Opinião

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Saúde no Brasil em 2021: pandemia, fusões e aquisições, e investimentos em tecnologia

Por Marcello Albuquerque

Enquanto a pandemia do novo coronavírus ainda domina o noticiário, mantendo o segmento de saúde em destaque, nos bastidores o setor passa por grandes transformações, com a chegada de novos players e a continuidade dos movimentos de fusões e aquisições (M&A).

Esse processo começou em 2015, quando a legislação brasileira (lei 13.097/15) passou a permitir investimentos estrangeiros no setor, o que possibilitou a injeção de mais capital nas empresas nacionais – muitas vezes baseadas em negócios familiares.

Nesse cenário, os investidores enxergaram a oportunidade de criar valor por meio da consolidação, utilizando-se de algumas alavancas. Mas, afinal, o que impulsiona esse movimento? A resposta está na expansão da base de clientes, na sinergia de custos, na entrada em novos mercados, entre outros fatores. Porém, esse tipo de processo, apesar de permitir rápidos crescimentos mesmo em tempos de crise, precisa de muito planejamento, foco e atenção na integração das operações para evitar atrasos e falhas. 

É curioso notar que, embora a área de tecnologia e soluções seja crítica para ajudar a detectar sinergias (reduzindo a duplicação de serviços, diminuindo custos e melhorando a gestão das equipes), bem como para promover automação e integração clínica, muitas vezes ela é chamada tardiamente a participar de processos de M&A.

Isso acontece porque dentro do setor de saúde, até por características culturais, a TI ainda não está (ou não estava) no topo da lista de prioridades. Com a chegada da pandemia, porém, o segmento acabou sendo compelido a adotar diferentes tecnologias para acelerar processos, inovar ou permitir que algumas práticas fossem feitas a distância. O grande exemplo disso é a telemedicina. De acordo com o Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), 75% dessas instituições do País já fazem uso de serviços do tipo e 58,3% oferecem atendimento próprio a distância.

Mas, ao falar de tecnologia, não estamos restritos apenas ao atendimento remoto. Há diferentes atividades que precisam ser bem integradas para que processos cotidianos nos hospitais aconteçam de maneira efetiva – e, eventualmente, uma rede consiga operar em sincronia. Um exemplo é o prontuário eletrônico – já que cada um conta com uma tecnologia diferente e é operado por inúmeras equipes.

Essa diversidade de sistemas explica porque, após uma fusão ou aquisição, a gestão de TI se torna ainda mais complexa, tendo como principal desafio a padronização das tecnologias. É preciso integrar o serviço de suporte técnico e as bases de dados – unificando as unidades legadas – para garantir uma estrutura mais segura e estável. Tudo isso reflete, e muito, na eficiência do atendimento aos pacientes e, portanto, no acesso a prontuários, pontos de atendimento mais ágeis, bem como no acesso à rede wi-fi para aqueles que estiverem nas instituições ou a websites e apps para atendimento e agendamento a distância. Além disso, a gestão precisa analisar os KPIs de forma que as métricas sejam comparáveis para evitar tomadas de decisões baseadas em dados não padronizados.

Para este ano, além da aceleração de M&As, o mercado de saúde pode esperar por novas soluções em telemedicina – com uso de wearables, sensores para consultas e tecnologias inovadoras para diagnósticos –, além de melhorias operacionais – maior capacidade de processamento, velocidade de resposta nos processos internos de hospitais, visando sempre ganhos de eficácia. Claro que tudo isso equilibrado com respostas à pandemia, que hoje é a prioridade da agenda do setor e também demanda inovações e investimentos para ser superada.

*Marcello Albuquerque, diretor de consultoria na Logicalis

O Jacarezinho e a tributação dos super-ricos

Maria Regina Paiva Duarte

A perda de 28 vidas na favela do Jacarezinho é um desafio latente para pensar a que ponto chegaram as instituições públicas, tanto pela sua equivocada e desastrosa presença, quanto pela sua completa ausência e abandono das comunidades, resultando no horror vivido na Zona Norte do Rio de Janeiro e que impactou o mundo.

A operação marcou não apenas pelo número de mortos, mas pela violência, considerada a mais letal da história do Rio. Moradores denunciam execuções sem chance de defesa, invasão de residências, celulares confiscados, entre outras transgressões e atrocidades em nove horas de terror, que merecem rigorosa e independente apuração.

