Opinião

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Mensagem dos povos índios aos homens “civilizados”

Sebastião Pereira do Nascimento*

A história de ocupação territorial deliberada pela humanidade se assemelha a uma grande peça teatral que, ao longo de repetidas apresentações, sempre protagoniza os mesmos textos e as mesmas cenas. Apenas modifica os atores principais e os coadjuvantes na medida em que também troca o cenário onde o evento se manifesta.

Contextualizando, podemos citar os históricos conflitos territoriais praticados durante a idade média pelas grandes dinastias, ou mesmo os eventos coetâneos que vêm acontecendo tão próximos de nós, por exemplo, as capciosas manobras dos políticos energúmenos, sustentadas pelos latifundiários, fazendeiros, lavoureiros, madeireiros, mineradores, etc na tentativa de se apossar das terras indígenas.

Casos como esses, remontam também a história do século XIX vivida pelos índios Apaches, Comanches, Navajos e outras nações indígenas estadunidenses, quando inescrupulosos homens “civilizados” tentavam saquear suas terras. Esses acontecimentos tiveram grande notoriedade retratada na famosa mensagem enviada pelo cacique Seattle, da nação Suquamish, em 1855, ao responder uma declaração do presidente estadunidense que tencionava ocupar as terras tradicionais de seu povo.

O velho cacique, profundo conhecedor do espírito humano, já previa há quase dois séculos o que poderia acontecer pela invasão indiscriminada de suas terras pelo homem “civilizado”. Talvez esse tenha sido o primeiro pensamento a estabelecer um comportamento conservacionista, quando ainda nem se sonhava com a importância de preservar o meio ambiente. A carta baliza a existência do povo indígena e expressa, sobretudo, o profundo amor pela natureza e a necessidade que temos de cuidarmos da terra e de toda sua biodiversidade.

Dessa maneira, como forma de manifestar um profundo protesto aos homens “civilizados” que buscam usurpar, além do direito à posse, o usufruto das terras originalmente indígenas, reescrevo o conteúdo da mensagem deixada pelo cacique Seattle, atribuindo voz aos povos indígenas, em especial aos povos indígenas de Roraima, que vêm sendo brutalmente violentados pela atual invasão garimpeira, essa metáfrase tenta expressar o real significado de vida refletido por esses povos indígenas:

Os homens “civilizados” mais uma vez desejam usurpar nossas terras. E o poder público, omisso e conivente, nos envia palavras de amizade e boa vontade. Todavia, reconhecemos a sua gentileza, mas sabemos perfeitamente que ele não quer nos ajudar, e muito menos necessita da nossa amizade.

Assim, também não levaremos em conta a sua oferta que é demasiadamente aliciadora. Desse modo, nosso povo decidirá por nossas terras, aqui lutaremos até o último índio. Todas as partes dessa floresta e desse lavrado são sagradas para os nossos parentes: Yanomami, Ye’kuana, Wapixana, Macuxi, Ingaricó, Taurepang, Patamona, Wai-Wai, Waimiri-Atroari, entre outros.

Reconhecemos que o homem “civilizado” não entende a nossa maneira de viver. Para ele a terra é igual em toda parte, porque ele é um “kanaimé” estranho que chega de noite e arranca da terra tudo o que ele quer, sem doer na sua alma. A terra para ele não é sagrada, mas sua serviente e quando ele a conquista, ele segue adiante deixando para trás as sepulturas de seus irmãos e uma grande ferida na terra, ele não se importa com o sofrimento da terra.

Por outro lado, o modo de vida do homem “civilizado” maltrata muito o espírito do índio. Mas talvez seja porque não somos civilizados (como eles dizem) e não entendemos essas coisas. Mas, na verdade, o índio prefere o som suave do vento soprando sobre a calmaria dos lagos, o som das corredeiras dos rios, o odor da terra molhada pela chuva, além do aroma das flores dos ipês, das sumaúmas, dos caimbés, dos mirixis, das paricaranas, das aroeiras…

A floresta para o índio é como se fosse o pomar da casa do homem “civilizado”. É na floresta que nós colhemos as frutas que comemos, as palhas que cobrem as nossas malocas. É na sombra das árvores que o parente descansa das longas caminhadas, onde ele agradece e matuta o quanto a natureza é boa para todos nós, mas o homem “civilizado” não pensa assim. Ele nunca sentou à sombra de uma grande árvore, pois ele a destrói antes mesmo da primeira sombra, da primeira florada, dos primeiros frutos…

O ar puro para o índio é como se fosse o sopro da vida, e o homem “civilizado” parece não perceber o ar que respira. Como um ser moribundo ele é insensível ao cheiro da terra. Assim como ele é insensível aos outros animais que ele mata apenas por maldade. Por muitas vezes assistimos às margens dos lagos e dos igarapés, despojos de animais mortos pelos homens “civilizados” para não comer a sobra de suas grandes plantações.

