Manifesto de Oyá: emoção, feminismo e afro-solidariedade
Éder Rodrigues dos Santos
O “Manifesto de Oyá” (Editora Literando, SP, 2020) é uma obra sensível na dimensão da contra-hegemonia do pensamento euro-caucasiano, que demonstra a força coletiva da luta e reconquista de espaços institucionais, negados historicamente pelo estado brasileiro ao povo afro-brasileiro e a cultura popular afro-ameríndia, notadamente às mulheres pretas.
A literatura sentimental, sublime e pedagógica de Paula Braga encoraja escritores, artistas, produtores e gestores culturais a refletirem sobre o momento atual do Brasil, marcado por uma crescente escalada conservadora de violência física, cultural, social e ambiental contra as populações afro-ameríndias. A fala de uma mulher baiana, preta e educadora mostra que é possível avançar na luta de classes para uma luta de imagens, com a sensibilidade e sabedoria peculiar do gênero feminino, em uma pedagogia social da afro-solidariedade.
O livro permite perceber a crítica da autora às visões racializadas que ela testemunhou em sua trajetória pessoal, profissional e social. A sua poesia tem a missão de provocar, uma vez que obriga a sociedade envolvente a refletir, a despertar a consciência e, para além disso, a querer agir no enfrentamento a estas violências e silenciamentos históricos. A perspectiva ontológica sartriana permite compreender que os brancos colonos sempre dispunham do “verbo”, os demais habitantes da terra “pediam-no emprestado”, ou seja, o branco sempre observou sem ser observado. Eis o desafio.
Seu trabalho contribui para a reflexão étnico-racial no Brasil e se junta a outras obras no debate sobre um projeto de sociedade que valorize a mulher preta e, ao mesmo tempo, que exponha e descontrua a narrativa identitária tóxica do colonialismo. A lógica do sistema-mundo-colonial-moderno insiste em priorizar algumas identidades em detrimento às outras, como já apontavam as intelectuais negras Linda Alcoff e Patricia Hill Collins.
No texto, a autoridade do lugar de fala da mulher preta está garantida, como nos ensina Grada Kilomba e Djamila Ribeiro, assim como a desestabilização de uma epistemologia dominante branca, filiada ao humanismo racista europeu, na dimensão crítica sartriana, contribuição decisiva ao movimento feminista já assinalada por autoras como Lélia Gonzalez e bell hooks.
“Oyá”, desta forma, insere-se nas produções literárias de primeira ordem, na dimensão pedagógica do íbero-ásio-afro-ameríndio no enfrentamento ao euro-hétero-macho-autoritário, conceitos desenvolvidos pelo antropólogo negro Celso Prudente. É importante ressaltar que os estudos pioneiros do professor Florestan Fernandes sobre a questão racial no Brasil abriram a discussão sobre a crítica à ideia fantasiosa de democracia racial, inspirando novos pensadores.
Na condição de arte poética, o trabalho contemporâneo de Paula contribui para desestabilizar os privilégios epistêmicos da branquitude, como denunciou nesta esteira, Jota Moçamba, ao criticar também as pretensões discursivas da cisgeneridade que dominam a vida acadêmica e política com seus mecanismos de hipervisibilização da reprodução de regimes subalternizantes e enquadrando estes grupos como “os outros”, sem garantir os mesmos privilégios, retirando o papel de sujeitos da história.
Assim, como pontua a própria autora, a ascensão da mulher negra é uma espécie de amuleto, instrumento de defesa que a sustenta e a incentiva a enfrentar as arbitrariedades. A expressão Oyá, também conhecida como Iansã, promove a orixalidade, a circularidade e a tamboralidade da religião do candomblé, sendo uma alusão ao feminismo negro que fortalece a cultura brasileira. Um Brasil de religiões contra-hegemônicas, de rodas de samba e capoeira, de músicas e festividades populares. É, portanto, uma defesa ontológica e uma construção semiótica da imagem positiva da africanidade.
O manifesto de Paula Braga é muito mais que um relato literário. Já está situada em um contexto de luta e enfrentamento do preconceito contra a mulher preta no Brasil. Seus versos trazem uma postura de coragem, da necessidade do amor próprio retomando o lugar de uma afrocentralidade no debate étnico-racial, notadamente com a força do discurso do feminismo preto.
Construindo o hábito
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Primeiro fazemos nossos hábitos e depois os nossos hábitos nos fazem”. (John Dryden)
Fazer nossos hábitos é o princípio básico da educação. É com eles que nos educamos para viver o futuro. São os nossos hábitos que vão dizer quem realmente somos, socialmente. E como somos todos elementos da sociedade, precisamos conhecer e obedecer às regras sociais. E isso não significa que devemos nos julgar prisioneiros do social. O que devemos é ser educados.
Nada de regras. Esta está na nossa educação. Lembra-se do exemplo que tenho falado para você, daquele operário que recebeu uma carta do seu pai quase analfabeto? Eu li a carta e trago na minha memória lembranças daquele momento. As lições de moral, civismo, e honestidade, dadas naquela carta simples, mostram-nos o que é e de onde vem a educação. Tudo vai depender dos hábitos que construímos na nossa família.
E não devemos deixar de lado a atualização. Precisamos nos atualizar acompanhando o ritmo do progresso. Há razões que não devem ser ignoradas. E quando somos educados não as ignoramos. O que nos fortalece para criar e manter nossos hábitos. O importante é que saibamos o que deve ser feito como construção para os dias de amanhã. Então vamos refletir, mas sem medos nem cismas. Confiemos em nós mesmos e trabalhemos sem receios, na formação da nossa educação. Simples pra dedéu.
Respire. Enfrente, mas sem encarar, o seu dia, hoje, com otimismo, positivismo, e confiança em você mesmo. Nada deve amedrontar você nas suas tarefas diárias. Elas fazem parte do seu desenvolvimento. Você é a pessoa mais importante na sua lista de amigos. E por isso não deve se preocupar em ser o que você já é. E isso leva você a respeitar as outras pessoas como elas são. Afinal, você já sabe que somos todos iguais. Desde que, claro, respeitemos as diferenças. Tenha em mente que a vida só é ruim para quem não sabe viver. Que os trancos que nos atormentam não são mais do que ensinamentos.
Não perca seu precioso tempo com coisas e assuntos que não lhe tragam prazer e alegria. Não fique entulhando na sua mente, assuntos transmitidos pela comunicação técnica. Há mais momentos alegres para serem vividos. O que não indica que devemos ignorar os maus. O que não devemos é nos prendermos a eles. Assim como os males também não devem nos torturar. Eles também fazem parte da humanidade. E como somos seres humanos, temos que aprender a enfrentá-los.
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. (Charles Chaplin). Pense nisso.
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