Não é possível que vivamos num país tão profundamente desigual e desumano, e que o Estado brasileiro esteja falhando em tantos sentidos, que atue nas favelas como agente repressor, autoritário, machista e violador. Que pessoas sejam executadas sem chance de se defender, em que o direito à vida seja um mero escrito em algum livro.

Representantes da Polícia Civil declararam que não houve erros ou excessos, que visavam garantir o direito de ir e vir, alegando que facções sequestram trens e aliciam crianças e jovens para o tráfico. Com isso, justificaram a ação perante o STF, que proibiu operações nas favelas durante a pandemia, exceto em casos excepcionais.

Entre os assassinados, quatro eram alvos de investigação e ao menos dois não possuíam antecedentes. Três dos presos tinham mandados de prisão e alguns apresentavam marcas físicas de violência e afirmaram ter sido obrigados a carregar os corpos da cena do crime. O relatório policial não informa sobre a perícia obrigatória no local para apurar as circunstâncias das mortes. 

Não sou especialista em segurança pública, em políticas de combate ao tráfico, nem busco analisar o fato em si, mesmo que o entenda desastroso e que deixe marcas definitivas de terror. Ainda há muito a ser esclarecido e o episódio está sob a análise de entidades como a Defensoria Pública, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Anistia Internacional e Human Rights Watch Brasil.

Imagino o medo e o transtorno que passam milhares de pessoas que diariamente se perguntam: teremos tiroteio? Helicópteros atirando? Execuções? Meus filhos estarão vivos quando eu voltar do trabalho?  Mesmo nunca tendo morado em favela, posso ser solidária com as pessoas que tiveram e têm suas vidas interrompidas, mesmo estando vivas. Sim, porque é difícil viver assim, sem o mínimo de condições materiais, psíquicas e emocionais. Sem saber se terá comida na mesa e, às vezes não há mesa, nem cama para dormir, nem teto para morar.

Algumas pessoas podem entender a operação como a garantia do ir e vir, ou que era para pegar bandidos. Mas o que pensar se já foi afirmado pelos coordenadores da operação que haverá novas operações com esse propósito? A violência policial em Jacarezinho não foi a primeira e não será a última, se nada mudar.  Uma violência dessa magnitude tende a gerar mais violência, a não ser que sejam oferecidas oportunidades e o Estado mostre sua presença de outra forma.

As instituições públicas devem garantir a segurança e os direitos das pessoas. Mas se essas pessoas moram em comunidades mais pobres, o Estado falha miseravelmente
, muito mais do que falha em territórios mais abastados e com menos população negra. Não é esse tipo de atuação do Estado que queremos e precisamos.

As condições de vida de grande parte da população já eram difíceis antes da Covid-19, agora estão muito piores. Ao invés do governo pagar um valor para o auxílio emergencial minimamente aceitável, reduziu a ajuda neste ano, aprofundando a miséria. O controle da pandemia é desastroso, o negacionismo é abusivo.

Não há oferta de políticas de moradia digna, falta água para milhares de famílias e não há saneamento em 70 milhões de casas. A vulnerabilidade não está apenas na baixa renda – quando há renda! Soma-se às precárias condições de vida, violência, pouco acesso à educação, insegurança alimentar, entre outros. Sem opções de vida digna, fica difícil crer que o poder público ofereça algo parecido com cidadania para boa parte da sua população insuficiente de tantos itens básicos.  

Que mudança esta operação trouxe ou trará? Que oportunidades serão oferecidas aos moradores? O que o Estado oferecerá após a operação? Proteção aos jovens supostamente aliciados? Trabalho e renda para garantir comida?

O combate ao tráfico, às milícias ou facções são temas bastante complexos que uma operação isolada não resolve. Mas a melhoria da vida das pessoas com as ações do Estado poderia alterar muitas das condições geradoras de exclusão, miserabilidade e cooptação pelo crime. E isso é uma escolha que o Estado pode fazer. É preciso acolher estas crianças, adolescentes e suas famílias, ter empatia e solidariedade por todos e todas na comunidade.

As pessoas precisam de um mundo melhor, menos desigual e mais cooperativo. Com um sistema econômico e políticas públicas que contribuam para isso. Não o que temos agora, que leva a uma concentração de renda tamanha que só o Catar nos supera. E uma desigualdade tão brutal que nos torna o sétimo país mais desigual do mundo.

