Opinião

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O tempo e a ferrugem

Walber Aguiar*

a indiferença distancia as pessoas,

e há coisas que nunca mais voltam a ser

as mesmas de antes.    

                                            Drummond

Decerto que as coisas acabam. Diante do absurdo da existência, da relativização do existir, o tempo nos encurrala em algum canto da vida, em alguma esquina encharcada de sobriedade ou de delírio. Sim, as coisas se desgastam feito os dentes, o ferro na ferrugem, a alma que sente dor, o corpo frágil diante da velhice, a esperança frente à decepção.

Há uma compreensão ampla dos fossos, das valas, dos abismos interpostos entre nós e o outro. Um entendimento que ecoa na alma, ainda mais quando se percebe o existir na perspectiva do poetinha, quando afirma que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

E tudo que nos distancia, traz em seu bojo palavras mal ditas e mal empregadas, desgaste relacional pelas idiossincrasias, por algumas opiniões contrárias, extremadas, polarizantes. E se há distância, há raiva, ódio, desprezo, silêncio, indiferença.

E de repente do riso faz-se o choro, o pranto, a tristeza por um gesto ou coisa irrelevante, questiúnculas que poderiam ter sido evitadas. Aí lembramos da escola em que estudamos na infância, do campinho de pelada, do lanche repartido, do quibe comido na Praça Capitão Clóvis, do sanduíche devorado na Praça da Saudade.

As muitas lembranças fervilham, a lágrima renitente teima em cair, a alma se encolhe, a psique entra num estado de melancolia, enquanto os momentos são revisitados, enquanto a vida passa a limpo os borrões que serviram para o aprofundamento da relação, para sabermos à sombra da distância a preciosidade do amigo, a intensidade da ternura.

Assim, tudo se acaba, desgasta, corrói, apaga, evapora, desmorona. Por isso não deixe que opiniões contrárias roubem a preciosidade que perpassa o tempo. As ideologias passam, a amizade continua.

Não desfazer amizades bonitas por causa de ideologias extremadas e vazias, é um grande indício de maturidade…

*Advogado, poeta, professor de filosofia, membro do Conselho Estadual de Cultura e da Academia Roraimense de Letras

Vivendo e aprendendo

Marlene de Andrade

 “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mateus 25: 35 e 36). Ao participar dos cultos solenes da minha Igreja, saio cabisbaixa ao perceber que sou uma folhinha seca, voando ao sabor do vento, cheia de imperfeições. É bom sermos estimulados a pensar o quanto ainda precisamos crescer para alcançarmos a estatura de varões perfeitos.  

Um jovem da minha Igreja local, Presbiteriana do Brasil, tocou em um assunto que me fez ficar envergonhada diante de mim mesma e profundamente arrependida. É que eu nem olhava para os rapazes que ficam tomando conta de carros nos pontos de estacionamentos de nossa cidade. Eu não estava nem aí para esse segmento de pessoas humanas tão, como disse o irmão, excluídas. Em vez de nutrir por eles o amor ágape, ou seja, o amor incondicional os tratava com indiferença achando que eles iriam até me assaltar a qualquer momento. Isso era um pecado oculto. E o pior é que eu nem me tocava que isso era pecado.  

Que desamor! Por que não me colocava no lugar deles, pobres moradores de rua, tantas vezes vilipendiados, escorraçados e humilhados por pessoas que, como eu nunca pensava, em me colocar no lugar deles? Quanto sofrimento passam largados à própria sorte!  Que situação lamentável é agora descobrir que não posso fazer nada por eles a não ser, pelo menos, sorrir-lhes.  

“… o outrora altivo discípulo, segue caminhando, mancando, num ritmo mais lento…; a sua beleza não é espelho de Narciso, antes é reflexo da imagem do Cordeiro projetada ainda que de forma distorcida pela silhueta da sua carcaça, a qual prossegue avante, rumo ao dia da sua redenção final… Hoje eu vi que o peregrino mais uma vez parou e exclamou baixinho, antes de continuar a sua jornada diária e penosa: Bendita a mensagem de esperança, essa mensagem da Cruz!… E assim prosseguiu puxando a sua perna, para mais um dia na sua jornada peregrina nesta terra cheia de sabores e dissabores, palco de tragédias…” (Pastor Raimundo Montenegro).  

E eu, o que me resta a dizer, senão que sou uma peregrina, puxando as minhas pernas espirituais? O que me resta? Aguardar com serenidade o dia da minha partida deste vale de angústias e aflições. 

   

  

Marlene de Andrade  

Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT  

Pós-Graduada em Pericias Médicas/Fundação UNIMED  

Perita Responsável Exame Condutores de Veículos Automotores/ABRAMET  

Médica do Trabalho Concursada pelo Estado/RR  

Especialização em Educação em Saúde Pública/UNAERP  

Treinamento em Saúde Mental/HFA  

Técnica de Segurança no Trabalho/SENAI  

Opositores

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Grandes espíritos sempre encontram violenta oposição por parte de mentes medíocres”. (Einstein)

Esteja sempre preparado ou preparada para o encontro com os opositores. Eles estão em toda parte. Por isso o mais importante é que você esteja preparado para entendê-los. Porque se não entender vai cair na deles. E isso não significa que você vá se tornar um opositor por conta do seu adversário. Porque, afinal, ele não é seu adversário, você é que não está pronto, ou pronta, para fazer sua parte.

Nunca caia na esparrela da discussão. Alguém já disse, sabiamente, que ninguém ganha uma discussão. Então, por que discutir? Ouça e analise o pensamento do questionador. Você vai acabar aprendendo com ele. E aprender com ele não significa seguir seus pensamentos, mas analisá-los e deixá-los no lugar deles. Este é, a meu ver, o caminho mais correto para o aprendizado. E este está na Universidade do Asfalto.

Só seremos dignos de nós mesmos quando nos valorizarmos, valorizando o que realmente somos. Quando soubermos o que realmente queremos para construir nosso futuro. Porque do jeito que estamos conduzindo o barco vamos cair na esparrela do comandante com o cabo “Sivirino”. O certo está com quem está com a razão. E a razão é racional. Então vamos tentar levar a racionalidade para a nossa política. Porque esta está em nossas vidas, independentemente do que formos o exercemos. A política está a convivência. E é nesta que devemos ser os melhores, com respeito aos outros. Enquanto continuarmos esperneando, gritando e falando tolices, continuaremos títeres e marionetes dos que pensam que são o que não são.

Vamos nos educar para que sejamos um povo realmente civilizado e dono do nosso destino. Somos um País com competência para ser o maior do mundo. Mas, infelizmente, sempre esteve nas mãos dos que não se valorizam e que por isso não nos valorizam. E este dever, o de mudar, está em cada um de nós. E não mereceremos respeito enquanto não respeitamos os outros. Não é com desordem que vamos manter a ordem. Somos todos donos dos nossos destinos. Mas ainda não nos conscientizaram disso. Ainda não nos educaram para sermos o que realmente somos.

Vamos parar de protestar mediocremente, e fazer nossa parte educando-nos para as mudanças de que necessitamos. E as mudanças não se faz do dia para a noite. Requer tempo, maturidade, e muita responsabilidade. Chega de bagunça. Cada um de nós tem o poder e dever de mudar o País, com o voto cidadão. O que só conseguiremos com educação. Então vamos nos educar para conseguir o que queremos, através do nosso voto que deveria ser facultativo. Pense nisso.

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