Assistimos também muitos pássaros envenenados pelo vômito dos gigantes pássaros de ferro. Assistimos muitos peixes agonizando na superfície das águas dos rios e dos igarapés contaminados pela mineração e pela lavoura dos homens “civilizados”. Nós somos índios e não podemos compreender como o ouro, o veneno e a motosserra podem ser mais importantes do que a vida.

Portanto, é importante saber que quando todas as águas, as plantas e os animais desaparecerem da terra, o homem morrerá da solidão. Porque a solidão é um mundo vazio e quando ela chega, assola o espírito do homem. Assim, tudo o que acontece às águas, às plantas e aos animais, acontece também ao homem. Todas as coisas da terra estão relacionadas e tudo o que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra.

* Filósofo, Poeta e Consultor Ambiental

Mercado de máquinas agrícolas cada vez mais aquecido

João Carlos Marchesan*

A indústria de máquinas e implementos agrícolas iniciou o ano de 2021 aquecida. No primeiro trimestre deste ano registrou alta na sua produção física de 40,3% em relação ao valor registrado no mesmo período do ano passado, segundo dados publicados pelo IBGE na sua pesquisa industrial mensal (PIM-PF). As altas nos preços das commodities, a nova safra recorde, o real desvalorizado, entre outros fatores têm estimulado os investimentos no campo na busca por ganho de produtividade.

Podemos afirmar que o quadro de recuperação iniciou no final do segundo trimestre de 2020 e manteve-se pelos trimestres seguintes o que permitiu ao setor, ainda em 2020, registrar crescimento de 6,3%. Mantido o atual volume de produção, devemos registrar aumento de mais 20% em 2021. Crescer quase 30% em apenas dois anos é um número muito positivo para indústria de máquinas e implementos agrícolas.

A mecanização do campo não se traduziu em aumento do desemprego, ao contrário, o forte aumento da demanda por máquinas elevou a contratação de mão de obra em mais de 18% nas indústrias fabricantes de máquinas e implementos. O quadro pessoal que em março de 2020 era de 45.160 pessoas em março de 2021 já estava em 53.715 pessoas.

Um indicativo de que o cenário deve manter-se aquecido é o número semanas para atender os pedidos em carteira que se elevou em 30% nos últimos 12 meses. O nível de utilização da capacidade instalada também se elevou, em março de 2021 chegou a 75,3% contra 71,34% em 2020. Aumento médio anual de 5,6%. Isso é um bom sinal, porque a melhora deste segmento tende agora a se espalhar por outros setores da economia na medida em que ele mesmo tende a expandir ou modernizar suas operações para atender ao aumento de demanda.

Pesquisa realizada no início deste ano, com fabricantes de máquinas e equipamentos já previa forte expansão nos investimentos, não só reposição de bens depreciados, mas, principalmente, para modernização tecnológica e ampliação da capacidade industrial.

As importações brasileiras de máquinas agrícolas também registraram alta no primeiro trimestre do ano na comparação com mesmo período de 2020 (12,9%), mas tratam-se, na sua maioria, de aquisição de bens não produzidos localmente. O setor de máquinas agrícolas nacional se destaca internacionalmente pela inovação tecnológica. É um dos setores da indústria de máquinas que mais contribuem com superávit na balança comercial brasileira.

O cenário de crescimento na produção e emprego do setor deve-se à colheita recorde de grãos na safra 2020/21, às boas expectativas para a temporada 2021/22, à elevação do preço de commodities como soja e milho no mercado internacional, aliados à alta do câmbio. Fatores que promoveram o incremento da rentabilidade dos agricultores. Mais capitalizado, o agronegócio está investindo na atualização das máquinas. Enquanto esses fundamentos se mantêm favoráveis, a produção e vendas devem continuar fortes. Inclusive durante todo o ano de 2022.

Esses resultados mostram que a pandemia pouco afetou o setor de máquinas agrícolas. Os pontos de atenção estão relacionados à falta de matéria-prima e componentes no geral e no aumento excessivo do preço de insumos, como o aço, alumínio, plástico entre outros. Ainda que o desabastecimento de matéria prima e insumo não tenha provocado paralisação de fábricas, tem obrigado fabricantes a renegociar com os clientes.

O mercado de máquinas agrícolas está aquecido como poucas vezes na história. O Brasil se tornou um grande fornecedor de alimentos para o mundo. Temos ótimas perspectivas para o médio e longo prazo. Vamos trabalhar com atitude, positividade, protagonismo e otimistas para atender as demandas que virão nos próximos meses.

*Administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.