Há muitas alternativas para distribuir a riqueza e fazer políticas de geração de emprego e renda, educacionais, habitacionais, de saúde, entre outras, que elevem o patamar de vida das pessoas mais vulneráveis e diminuam a desigualdade.

É possível taxar grandes fortunas sempre isentas no Brasil, os que enriquecem especulando sem nada investir no país, os que saqueiam a riqueza da nação de forma profundamente injusta, tributar as altas rendas, isentas do imposto acobertadas com nomenclaturas como lucros e dividendos distribuídos entre os donos e gestores de grandes empresas.

Existem projetos para isso, como os da campanha Tributar os Super-Ricos, que preveem taxar apenas 0,3% da população, arrecadando cerca de R$ 300 bilhões ao ano.

Para ter liberdade de ir e vir, é preciso em primeiro lugar estar vivo, que não é apenas respirar, mas não estar com fome e na miséria. A liberdade supõe garantias mínimas de vida, com possibilidade de se alimentar, trabalhar, morar, cuidar da família, ter lazer, cultura e diversão.

 As pessoas são diferentes entre si, seus conhecimentos, experiências, modos de vida. Devem ser valorizadas pelas suas características particulares e não discriminadas por cor, raça, gênero, classe social e lugar em que vivem. Podemos ser diferentes, e somos, mas não merecemos essa desigualdade. O povo brasileiro não merece passar por isso. É preciso fortalecer o Estado brasileiro para atuar a favor do povo e não contra ele.

  * Maria Regina Paiva Duarte

Presidenta do Instituto Justiça Fiscal, integrante da Coordenação da Campanha Tributar os Super-Ricos

Que vida você vive?

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida mede-se pela intensidade e não pelo movimento do relógio”. (Mac-Donald)

O Albert Camus também disse: “Não se consegue viver se a vida não tem nenhum sentido”. Infelizmente ainda é desastroso o número de pessoas que vegetam pensando que estão vivendo. São, em geral, os que ainda não distinguiram a riqueza. Ainda não conseguem definir o que é ser rico e o que é viver na euforia do ter. já reparou como perdemos muito nosso tempo com a futilidade dos que não sabem viver? Saia dessa piroga furada. Ela vai afundar a qualquer momento. 

Não sei se é consequência da idade avançada, ou coisa assim, que nem sempre me lembro de coisas que já fiz ou disse. Mas como estamos falando em canoa furada, vamos falar do que acho que já falei. 

Aquele cara alugou uma canoa para atravessar o rio largo e forte. Ele começou a conversar com o canoeiro. Só que a conversa descambava para as perguntas sem sentido. Ele começou perguntando ao canoeiro se ele sabia ler. O canoeiro respondeu que não. Ele continuou fazendo perguntas sobre o que ele sabia e o canoeiro não sabia.

O canoeiro já estava saturado pelas perguntas, quando olhou para o fundo da canoa e viu que havia uma invasão de água que iria inundar o barco. Olhou, e estavam exatamente na metade da travessia, e no ponto mais fundo do rio. O canoeiro sorriu e perguntou:

– O senhor sabe nadar? O passageiro respondeu: – Não. Isso eu não sei.  O canoeiro apontou para o fundo do barco e falou: – Pois eu sei!

De que vale pensar que está vivendo quando a vida não está como deveria ser vivida? A felicidade está dentro de cada um de nós. O importante é saber distinguir entre felicidade e euforia. A euforia pode até lhe trazer um momento feliz, mas sempre vulnerável. 

Basta um sopro do ruim, e a falsa felicidade se vai. Ontem assistimos, numa cena de novela, um exemplo do descontrole mental sobre a riqueza. Uma mulher gritava, chamando o filho de pobre, porque ele não queria namorar uma garota milionária. Existe maior exemplo de pobreza mental? 

O que é ser rico, pra você? A maior riqueza está na felicidade. E a felicidade não é fútil nem vulgar. É uma riqueza espiritual que nos identifica como seres racionais. E tudo de que você precisa para ser feliz está dentro de você, nos seus pensamentos vindos da sua mente. 

Seja feliz mantendo sua mente sadia, com pensamentos ricos de felicidade. É simples pra dedéu, manter-se no nível mais elevado da racionalidade, com pensamentos sadios e de prosperidade. Mas, nada de fantasias. Apenas pensamentos positivos. E você pode fazer isso, se achar que pode. Se achar que não pode, tudo bem. Pense nisso. 

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