Enquanto CPI local patina, Denarium tem muito a esclarecer na CPI da Covid-19
Jessé Souza*
O governador Antonio Denarium (sem partido) tem, sim, o que explicar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado. Com a convocação de nove governadores aprovada pela CPI, será a primeira vez que o governador aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá que dar satisfação oficialmente sobre pelo menos dois dos casos de corrupção sistêmica na Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).
Já que a CPI da Saúde na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima fez de tudo para livrar Denarium, agora ele sentará na cadeira do Senado como depoente na CPI que tem visibilidade midiática internacional. Ele tem muito esclarecer. Explicações essas que a CPI roraimense nunca pediu, ficando numa engabelação até hoje.
Na verdade, a CPI roraimense deve muita explicação do porquê alivou a barra de Denarium no depoimento do ex-secretário de Saúde Allan Garcês, demitido em fevereiro de 2020, um mês depois de tomar posse no cargo. Ao depor em março daquele ano, com exigência de que a sessão fosse em Brasília, suas denúincias foram consideradas um fiasco pelos membros da CPI. Allan alegou que estaria sob ameaça – e estava mesmo, diante do tamanho do escândalo.
Garcês fez graves denúncias, inclusive dizendo que o irmão do governador o procurou para interceder para que a Sesau pagasse uma empressa irregular. E reafirmou que a saúde em Roraima era um antro de corrupção, inclusive citando nome de dois deputados estaduais que o procuraram. Disse também que a Sesau sofria ingerência do então chefe do Gabinete Civil da ápeoca.
Porém, em vez de aprofundar as investigações, membros da CPI se voltaram contra o ex-secretário da Saúde, em um episódio parecido com o que havia ocorrido em sua demissão do cargo. Allan Garcês havia exonerado um dos servidores da Sesau acusados de envolvimento no desvio de recursos federais enviado para o combate à Covid-19, e devido a isso foi demitido.
Para cotextualizar, esse servidor atualmente é acusado de ter sido um dos braços do senador Chico Rodrigues (DEM) no esquema, caso este investigado pela Polícia Federal, cuja operação ficou conhecida mundialmente como o “caso do dinheiro na cueca”.
Ao invés de Allan Carcês ter recebido apoio naquela demissão, curiosmente ele foi sumariamente demitido por Denarium. O governador não só o demitiu como nomeou como novo secretário de Saúde o servidor sob suspeita que havia sido demitido, decisão esta tomada a pedido do senador do “caso da cueca”, Chico Rodrigues, que à época era vice-lider do governo Bolsonaro e tinha influências justamente nos casos relativos à pandemia.
Conforme está sendo comprovado hoje, a demissão do secretário, com sua troca imediata pelo servidor demitido, foi a validação do esquema que hoje está sob investigação com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso ainda envolve mais um senador, Telmário Mota (PDT), outro bolsonarista, o qual também foi citado no escândalo das madeireiras ilegais, só para lembrar.
Ou Denarium é o típico político traído, influenciado pelas raposas tomando conta do galinheiro, ou ele era conivente com o que estava ocorrendo na saúde estadual. Não há meio terma. Afinal, a Sesau está no oitavo secretário em dois anos e meio de mandato da atual administração, com quase todos os ex-secretários deixando o cargo denunciando a corrupção sistêmica na saúde.
Assim como a CPI roraimense deve explicação por não ter agido imeditamente contra o governador do Estado após o depoimento de Allan Garcês, Denarium terá que se explicar à CPI da Covid-19 sobre sua atuação perante o “escândalo da cueca”, que é o cerne da investigação autorizada pelo STF, caso que poderia ter sido levado a público naquele depoimento de Garcês.
A CPI do Senado já pode solicitar os autos do processo de investigação da Polícia Federal, que deflagou a operação na casa do senador Chico Rodrigues, então vice-lider do governo, quando foram encontrados R$30 mil escondidos na cueca do parlamentar.
O que não pode ser esquecido é que Chico Rodrigues é aquele parlamentar que, em uma de suas primeiras decisões como senador de Roraima, assim que assumiu o mandato, nomeou Leo Índio, um dos primos do filho de Bolsonaro, como assessor em seu gabinete. A função? Caçador de “comunistas” país afora…
Tem muito fio ainda pra ser puxado nesse novelo.
*Colunista