Impunidade porque vale a pena – Tom Zé Albuquerque*
A cultura brasileira está sob o alicerce da corrupção. E isso não é novidade; a todo instante nos deparamos com alguém burlando, outrem trapaceando algo: na conta do restaurante, no trânsito, na fila… e, naturalmente, este problema ganha contornos gigantescos de pilantragem, fomentado pelo sentimento cruel reinante no Brasil: a impunidade.
A sensação de tolerância ao que é errado é secular no país da corrupção. Remonta, em bases documentais, o colonialismo. As capitanias hereditárias entonam essa realidade, oxigenada pela famigerada “política do perdão”, uma tradição portuguesa. Nem o governo central e as asperezas de seus corregedores resolveram o sentimento de autoproteção da elite brasileira. O primeiro código criminal do Brasil, em 1830, foi uma piada no que referia à punição, sobretudo pelos favorecimentos pessoais. “…as leis costumam ser feitas com muito vagar e sossego, e nunca devem ser executadas com aceleração, e… nos casos crimes sempre ameaçam mais do que na realidade mandam.”, foi o teor de uma carta régia de D. João V, em 1745.
No embalo do processo de colonização do país, proporcionalmente eram criados nocivos sistemas de proteção às nobiliarquias, cujas conquistas de maior monta tinham como lastro a inviabilidade às punições aos nobres ao ponto de, ao final do século XIX, nenhum homem rico ou influente ter sentado no banco dos réus para contenda jurídica sobre seus crimes. O discurso do regente Diogo Feijó consolidava essa desventura: “A impunidade deve cessar… O governo será infatigável em promover a execução das leis penais, cumpre que o cidadão pacífico, o homem honesto, não esteja a discrição do turbulento e do perverso”. Vê-se, pois, que ser impune no Brasil é genealógico.
A desmoralização política, o flagelo social, a amargura e sofrimento de cada cidadão honesto no Brasil que hoje é suportado pode ser definido como algo patogênico. Convivemos com doçuras punitivas, proveitos, proventos e regalias a brasileiros surreais para qualquer nação séria e organizada; e o que dizer de um país onde a desigualdade de classes é abismal? Os prestígios da classe política e dos endinheirados (geralmente é a mesma coisa) no país da alienação blinda e protege os facínoras de um câncer chamado impunidade, independentemente do tamanho do crime, da altitude do excesso ou da ocultez do escrúpulo, a regra dos “fins justificam os meios” está cimentada no cotidiano brasileiro.
A criminalidade no país onde a falcatrua é normal acresce a cada dia porque a impunidade existe e foi arquitetada para proteger o infrator. Como disse o criminalista Heleno Fragoso: “Muito mais eficiente que a pena é a certeza da punição. De nada adianta discursos ideológicos sobre o crime, quando o delinquente sabe que jamais será punido”.
*Administrador
Matemática: quando as crianças sabem mais que os pais – Flavio Comim*
Uma pesquisa inédita feita pelo Círculo da Matemática/Instituto TIM comparou o conhecimento matemático de 1.512 pares de crianças e pais em 20 cidades do Brasil. É verdade que ambos foram reprovados nos respectivos testes de matemática. É verdade também que os pais foram relativamente melhores na prova que fizeram, com uma nota média de 4.1 enquanto as crianças tiraram 3. Mas as crianças mostraram considerações muito mais realistas em relação ao ensino da matemática do que as de seus pais.
Talvez a estatística mais dramática produzida pela pesquisa seja de que 93% dos pais disseram acreditar que a escola faz um bom trabalho ensinando matemática para os filhos. Oras, como pode a escola estar fazendo um bom trabalho quando 61% das crianças do 5º ano no nosso país não aprendem o adequado em matemática, percentual que chega a 86% no final do 9º ano do ensino fundamental? Para não falar dos 87% de nossos alunos que fazem o teste internacional PISA e que não sabe o suficiente para exercer sua cidadania? Temos escolas subfinanciadas, com professores desvalorizados e uma sociedade que não lhes dá condições de trabalho. Como podem fazer um bom trabalho?
