Opinião

OPINIAO 12023

Antes que seja tarde

Por Ana Cristina Ribeiro Zollner*

 

Mais de um ano de isolamento social, sem grandes perspectivas de uma volta à normalidade e com uma terceira onda de contágio pela Covid-19 a caminho. Imagine como está a cabeça das nossas crianças e adolescentes, que deveriam estar levando uma vida mais livre, de convivência com os amigos, da proximidade tão natural à infância, de descobertas e no auge de seus questionamentos em grupo.

A fase que engloba o desenvolvimento dos 5 aos 17 anos é delicada, e a adolescência é ainda mais complexa, pois é quando os pequenos – quase grandes – passam a não se identificar mais com o universo infantil, mas também ainda não são adultos, e precisam da coletividade, da troca, para buscar suas referências no sentido de definir a própria identidade. Com o isolamento, esse processo está interrompido ou, no mínimo, dificultado. A falta de interação e o consequente sentimento de solidão são fatores de risco importantes para a depressão.

Uma pesquisa recém publicada pelo Instituto de Psiquiatria da USP, mostrou que, num universo de quase 7 mil crianças e adolescentes (com idade entre 5 e 17 anos), 26% apresentam sintomas clínicos de ansiedade e depressão, ou seja, há uma necessidade premente de atenção a esta situação e a consideração, por parte de familiares e educadores, por buscar atendimento especializado. Os resultados prévios do trabalho, que teve início em meio à pandemia, em junho do ano passado, indicaram que 13% dos jovens se sentem solitários, 23% dormem depois da uma hora da manhã, 48% não se exercitam e 37% estão sem uma rotina definida.  

 Segundo a OPAS/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde, braço da OMS na região), as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. Além disso, os dados apontam que metade de todas as condições que refletem na saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.  

A OMS aponta ainda que, em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes, sendo o suicídio a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

É necessário, assim, um esforço da sociedade, juntamente com uma parceria família-escola, para promover um trabalho com foco na saúde mental dos adolescentes para ajudá-los a superar o período de pandemia e garantir uma vida saudável, produtiva e que seja próspera. Estamos falando do futuro da humanidade, então não dá para ignorarmos este fato e não ajudarmos nossas crianças agora.  

Um fator importante a ser considerado, além do estado de pandemia, é que os problemas relacionados à depressão e ansiedade em adolescentes não é de hoje. Outro estudo, realizado pelo Instituto Ayrton Senna e que ouviu, em novembro de 2019 – antes da pandemia, portanto, 110 mil estudantes, do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio, revelou que 29,72% dos alunos disseram ter sofrido zombarias, intimidações ou humilhações nos 30 dias que antecederam o estudo. Isso reforça que um trabalho de atenção socioemocional a indivíduos nessa faixa etária exige também um planejamento das escolas no sentido de promover a aceitação, inclusão e capacidades socioemocionais nas crianças, sempre em parceria com a sociedade e a família.

Sabemos que muitas questões afetam esse grupo de diferentes maneiras, que economicamente falando não se trata de um grupo homogêneo, então é importante levarmos em consideração as vivências e realidades de cada criança. Algumas perderam familiares, ou mesmo o pai ou a mãe. Outras passam por dificuldades financeiras. O adolescente oriundo de família de baixa renda, por exemplo, com certeza não teve o direito ao isolamento e muitos estão assumindo a responsabilidade de ajudar no sustento da família ou na casa. Qual é o impacto disso a longo prazo? Infelizmente, para muitos jovens, adolescer significa se tornar responsável pelos irmãos menores. Por isso, olhar individualmente para cada um deles faz toda a diferença neste momento.

Por outro lado, posso afirmar que um ponto todos têm em comum: o impacto da falta de socialização nesta fase crucial de desenvolvimento na formação da identidade. Todos vão sair desse período de pandemia com dificuldades maiores do que teriam normalmente. A vida em si já é um desafio, mas o que testemunhamos agora não tem precedentes. Todas as questões de autonomia e desenvolvimento do senso de si serão prejudicadas. E nosso papel, como profissionais da saúde, pais e responsáveis, é de estarmos alertas e agirmos de forma rápida se necessário.

Sei que não é um momento fácil para ninguém. Todos estamos muito ansiosos com o futuro e temos as nossas próprias questões a resolver. Mas é fundamental olharmos de verdade para os nossos filhos e criarmos espaços de diálogo. Antes que seja tarde demais.

* Ana Cristina Ribeiro Zollner é bioeticista, pediatra e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa  

Estratégias para captar recursos durante a pandemia

por Simone Rezende*

A pandemia do Covid-19 afetou o país como um todo. Além das inúmeras mortes, todos tiveram que se readaptar a essa nova realidade. Crianças pararam de frequentar a escola e iniciaram atividades on line, funcionários de empresas adotaram a forma de trabalho home office a longo prazo, muitas empresas fecharam e as organizações do terceiro setor tiveram que se reinventar para continuar captando recursos e impactando a vida de seus atendidos.

Os eventos beneficentes que eram uma das grandes fontes de receitas das organizações tiveram que ser cancelados e iniciou-se uma busca interna por alternativas para suprir aquelas receitas que são essenciais para a sustentabilidade dos projetos sociais.

A Agência do Bem, da Rede de Organizações do Bem, realizou a pesquisa sobre Impacto do Coronavírus no Terceiro Setor em 2020 e os resultados foram alarmantes: 67% das organizações tiveram queda de arrecadação de suas receitas acima de 50% após o início da pandemia e 83% previam riscos de fecharem suas portas ou terem de reduzir suas atividades.

Uma dessas alternativas tem sido investir em eventos virtuais, como lives e leilões para arrecadar fundos. Pensando nisso, estamos organizando um Leilão do Bem para suprir as receitas que perdemos devido o
cancelamento dos eventos presenciais.

O leilão acontecerá no dia 16 de outubro de 2021 e será feito através de uma plataforma on-line. Os interessados poderão dar lances para adquirir os itens e ainda contribuir para manter os projetos da Vivenda. Estamos mobilizando e articulando nossos parceiros para doarem os prêmios para nosso leilão.

Se você ou sua empresa gostaria de contribuir com essa ação será de grande ajuda. Podemos leiloar os mais diversos itens: colecionáveis, viagens, obras de arte, móveis e antiguidades, eletrodomésticos, roupas e acessórios, entre outros. Toda contribuição será bem-vinda, seja divulgando nosso evento, doando itens para nosso leilão ou patrocinando esta ação.

Entre em contato conosco para saber mais informações de como colaborar. Seu amor somado ao nosso pode transformar o mundo.

Sobre a Vivenda da Criança

A Associação Beneficente Vivenda da Criança é uma entidade sem fins lucrativos que atende mensalmente mais de 4 mil pessoas carentes da área mais pobre da periferia de São Paulo, na região da subprefeitura de Parelheiros, extremo sul do município.

Em 1989, a instituição iniciou suas atividades como um abrigo para meninos em situação de risco social. Com o tempo, ela cresceu e hoje oferece oportunidades para crianças, jovens e adultos se desenvolverem como pessoas, cidadãos e futuros profissionais.

Para conhecer mais sobre o trabalho e projetos desenvolvidos pela Vivenda, além das redes sociais, você pode acessar o site: vivendadacrianca.org.br