressão, e poderia se acrescer crises de pânico, esgotamento emocional e estresse pós-traumático.
Em breve pesquisa feita realizada pela Ateliê RH pelo LinkedIn sobre o impacto da pandemia sobre a personalidade das pessoas, a maioria (78%) respondeu que sua personalidade mudou totalmente (52%) ou um pouco (28%). Entretanto, pesquisa realizada pela Hogan Assessments, comparando os resultados de milhares de avaliações no mesmo período este ano, com resultados pré-pandemia, não encontrou nenhuma diferença estatisticamente significante sobre a personalidade.
Na realidade, estes resultados confirmam o conceito de que a personalidade, formada na infância e adolescência, já bem consolidada na vida adulta, nos predispõe a ter mais facilidade para expressar certos comportamentos e atitudes frente às outras pessoas e aos problemas e crises com que nos deparamos. As pessoas pesquisadas conseguem diferenciais “estou assim, mas não sou assim”, ou sejam, o que é nossa personalidade e o que são comportamentos temporários decorrentes da situação problema.
Eventos como a alta demanda emocional gerada pela pandemia, com máscaras, álcool em gel, distanciamento social e luto de entes queridos, sem dúvida dispararam doenças emocionais, como ansiedade e depressão que, dependendo do grau requerem tratamento especializado de psiquiatras e psicólogos.
É o caso de um executivo bem sucedido, avaliado pela metodologia Hogan alguns anos pré-pandemia, que apontava traços de sua emocionalidade, empatia deficitária, desajustamento social e outros transtornos. A pandemia despertou um surto de bipolaridade que destrói sua vida profissional e pessoal – o detonador do Covid-19 acionou uma bomba-relógio prematuramente.
Rotina online também afeta a saúde mental
Uma pesquisa, realizada pela Universidade de Stanford em fevereiro deste ano, revelou a existência de uma “fadiga de Zoom”, cujos sintomas são dores de cabeça, depressão e crises de ansiedade. O efeito ocorre por conta do excesso de contato visual (desconforto e cansaço), olhar o tempo inteiro para a própria imagem (baixa autoestima, distração e ansiedade), falta de movimentação física (sedentarismo, má circulação, postura corporal prejudicada) e excesso de esforço para se fazer entender (estresse, irritabilidade, cansaço físico e mental).
Um exemplo desse caso é de um executivo que conduz negociações até bilionárias, e que está há um ano em home-office, em sucessão de reuniões de Zoom bem além do horário que costumava ter no período presencial e, como resultado, desenvolveu uma insônia bem resistente a medicamentos; a falta de uma cisão entre o ambiente de trabalho e a casa traz efeitos dos quais não temos consciência, mas o corpo tem e acaba falando também. O próprio autor deste texto desenvolveu uma tenossinovite que já demanda seis meses de fisioterapia e medicamentos homeopáticos e alopáticos.
Em contatos por Zoom, com inúmeros c
lientes da consultoria, encontramos as mesmas reclamações de que o home-office trouxe uma liberdade e autonomia individuais para os profissionais conjugarem suas vidas profissional e pessoal. Só que não. Em muitas empresas, onde os calendários são compartilhados, as agendas são furiosamente invadidas por mais reuniões que mal liberam tempo para as necessidades fisiológicas básicas; acabou aquele tempo do trajeto de um departamento a outro, ou de visitas a clientes em outro bairro ou cidade. É tudo na tela.
O homem e o vinho
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons”. (Cícero)
Recentemente passei ali em frente ao ex-Teatro Carlos Gomes. Novamente senti uma tristeza acomodada no entender. Por que será que desprezamos tanto o que já nos deu alegria e prazer? Somos vulgares. É só isso. E por isso temos uma tendência muito forte a nos prendermos ao negativo. Ou para senti-lo ou para transmiti-lo.
Ano passado passei uns dias em Natal, no Rio Grande do Norte. Na companhia da minha querida prima, a poetisa, compositora e cantora, Neide Rodrigues, caminhei pela cidade. Parei em frente ao Teatro Carlos Gomes e senti saudade. Saudade dos dias maravilhosos que vivi dentro daquele Teatro.
E entristeci-me ao vê-lo num estado, de certa forma, degradante, de abandono. Uma estrutura maravilhosa de prédio e num maltrato desrespeitoso, das autoridades. Parado, lembrei-me do estado degradante em que se encontra nosso Carlos Gomes, em Boa Vista. O que me lembrou que somos realmente todos iguais nas diferenças.
Continuamos a caminhada e a Neide me disse que o Teatro estava aguardando uma reforma que se iniciaria nos próximos dias. Senti uma paixão fortíssima dentro de mim, nas lembranças do que vivi naquele local, no meu período de adolescência.
Subimos pela rua e parei em frente ao hoje “Instituto Câmara Cascudo”. Parei e fiquei olhando aquela mangueira onde passei muitas horas, enquanto meu pai conversava com o escritor Câmara Cascudo, que residia naquela casa, hoje Instituto.
Estou sendo sincero. Não me sentei aqui pra derramar saudades. Apenas lembrei-me do quanto somos desonestos conosco mesmo. Por que deixamos que o patrimônio público se degrade diante do descaso? Já falei tanto, por aqui, dos momentos agradáveis e construtivos que me formaram na inconfundível Universidade do Asfalto. Quanta coisa importante aprendi nas apresentações, tanto quanto nos ensaios a que assisti, dentro do Teatro Carlos Gomes de Natal. E quantos momentos felizes vivi dentro do hoje degradado e abandonado Teatro Carlos Gomes de Roraima. Vamos acordar e procurar respeitarmo-nos no que somos. Mas primeiro precisamos saber o que realmente somos. Senão continuaremos títeres de manipuladores.
Continuei o passeio com a Neide e a dona Salete. Vivemos recordações de grandes momentos de nossas juventudes. Vale a pena viver. É no viver que amadurecemos sem nos deixar azedar nos barris da infelicidade. Vamos viver os momentos de hoje para revivê-los no futuro. Vamos cuidar, com reponsabilidade, dos nossos “Carlos Gomes”. Para que um dia possamos nos orgulharmos deles, ligados a nós. Pense nisso.
99121-1460