O pior é que 20% dos pais entrevistados não sabiam nem mesmo o nome da professora de seus filhos, mesmo percentual dos que não foram capazes de citar o nome de um único amigo deles. Ainda mais grave é que 33% dos pais não têm ideia do que seu filho está estudando de matemática na escola.
Por outro lado, 90% das crianças disseram que precisa aprender matemática para ter uma boa profissão no futuro. Infelizmente, 30% relataram que seus pais não gostam de matemática. Deveria doer em todos que têm algum interesse na educação em nosso país que 72% das crianças expressaram o desejo de ter mais ajuda para aprender matemática.
Assim, enquanto as crianças pedem ajuda, seus pais acham que tudo vai muito bem. Os pais, que deveriam ser capazes de enfrentar os problemas de frente, preferem ignorar a gravidade da situação do ensino do nosso país. Mas será que não se dão conta que disso depende não apenas o futuro de seus filhos, mas deles mesmos?
*Professor
Não deixe o tempo passar – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Aquele que fica parado esperando as coisas melhorarem verificará depois, que aquele que não parou está tão adiantado que já não pode ser alcançado.”
Todos nós, quando acordamos pela manhã, temos exatamente, os mesmos 1440 minutos para usar como bem entender. Todos nós temos todos os dias o mesmo número de horas para usar. E por que uns fazem tanto, com esse tempo, enquanto outros não conseguem fazer absolutamente nada? E ainda ficam o dia todo reclamando que o tempo não dá mais para nada.
Você está se preparando hoje para viver o amanhã? O tempo que você tem hoje é o mesmo que terá amanhã. Nem mais nem menos. A diferença é que o desenrolar dos acontecimentos está mais acelerado. Você já não pode mais se dar ao luxo de ficar indolentemente esperando o tempo passar. Hoje mais do que ontem, quem perde o bonde, vai de reboque.
O objetivo é saber se você está preparando seu filho para o mundo em que ele irá viver amanhã. Pouca gente está fazendo isso. Nem todo mundo se atenta para as mudanças, de
certa forma, radicais por que o mundo está passando. Pouca gente está percebendo que estamos na época de mudanças de discursos. Os velhos e carcomidos discursos de outrora já eram. O que os grandes profetas nos disseram precisa ser revisto, sem, no entanto, mexer-se na sua essência.
Acordei mastigando esse assunto. Fui ao supermercado. Estava agachado junto à prateleira, escolhendo um amaciante. Uma senhora aproximou-se, tagarelando com uma garotinha que pintava o sete. Ela corria, mexia nas prateleiras, e a mulher não parava de corrigi-la: “Para, não toca aí; não mexe aí; não derruba isso…”.
Levantei-me, a mulher olhou para mim e falou:
– Minha nossa… Eu não sei mais o que fazer com essa menina.
Sem ter o que comentar, falei:
– É… Isso é muito ruim.
Com certeza ela não entendeu patavinas do que eu quis dizer. E o que eu estava dizendo era que lamentava, ela não souber o que fazer para educar a filhinha. É fácil pra dedéu. E o começo é parar de dizer não. Os especialistas afirmam que do primeiro ano de idade, que é a idade em que começamos a fazer travessuras, até os oito anos, uma criança ouve cem mil vezes a palavra não. E isso massifica o negativo no cérebro da criança que levará esse peso pelo resto da vida. A mudança de comportamento está exatamente em reconhecer isso e procurar neutralizar, ou pelo menos minimizar os efeitos nocivos nessa educação.
O inevitável “não” pode ser evitado, na maioria das vezes. É uma questão de mudanças nos métodos de educar. Os valores morais e éticos assumem caras diferentes que ainda não as conhecemos. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460